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Edição especial: Contos de Hysteria

CONTOS DE HYSTERIA – edição especial: episódio final

Foi incrível o quão rápido eles conseguiram retornar até a Vila Hard Rock, chegando antes que aquele dia terminasse. Era verdade que estavam tristes e cansados, mas a visão do pássaro de trovão fora suficiente para que seus níveis de determinação chegassem ao máximo.

Durante todo o percurso até a vila haviam feito apenas uma parada assim que chegaram à fronteira entre a base das montanhas e a floresta sombria na qual haviam caminhado antes. Max havia alegado que precisava parar para se aliviar e aquelas foram suas primeiras palavras em um longo tempo. Não que Mary e Vincent estivessem no clima de conversar também, mas seu silencio era diferente do de seu amigo, que carregava uma atmosfera tão pesada que chegava a ser assustadora. Quando ele retornou, o leve inchaço em seus olhos estava aparente. Mary murchou ao vê-lo assim, mas sabia que Max estava dizendo a verdade. Ele fora aliviar o próprio coração. Doía nos dois amigos ver o menino daquela maneira mesmo podendo imaginar como ele se sentia. Sabiam que era muito para alguém tão jovem suportar.

 

Cerca de meia hora depois estavam novamente no Ás de Espadas, a taberna onde Mary trabalhava com o tio e Angus. A elfa deixou os rapazes a sós em seu quarto enquanto conversava com os pais no andar de baixo, lhe dando as devidas satisfações sobre sua repentina saída. Vinyl pode ouvir o tom severo, embora preocupado, dos pais de Mary e imaginou o quanto os seus próprios estavam preocupados. Não via a hora de chegar em casa e vê-los novamente, mesmo sabendo a bronca que o aguardava.

Logo Mary retornou ao quarto, com o rosto exausto. Ela abriu a porta e encontrou Max deitado olhando para o teto enquanto Vinyl lia as páginas do livro dos artefatos mágicos novamente, procurando avidamente qualquer informação sobre a pedra branca, já que eles ainda não haviam tido sucesso em descobrir o que ela fazia. Ele abaixou o livro quando ouviu a menina entrando, mas Max nem se mexeu. Era como se ele estivesse em outro plano de existência, perdido em seus próprios pensamentos. O anão mordeu o lábio nervosamente, já que a última coisa que queria era que Max se fechasse daquela maneira. Virou-se para Mary novamente e sua expressão gritava “Me ajude, por favor.”

Ela pareceu entender o recado, concordando levemente com a cabeça após soltar um suspiro. Ela caminhou e sentou-se na borda da cama de Max. — Meus pais concordaram que eu fosse com vocês até a Capital. Mas terei que voltar assim que a missão estiver completa. – ela começou dizendo, mas o garoto não moveu um músculo. — Angus estava lá também. Disse que pode conseguir os cavalos para amanhã cedo.

— É uma ótima noticia! Não é mesmo, Max? – Vinyl disse sentando-se corretamente na poltrona onde estava e colocando o livro de lado. Seu tom demonstrava o quão disposto estava em animar seu melhor amigo. Max continuou não dizendo nada. Apenas suspirou e concordou com a cabeça, sem desviar seus olhos do teto. A fagulha de animação em Vinyl desapareceu assim que seu amigo teve a reação, sendo suficiente para fazê-lo levantar e ficar de pé em frente ao corpo inerte de Max na cama. — Cara, você não precisa ficar assim. Não foi sua culpa. Além do mais, você é péssimo em fingir que está bem.

Max ergueu sua cabeça levemente em direção ao anão, erguendo uma sobrancelha confusa, o que fez Mary adicionar calmamente para não chateá-lo. — Sabemos que você tentou chorar lá na floresta… – Max desviou novamente o olhar, embaraçado, mas Mary rapidamente o ajudou a erguer-se e a se sentar na cama. — Você não precisa ter vergonha. É normal chorar quando se está triste… Só queremos que saiba que você não deve se sentir culpado.

Max suspirou agarrando-se aos próprios joelhos. Vinyl deu leves tapas em seu ombro, exibindo um meio sorriso. — Ela tem razão sabe? – ele disse, logo percebendo que Mary tentava copiar sua expressão empática, mas logo os dois pararam de sorrir, já que Max permanecia quieto. — Max…?

O menino finalmente abriu a boca depois de alguns segundos, mas não se atreveu a olhar para os amigos enquanto falava. — Eu… Eu sinto muito ter arrastado vocês nisso. Eu devia ter ido sozinho. – ele disse após uma pausa de silêncio. — É só que… Eu pedi a Harmos que me desse um protetor e eu não ligava se algo acontecesse com ele. Mas depois que eu percebi que Jack era bom… Eu não sei, talvez isso seja apenas uma piada cruel. – ele deu um longo suspiro antes de continuar. — E agora eu sei que a cena dele desaparecendo jamais vai deixar a minha cabeça. É como quando a minha mãe…

— Max! – Vinyl aumentou o tom pegando seu amigo pelos ombros. — Você precisa parar de carregar o peso do mundo nas costas. Jack se sacrificou por nós! Foi uma escolha dele. Não havia nada que podíamos ter feito, assim como não havia nada que você podia fazer quando sua mãe foi atacada.

Tanto o menino quanto a elfa pareceram surpresos com a reação do anão. Mas Vincent já vira seu melhor amigo refletindo sobres ações que ele podia ter tomado quando a mãe morreu centenas de vezes e sabia que não havia nada que um pequeno menino de quatro anos podia ter feito para salvá-la. Além disso, pensar nela agora não ia ajudar Max a se sentir melhor. Mary abriu a boca lentamente para perguntar algo, mas decidiu fechá-la novamente, percebendo que não era a hora certa para isso. — E coloca uma coisa nessa sua cabeça dura Max: Não estamos com você à força. Estamos aqui por queremos ajudá-lo! – disse o anão olhando bem nos olhos de Max. Ele finalmente desviou o olhar retirando suas mãos dos ombros do amigo. — Não tente enfrentar essa barra sozinho, está bem?

— É, estamos nessa juntos. – Mary reforçou com um pequeno sorriso.

Talvez em meio a sua terrível maré de má sorte, ter aqueles dois ao seu lado fosse uma grande fortuna, no fim das contas. Max sorriu. Sorriu genuinamente, mesmo que fosse a última coisa que ele imaginava fazer em uma situação como aquelas. Ele repentinamente puxou os amigos para um abraço que durou poucos segundos, mas o suficiente para que ele murmurasse “Obrigado” e os outros dois trocarem olhares aliviados.

Logo depois, Mary organizou uma cama improvisada para si mesma, insistindo que Max ficasse com a sua e Vinyl dormiu na poltrona, já que era o menor dos três. A menina já estava dormindo tranquilamente quando Max, que ainda estava acordado, escutou o anão chamando seu nome. — Max. – ele disse, e o menino conseguia ver apenas metade do rosto do amigo, que estava iluminado pela luz da vela dentro do quarto.

— O que foi carinha?

— Acha que meu pai vai ficar feliz em nos ver? Digo, talvez ele fique bravo já que desaparecemos por duas semanas. – ele perguntou, e mesmo no escuro, Max conseguiu o ver esfregando as mãos como sempre fazia quando estava nervoso.

— Ele sempre fica feliz em nos ver… Ele tem todo o direito de ficar bravo na verdade, mas não acho que supere o alivio de ver que estamos vivos. – Max disse refletindo um pouco. — Eu sinto falta dele também Vinyl.

— Ele saberia melhor o que fazer em certas situações. Acho que nunca fiquei tão ansioso em voltar pra casa.

Max deu um curto riso abafado antes de concordar com a cabeça. Ele sabia exatamente como seu amigo estava se sentindo, já que seu coração ansiava a mesma coisa. Alguns minutos depois, os dois finalmente pegaram no sono e a mente de Max começou a vagar pelo mundo dos sonhos.

 

Ele estava deitado no que deveria ser sua nova cama. Pop havia preparado o quarto para ele, esforçando-se para deixá-lo o mais confortável possível, embora a situação fosse difícil de compensar. Era um dia após o enterro de sua mãe, onde o jovem menino de apenas quatro anos fora obrigado a vê-la ser colocada debaixo da terra. Pop poupou-lhe de velá-la, pois as coisas já estavam suficientemente traumatizantes.

O menino passava grande parte do tempo no quarto, em silêncio. Queixava-se de que sua perna ainda doía devido ao incidente de ter caído da janela após sua mãe ter lhe instruído a fugir, mas o sábio anão sabia que não era verdade. A perna do garoto estava curada, mas seu coração provavelmente destruído. Pop bateu amigavelmente na porta do quarto segurando uma tigela de sopa quentinha, mesmo sabendo que era inútil, já que Max se recusava a comer.

— Max…? Posso entrar? – ele disse, sem resposta aparente. — Eu trouxe uma sopa… Fui eu mesmo quem fez.

Aguardou alguns poucos segundos antes de ouvir uma voz tímida e chorosa de criança dizendo “Entra”. Aquilo lhe trouxe um rápido alivio e então ele finalmente entrou, encontrando o garoto novamente encolhido entre os cobertores com o rosto virado para a parede. Pop sentia raiva de quem quer que tenha feito aquilo à Joan. Não apenas porque ela era como parte da família para ele e Umma, mas porque agora o pequeno Max havia perdido a pessoa mais importante da sua vida.

— Max… Por favor, fale comigo… — Pop disse aproximando-se devagar e exibindo uma expressão triste, mas ao mesmo tempo empática. — Eu não consigo imaginar como deve ser difícil, mas… Estou aqui para ajudá-lo.

— Não tem como a minha mãe voltar, não é? – Max perguntou segurando as lágrimas ainda sem se virar, o que fez Pop paralisar por um segundo sem saber o que dizer.

— Não garoto… Não tem como ela voltar… – ele respondeu tristemente, colocando a tigela de lado e sentando-se ao pé da cama do menino, mas redirecionou-se quando finalmente sentiu que ele estava se virando. Preferiu que ele não tivesse o feito, entretanto. Max estava com o rosto inchado e lágrimas recém-formadas escorriam de seus olhos enquanto ele se agarrava ao cobertor.

— Por que machucaram ela, tio Pop?

O anão fechou os olhos em angústia. Aquele era o tipo de pergunta que uma criança jamais deveria ter que fazer e encontrar uma resposta era horrível. Tudo o que fez foi sentar-se na cama e puxar o menino para perto de si, de maneira protetora, que praticamente o escondia, já que Max era muito pequeno. Doía em Pop saber a verdade e a provável resposta para aquela pergunta sem poder contá-la a Maxwell, mas ele sabia que era algo complexo demais para uma mente de quatro anos e que aquelas palavras escondiam um terrível perigo. — Eu não sei garoto… Mas pode ter certeza que quem quer que tenha sido, irá pagar pelo que fez… Um dia.

Max continuava a soluçar entre os braços de seu protetor. Sentia um vazio tremendo dentro de si. Sempre que se sentia triste, mesmo que esse tipo de tristeza fosse nova para ele, era sua mãe quem o tranquilizava. Mas ela não estava mais lá, e jamais voltaria. Mesmo sendo muito jovem, ele conseguia inconscientemente entender que sua fonte de confiança parental se tornaria outra pessoa em breve.

 

A lembrança mudou e a mente do garoto foi levada horas depois, quando Max havia finalmente se acalmado, e Pop havia tido sucesso em fazer com ele levantasse da cama, tomasse um banho e comesse alguma coisa, o anão o encontrou desenhando em seu quarto. Tinha traços infantis, é claro, mas era possível enxergar um homem de longos cabelos castanhos, barbado e intensos olhos dourados. Pop observou o desenho por alguns momentos, curioso, antes de perguntar a Max quem era o homem.

— Antes de fecharem o caixão, quando eu fui vê-la… Minha mãe tava usando aquela correntinha dourada, sabe? – ele disse e então seu rosto corou envergonhado antes de continuar. — Desculpa tio Pop, mas… Eu abri. De um lado tinha uma foto minha e do outro, uma desse homem. Ele é meu pai, não é?

A cor desapareceu do rosto do anão por alguns segundos antes que ele conseguisse voltar a si e o pequeno menino parecia estudá-lo já que ele piscava nervosamente. Finalmente ele deu um suspiro e concordou com a cabeça. — Mas também só o conheço dessa forma.

— Por que ele não veio ao enterro? A gente não devia avisar ele? – o menino perguntou quase de forma inocente. — Talvez eu pudesse morar com ele…

Pop pegou o desenho nas mãos antes que Max pudesse dizer qualquer outra coisa e colocou no bolso. — Garoto, sua mãe teve razões para deixá-lo longe do seu pai, está bem? É aqui que ela ia querer que ficasse… – Max olhou cabisbaixo para o chão, não entendendo bem porque todos, inclusive a própria mãe, queriam escondê-lo do pai. Pop ajudou ele a se levantar, colocando uma mão em seu ombro paternalmente. — Sei que está confuso, mas prometo que um dia você vai entender tudo. Tudo bem?

O anão o acompanhou até a cama, e lhe deitou, cobrindo-o para que ficasse quentinho e protegido. Max concordou com a cabeça sabendo que, assim como as conversas que tinha com Joan, argumentar sobre aquilo não levaria a lugar nenhum. Pop sorriu e bagunçou seus cabelos carinhosamente antes de começar a se levantar, mas foi interrompido por Max segurando sua mão. — Tio Pop… O meu pai é mau?

Novamente a pergunta lhe atingira como um soco no estômago, deixando-o em silêncio por alguns segundos, antes dele chacoalhar a cabeça suavemente para responder. — Não… Eu não sei Max. Eu te disse que não o conheço.

— Ah… É… – O menino disse infeliz, mas aceitando a verdade. — Desculpe.

— Não precisa se desculpar, foi apenas uma pergunta. – o anão respondeu tentando sorrir e soar amigável. Curvou-se para beijar a testa do menino. — Agora está na hora de dormir, certo? Boa noite, Max.

— Boa noite, tio Pop…

O menino deitou a cabeça confortavelmente no travesseiro e foi nesse momento que a lembrança se misturou ao sonho, pois um pássaro trovejante pousou em sua janela. Max o olhou por alguns segundos, curioso, antes que ele abrisse o bico e gritasse.

— Acorda Max! – o grito estridente do pássaro se misturou a voz familiar de Vinyl e ele percebeu que seu amigo o havia despertado, quando sentou-se abruptamente na cama de Mary. — Está na hora.

 

Os dois meninos, já trocados, desceram as escadas que dava para a Taberna onde encontraram Mary se despedindo dos pais, que agora estavam cientes de sua saída. Os dois elfos adultos entregaram aos três suprimentos suficientes para o resto da viagem, que estava resumida nos restante do prazo de apenas três dias. Eles agradeceram e foram apressados até o celeiro onde o pai de Angus vivia e alugava seus cavalos.

Como havia prometido, o menino que conheceram dias antes estava apoiado na cerca do pequeno estábulo na parte de fora do estabelecimento onde alguns cavalos estavam descansando. O sol brilhava em seus olhos extremamente azuis e o vento matinal batia em seus cabelos escuros. Eles se cumprimentaram e logo após, seu pai apareceu.

Para a surpresa de Max e Vinyl, o pai do elfo parecia extremamente humano. Ele não tinha as feições das contagiantes criaturas como seu filho e Mary tinham, e as rugas da velhice já pareciam ter-lhe encontrado, mas preferiam não ressaltar nada naquele momento. O senhor os levou gentilmente até os estábulos e Angus interrompeu a garota de segui-los, a chamando para conversar a sós enquanto os outros dois barganhavam um bom preço pelo aluguel dos animais com seu pai.

O elfo arrastou Mary para dentro de celeiro, e seu olhar se tornou aflito antes dele começar a falar. — Tem certeza de que quer fazer isso? Não acha que já fez o bastante por esses garotos?

— Angus… Sei que está dizendo isso porque está preocupado comigo. – ela respondeu  de braços cruzados e olhando para baixo, mas então ergueu o rosto para olhá-lo nos olhos e continuar. — Mas eu preciso terminar o que comecei.

Sua expressão caiu, claramente chateado. Mas ele a conhecia bem o suficiente para saber que não importava o que ele dissesse, ela seguiria em frente com o que quer que estivesse dentro de sua cabeça. Angus deu um longo suspiro. — Está bem… Apenas me prometa que vai ficar bem. – ele disse e para a surpresa da garota, ele lançou-lhe um beijo delicado na bochecha. — Eu não aguentaria te perder.

Mary corou com a expressão surpresa. Suas bochechas tornaram-se ainda mais rosadas quando ela percebeu que seu amigo de longa data também estava ruborizado. Ela se concentrou para não parecer tão surpreendida como estava e balançou a cabeça dizendo. — E-Eu prometo… – Antes que pudesse dizer qualquer coisa mais, os dois elfos ouviram a dupla companheira de Mary a chamando. — Acho que preciso ir agora…

Angus concordou e desviou o olhar timidamente, e logo a seguiu novamente até o estábulo. Max e Vinyl pareciam ter conseguido um bom preço por dois bons cavalos. Os dois garotos já estavam de prontidão montados em um dos animais, enquanto seguravam o outro, que pertenceria a Mary, por uma corda. Ela se despediu rapidamente, montou no outro cavalo e os três seguiram viagem.

 

Vinyl estava inicialmente tranquilo. Depois começou a ficar ansioso. Então se sentiu confuso e entediado, já que seus amigos pareciam ter perdido a capacidade de falar durante horas passadas do percurso. Mary, que geralmente era a responsável por quebrar silêncios constrangedores, estava surpreendentemente calada, devido ao acontecimento do celeiro, o qual ela não queria comentar com os outros dois de forma alguma.

Max também estava quieto pensando na lembrança com a qual tinha sonhado na noite passada. Sentia-se um pouco melhor depois de ter conversado com Vincent e Mary anteriormente, já que pode descarregar parte do fardo que o acompanhava. É claro que ainda pensava em Jack, em Aria, em sua velha e aconchegante cabana que ele teve tão pouco tempo para desfrutar, mas no momento seus pensamentos estavam focados no motivo que o levou a sonhar com aquilo. Talvez fosse apenas saudade de Pop, mas Max achava que fosse algo mais. Talvez agora que fosse mais velho, a hora de perguntar a seu pai adotivo sobre o verdadeiro havia chegado.

Só depois de alguns minutos dentro da própria consciência, o garoto conseguiu voltar ao mundo, se dando conta de que Vinyl estava falando com Mary às suas costas.

— Não imaginei que você fosse seguir com a gente até a Capital. – ouviu seu amigo dizendo para a elfa e finalmente quebrando a quietude.

— É, eu também não. Mas depois de tudo o que houve… Seria injusto com vocês não seguir em frente. Além disso, eu quero ir até o fim. Tenho minhas próprias duvidas com o tal Harmos, que preciso resolver. – ela disse em um tom determinado.

Max permaneceu calado, embora estivesse prestando atenção na conversa dos dois. Vinyl pareceu concordar com a cabeça. — Entendo… — Seu tom demonstrava que ele queria desviar-se daquele assunto, quase como uma forma de proteger Max. — Está ansiosa para conhecer a Capital?

Mary deu um meio sorriso na direção do anão. — Ah claro. – Embora ela estivesse conflituosa no momento, sua expressão era genuína, sincera. Era bom vê-la sorrindo, ainda mais nas circunstâncias nas quais eles se encontravam. Mas no fim das contas, ser ingenuamente alegre era uma das principais características do elfos e para ambos os garotos era reconfortante estar na companhia de alguém assim. — As terras mais ao sul sempre chamaram minha atenção. Invejo vocês de certa forma… Vivendo na capital do Rock e tudo mais.

— Mas você pretende mudar-se pra lá um dia? – perguntou o anão, curioso.

O rosto da garota tornou-se contemplativo, como se ela estivesse de fato refletindo sobre a pergunta. — Eu não sei… Na Vila tenho meus pais, meus amigos, a taberna… – ela disse pensativa, fazendo uma pausa antes de continuar. — Não sei se conseguiria abandonar tudo isso. Mas não é hora de nos preocuparmos com isso, certo?

Vinyl concordou com a cabeça, retribuindo o meio sorriso. — É… Você tem razão. – Max não pode evitar levantar uma expressão confusa. Vinyl sendo amigável com um elfo? E realmente querendo conversar com um? Ao mesmo tempo, ele deu um sorriso escondido para que seu amigo não visse. O garoto sabia que a missão mudara a todos, mas teve certeza do quanto seu pequeno melhor amigo estava mudado quando ele o apanhara pela camisa no dia anterior e o reconfortou. Vinyl nunca foi extremamente confiante, mas lá estava ele, ajudando Max a manter-se de pé, deixando de acreditar nas histórias estúpidas de Eddie. Max podia sentir. — Posso te perguntar uma coisa, Mary?

— Vá em frente.

— Eu ouvi dizer que elfos vivem muito. Digo, a contagem dos anos não funciona da mesma forma. – ele disse um pouco hesitante de que isso também fosse uma lenda mentirosa e que Mary tomasse sua fala como um insulto. — Bem… Quantos anos você tem?

De fato, Mary olhou para ele intrigada por alguns segundos sem responder a pergunta, mas logo depois ela soltou uma gargalhada e continuou rindo, fazendo com que os dois garotos no outro cavalo trocassem olhares confusos.

— Eu disse alguma besteira, não foi? – Vinyl perguntou cabisbaixo.

— Não! Não… – ela disse deixando o riso morrer devagar. — Não é isso. É que a sua pergunta é meio complicada. Mas você tem razão. Eu tenho cento e catorze anos. Mas para a minha espécie, não passo mais do que uma criança.

Os olhos de Vinyl se arregalaram com a revelação, enquanto Max parecia completamente perplexo. Vendo o choque no rosto de seu amigo, o menino não conseguiu segurar um riso abafado.

— Você… Nossa… – o anão disse ainda processando a informação na cabeça. — Você deve ter conhecido uma porção de anões.

— Na verdade, alguns. Eu sai poucas vezes da Vila, e como a maior parte dos cidadãos lá são elfos… Bem, a questão é que também não percebemos os outros envelhecendo. – ela explicou encolhendo os ombros. — Mas já conheci alguns anões sim, que passaram pela taberna. Já vi alguns até bem altos. Para anões, é claro.

Os olhos de Vincent se arregalaram quase como se uma frase de ativação secreta tivesse sido pronunciada. Max sentiu a agitação no garoto atrás dele. — Oh não… Eu não acredito que você disse iss… – o menino começou a dizer, mas foi cortado por seu melhor amigo que começava vomitar o assunto.

— Eu vou te contar um segredo. Anões altos você disse, não? Pois a família Vinyl possui os anões mais altos e fortes de toda Hysteria. Meu bisavô, por exemplo, diziam que ele era tão alto que as pessoas o confundiam com um homem. – ele contava todo animado, enquanto Max, que já tinha ouvido essas histórias milhares de vezes, virava os olhos segurando o riso. Vinyl estava diferente, mas certas coisas não mudam nunca. — Somos mais altos que a maioria dos anões pelo menos. Pode perguntar ao Max, ele vai confirmar.

— Me contou um segredo? Pensei que não confiasse nos elfos. – afirmou Mary olhando furtivamente para ele.

— Eu… Não confio. – ele disse em uma pausa. — Mas confio nos meus amigos.

Desta vez, Mary virou-se perplexa para o jovem anão. A fala a havia pego de surpresa, mas logo sua confusão transformou-se num sorriso radiante e seu riso contagiou os outros dois. Foi nesse momento que Max finalmente percebeu algo: Tudo ficaria bem. Talvez não tão bem quanto ele imaginava, é claro, e certas feridas abertas durante aquela jornada jamais cicatrizariam completamente. Porém, mesmo as coisas ruins que experimentaram seriam consertadas pelo tempo.

 

Quando os primeiros raios do último dia do prazo de Maxwell começaram a raiar no céu, os três garotos avistaram o castelo real da Capital. Fazia apenas duas semanas que Max e Vinyl não viam seu lar, mas depois de tudo o que passaram aquele tempo aparentava anos. A tranquila Capital mais parecia a Montanha Punk no momento, com o céu tempestuoso e ninguém nas ruas. Os dois não tinham certeza se os habitantes sabiam o que estava acontecendo no interior do castelo, mas imaginaram que sim, pois um local tão agitado como o centro de Hysteria, jamais ficaria tão deserto.

Ainda sim, estavam dentro do prazo e uma ponta de esperança após todos aqueles dias andando a cavalo surgiu no peito de Max. Ele virou-se suavemente para olhar os amigos. Vinyl olhava o horizonte com o olhar preocupado e Mary apenas confirmou com a cabeça seriamente o que fez com que o menino escolhido soltasse as rédeas de seu cavalo a fim de fazê-lo correr mais depressa.

Mary fez o mesmo para acompanhá-lo e em questão de minutos os três adentraram abruptamente pelo portão do castelo. O sol refletido nos discos de vinil espalhados pelos muros bateu em seus olhos por um segundo, fazendo com que descessem dos cavalos o mais rápido que podiam. Os três saíram em disparada até o salão do trono, onde Max havia sido incumbido de sua missão. Era também aonde ele tinha visto Aria pela última vez.

Quando entraram, entretanto, Max foi obrigado a parar onde estava. Não pôde acreditar no que estava vendo. O rei Reed e a rainha Scarlett ainda estavam amarrados em seus tronos, ao contrário de Harmos, que estava de pé. Mas garoto sentiu sua boca abrindo espantada, seus olhos de arregalando com o terror e seus joelhos fraquejarem quando ele percebeu que o Deus segurava uma familiar figura inconsciente em seus braços.

Aria estava morta. Maxwell Starr havia falhado.

— Seu… Seu desgraçado! – Max disse quase sem força, mal podendo conter toda a fúria que queimava dentro de seu peito. Ele fechou as mãos em punhos. — Você sabia que eu estava voltando! Sabia que eu estava com os artefatos! Por que não esperou, porra? – o menino estava explodindo. Seus amigos queriam contê-lo, não para proteger Harmos, é claro, mas para protegê-lo de si mesmo. Um passo em falso e Max estaria no mesmo estado de Aria, o que, se dependesse do terrível Deus, estava para acontecer em poucos minutos.

Harmos mirou o garoto dos pés à cabeça, como um mestre estuda sua obra. Sua expressão era completamente indiferente, como se Max não passasse de um pequeno verme malcriado, uma criança estúpida o suficiente para ousar enfrentar a autoridade. O Deus soltou um suspiro entediado, soltando a princesa no chão a sua frente, e logo depois passou por ela caminhando em direção a Max e seus amigos.

— Nós tínhamos um acordo, rapaz. – ele disse calmamente. — Duas semanas. Era esse o prazo. Nem um minuto a mais ou a menos, e você atrasou. – Harmos sacudia a cabeça em sinal de desaprovação o que só deixava o rosto de Max mais vermelho, sangue subindo e queimando cada vez mais depressa. — Aceite garoto, você fracassou e não há nada que possa fazer a respeito. Apenas me entregue meus artefatos e fique feliz por você e esses dois estúpidos estarem vivo—Espere… – ele parou de falar quando seu olhar encontrou os amigos de Max e ele percebeu que um deles não era Jack, e sim uma jovem elfa. Seu olhar se tornou ligeiramente irritado. — Onde está o gigante? Quem é você?

A maneira como ele apontava para Mary mostrava tamanha repugnância que a única reação da menina foi encolher-se envergonhada. Sentiu-se como um animalzinho enxerido que tentava interferir em assuntos que não lhe diziam respeito. Harmos sacudiu a cabeça, ignorando-a novamente e voltando-se para Max. — Deixa pra lá. Você disse que estava com os artefatos, Maxwell? – ele perguntou impaciente. Já era possível sentir a raiva que emanava do menino, criando um clima extremamente pesado dentro da sala do trono, e por esse motivo seus amigos permaneciam completamente calados. Max nem estava mais escutando o que o Deus falava, mas apanhou as armas dos amigos, além da adaga de Jack e a sua própria espada e marchou pesadamente até uma mesa, onde os depositou. Todos os artefatos, exceto um, que ainda estava guardado em sua mochila.

Harmos cruzou os braços olhando de cima para baixo em direção à mesa e ao rapaz que estava próximo dela. Sua expressão tornou-se novamente irritada. — Pensei que tivesse dito que havia cumprido a missão…

— E eu cumpri.

— Você é idiota por acaso? Eu só vejo quatro artefatos ai, menino! – ele gritou aproximando-se de maneira ameaçadora, mas Max não moveu um músculo sequer. Sua expressão havia se tornado fria como um cubo de gelo. — ONDE ESTÁ A MINHA PEDRA DA RESSURREIÇÃO?!

A ausência do último artefato parecia ter abalado Harmos. Vinyl estava certo, aquela última pedra era importante. Provavelmente a mais poderosa delas, e deveria ter um valor inestimável para o Deus. Seus amigos pareciam ter percebido a mesma coisa, embora ele não pudesse escutar que Vinyl estava sussurrando algo para Mary, seus rostos mostravam que eles tinham captado algo. — Ele disse “Pedra da Ressurreição”? – e isso fez Mary olhar de relance para Max, cujo semblante permanecia inalterado.

Entretanto, sua mente estava trabalhando rapidamente, bolando um plano. Max relembrava o momento que segurou a pedra branca nas mãos, o quanto ela brilhara, muito mais do que as outras. Lembrou-se também da onda de energia que transpassou por todos quando a luz se esvaiu, quase como se o objeto carregasse vida própria. Por trás do Deus, do outro lado da sala, Max conseguiu enxergar um buraco na parede com uma intensa luz brilhando dentro, logo abaixo da pintura do rei e da rainha. Era uma lareira.

Era um movimento arriscado, mas Max não tinha nada a perder. Aria estava morta e desde que a vira sem vida nos braços de Harmos, seu mundo havia se transformado em desespero e confusão. Mas ele iria conseguir, nem que vingá-la fosse a última coisa que fizesse. O menino começou a andar em direção a lareira, porém sem dar a entender que seu objetivo era chegar lá. Ele falava enquanto andava tentando manter Harmos focado nele, e apenas nele. Afinal seus amigos ainda pareciam estar em um campo seguro. — Você tem razão senhor… Não fomos capazes de recuperar a pedra branca. As condições lá estavam difíceis, sendo que perdemos Jack.

— Quem diabos é Jack?

— O gigante. O protetor que vossa grandeza criou para mim. – Max deu suspiro triste, realmente lembrando-se do grandão. — Ele se sacrificou. Mas mesmo assim foi em vão… Não conseguimos a pedra. Por isso você tem o direito de tirá-la de mim. Esse foi o trato, não é? – Max disse apontando suavemente para sua princesa estirada no chão, antes de virar-se para a fogueira e mirá-la como se estivesse a contemplando, perdido em pensamentos. Vinyl e Mary se entreolhavam, desarmados e agora chocados com as palavras que saiam da boca do amigo. Estavam confusos demais entre as mentiras que Maxwell dizia e os absurdos que jamais pensaram ouvir dele.

Harmos também não esperava essa brusca mudança de atitude, já que o menino parecia furioso segundos atrás. Observou-o por alguns segundos virado de costas e olhando as chamas, sem conseguir ver completamente o que ele estava fazendo. — Essas armas não me adiantam de nada sem a última pedra, seu menino inconsequente! Você vai me trazer a última pedra, nem que eu tenha que mantê-lo naquela maldita montanha pelo resto da vida! – ele gritou irritado. Caminhava em direção em Max pesadamente e os barulhos de seus passos ecoavam por todo o castelo, pronto para punir o rapaz ainda mais.

Quando Max sentiu que a distância estava curta e perigosa o suficiente, ele apanhou uma das toras que queimava nas chamas da lareira e virou-se rapidamente quase dando de cara com o Deus raivoso. Ele levantou a palma da mão quase que instintivamente, mas quando o fez, sentiu a mesma energia intensa que o fez flutuar enquanto cantava no dia do desafio. Os raios de poder lançados de sua palma atingiram Harmos em cheio nos olhos fazendo-o gritar e cambalear alguns passos longe do garoto. Vendo a oportunidade, Max correu o mais rápido que pôde enquanto o Deus se recuperava.

No momento estava tão concentrado no que tinha que fazer que nem teve tempo de pensar em como tinha feito aquilo. Como tinha lançado algo das próprias mãos capaz de machucar alguém como Harmos? Naquele instante, não importava. Max continuou correndo, com a tora rapidamente queimando e as chamas se aproximando do seu braço. Quando ele atingiu a mesa dos artefatos novamente, Harmos havia se recuperado e tinha voltado a olhá-lo.

— Quer sua pedra idiota Harmos? Pois você não a terá por mim! Nem ela, nem nenhum dos outros artefatos! – Max gritou liberando toda a sua raiva. Jogou a tora em chamas na mesa, botando fogo em todas as armas mágicas que ali estavam dispostas. O rapaz havia lido e reelido o livro guia dos artefatos mágicos diversas vezes durante toda a missão. Sempre precisava consultá-lo e às vezes acabava descobrindo alguns outros segredos, como por exemplo, o fato de que não era possível extinguir os artefatos do mundo, mas era possível destruí-los ou perdê-los, e se alguém o fizesse, eles reapareceriam em novos esconderijos de suas cidades-natais. — Arrume outro otário! – ele continuou gritando enquanto se afastava um pouco da mesa, que já havia se transformado em uma fogueira, incendiando os artefatos no meio no fogaréu.

O rosto de Harmos, agora já recuperado, tornara-se cada vez mais pálido e assustado, vendo seus preciosos artefatos queimando e logo desaparecendo para esconder-se novamente. Quando sumiram completamente, seu rosto mudou, tornando-se louco de fúria e Max tinha a impressão de que enquanto ele bufava, seu tamanho chegou a aumentar. Seus olhos encontraram os maníacos do Deus, que estava pronto para matá-lo, mas Max não ligava. Havia feito o correto em destruir as armas e não ser o responsável a entregá-las àquele ser terrível. Deu uma leve olhada para Aria, entretanto, com os olhos chorosos, já que seu ato não a traria de volta.

— VOCÊ VAI ME PAGAR, MAXWELL! – disse Harmos partindo para cima do menino com os punhos cerrados.

Os amigos de Max, vendo o pior acontecer, fizeram menção a começar a correr para lutar, embora estivessem sem suas armas e sua participação contra alguém daquele tamanho fosse um pouco inútil. Sem nem sequer olhar para eles, Harmos movimentou sua mão lançando sua mágica divina e prendendo os dois jovens contra a parede para que eles não interferissem.

Max viu o mundo em câmera lenta conforme Harmos avançava para atacá-lo. Quem ele pensava que era ao desafiar um Deus daquela maneira? Ele era só um menino, no fim das contas. Mas era um menino que havia sido enganado. Olhou em volta vendo que a fogueira que havia criado ainda queimava, embora os artefatos já tivessem sumido, viu Aria morta e seus pais assustados presos em seus respectivos tronos. Também lembrou-se de pequenos flashes das últimas duas semanas: Quase sendo devorado pelo ogro, sendo esfaqueado pelo punk, passando frio nas montanhas góticas… Mas aquilo não era tudo. Também conseguia lembrar-se dos pequenos momentos de conforto e risadas que deu com Vinyl e Jack, quando conheceu Mary na taberna, da luz que falava com ele dentro da caverna e que lhe trouxe tanta esperança. A luz… Não. Maxwell não ia se arrepender de ter desafiado Harmos. Fora ele quem lhe havia tirado tudo, menos as esperanças. Ele não ia deixar as coisas acabarem daquele jeito. Não deixaria que Harmos o pegasse vivo.

Quando o Deus estava a um palmo de alcançá-lo e acabar com ele de uma vez por todas, Max fechou os olhos e cerrou os punhos, canalizando tudo aquilo que estava sentindo. Quando o punho do Deus estava prestes a se chocar contra o rosto do menino, este abriu novamente os olhos que brilhavam como a esfera da caverna, sem pupilas, apenas poder. Jamais havia sentido algo tão intenso. O poder das pedras e a energia do dia do desafio não eram nada perto daquilo. Sentia toda a potência do mundo, de todos os seres, de toda a música vibrando dentro de si.

Cerca de um segundo depois, sua visão voltara ao foco e ele notou algumas coisas em sua volta. Harmos havia sido atirado alguns metros longe e estava fazendo um esforço para se levantar novamente. Seus pés já não tocavam mais o chão e Max flutuava sem muita dificuldade. Mas o mais estranho era o campo de força arroxeado como a esfera que o circundava, aparentemente o protegendo e que havia impedido o ataque do Deus. Ele tinha feito aquilo?

Harmos levantou-se completamente chocado com o que estava presenciando, assim como todos os outros presentes na sala também estavam perplexos.

— O que…? Não… – seus olhos queimavam de raiva e frustração. — NÃO PODE SER!

— Max…? – Vinyl sussurrou quase sem forças vendo o amigo daquela maneira, rodeado de tanto poder.

Como se estivesse possuído por uma força superior, Max olhou com seus brilhantes olhos roxos em direção ao Harmos chocado. — Você vai deixar a mim e aos meus amigos em paz, seu monstro! – sua voz soava um pouco mais grave em seus ouvidos. O Deus parecia ranger os dentes e grunhir com ódio antes de gritar e desaparecer em chamas negras. Era estranho que ele não fizesse questão de continuar lutando, mesmo que isso fosse melhor para o garoto.

Assim que ele se foi, o campo de força desapareceu, e Max caiu de joelhos no chão. Sua aparência e voz haviam voltado ao normal, e o poder canalizado se esvaia, dando espaço para um incontável número de perguntas que só o deixaram ainda mais confuso do que estivera nos últimos dias. Seus amigos, o rei e a rainha também foram libertos no momento em que Harmos desaparecera.

O garoto colocou uma mão na cabeça, sentido o cérebro latejando, mas conseguiu lembrar-se de coisas mais importante do que ele próprio. Levantou-se num sobressalto correndo em disparada até onde o corpo da princesa jazia inconsciente. Ele sentou-se rapidamente no chão, pegando-a em seus braços, descansando sua cabeça, pálida e fria no momento, em seu colo.

— Max! Como foi que… – Vinyl perguntou, ainda desnorteado, conforme ia se aproximando junto com os outros, que estavam igualmente confusos. Sua pergunta foi cortada, porém, quando ele viu seu amigo com a princesa nos braços e com os olhos cheios de lágrimas. Mary tocou o ombro do anão, para que ele se calasse, sinalizando que podiam tratar daquele outro assunto mais tarde. Todos estavam reunidos em volta dos dois apaixonados, luto estampado em seus rostos. Não era possível que depois de tudo o que tiveram que enfrentar que as coisas realmente acabariam daquele jeito. O amor da vida de Max estava morto. Ele levantou o rosto para mirar o rei Reed por um segundo, e assim como ele, percebeu que sua majestade também chorava provavelmente arrependido de coisas que tinha feito e dito antes.

Vinyl mordia o lábio nervosamente enquanto as palavras “Pedra da Ressurreição” ecoavam em sua mente. Ele esfregou suas mãos nervosamente uma contra a outra antes de dar um passo à frente. Max não havia colocado a pedra branca junto dos outros artefatos na mesa e, portanto, ela não havia sido queimada. Provavelmente ainda estava intacta dentro da mochila de seu amigo. — Max… E se tentarmos algo?

Max virou o rosto para o seu melhor amigo, ainda em prantos, mas levemente curioso. O que poderiam fazer? Ele pensava erguendo uma sobrancelha. Vincent se dirigiu até a mochila de Max, abrindo-a. Cuidadosamente, retirou a pedra branca de lá e realmente ela estava em perfeito estado. O anão depositou o último artefato sobre Aria, bem no centro de seu corpo enquanto ainda podia ouvir Max soluçando assustado ao lado.

Vinyl se afastou e esperou. Nada aconteceu. O anão não parecia aceitar que era o fim. Ele apanhou o livro dos artefatos em sua própria mochila para ver se não havia nada que eles pudessem fazer para salvar Aria. Max, opostamente, havia perdido as esperanças de que a menina pudesse voltar. Continuou olhando-a, tão bonita mesmo em seu sono de morte, e acariciou seus cabelos dourados para tirá-los da frente de seus olhos. Começou a escutar passos de guardas à distância, imaginando que logo a levariam embora. Uma lágrima escorreu de seus olhos em direção à pedra repousada sobre a princesa. — Adeus meu amor… – ele disse enquanto seu choro molhava o artefato. Assim que o tocou começou a brilhar como havia feito dentro da caverna quando eles o encontraram. Max se afastou um pouco, espantado. Aria subiu aos ares, ainda inconsciente, e com a pedra colada em seu corpo, como se ambas fossem uma coisa só.

Como uma estrela cadente, Aria brilhou intensamente e pedra parecia entrar dentro do corpo da menina conforme a cor retornava ao seu rosto. Assim que o brilho desapareceu e não havia mais nenhum sinal visível da pedra, a menina retornou devagar até o chão onde estava antes. Seu corpo deitou-se na mesma posição anterior e seus olhos permaneceram fechados. Max voltou a segurá-la em seus braços que estavam trêmulos e surpresos.

Todos pareciam igualmente alarmados com o que haviam acabado de ver, mas o sentimento dobrou quando Aria começou lentamente a abrir os olhos. — M-Max…? O que…?

— ARIA! – Max gritou numa mistura de alegria e choque, olhando-a como se ela fosse uma espécie de anjo. Suas lágrimas ainda escorriam, mas já não importava mais, porque agora elas eram de emoção. Ele sorriu e a puxou para um abraço apertado, com medo que ela fosse sumir se ele a soltasse. Novamente seus olhos se encontraram, mas que ela o encarava perplexo, claramente não entendendo tudo o que estava acontecendo. Ele tocou sutilmente o rosto da princesa, querendo ter certeza de que aquilo era real. De que ela era real.

Antes que ela pudesse abrir a boca para perguntar o que estava acontecendo, Max a beijou. Não se importava que os pais dela estivessem olhando, além de muitos outros, já que os guardas finalmente haviam alcançado a sala do trono. Mary e Vinyl encaravam a cena igualmente tocados e embora ainda estivesse confusa, Aria beijava-o feliz por vê-lo novamente.

Era como os campos de morango outra vez, como se agora ela pudesse sentir aquela sensação maravilhosa para sempre. Quando se afastaram os dois continuaram se olhando por alguns segundos, corados.

— Eu te amo. – Max disse quebrando o silêncio. A menina o encarou paralisada por uma fração de segundo antes de dar uma risada curta.

— Eu também te amo… Mas você vai ter que me explicar o que aconteceu aqui mais tarde.

Max também deu um riso abafado, olhando envergonhado para o chão. Uma mão amigável lhe tocando o ombro, o fez olhar para cima novamente. Era o rei Reed exibindo uma expressão aliviada e alegre ao mesmo tempo. O garoto levantou uma sobrancelha confusa, já que imaginava que aquele homem o odiasse, porém ele ofereceu uma mão ao garoto que aceitou respeitosamente. Sentiu Aria se levantando atrás dele também, mas agora sua atenção estava focada no rei de Hysteria que continuava sorrindo carismaticamente em direção ao rapaz enquanto suas duas mãos jaziam em seus ombros. O rei puxou Max para um abraço agradecido.

O menino olhava para o seus amigos perplexamente feliz, enquanto o rei olhava para Aria que começava a entender o que aquilo significava. A boca da menina se curvava em um sorriso intenso já que a ação do pai demonstrava que ele finalmente havia encontrado. Finalmente aparecera alguém a altura de sua princesinha, alguém que ele podia confiar para substituí-lo e para governar Hysteria ao lado se sua filha.

Aria acordou em sua cama após de uma bela noite de sono. Depois de duas semanas dormindo na jaula dura e nojenta de Harmos, qualquer tempo passado em sua cama era precioso. Ela coçou os olhos e espreguiçou-se, mas foi interrompida pelo som de cordas de um violão e o inicio de uma canção.

“Eu estou apaixonado pela garota de quem vivo falando,

Eu estou apaixonado pela garota sem a qual não posso viver,
Eu estou apaixonado, e estou certo que escolhi um tempo bom
Para se apaixonar.”

Ela olhou encantada em direção ao menino que pronunciava as palavras de maneira tão doce. Max entrou no quarto de Aria tocando o violão e trajando roupas novas, provavelmente feitas sobmedida para ele. Fazia uma semana desde a breve luta com Harmos e desde então não houve um sinal sequer do Deus.

Aria sorriu para ele, cruzando as pernas e sentando-se em sua cama conforme o menino se aproximava. — Bom dia, meu amor. – ela disse quando ele finalmente sentou-se, colocando o instrumento de lado e lhe deu um curto beijo nos lábios. — Você está arrumado…

— Ah! Você gostou? A sua mãe pediu pra fazerem especialmente pra mim. Ela disse que seria perfeito para a celebração de hoje. – Max respondeu parecendo animado. Ele lentamente, embora jamais fosse esquecer-se das coisas que viveu durante sua jornada, voltava a ser o velho Maxwell Starr.

A princesa não podia evitar sorrir com o comportamento de seu namorado. Ela estava acostumada com roupas feitas sobmedidas, presenças em grandes celebrações do reino… Fazia isso desde que usava fraldas. Claramente a vida de Max fora diferente e tudo aquilo era novo para ele, por isso era compreensível que ele estivesse tão ansioso. — É claro que gostei Max. Sabe que fica lindo de qualquer jeito pra mim. – ela inclinou-se para beijá-lo na testa e os dois se encararam por alguns segundos, mas seu clima fora cortado por suaves batidas na porta. — Acho melhor eu me levantar. Também preciso me arrumar.

Aria mexeu falsamente nos cabelos como se quisesse bancar a chique, o que fez Max rir suavemente e se afastar. A princesa levantou-se e caminhou para fora do quarto onde sua dama de companhia a esperava. Antes de ir completamente, mandou um último beijo para Max que esticou a mão fingindo pegá-lo alegremente enquanto a via sair. Segundos depois, o menino levantou-se caminhando até a sacada do castelo, onde tinha uma visão privilegiada de toda a Capital. Podia ver a praça central sendo decorada para o evento do dia e um grande pano cobrindo uma enorme peça, que deveria ser uma nova estátua.

Na última semana, Vinyl, Mary e Max haviam recebido medalhas de honra pelos serviços prestados à Hysteria e tanto a família Vinyl, como a família Vintage, pela coragem de seus filhos haviam recebido uma boa quantidade em ouro como recompensa. O jovem anão jamais esqueceria a expressão surpresa e orgulhosa do velho Pop ao ouvir tudo o que o rei tinha a dizer quando levou os meninos de volta para casa, o que fora suficiente para fazê-lo esquecer-se quase que completamente que seu filho havia fugido em direção a morte certa deixando apenas uma carta. Pop pensava em reformar a cabana com parte do dinheiro, deixando-a maior e mais confortável.

Mary havia retornado à Vila Hard Rock um dia depois da retirada de Harmos, para tranquilizar os pais e os amigos de que estava bem e que eles haviam conseguido. Porém ela retornaria com a família à Capital para a celebração na praça, a qual sua presença era requisitada. Passara a semana e toda a viagem de volta lendo livros sobre Harmos e as outras lendas de Hysteria, pois ainda existiam peças daquele quebra-cabeça que não se encaixavam dentro de sua mente. Max se perguntava se ela já estaria chegando.

Ele foi puxado de seus pensamentos quando o rei tocou-lhe o ombro suavemente. Ele virou-se para Reed. — Majestade. – ele disse curvando a cabeça suavemente em respeito o que sempre fazia o rei rir abafado.

— Já disse que não precisa me chamar assim Max. Eu lhe devo muito mais respeito do que o contrário. – Reed deu um suspiro vendo o garoto erguer-se para mirá-lo novamente. — Aposto que foi ideia da Scarlett essas suas roupas novas, estou certo?

— Foram… – Max respondeu um pouco nervoso. — Ela disse que…

— Ela disse que um príncipe deve se vestir como um? – Reed sorria como se aquilo lhe remetesse a coisas de seu passado. Max lembrou-se que o rei já fora um camponês como ele um dia, um pobre rapaz que fez a princesa apaixonar-se. Talvez aqueles dois tivessem muito em comum no fim das contas. — Ela é muito boa com as palavras… Mas o que você acha?

Max ergueu uma sobrancelha, não entendendo bem a pergunta do pai de Aria. — O que eu acho? O que acho do que senhor? – ele perguntou confuso. Reed abriu um largo sorriso ao ouvir a pergunta do rapaz.

— Ser um príncipe! Digo, você venceu o desafio no fim das contas. E eu acho que ficou claro para todos que você está à altura da Aria e de governar Hysteria ao lado dela. – o rei, ainda com a mão no ombro de Max, começou a encaminhá-lo em direção ao interior do castelo novamente. — Poderíamos providenciar a sua mudança para o castelo imediatamente, e seus treinamentos podem começar assim que você estiver pronto.

— E-Eu…? Um príncipe? Mas… Eu não sei, eu acabei de herdar a cabana da minha mãe e não fiz nada disso porque queria ser rei e… – Max gaguejava nervoso já que não esperava que a oferta viesse naquele momento especifico. Ele parou de falar, entretanto quando escutou passos em direção à sala do trono onde estava com o rei. Aria entrou usando um belíssimo vestido bege com detalhes dourados que fez com que os pensamentos de Max se perdessem sendo substituídos apenas pela visão da menina. Viver no castelo ao lado dela parecia uma boa ideia, de fato. É claro que ele ficaria nervoso com o fardo de ser o futuro rei, mas o que ele esperava se quisesse se casar com Aria um dia? — Um príncipe…? Bem, eu poderia viver com isso. – ele concluiu sorrindo, sem tirar os olhos da menina.

 

Horas depois, estavam todos reunidos na praça central, já completamente decorada. Um tablado de madeira havia sido montado em frente à estátua coberta pelo pano, para que o rei discursasse. Todos os cidadãos da Capital estavam presentes, mas a primeira fila estava reservada especialmente para Vincent Vinyl, Mary Vintage e Maxwell Starr, além de quem mais lhes fossem próximos. O rei Reed subiu no tablado fazendo com que todos o observassem calados. Ele fizera seu discurso em homenagem aos garotos que haviam arriscado suas vidas para salvar Aria e, consequentemente, toda Hysteria. Os garotos já esperavam que essas fossem as suas palavras, já que eles haviam narrado todos os acontecimentos à vossa majestade nas últimas tardes. O que não esperavam era que rei terminasse contando sobre Jack, que tinha sacrificado sua vida na tentativa de manter Max e os outros seguros.

O jovem rapaz segurou-se para não mostrar sua emoção, mas não conseguiu evitar que uma lágrima escorresse quando o pano foi retirado revelando uma grande estátua de bronze, de quase três metros de altura, de Jack. As palavras “Thunderbird. Um coração gigante” estavam gravadas ao pé da estátua. Começou a ouvir as pessoas levantando-se de seus assentos e aplaudindo, o que o fez tomar a mesma atitude, trocando olhares com seus amigos. Estava feliz que a bravura de Jack jamais seria esquecida e, que embora ele tivesse vivido tão pouco tempo, poderia viver eternamente naquela praça e na memória de quem o havia conhecido.

 

Após a cerimônia na praça, as pessoas se encaminharam para o salão de festas real, onde uma grande festa havia sido preparada. Os quatro garotos estavam reunidos em uma mesa, bebendo e comendo enquanto a música rolava e algumas pessoas se divertiam na pista. Vinyl estava comendo um pedaço de bolo como se o mundo fosse acabar, ato que não combinava com o seu terno de gala. Mary estava se segurando para não rir na cara de seu pequeno amigo enquanto Max e Aria, sentados bem próximos e de mãos dadas o olhavam perplexos. Algumas pessoas paravam para cumprimentá-los e até mesmo agradecê-los, o que para os três ainda era bastante esquisito.

— Parece até que somos alguma coisa agora. – Mary disse em meio a um riso abafado quando um homem que havia acabado de agradecer pelo que haviam feito se afastou.

— Nós somos heróis! – o anão respondeu com a boca cheia de bolo erguendo as mãos no ar. — É uma pena que alguns de nós tenha que morar tão longe, não é mesmo Max?

— Carinha… Porque não experimenta engolir antes de falar?

Vinyl engoliu e limpou a boca rapidamente antes de abri-la novamente. — O que eu quero dizer é que heróis sempre trabalham juntos e… – ele começou dizendo, tentando se autoexplicar, mas fora interrompido por Mary, cujo cotovelo esquerdo estava apoiado na mesa, suportando sua cabeça, enquanto ela o olhava.

— E você queria que eu pudesse ficar aqui. – ele confirmou timidamente com a cabeça, fazendo-a sentar-se propriamente com um suspiro. — Bem, sobre isso… Hoje, quando eu cheguei, foi sua mãe quem me recebeu Aria. Eu fui cumprimentá-la e ela disse que queria falar comigo a sós.

Max deu um risinho abafado quando percebeu na expressão de Aria que ela não fazia ideia de que a mãe tinha falado com Mary. — Parece que seus pais tem uma certa tendência a discutir assuntos importantes com seus amigos sem o seu conhecimento, Aria. – ele disse o que a fez encará-lo curiosa. Ele ainda não tinha explicado todos os detalhes de sua conversa com o rei horas atrás, achando que poderia surpreendê-la. — Mais tarde eu explico. Mas o que era, Mary?

— Ela me ofereceu moradia no castelo. – ela deu uma pequena pausa antes de continuar. — Disse que eu poderia treinar com outros arqueiros do palácio e que eu poderia trazer toda a minha família e quem eu mais quisesse comigo.

Os três permaneceram em silêncio absoluto durante alguns segundos antes de Max exibir um largo sorriso inclinando-se levemente sobre a mesa, agitado com a noticia. — Mas isso é ótimo!

— Bem…? Você vai aceitar, não é? – Vinyl perguntou calmamente estreitando as sobrancelhas em direção a elfa, o que a fez tornar-se para ele nervosamente.

— Ora, eu não sei! Já disse como seria difícil deixar a Vila, eu vivi lá a minha vida toda! É só que…

— O que? – perguntou Max, de maneira quase inocente.

— Tudo o que houve… – ela disse olhando para baixo levemente embaraçada. — Passamos por tudo aquilo juntos. As coisas alcançaram um ponto em que ficou difícil deixar vocês também. E com a oportunidade de trazer a minha família junto colocada na balança… – ela movimentou os braços como se fosse uma balança equilibrada. — Digamos que estou considerando a oferta.

Os outros três pareceram satisfeitos, mesmo que resposta tivesse sido apenas um “Talvez”. Uma música animada começou a tocar e todos os convidados pareciam se divertir. Mary e Vinyl, que agora tinha acabado seu pedaço de bolo, levantaram-se para acompanhá-los, deixando Aria e Max a sós na mesa. Ele lentamente se levantou, apanhando a mão dela e os dois caminharam novamente em direção à varanda. Podiam enxergar tanto a festa quanto o ambiente ao ar livre lá fora.

O garoto achava que a celebração fosse grande e bonita demais para três crianças como ele e seus amigos, não importava o quanto de fato tivessem sido corajosos. Ele inconscientemente olhou para o céu, em direção as estrelas que brilhavam no véu negro da noite e por algum motivo a música dentro do salão só fazia parecer que elas brilhavam mais. Aria tocou-lhe suavemente a mão, e ele tornou a observá-la.

— Papai disse que vai abolir a lei do silêncio. Disse que Harmos está fraco demais para castigar alguém desde… Bem, você sabe. – ela disse claramente referindo-se ao último dia da missão.

— Isso é bom… Nunca fez muito sentido de qualquer forma. Se bem que se ela não existisse, eu não teria conhecido você, não é?

Aria sorriu ruborizada, desviando o olhar por um segundo antes de voltar-se a ele novamente. Seus olhos eram tão bonitos como as estrelas lá em cima. Max a admirava quase que perplexo quase não podendo acreditar que eles de fato estavam juntos. Era surreal demais pensar que meses atrás ele sonhava com ela, tendo a visto apenas uma vez caminhando com a corte pelo Dia do Boom. Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, mordendo o lábio suavemente. — Algum problema…?

— Uh…? Não! Não… Não é nada. – ele respondeu sacudindo a cabeça. — É só que… Bem, você é bonita. Bonita demais.

Ela deu um riso abafado agarrando-se em seu braço e apoiando sua cabeça no ombro dele. Ele sorriu com a ação da menina, apoiando-se nela também. — Max, o que estava conversando com meu pai hoje de manhã?

Ah sim! A conversa. Max quase havia se esquecido de que precisava contar a Aria sobre sua decisão de mudar-se para o castelo. Explicou tudo o que foi discutido com o rei: Treinamentos, mudança e um futuro reinado. É claro que poderia ser algo muito precipitado, mas ele sabia que queria ficar ao lado daquela garota pelo resto de sua vida. Ele riu nervosamente quando terminou, já que os olhos da menina o observavam alarmados. — Isso se você realmente quiser que eu seja seu rei. Eu não quero forçá-la a…

Aria jogou seus braços ao redor do pescoço de Max, puxando-o para um beijo caloroso que durou um tempo considerável. Quando seus lábios se afastaram, os dois estavam corados, porém sorrindo em direção um ao outro.

— Acho que isso é um sim, certo? – ele disse tendo certeza de que parecia idiota. Era apenas impressão ou sua voz saiu mais aguda do que no normal naquela pergunta? Aria riu e lhe deu um empurrão amigável.

— Está brincando? É claro que sim!

Nesse exato momento as pessoas começaram a entrar no espaço da varanda, com expressões eufóricas no rosto, incluindo Mary e Vinyl que se dispuseram ao lado deles. Os dois se entreolharam confusos, mas logo sua dúvida foi respondida pelo show de fogos de artifício que começou no céu adiante. Eles sorriram e, assim como o restante, também começaram a assistir a explosão de cores à sua frente.

 

Mary passou a noite no castelo, hospedada. Ainda não tinha tomado sua decisão final em relação a ficar, mas sabia que ainda ficaria alguns dias com seus novos amigos. Tinha conversado um pouco com seus pais na noite passada, mas a festa havia acabado tarde e, portanto, não haviam chegado numa conclusão. Na manhã seguinte, a elfa caminhou em direção ao pub predileto de Vinyl e Max onde imaginou que os dois estariam relaxando. Voltaria para a Vila naquela tarde, então pensou que seria uma boa ideia passar as últimas horas de sua viagem com seus amigos.

Ela realmente os encontrou lá, e Aria estava sentada com eles também. Max contou aos dois amigos a novidade sobre sua mudança para o castelo e o inicio de seu treinamento. Eles pareceram felizes ao ouvir que o garoto estava melhor e se recuperando a cada dia. O acompanharam tão deprimido durante a missão que era bom vê-lo sorrir. As coisas finalmente pareciam caminhar bem e tudo estava dando certo, mas ao mesmo tempo nenhum deles conseguia evitar a sensação de que tudo estava bem demais. Harmos não havia dado sinal desde o último encontro na sala do trono.

Foi nesse momento que Vinyl decidiu abrir-se em relação a algo que o incomodara durante toda a última semana. Ele esfregava uma mão contra a outra como sempre fazia quando estava nervoso para dizer algo. — Max… Eu sei que não vem ao caso, mas… Aquele campo de força. Você não se pergunta da onde ele veio?

Max pareceu nervoso com aquele assunto voltando à tona. Era óbvio que ele se perguntava da onde tinha surgido o campo de força, não sabia nem ao certo se era ele mesmo quem tinha o produzido. Não imaginava que um simples menino como ele fosse capaz de realizar algo tão poderoso.

— Carinha, eu não faço ideia… – ele disse em tom confuso e sério ao mesmo tempo. — E depois de tudo o que houve… Eu não tenho certeza se quero descobrir.

— Max, as nossas vidas foram mudadas por causa do que Harmos fez. Não tem como voltar atrás e, sendo sincera, aquilo foi bem estranho. Talvez responda o porquê você foi o escolhido? – Mary disse mexendo no copo de água que estava em sua frente. — Acho que estamos tratando a missão como um passado muito distante, como se fosse algo que jamais vai se repetir.

— O que quer dizer com isso, Mary? – a princesa perguntou intrigada, já que quase enfrentou a morte na última circunstância.

— Ela quer dizer que tem muitos buracos nessa história. – Max completou olhando em direção a elfa. — Eu não gosto do fato de não conseguir explicar o que houve. Harmos deveria ter acabado comigo naquele dia se não fosse por aquela força saindo de mim. Mary tem razão, estamos tratando tudo isso como um final de livro.

Os garotos se entreolharam quase como se conseguissem ler os pensamentos uns dos outros. Vinyl franziu o cenho seriamente em direção ao seu melhor amigo. — Você acha que ainda não acabou.

— Não. – Max fez uma pausa antes de retribuir o mesmo olhar sério e amadurecido do anão. — Alias, acho que está longe de terminar.

 

Fim

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