Séries de Web
Meu Rio

MEU RIO – capítulo 3

 

[Final dos anos 80 – Cidade de Mororó – Maranhão – Fazenda dos Araribe – Noite]

TEODORO – O senhor tem outra filha, mas essa sua máscara de coronel Araribe já excluiu ela de sua mente e de seu coração… agora eu vou me deitar que estou cansado.

Teodoro volta a subir a escada e o Coronel dar um passo para trás com raiva, ele se desequilibra e rola escada abaixo.

EVA – Araribe!

DINÁ – Coroner!

CORONEL – Esse maldito tentou me matar

TEODORO – Não tentei matar ninguém

EVA – Foi um acidente, todos nós vimos… você está bem, carinho?

CORONEL – Não é um malcriado que vai conseguir me ferir. (Se levanta) agora vamos todos comer… se ele não quer, que morra de fome.

EVA – Mas Araribe

CORONEL – Sem mais… Diná pode servir o jantar, sente-se conosco também.

***

 [Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Beatriz – Noite]

JOSANIEL – Então é isso que você estava me escondendo né? Cadê o meu filho? Sua vagabunda!

Joana não responde nada, apenas chora e fica em silêncio.

JOSANIEL – Cadê o meu filho, sua piranha (dá um tapa em Joana), o que você fez com ele? Para onde você levou?

JOANA – Eu não tive um filho seu.

JOSANIEL – Você me traiu, é isso que está me dizendo (bate mais em Joana)

JOANA – Para por favor, para! (Grita)

JOSANIEL – Eu quero saber quem é… eu tenho direito de saber… Melhor não (segurando no pescoço de Joana) não fale nada, vou te matar do mesmo jeito.

Beatriz acorda assustada com os gritos da mãe e corre para o quarto da avó.

BEATRIZ – Vó, Vó o que ta acontecendo?

SEBASTIANA – Fique aqui Beatriz, deixe que eu vou lá ver o que está acontecendo, prometa que vai ficar aqui minha filha, não vá lá, por favor.

BEATRIZ – Eu prometo voinha.

No quarto de Joana.

JOANA – Por favor, pare, por favor.

JOSANIEL – Você vai morrer… eu não sirvo pra ser corno, Joana.

JOANA – (chorando) Eu nunca traí você, eu, eu não tive um filho homem, não tive, desculpe, Deus não quis assim.

JOSANIEL – Quem tem que querer aqui sou eu e eu disse que queria um filho homem… pode dar adeus a sua filha, pois, você nunca vai ficar com ela.

JOANA – Você nunca vai pôr as mãos nela, ela está bem longe e segura.

JOSANIEL – Pois você vai me dizer onde ela está, por bem ou por mal.

Sebastiana entra no quarto.

SEBASTIANA – Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?

JOSANIEL – Não se meta velhota, aqui é conversa de marido para mulher.

SEBASTIANA – Levante mais uma vez a mão para minha filha, para ver o que eu sou capaz de fazer com você.

JOSANIEL – É? E o que a senhora vai fazer por acaso, me atacar com o seu tricô?

SEBASTIANA – Vamos Joana, você irá dormir a partir de agora no meu quarto ou no da Beatriz.

JOSANIEL – (indo em direção a sogra) Quem você pensa que é?

SEBASTIANA – Eu sou mãe e como uma Leoa, eu defendo a minha cria.

JOSANIEL – Você tem que entender que quem manda nessa família sou eu (levanta a mão pra Sebastiana)

SEBASTIANA – Bate! Vamos ver se você é homem o bastante.

JOANA – (colocando-se no meio dos dois) Para mãe, não enfrenta, por favor, vamos pro seu quarto.

JOSANIEL – Você vai a lugar nenhum, vai ficar aqui e vai pagar pelo o que fez.

Beatriz entra correndo.

BEATRIZ – Por favor painho, pare com isso, deixe mainha em paz.

JOSANIEL – Ela não é a sua mãe, e não se meta vá para o seu quarto agora, isso aqui é conversa de gente grande.

BEATRIZ – Ela minha mãe sim, eu a amo como se fosse… por que o senhor gosta de machucar as pessoas que eu amo? Me diga painho, por que gosta de me machucar?

SEBASTIANA – Vamos Beatriz, deixe seu pai ai sofrendo sozinho.

As três mulheres saem do quarto, Josaniel fecha a porta, calado, pensativo, em seguida senta na cama e começa a chorar.

No quarto Joana conversa com Sebastiana.

SEBASTIANA – Nós vamos embora amanhã, você não pode continuar sendo violentada desse jeito minha filha, até mesmo para eu não cometer um crime maior.

JOANA – Eu não posso deixar a Beatriz para trás.

SEBATIANA – Você não precisa deixar, levamos ela conosco.

JOANA – E para onde vamos.

SEBASTIANA – Para casa

JOANA – Para casa?

SEBASTIANA – Sim, já está mais do que na hora de você assumir o seu lugar como herdeira dos Araribe, é o seu direito e o seu pai vai ter que nos engolir… Agora vamos nos deitar.

***

O sol ilumina os telhados da cidade de Mororó, o brilho que emana aquece as águas do velho monge anunciando o chegar de um novo dia.

Na beirada do Rio Parnaíba encontra-se Susana caminhando com as águas sobre os seus pés, em silêncio e devagar, alguns pescadores retornavam da pesca noturna, enquanto algumas mulheres faziam o seu ritual para começar a lavar as roupas, tudo normal como de costume.

MARIA HELENA – Eta que você não sai desse Rio, em

SUSANA – Me ajuda a pensar, mainha.

MARIA HELENA – Mas cuidado para o cabeça de cuia não te pegar?

SUSANA – Quem é o cabeça de cuia?

MARIA HELENA – Nunca te contaram?

SUSANA – Não

MARIA HELENA – Então vamos sentar ali na beira do rio que eu te conto.

As duas saem da água e sentam em dois tocos de árvore que se encontravam à beira do velho monge.

MARIA HELENA – Era uma vez um pescador chamado Crispim,que certo dia ao voltar de uma infrutífera pescaria, cansado ao adentrar em seu casebre resmungou: – Quero comer! – Pronto filho, só temos pirão e este corredor de boi.

E colocou a tigela de pirão com o corredor em uma improvisada mesinha. Esta porcaria?   Irritou-se e arrebatou com o corredor na mão agredindo violentamente sua pobre mãe, que cai por terra agonizando: -Filho ingrato, eu te amaldiçoo, não terás o descanso eterno enquanto não devorares sete Marias virgens, vagarás como morto vivo!   

Porém, pelo encanto ele não morre, transforma-se num ser horrendo, aquático. Sua aparência, deformada, cabeça grande, corpo esquelético o fez conhecer-se cabeça de cuia. 

Daí por diante, sempre dizem que aparece nas cheias, virando canoas, assustando lavadeiras em sua busca frenética pelo descanso eterno, com a tentativa de cumprir a sina de devorar sete Marias virgens.

SUSANA – Mas, mãe, meu nome não é Maria.

MARIA HELENA – Vai que ele abra uma sessão e venha devorar uma Susana (ataca a filha fazendo cócegas).

As duas caem no chão de terra.

MARIA HELENA – Assim que gosto de ver você minha filha, sorrindo.

SUSANA – Você não sente falta dele?

MARIA HELENA – Claro que sinto, mas ele quer nos ver feliz.

SUSANA – Prometo que vou tentar ser.

MARIA HELENA – Muito bem, agora vamos banhar no rio… quem chegar por último é a mulher do padre. (Sai correndo)

SUSANA – (Gritando) Mas, padre não tem mulher.

Maria Helena se vira e dar um sorriso.

***

O badalar dos sinos da igreja ressoava por toda pequena Mororó, as festividades eram grandes em honra a Nossa Senhora Aparecida, padroeira da cidade, padre João, já idoso, tinha o respeito e carinho de todos na cidade, chegando ali, ainda menino moço, cresceu e viu a cidadezinha ser comandada por vários coronéis, viu o rio secar e voltar fortemente nas grandes cheias, como um guerreiro que não desiste nunca da luta.

Ao terminar de bater o sino, já com as mãos doendo, por conta da idade, volta para a sacristia.

PADRE JOÃO – Precisamos urgentemente de um sacristão, as minhas mãos não aguentam mais essa corda (fala para uma beata que se encontrava ali).

BEATA – Eu já lhe disse que eu posso tocar o sino.

PADRE JOÃO – Ora mas veja, você acha mesmo que vou deixar a senhora machucar suas delicadas mãos naquela corda grossa, não tem nem cabimento uma coisa dessa.

BEATA – Acho que se o senhor não fosse padre, seria um belo de um mulherengo, com todo respeito claro.

Os dois riem.

PADRE JOÃO – Deus sabe o que faz

BEATA – E como sabe

PADRE JOÃO – Agora vamos, a missa começa daqui a pouco, ainda tenho que cuidar das alfaias litúrgicas, sabe que mesmo se passado mais de vinte anos que o rito tridentino deixou de ser obrigatório, ainda sinto falta, até porque eu aprendi foi o rito antigo, nos meus tempos de seminarista.

BEATA – Você fala como se tivesse sido padre a vida inteira.

PADRE JOÃO – As vezes eu mesmo penso que sim, já faz tanto tempo, 40 anos como padre, entre no seminário, ainda menino novo, tinha 17 anos, na minha época os pais incentivavam os filhos a seguirem a vida religiosa, hoje é mais difícil e pelo que vejo só vai piorar.

BEATA – Que o senhor da messe possa mandar pastores para o seu rebanho.

PADRE JOÃO – Amém, agora vamos daqui a pouco o povo reclama que o padre está atrasado.

***

 [Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Beatriz – Manhã]

Na casa de Beatriz, o silêncio cercava a todos. Dona Sebastiana preparava o café, Joana e a filha estavam sentados à mesa, Josaniel ainda não havia saído do quarto, o sol adentrava na residência e fazia brilhar a poeira que se levantava do chão.

Dona Sebastiana coloca a garrafa de café na mesa e senta-se, Josaniel caminha lentamente até onde eles e senta-se também.

JOSANIEL – Bom dia!

Ninguém responde, Beatriz baixa a cabeça.

JOSANIEL – Bom dia (repete novamente) … será que todo mundo ficou surdo nessa casa?

SEBASTIANA – Não, só que ninguém deseja falar com você… nunca mais.

JOSANIEL – Eu já disse para a senhora me respeitar, eu sou o homem da família.

SEBASTIANA – Homem da família? Tenho as minhas dúvidas… (fala calmamente) para mim homem que bate em mulher é porque não gosta.

JOANA – Mainha!

JOSANIEL – Basta! Eu vou trabalhar

SEBASTIANA– Aproveite e não volte mais para essa casa.

JOSANIEL – Ela é minha, quem sabe você que deveria sair daqui e levar essa piranha, que você chama de filha com você.

SEBASTIANA – Não se preocupe quando voltarmos, não vai nos encontrar aqui.

JOSANIEL – Você nem ouse levar Joana daqui ela ainda vai pagar muito por não ter tido um filho, sua velhota… agora fim de prosa que eu vou trabalhar… (anda em direção a porta, mas para como se lembrasse de algo) ah, se tentarem fugir eu procuro vocês até do outro lado do mundo, não vão ter um buraco para se esconder, espero que eu tenha me feito compreender.

Josaniel sai e chama Tião.

JOSANIEL – Vigie todos, ninguém sai dessa casa entendido? Se alguém saí pode dizer adeus a este mundo.

TIÃO – Você que manda chefe.

Dentro da casa.

SEBASTIANA – Agora esse pau mandado vai ficar plantado na frente da casa… precisamos dar um jeito… Beatriz vá arrumar as suas coisas, nós vamos sair dessa casa agora.

BEATRIZ – E para onde nós vamos vó?

SEBASTIANA – Nós vamos para casa.

JOANA – Pra casa, acho que não é uma boa ideia, mainha

SEBASTIANA – Nós vamos… vá se arrumar também, daqui a pouco vou, só tenho que pensar um jeito de tirar esse encosto da porta.

***

 [Cidade de Mororó – Maranhão – Fazenda dos Araribe – Manhã]

TEODORO – (fala entrando na sala da mansão dos Araribe) Dizem que o festejo está cada ano mais bonito.

EVA – E está mesmo, pena que seu pai fechou a nossa capela.

TEODORO – Pois, nós vamos reabri-la, melhor vou chamar o padre para rezar uma missa de reinauguração.

CORONEL – reinauguração de que?

EVA – Da capela, está lá se acabando, Teodoro disse que vai falar com o padre para vir celebrar uma missa aqui.

CORONEL – Ele não vai fazer nada disso, a capela continua fechada.

TEODORO – Pelo que sei, eu também sou dono desta casa.

CORONEL – Só depois que eu morrer e eu pretendo ainda ficar muito tempo neste mundo.

TEODORO – Mas um dia ela vai ser minha.

CORONEL – Isso se eu não colocar fogo nela… melhor que deixar para um moleque malcriado.

EVA – Araribe!

TEODORO – Deixe mainha, isso não me incomoda… prometo que a noite vamos lá na reza, estava com muitas saudades… irei cumprimentar o padre João, ainda é ele?

CORONEL – Reza é coisa de mulher, homem não vai em reza e você não vai também.

TEODORO – Eu já sou maior de idade e você não manda em mim.

CORONEL – Me respeita seu moleque (retirando o cinto e segurando na mão) isso aqui vai fazer você me respeitar (parte para bater em Teodoro.)

EVA – Acalma-se Araribe, não precisa disso.

TEODORO – Vamos lá, bate, quero ver… Bate

CORONEL – Seu atrevido (dá uma cintada em Teodoro, Eva segura o marido)

TEODORO – Você não é o meu dono, pra dizer o que devo ou não devo fazer, entendido coronel?

***

Josaniel chega a cooperativa de fazendeiro da cidade de Mororó.

JOSANIEL – Bom dia senhores.

AUGÊNCIO – Bom dia senhor presidente.

JOSANIEL – Oxi, deixe disso cabra… Estou aqui apenas para defender o direito de todos, qual o problema de hoje?

CÍCERO – Ainda as terras do Coronel Araribe.

JOSANIEL – Mas não tínhamos já conversado com ele sobre e acertado tudo?

AUGÊNCIO – Mas parece que ele resolveu voltar atrás, disse que não vai ceder terra nenhuma pra construir escola.

JOSANIEL – Mas é necessário… as crianças vão ficar burras por acaso?… Pelo o que eu sei aquelas terras são do povo, se pedirmos os documentos de compra delas vamos ver que todos são falsos.

AUGÊNCIO – Aqui ninguém ousa questionar o poder dos Araribe.

JOSANIEL – Eu não sou ninguém… eu vou amanhã pessoalmente falar com ele, amanhã não, hoje à noite, só tempo de dar um jeito em algumas coisas lá em casa.

CÍCERO – Acho bom o senhor ir lá não, pelo menos não por esses dias, parece que o filho dele chegou e não deve querer que alguém o aborreça com isso.

JOSANIEL – Quem está aborrecido agora sou eu com essa história… Cícero, virou puxa saco do coronel agora?

CÍCERO – Não é isso, só acho que não devemos estragar a alegria deles.

JOSANIEL – E a alegria das crianças que ele está tirando com esse posicionamento?

CÍCERO – Só estou preocupado com você, acho que não se lembra dos ódio que ele agarrou de você, quando se enrabichou com a filha dele.

JOSANIEL – E quem disse que sou homem de ter medo de coronelzinho desse.

AUGÊNCIO – Eu entendo a preocupação do nosso companheiro Josaniel, também acho que não é uma boa ideia o senhor ir lá não.

JOSANIEL – Bando de cabra frouxo. Já está decidido vou lá enfrentar a fera.

CÍCERO – E como tá o filhão em, será que vai ser um cabra macho que nem você?

JOSANIEL – Reunião encerrada, podem sair agora.

AUGÊNCIO – Só queremos notícia do seu herdeiro.

JOSANIEL – Saiam da minha sala.

AUGÊNCIO e CÍCERO – Sim senhor.

Josaniel fecha a porta senta na cadeira, abaixa a cabeça e pensa no que fazer com sua esposa.

CÍCERO – Alguma coisa aconteceu com o filho do Josaniel.

AUGÊNCIO – E parece ter sido nada bom.

***

 [Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Susana – Manhã]

Maria Helena entra em casa depois do banho no rio, Susana também acompanha ela, as duas entram sorrindo.

MARIA HELENA – Está melhor minha filha?

SUSANA – Sim mainha.

MARIA HELENA – Que bom, agora vai banhar e depois vem me ajudar a preparar o almoço.

SUSANA – Ta bom.

Susana se retira para o quarto, entra no chuveiro, após um tempo debaixo d’agua ele volta para o quarto, se seca, veste uma roupa e vai para a cozinha.

SUSANA – Mainha vamos na reza hoje à noite?

MARIA HELENA – Claro que sim, já decorou as ladainhas.

SUSANA – É complicado mãe, eu não sei latim.

MARIA HELENA – (rindo) – Eu também falava isso, quando a sua avó tentava me ensinar, mas com o tempo a gente aprende, aí cantamos em latim, alemão, italiano.

SUSANA – (sorrir) – Eu prometo que até o fim do festejo aprendo tudinho.

MARIA HELENA – Não tenha pressa, você ainda tem a vida toda pela frente, minha querida.

SUSANA – O que vamos fazer para o nosso almoço?

MARIA HELENA – Uma receita que aprendi com a minha avó, pegue dois ovos na geladeira.

SUSANA – Ta bom.

***

 [Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Beatriz – Manhã]

Beatriz está confusa com tudo o que está acontecendo em sua casa, ela olhava para o seu quarto, enquanto arrumava a mala, a noite anterior tinha sido bastante conturbada, nunca tinha visto o seu pai daquele jeito agressivo e sua mãe tão assustada, porém, a sua avó tinha se revelado uma grande guerreira, sua vida estava de cabeça para baixo, não sabia o que fazer, o que lhe restava era se apegar a pequena esperança, que nascia em seu coração de que tudo iria ficar bem.

Sebastiana bate na porta e entra.

SEBASTIANA– Beatriz, minha filha, vamos? Já está na hora.

BEATRIZ – Pra onde vamos voinha? Não quero ficar longo do pai.

SEBASTIANA – Vamos passar uns dias na casa do seu avô.

BEATRIZ– Que avô? Eu estou muito confusa com tudo isso, parece que depois do nascimento da minha irmã tudo ficou uma loucura, eu pensei que com a vinda dela as coisas iriam melhorar.

SEBASTIANA – Se fosse um menino não… sente-se aqui, deixa eu lhe explicar, o seu pai queria um filho homem e nunca vai aceitar que a criança que nasceu seja mulher e ele acha que a culpa é da sua mãe. Meu medo é que ele tente matá-la, você quer ficar sem ela?

BEATRIZ – Não, mas será que não podemos resolver isso com uma conversa?

SEBASTIANA – Pelo tempo que estive nessa casa com o seu pai não tem conversa.

BEATRIZ – Ele não era assim, pelo menos nunca vi… aliás só quando minha mãe biológica perdeu o bebê dela.

SEBASTIANA – Pois é, precisamos ir agora, confie em mim, vai ser melhor para você.

As duas vão até a sala onde encontram Joana.

JOANA – Mãe, ainda acho que não é uma boa voltarmos

BEATRIZ – Voltarmos para onde mainha?

SEBASTIANA – Deixe de medo, já disse que vai dar tudo certo, agora vamos, deixa só eu me livrar desse porteiro que temos.

Sebastiana vai até a cozinha, pega um copo d’agua e despeja um sonífero, mexe o copo para o remédio dissolver e vai até a porta da casa.

SEBASTIANA – Tião (chama da soleira da porta), passou o dia aqui nesta porta, deve estar com sede.

TIÃO – (Enxugando o suor com um pano) E que calor é este de hoje, né dona Sebastiana?

SEBASTIANA – Então beba essa água (entrega o copo para o rapaz)

TIÃO – Muito obrigado

SEBASTIANA – Beba tudo, deve ta com uma sede grande… agora deixa eu ir fazer o almoço.

TIÃO – Agradecido.

Sebastiana entra em casa, Tião senta na varanda da casa e começa a fica sonolento, em pouco tempo ele cai em um sono profundo.

SEBASTIANA – (olhando pela janela) Está na hora de irmos… vamos antes que ele acorde.

JOANA – Que Deus nos abençoe.

As três mulheres colocam-se a andar em direção da fazenda dos Araribe.

No casarão, Araribe preparava-se para sair de casa, para ir resolver problemas na cidade.

EVA – Já vai sair, mi amor?

CORONEL – Vou à cidade resolver algumas pendências, mais tardar estarei de volta.

EVA – E não vai almoçar?

CORONEL – Chega de perguntas

EVA – Só me preocupo com você, Araribe.

CORONEL – Guarde as suas preocupações para o seu filho.

EVA – Deixe disso homi, ele é seu filho também.

CORONEL – Um ingrato, que nem aquela safada que foi expulsa daqui… não quero mais saber, vou embora e só volto mais tardar.

EVA – Tudo bem carinho.

***

BEATRIZ–  Ainda está longe vó?

SEBASTIANA – Estamos chegando

JOANA – Espero que o coronel não esteja lá.

SEBASTIANA – Deixe disso.

BEATRIZ – Já to cansada de tanto andar voinha.

As três continuam andando até que chegam ao casarão dos Araribe.

Sebastiana vai até a porta e bate, quem vem atender é Eva.

EVA – Você?! O que queres aqui?

SEBASTIANA – Quero entrar na minha casa.

EVA –  Essa casa não é sua

SEBASTIANA – É mais minha que sua. Agora saia da minha frente que estamos cansadas.

EVA-(Saindo da frente) O coronel não vai gostar nada disso.

SEBASTIANA – Eu me entendo com o Coronel.

Lucas Serejo

Acompanhe também:
Facebook

Deixe um comentário

Séries de Web