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Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 10

Os clientes aplaudam a apresentação do prato, Marcelo é cozinheiro de um grande restaurante no Centro Histórico da Ilha Magnética, um rapaz educado e com grande ambição nos negócios.

Marcelo volta para a cozinha.

PIETRO – Iai Marcelo, parece um pouco nervoso hoje à noite
MARCELO – Éh meu amigo, hoje faz um mês que a Anita foi para o Rio de Janeiro e até agora nenhuma noticia.
PIETRO – Marcelão você precisa sair, conhecer novas mulheres, tenho certeza que a Anita já deve estar com outra pessoa lá no Rio.
MARCELO – Larga de falar besteira, a Anita vai voltar logo.
PIETRO – Sei não, vamos tomar umas geladas depois do trabalho?
MARCELO – Não posso, preciso ir visitar a minha sogra.
PIETRO – Sai dessa Marcelo, que sogra o que, vamos ta me devendo essa.
MARCELO – Tá bom, vamos.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Noite]

PILAR – O jantar estava delicioso.
BEATRIZ – Éh, deu pra engolir.
PILAR – Posso esperar o Ricardo no quarto dele?
BEATRIZ – Claro, a casa é sua querida.
PILAR – Se a senhora não se importar vou me retirar.
BEATRIZ – Eu estaria sendo deselegante prendendo você aqui.
PILAR – Licença.

Pilar se retira da mesa e sobe para o segundo andar, no meio do caminho ela é puxada para um quarto.

MAXWELL – (Abraçando Pilar) Você está cada vez mais bonita.
PILAR – Ficou louco? Me solta agora.
MAXWELL – Pilar, Pilar, quando você vai me dar uma chance?
PILAR – Nunca, quando vai entender que sou a namorada do seu irmão e futura esposa dele?
MAXWELL – Mas ele não tá aqui agora (chega mais perto de Pilar como se fosse beijar).
PILAR – E o que você quer?
MAXWELL – Um beijo, apenas um beijo.

Pilar se aproxima dele, quando chega bem perto, empurra Maxwell na cama.

PILAR – Ver se cresce garoto. (sai)

Maxwell rir deitado na cama.

No andar de baixo Beatriz chama Raimunda para conversar no escritório.

BEATRIZ – Raimunda, as coisas não podem continuar assim aqui nesta casa, contratei vocês para ter ordem.
RAIMUNDA – Fazemos o que podemos, somos só duas para dar conta dessa casa toda, ela é gigante.
BEATRIZ – E você queria que eu morasse em um barraco de indigente? Não tem cabimento uma coisa dessa… Mas o que você sugere?
RAIMUNDA – Talvez se contratássemos mais uma pessoa, especifica para cozinhar, já ajudaria muito, assim só dávamos auxílio a ela e arrumavam a casa.
BEATRIZ – Até que é uma boa ideia, muito bem vou procurar alguém que saiba cozinhar, agora você já pode ir.

Raimunda sai.

Beatriz pega um terço e começa a rezar, pensa em Ricardo, seu filho.

BEATRIZ –  Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

***

[São Luís do Maranhão, casa de Susana – noite]

SUSANA – Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém (apaga as velas do pequeno oratório)

Alguém bati na porta. Susana levanta e vai atender a porta.

MARCELO – Boa noite Dona Susana, desculpe pelo horário.
SUSANA – Deixe disso, você é sempre bem-vindo aqui em nossa casa, entre por favor.

Os dois entram.

MARCELO – A senhora tem notícias da Anita?
SUSANA – Ela me ligou, disse que estava bem, que iria entrar mais em contato conosco.
MARCELO – Mas por que ela demorou tanto pra dar notícias?
SUSANA – Ela teve alguns problemas quando chegou.
MARCELO – E ela já está com alguém?
SUSANA – Fique despreocupado meu filho, Anita te ama.
MARCELO – E a senhora está melhor?
SUSANA – Só alguns mal-estares, deve ser preocupação.
MARCELO – Mas a senhora já foi ao médico?
SUSANA – Já marquei, mas só tem para o mês que vem na rede pública.
MARCELO – Por que não vai no particular?
SUSANA  – Tenho dinheiro pra isso não Marcelo.
MARCELO – Faço questão de pagar a consulta.
SUSANA – De maneira alguma, não tem cabimento uma coisa dessa.
MARCELO – Pense na minha proposta, agora preciso ir, já está tarde.
SUSANA – Boa noite meu filho!

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Noite]

Ricardo entra em casa e ver Beatriz deitada no Sofá.

RICARDO – Mãe, a senhora está ainda acordada?
BEATRIZ – Eu estava esperando você, aliás não só eu, a Pilar também. Marcou de jantar com ela aqui e deu um perdido nela.
RICARDO – Me desculpe, tive alguns problemas.
BEATRIZ – Nem me fale em problemas, por causa da incompetência das empregadas daqui, vou ter que contratar mais uma cozinheira.
RICARDO – Boa sorte, agora deixa eu subir.
BEATRIZ – Não vai comer nada?
RICARDO –Estou sem fome.
BEATRIZ – A pilar está te esperando lá em cima.
RICARDO – Tudo bem, agora vá descansar, o pai já chegou?
BEATRIZ – Ainda não, mais deve estar prestes a chegar.
RICARDO – Benção mãe.
BEATRIZ – Deus te abençoe.

Ricardo sobe as escadas e entra no quarto dele.

PILAR – Até que fim você chegou meu amor.
RICARDO –  Éh, foi uma noite complicada. Desculpe por não ter conseguido chegar a tempo do nosso jantar.
PILAR –Tudo bem, sabe que eu entendo você.
RICARDO – Precisamos conversar.
PILAR – Agora não, amanhã conversamos, deve estar cansado, tome um banho e venha descansar.
RICARDO – Tudo bem, mas precisamos conversar.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Mercadão de Madureira – 8:00]

DONA ROSA – (Em frente da barraca de feira) Vamos lá freguesia, que aqui as frutas são fresquinhas, temos melões bem maduros, melancia bem docinha, aproximem-se e prove, garantia de fruta doce ou seu dinheiro de volta.
LEONARDO – (aproximando-se com uma caixa) Mãe onde coloco essas laranjas?
DONA ROSA – Coloque aqui próximo ao mamão.
LEONARDO – A senhora precisa de mais alguma coisa?
DONA ROSA – Não querido, sua irmã ainda não veio?
LEONARDO – A senhora sabe que ela só acorda depois das oito, daqui a pouco ela está ai.
DONA ROSA – Essa menina tem que acordar para a vida.

Benedita chega.

DONA ROSA – O sol já se levantou a muito tempo Benedita, seu irmão, que é mais novo que você, já está aqui me ajudando.
BENEDITA – Ah mãe a senhora sabe que eu não posso acordar cedo, além de me deixar com dor na cabeça é horrível para a beleza.
DONA ROSA – Sabe o que é bom para a beleza? Trabalhar, assuma seu posto no caixa, que os fregueses não vão esperar você acordar.
LEONARDO – Mãe preciso ir para a faculdade, depois irei a igreja.
DONA ROSA – Tudo bem, Já tem o dinheiro para almoçar?
LEONARDO – Tenho sim, obrigado. Benção!
DONA ROSA – Deus te abençoe.

Leonardo sai.

BENEDITA – O filhinho pode ir embora e a escrava aqui tem que trabalhar.
DONA ROSA – Se tivesse passado em uma faculdade como ele, estaria estudando em vez de estar aqui.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Mesa do café]

Pilar se dirige a mesa do café, onde se encontra Beatriz, Teodoro e Maxwell.

PILAR – (Sentando- se) Bom dia, o Ricardo já saiu?
BEATRIZ – Bom dia, ele saiu cedo, disse que tinha que resolver alguns problemas.
PILAR – Problemas, problemas.
BEATRIZ – Andaram brigando querida?
PILAR – Não, mas ontem ele chegou muito estranho.
TEODORO – Só deve tá com algum problema, vocês mulheres gostam de ta procurando pelo em ovo.
PILAR – Só sei que ele está estranho.
TEODORO – Fica tranquila, tome seu café, meu filho não iria te trair, se é o que está pensando e você Maxwell, como tá a faculdade?
MAXWELL – Tudo de boa meu velho.
TEODORO – Não era pra se formar esse semestre?
MAXWELL – Era né, mas sabe como é faculdade pública, cadeiras não são ofertadas, falta de professores substitutos.
BEATRIZ – Se fosse por mim teria ido para uma particular.
TEODORO – Eu faço questão que fique na pública. Bem, eu já estou atraso para o trabalho, se me deem licença, um bom dia para vocês.
BEATRIZ – Ei, não vai me dar um beijo?
TEODORO – Claro que sim (vai até onde a esposa e a beija, depois sai)
MAXWELL – Éh, eu também vou indo nessa, até mais.
BEATRIZ – Ei, vai para onde?
MAXWELL – Dar uma volta, espairecer.

Beatriz aponta para a bochecha. Maxwell revira os olhos e vai até onde a mãe dar um beijo nela.

BEATRIZ – Tá pensando que já está grande, não vai me dar mais um beijo (dar uma palmada na bunda do filho) te cuida em e não volta tarde.

Maxwell sai.

BEATRIZ – Depois que crescem não querem mais saber de abraçar, beijar a mãe, quando eram menores era mãe pra cá, mãe pra lá.
PILAR – Mas é assim mesmo, mas Dona Beatriz…
BEATRIZ – (cortando) Esqueça o Dona Beatriz, me chame de Bia.
PILAR – Bia, estou mesmo preocupada, ontem o Teodoro chegou dizendo que queria conversar comigo e parecia ser algo sério.
BEATRIZ – Vou conversar com ele, agora tome o seu café e fique despreocupada.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Hotel – Manhã

Ricardo bati na porta, Anita vai atender.

ANITA – Bom dia!
RICARDO – Bom dia, dormiu bem?
ANITA – Claro, graças a você.
RICARDO – Posso entrar?
ANITA – Desculpe pela minha falta de educação, claro que sim.

Ricardo entra no quarto.

RICARDO – Hoje precisamos dar entrada em documentos novos para você e creio que consegui um emprego.
ANITA – (pegando um copo de suco na bandeja do café da manhã) Mas já? Em uma noite? Ricardo é sua identidade secreta, né? Super-Homem. (rir)
RICARDO – Nem sou, mas preciso saber de uma coisa, você sabe cozinhar?
ANITA – hum. (engolindo um pedaço de pão) meu namorado é cozinheiro em um grande restaurante em São Luís, me ensinou várias coisas, inclusive comidas regionais e também de gente rica.
RICARDO – Namorado é? Hum…
ANITA –Bem, eu acho que ainda somos namorados, ele não gostou nada de eu ter vindo para cá e ainda não dei notícias para ele.
RICARDO – Enfim, mas você saber cozinhar já é meio caminho andado para conseguir o emprego. Vamos a delegacia fazer o B.O?
ANITA – Delegacia?
RICARDO – Claro você foi roubada, sabe o que podem fazer com seu documento? Passar cheque sem fundo, entre outras práticas criminosas. Por isso é necessário fazer o boletim de ocorrência.
ANITA – Claro, eu sei, você pode me dar um tempo só pra eu me arrumar?
RICARDO – Sim, espero você no saguão do hotel, ah eu passei em uma loja e comprei algumas roupas pra você, espero que sirva, comprei uns sapatos também, pra você não andar descalça.
ANTA – Muito obrigada.

***

[Rio de Janeiro – Leblon – Meu Rio Joalheria – Manhã]

Elizabeth entra na sala da presidência com vário papeis.

ELIZABETH – Aqui está o relatório das vendas do último mês, senhor Teodoro.
TEODORO – Obrigado Elizabeth, eu preciso de outra ajuda sua.
ELIZABETH –Só me dizer.
TEODORO – Preciso que me consiga o endereço dessa pessoa (entrega um papel para a secretária), sei que é procurar uma agulha no palheiro, mas ela reside em São Luís do Maranhão, eu tinha o endereço, mas perdi, só lembro que ela mora no centro histórico, no bairro da Praia Grande, se puder fazer esse favor.
ELIZABETH – Claro que sim… A senhora Susana de Medeiros, certo?
TEODORO – Isso mesmo.
ELIZABETH – Até o final do dia lhe entrego.
TEODORO – Você é dez Beth.
ELIZABETH – Só faço o meu trabalho, se me der licença.
TEODORO – Claro.

Elizabeth Saí.

***

[Universidade Federal do Rio de Janeiro – Manhã]

Leonardo está na sala assistindo aula, o tempo passa e o sinal toca e todos se dirigem para o Restaurante Universitário. Leonardo pega a bandeja e senta-se, um garoto se aproxima perto dele e fala no ouvido.

GAROTO – Cuidado pra a baleia não explodir, kabun. (rir e sai)

Leonardo abaixa a cabeça e começa a comer, quando termina devolve a bandeja na área de limpeza e retorna para seu prédio, entra no banheiro e chora sentado no aparelho sanitário.

Inicio do flashback

[Rio de Janeiro – Madureira – Escola de ensino fundamental Dom Pedro I]

Os alunos estão voltando do intervalo, Leonardo está sentado, quando um grupo de meninos chegam próximo dele.

IGOR – Soube que escreveu uma cartinha, temos um romântico na sala

Todos riem.

LEONARDO – Eu não sei do que você está falando.
IGOR – Todos nós já estamos sabendo que o Shakespeare redondo da sala ta apaixonado, e por quem será? Que rufem os tambores.

As pessoas da sala começam a bater nas carteiras.

LEONARDO – Cara, você não precisa fazer isso.
IGOR – E a menina que conquistou o coração dele foi… foi… Nayara.
NAYARA – (susto) Quem eu?
IGOR – (ironia) Não Tadeu.
NAYARA – Credo, que nojo, eu que não quero nem ficar com esse garoto gordo e feio, eca, sai pra lá.

A turma rir, Leonardo pega suas coisas e sai da sala correndo e se tranca no banheiro, pega a bolsa, retira uma carta dela e rasga o papel, as lágrimas escorrem dos seus olhos.

Fim do Flashback

LEONARDO – (Pensamento) Calma, você é melhor que eles, não deixe que isso te abale mais.

Leonardo enxuga o rosto e sai da cabine do banheiro e se direciona a pia onde lava o rosto.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Delegacia]

RICARDO – Pronto, agora já podemos ir tirar a sua carteira de identidade nova, claro que não vai ser com o mesmo número da antiga, mas pelo menos você vai ter um documento em mãos.
ANITA – Muito obrigado, nos conhecemos em menos de dois dias e você já fez muito mais coisas do que vários amigos meus.
RICARDO – Antes de irmos providenciar o seu RG, vamos almoçar? Quero te levar em um lugar, prometo que vai gostar.
ANITA – Eu não quero gastar mais seu dinheiro.
RICARDO – Deixa disso, vai ficar com fome? Vamos sim e deixe de ser marrenta.
ANITA – Tá bom.

Os dois sobem na moto e em pouco tempo estão em um restaurante.

RICARDO – Chegamos, melhor restaurante da cidade, recomendo.
ANITA – Isso parece ser muito caro, vamos para uma lanchonete.
RICARDO – De maneira alguma, você é minha convidada.
ANITA – Sério, já basta o hotel e as roupas, te dar mais esse prejuízo, não dá.
RICARDO – Deixa de besteira, vamos e sem mais, rum um (rir)

Os dois entram no local e o recepcionista vem atendê-los.

RECEPCIONISTA – Senhor… Senhora.
RICARDO – Uma mesa para dois.
RECEPCIONISTA – Claro, por favor me acompanhe.

O recepcionista leva os dois até uma mesa próximo a uma janela, puxa a cadeira para Anita sentar e depois entrega o cardápio a Ricardo quando ele senta e a Anita.

RECEPCIONISTA – Posso anotar o pedido.
RICARDO – Por enquanto quero um Champagne e uns aperitivos.
RECEPCIONISTA – Claro, já irei providenciar (se afasta)

Anita pega o cardápio e abre.

ANITA – Éguas, isso aqui é uma facada.
RICARDO – Mas uma facada bem gostosa, posso sugeri um prato?
ANITA – Claro.
RICARDO – Esse peixe aqui é delicioso, é empanado e recheado com algumas frutas, pode ser?
ANITA – Sim, vou querer.

Ricardo chama o recepcionista.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Tarde – Casa de Dona Rosa]

BENEDITA – Mãe, eu sei que a senhora tem umas economias, por que não mudamos para um bairro melhor ou comprar um carro?
DONA ROSA – Você deve achar que dinheiro cai do céu, só pode. Procurar emprego mesmo você não quer, minha filha você virou uma ameba, um parasita.
BENEDITA – Me acabo naquela feira todos os dias, acho que poderíamos ter uma vida melhor.
DONA ROSA – Você tem que dar é graça a Deus de ter uma família que te ama (vai até onde ela e dar um abraço), aproveita isso e esquece esse negócio de ser rico, de se mudar, nós vivemos bem.
BENEDITA – Me poupe, se poupe e nos poupe, né mãe?
DONA ROSA – Com você não tem trégua né Benedita. Você é uma mal-agradecida, não sabe o duro que tive que dar para ter você.
BENEDITA – Já chega né, eu vou sair.
DONA ROSA – Vai pra onde?
BENEDITA – Vou ali.
DONA ROSA – Ali não tem nome?
BENEDITA –(Indo até a mãe) Mãezinha querida, eu já sou maior de idade, vacinada, não tenho que ficar dando satisfação de tudo o que eu faço.
DONA ROSA – Filhinha querida, você pode ser maior de idade, vacinada, mas ainda mora na minha casa e como diz o ditado enquanto come do meu pirão, apanha do meu cinturão, então para onde você vai?
BENEDITA – Aff, vou no shopping, encontrar minhas amiga, posso ir?
DONA ROSA – Muito bem, claro que pode.

Benedita sai.

DONA ROSA – (gritando) Deus te abençoe.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Restaurante – Tarde]

ANITA – Você tem razão é o melhor restaurante que já fui.
RICARDO – Eu disse que você ia gostar, agora vamos? Precisamos dar entrada logo na sua identidade.
ANITA – Ricardo, obrigado mesmo por estar me ajudando.
RICARDO – Eu sei que é loucura, mal nos conhecemos, mas sentir que você estava falando a verdade e que precisava de ajuda.
ANITA – Obrigadão, posso te chama de Rick?
RICARDO – Claro, agora vamos?
ANITA – Vamos.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Sala da Casa de Beatriz – Fim de Tarde]

BEATRIZ – (Gritando) Abigail, Oh Abigail.

Na cozinha

ABIGAIL– Essa daí pode até ter se tornado rica, mas o espírito de pobre contínua incrustado lá. Pobre adora ficar gritando, grita para tudo, mandou colocar esse telefone aqui na cozinha pra nada, só de enfeite, porque só vive gritando.
RAIMUNDA – Vai logo antes que ele venha aqui cuspindo fogo.

Abigail vai até a sala.

ABIGAIL – Senhora?
BEATRIZ – Você e aquela outra sabem fazer galinha da terra?
ABIGAIL – Galinha da terra?
BEATRIZ – (Cortando) Ah! Qualquer coisa você procura na internet, lá tem tudo. Hoje faça galinha da terra para o jantar, quero bem gostoso. Jantar, ouviu? Não é ceia.
ABIGAIL – Mas Dona Beatriz…
BEATRIZ – Sem mais, (pegando a bolsa) pegue aqui o dinheiro e vá comprar, vá logo antes que feche o mercadão.
ABIGAIL – Sim senhora. (pega o dinheiro)
BEATRIZ – Ah, coloque cheiro verde, adoro cheiro verde.
ABIGAIL – Sim senhora (sai)

Na cozinha.

ABIGAIL – A demônia pediu para o jantar galinha da terra, tu sabes fazer isso Raimunda?
RAIMUNDA – Nunca nem vi, imagine fazer.
ABIGAIL – Ela disse que tem na internet, me deu o dinheiro pra comprar a galinha lá no mercadão, será que tem lá?
RAIMUNDA – Se ela mandou porque deve ter e é bom você ir logo antes de fechar.
ABIGAIL – Só o que me faltava.

Beatriz entra na cozinha.

BEATRIZ – Abigail, não esqueça de trazer o sangue.
ABIGAIL – Pra que sangue?
BEATRIZ – Oh coisa lerda, pra colocar na receita né. Ainda tá aqui? Daqui a pouco o mercadão fecha, bora, cuida, vai logo, chispa daqui garota (sai)
ABIGAIL – To te falando que é o próprio demônio, até sangue, come, bebe, sei lá, vou logo comprar essa galinha.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Noite]

Teodoro chega em casa.

BEATRIZ – Meu amor, boa noite, como você está?
TEODORO – Cansado, eu vou subir e tomar um banho
BEATRIZ – Vá que eu mandei preparar uma galinha da terra pro nosso jantar.
TEODORO – Oba, faz tempo que não como uma.
BEATRIZ – Pensei em você e sabia que ia gostar.
TEODORO – Eu vou subir, daqui a pouco desço pro jantar.
BEATRIZ – Tudo bem, te amo.

Teodoro sobe, coloca a pasta em cima da cama e liga o chuveiro na água quente, tira a roupa e entra no banho. Alguns minutos depois ele sai, se enxuga e veste o roupão.

O telefone toca.

TEODORO – Aló!
ELIZABETH – Senhor Teodoro, é a Elizabeth, consegui o endereço da senhora Susana, pode anotar?
TEODORO – Claro, só um minuto (procura um papel e uma cante) pronto, pode falar… sim, sim, obrigado Beth, sempre competente, boa noite. (desliga o telefone, em segui digita um número e espera atenderem) Vicente, prepare pra mim o avião para amanhã.
VICENTE – Pra onde chefe?
TEODORO – São luís no Maranhão, prepare o avião para amanhã pra São Luís.

Beatriz entra no quarto.

BEATRIZ – Posso saber o que você vai fazer em São Luís, Teodoro?

Lucas Serejo

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