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Edição especial: Cantiga de Amor

CANTIGA DE AMOR – edição especial: capítulo 09

Cena 01: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella. Final da tarde.

Agnella – Eu não queria contar isso para ninguém, mas não há saída. Mãe, eu… Eu e Gustavo nos… Nos amamos… Nós… Nós nos deitamos, ficamos juntos… Aconteceu, foi… Inevitável. E por isso, mãe, nenhum homem, a não ser ele, poderá se casar comigo. Só ele! Só…

Agnella vira o rosto, envergonhada. Prudência, atônita, tenta se levantar, mas sente uma tontura e cai no chão, desacordada. Vendo isso, Agnella se ajoelha ao lado dela.

Agnella – (Desesperada) Mãe! Acorda, mãe! Perdoa-me! Me perdoa…

E, olhando para o teto, começa a chorar. Como a mãe não responde, Agnella pega o copo de água, e joga no seu rosto. Depois de alguns minutos, Prudência abre o olho.

Agnella – (Aliviada) Graças a Deus a senhora acordou! Eu já estava pensando tanta coisa, mãe…

Prudência – Ai, minha cabeça. Filha, me ajuda a levantar, por favor. (Ela se levanta com a ajuda da filha).

Agnella – A senhora está bem? O que houve?

Prudência – Me senti tonta, minha visão começou a embaçar… (Fica séria) Filha, por Deus, diga que tu mentiste pra mim. Que o que tu falaste não é verdade…

Agnella – (Olha para baixo, envergonhada) Mas é verdade sim… Mãe, por favor, me perdoa!

Prudência – Eu não sei, Agnella. Preciso pensar bastante a respeito.

Ela se dirige à porta do quarto.

Agnella – Por favor, mãe, promete para mim que meu pai não ficará sabendo disso! E… Que eu me casarei com Gustavo! Não me negue isso, mãe! Eu… Preciso!

Prudência – Já falei, minha filha, que eu irei pensar. Eu estou muito abalada com o que acabei de ouvir.

Prudência sai.

Agnella – Irás desculpar-me, meu amor, mas esse é o único jeito de ficarmos juntos!

Cena 02: Entrada do Povoado das Hortaliças.

Assim que Brás caiu,devidoà pedra arremessada por Pero, Inês conseguiu, se arrastando, sair debaixo dele. Ao lado dos dois, estava Pero.

Inês – Ai, Pero, eu nem sei como te agradecer por isso…

Pero – Depois, minha flor do campo. Agora temos que levar esse fugitivo para a igreja, que é onde ele já devia estar.

Pero dá um chute em Brás, que sente a dor e começa a se levantar.

Pero – Muito bem, Brás, agora tu não tens mais como fugir.

Pero amarra os braços, as pernas e a boca de Brás fortemente e o coloca em cima do cavalo em que ele tentou fugir, e que agora é montado e guiado por Inês. Pero monta em seu cavalo e eles seguem para a igreja.

Cena 03: Igreja del Fiume. Quarto em que Gustavo está trancado.

Gustavo estava impaciente.

Gustavo – Já era hora de terem aberto essa porta…

A porta é aberta pelo padre, que “joga” Brás dentro do quarto. Junto com Santorini, estavam Pero e Inês.

Santorini – Venha, Gustavo. É hora de outro rebelde parar para pensar em suas atitudes.

Gustavo sorri e sai. Inês tenta entrar, mas é impedida pelo padre.

Inês – (Irônica) Boa sorte, meu amorzinho… Tenha bons sonhos…

Eles saem e fecham a porta.

Brás – Que raiva! Inês maldita, Pero desgraçado, podem esperar, porque eu ainda volto. Eu volto!

Cena 04: Nave da Igreja del Fiume.

Gustavo encontra seus pais, e os abraça.

Izabella – Por que fizeste isso, meu filho? Tu sabes que é pecado desobedecer, ainda mais a um padre!

Edetto –E mesmo que não tivesse sido a irmã Francisca a tomar atitude, eu te colocaria de castigo!

Gustavo – Não exagere, meu pai. Não há motivo para tanto.

Izabella – Há, sim, meu filho. Mas eu acho que o padre está te chamando.

Gustavo – Ah, sim. Com licença.

Gustavo vai até o padre.

Gustavo – O que o senhor quer dessa vez?

Santorini – Decidi abrir uma brecha. Tu podes ir ao rio. (Gustavo começa a se animar) Porém será no trecho que passa aqui atrás, nada de se dirigir ao povoado. E eu irei contigo.

Gustavo – Bem, se esse é o único jeito, não é? Pelo menos eu me despeço da paisagem daqui.

Eles saem e vão até a margem do Rio dos Campos. Gustavo senta embaixo de uma árvore, deita, cheira sua flor. Pensa em Agnella, e no primeiro beijo dos dois. Pega um pouco da água do rio com as mãos, e se lembra do balde de água que fez tudo começar. Pensa em chorar, mas resiste.

Gustavo – (Falando baixo) Seja forte, Gustavo. Você vai superar tudo isso.

Santorini – Vamos voltar, rapaz! Já está escurecendo, e pode ficar perigoso.

Gustavo – Vamos, padre.

Gustavo olha o rio pela última vez. Lembrou de Heráclito de Éfeso, um filósofo grego.

Gustavo – “É impossível entrar no mesmo rio duas vezes…” É, ele estava certo. Tudo muda… Sejam as águas do rio, sejam as nossas vidas. Tudo muda.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Final da tarde.

Pero e Inês estão na sala.

Inês – Então quer dizer que foi tua a ideia de fazer Brás sumir da minha vida?

Pero – Perfeitamente. Tu sabes que eu só quero o melhor para ti, e pensei nisso assim que ouvi o padre falar da Guerra Santa. Não fui genial?

Inês – (Relativamente sedutora) Com certeza, camponês. E eu te serei eternamente grata. Aliás, não só pela ideia. Pelo salvamento também. Como tu soubeste que Brás estava fugindo?

Pero – O padre me falou que o mandaria ir ao final da tarde. Saí mais cedo das terras e fiquei esperando para ver o que aconteceria.

Inês – E como um herói tu me tiraste dos braços daquele crápula e me trouxeste até aqui. Não sei nem como te agradecer…

Pero – Não fales nada, Inês. Eu sei.

Pero se aproxima para beijá-la. Ela desvia.

Inês – Não, Pero. Pelo menos não agora.

Pero – Vamos, Inês! Ninguém precisa saber!

Inês – (Ela se aproxima o rosto dele) Bem, nesse caso… (Vira bruscamente) Deus. Deus está vendo. (Abre a porta da casa) Agora, saia.

Pero – Bem, se você acha melhor, meu amorzinho, eu espero. O quanto quiseres. Mas não tanto, é claro.

Pero sai soltando beijos.

Inês – Quem diria, hein, que esse inútil serviria para alguma coisa?

Cena 06: Igreja del Fiume. Quarto de Gregório. Noite.

Gregório está dormindo. Começa a sonhar. No sonho, ele está sentado, agachado, com a cabeça entre as pernas, e encostado em alguma coisa. Está chorando. Até que sente alguém chegando, e levantando sua cabeça. É Valentina. Ele segura na mão dela, e percebe que estão em uma floresta. Então, eles veem a sombra de um rosto e de uma mão. Os dois correm, mas a sombra corre atrás deles. Depois de um bom tempo sendo perseguidos por ela, eles chegam ao final do caminho, que dá na igreja. Quando dão mais um passo, com a sombra ainda atrás, o que era chão vira precipício, e caem no abismo. Ao chegar ao chão, Gregório acorda. Suspira aliviado ao ver que está na cama, deitado, e não caído.

Cena 07: Igreja del Fiume. Quarto em que Brás está preso. Dia seguinte. Manhã, bem cedo.

Brás dormiu muito pouco. Quando os primeiros raios de sol surgiram do lado de fora, a porta foi aberta.

Santorini – Levante-se, Brás. È hora de comermos, porque, em pouquíssimo tempo, viajaremos.

Brás se levanta, bufando.

Brás – Maldito dia em que esse camponês nasceu! Maldito seja esse dia!

Santorini – Nada de xingamentos dentro da igreja. Venha comigo.

Cena 08: Igreja del Fiume. Quarto de Gustavo.

Gustavo está ao lado de Edetto e Izabella.

Gustavo – E pensar que eu vim a essa igreja apenas para passar uma noite. Acabei ficando um mês. E agora vou para, só talvez, voltar…

Izabella – Não fales isso, meu filho. Tu voltarás sim, voltarás para nós.

Edetto – Tu és um homem forte, meu filho. Vais passar por isso, lutar com garra, e sobreviver.

Gustavo – E, ainda assim, eu não posso perder Agnella…

Edetto – A história já é outra, Gustavo. Aliás, essa história nunca deveria ter começado. Esqueça essa menina. É hora de levantar a cabeça e encarar essa situação. E pra começar, precisamos comer, é claro. Vamos lá. Todos nos esperam.

Cena 09: Igreja del Fiume. “Sala de jantar”.

Santorini, Gustavo, Gregório, Edetto, Izabella e Brás terminaram de comer.

Santorini – Bem, meus caros, partiremos na próxima batida do sino, ou seja, em uma hora. Estejam prontos até lá. E você, Gregório, já sabe: ficará responsável por cuidar da igreja, e me substituir enquanto eu estiver fora. A nossa viagem durará, no máximo, três semanas. Vamos a cavalo, ou em carroças mesmo. O litoral não está tão longe.

Gregório – Certo, padre. Cuidarei bem de tudo.

Santorini – (Se aproxima de Gregório) Confio em você. A irmã Francisca estará observando seu trabalho, e me dirá como você se comportou. E, quando eu chegar, tu já sabes, não é? Faltarão apenas dez dias para a tua ordenação!

Gregório – (Com um sorriso amarelo) Isso mesmo… Dez. Dias. Para a minha ordenação.

Olhando-o de esguelha, o padre sai. Gregório sai da “sala de jantar”, passa pela nave da igreja, e chega ao lado de fora. Senta no chão e começa a olhar a floresta.

Gregório – Meu Deus… Eu não posso te decepcionar. Não posso!

Cena 10: Igreja del Fiume. Uma hora depois.

O padre está reunido na porta da igreja, junto com uma grande comitiva de homens vindos dos vários povoados da região, e com suas famílias, sendo que muitas delas se despedem, enquanto outras irão com eles até o momento da partida. Brás e Gustavo também estão lá.

Santorini – Bem, é hora de irmos. Até logo, irmã Francisca. Até logo, Gregório. Que Deus esteja com vocês e os guie enquanto eu não estiver aqui.

Francisca – Até logo, padre. (Irônica e sugestiva) Cuidado com todo esse povo.

Santorini – Sei muito bem do que a senhora fala, irmã Francisca. Mas não se preocupe: ninguém me dará trabalho. Ninguém. Vamos, pessoal! Temos que partir!

Eles começam a andar, seguindo o padre. Gustavo fica parado, atrás.

Edetto – Vamos, filho! Não faças besteira agora.

Gustavo – Pode deixar, pai. Eu vou. Deixe-me apenas me despedir de meu novo amigo.

Gustavo se aproxima de Gregório, desce do cavalo e o abraça. A comitiva para.

Gustavo – (Falando baixo) Obrigado por ontem. Espero que não haja nada contigo. E lembra-te de seguir o teu coração. Deu errado comigo, mas pode não dar contigo.

Gregório – Boa viagem, meu amigo. Espero poder vê-lo novamente.

Gustavo sobe no cavalo, anda um pouco, mas para novamente e se vira, olhando em direção ao povoado. Fala consigo mesmo.

Gustavo – Até mais, Agnella. Podes ter certeza de que ainda voltarei para ficarmos juntos. E, dessa vez, será para sempre.

Então, ele se junta à comitiva. Eles partem, junto com um coro das famílias já saudosas.

Povo – Adeus! Boa viagem! Te cuida! Deus te proteja! Não te esqueças de mim!

Cena 02: Convento.

Após a primeira refeição, Valentina seguiu para o seu quarto. Ao chegar, encontrou a irmã Francisca.

Francisca – Irmã Valentina, apronte-se. Hoje tu limparás a igreja novamente.

Valentina – Mas eu já limpei duas vezes essa semana, e…

Francisca – Não importa. Deixe-me dizer uma coisa a ti: não penses que a vida no convento é fácil, porque não é. É preciso aprender a controlar os impulsos da carne, a vencer as tentações. E só consegue quem está realmente disposta. Eu pergunto: tu estás disposta, irmã Valentina?

Valentina – (Encarando-a) S-sim, irmã Francisca. Totalmente disposta.

Francisca – Pois bem. Baterei palmas, e, nesse exato momento, quero você lá fora. Entendeu?

Valentina – Perfeitamente.

A irmã Francisca sai.

Valentina – Ah, mas eu sairei daqui de um jeito ou de outro!

Cena 03: Igreja del Fiume.

A irmã Francisca chega à igreja com Valentina.

Francisca – (Empurrando Valentina) Vamos lá! Podes começar a limpar!

Valentina se ajoelha ao pé do altar, e passa a limpar sem vontade, de qualquer jeito.

Francisca – É para limpar direito! Eu quero toda essa igreja brilhando!

Valentina – Está certo, irmã Francisca. A igreja vai ficar exatamente como a senhora quer.

Francisca – Assim espero, irmã Valentina. Por que se não fizeres bem, já sabes: tua carga pode dobrar.

A freira se vira para a ala dos quartos.

Francisca – (Gritando) Gregório! Gregório, onde estás?

O seminarista aparece.

Gregório – Pois não, irmã Francisca.

Francisca – Eu gostaria que tu ficasses vigiando a irmã Valentina, enquanto eu irei lá fora. E tu, irmã, não penses que eu demorarei, porque em pouquíssimos instantes estarei de volta.

Gregório – Tudo bem, irmã, eu cuido dela. A senhora pode ir tranquila.

Francisca – Obrigada.

Francisca sai. Assim que deixam de vê-la ou de ver sua sombra, Gregório e Valentina se olham.

Gregório – (Gaguejando) Co-como e-estás?

Valentina – (Abaixando a cabeça) Estou bem, obrigada. E… E tu, estás bem?

Gregório – Sim… (Inspira profundamente) Creio que sim.

Os dois ficam em silêncio por um tempo. Gregório “contorna” Valentina, e começa a seguir para a sala do padre. Valentina se levanta. Até que, na mesma hora, os dois viram um para o outro.

Valentina e Gregório – (Quase em uníssono) Eu sonhei contigo!

Eles se espantam. Cada um dá um passo para se aproximarem. Valentina se ajoelha novamente. Gregório se ajoelha ao lado dela.

Gregório – Tu sonhaste comigo… Também?

Valentina – Sonhei, sim. Mas, mas foi coisa insignificante. Não foi nada.

Gregório – O meu sonho foi bem estranho. Porém eu também acho que não significou nada. Era só… Correria, precipício, nada que fizesse sentido.

Valentina – (Pensativa; fala baixo) Correria… Precipício… Floresta?

Gregório ouve.

Gregório – Como? Disseste algo?

Valentina – Não, absolutamente. Bem, eu preciso voltar ao trabalho. Daqui a pouco a irmã Francisca chega e nos vê assim. Não será bom para nós. Ela pode… Pensar algo de errado.

Gregório – (Se levanta) Isso. Isso mesmo. Mas não há nada de errado para se pensar…

Cena 04: Igreja del Fiume.

A irmã Francisca está ao lado da porta da igreja, de onde pode observar tudo o que acontece na nave.

Francisca – O que esses dois estão fazendo ajoelhados? Aí tem algo de errado, e eu ainda irei descobrir… Ah, se não!

Neste momento, ela toma um susto com alguém a chamando.

Prudência – Irmã Francisca? O que a senhora faz aí?

Francisca – Ah, olá, Prudência! Eu não estava fazendo nada de importante. Aliás, nada que pudesse ser do teu interesse. Mas, afinal de contas, o que fazes aqui? Hoje não temos missa.

Prudência – Não é necessário haver missa para que eu venha à igreja; ou é? Onde está o padre?

Francisca – Sinto informar, mas o padre não se encontra no momento. Ele teve que viajar.

Prudência – Viajar?? Bem, mas eu creio que a senhora mesmo pode me informar algo. Irmã Francisca, onde está aquele rapaz que iria casar com minha filha? O nome dele é Gustavo. Ele se encontra no momento?

Francisca – (Sorri) Esse daí também viajou.

Prudência – E a senhora sabe quando ele volta?

Francisca – Ele não volta. Eu posso te garantir, Prudência, que ele nunca mais voltará.

Prudência – (Espantada) Nunca? Então, nesse caso, as coisas mudam…

Francisca – O que muda?

Prudência – Nada de importante, ou que seja de interesse da senhora. Muito obrigada, irmã Francisca. Tenha um bom dia.

Prudência sai.

Francisca – O que será que está acontecendo para ela vir aqui saber desse rapaz? Pensei que aquela família nunca mais cogitaria pensar nele. Isso é, no mínimo, estranho… Algo de errado ocorreu ali. Disso eu tenho certeza!

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Prudência chegou a sua casa. Enzo já tinha ido trabalhar. Ela senta na sala e começa a pensar, até que alguém bate na porta e ela vai abrir.

Prudência – Olá, Simone! A que devo a honra da tua visita?

Simone – Bem, Prudência, eu vim aqui para falar do meu filho Adelmo. Tu já deves saber o que aconteceu com ele, claro.

Prudência – Na verdade não… Foi algo ruim? Notícias ruins correm rápido.

Simone – E correm mesmo, mas pelo visto essa não chegou ainda aos teus ouvidos. Serei direta. Adelmo sofreu um acidente.

Prudência – Como? Um acidente? Quando foi isso, Simone? Ele está bem, neste momento?

Simone – Não. Ele continua a aparentar estar morto, sabe? Não nos ouve, não nos responde, não abre os olhos. (Uma lágrima desce) O padre até rezou por ele, só que até agora nada do meu filhinho acordar. (Outra lágrima) Entretanto, ninguém sabe de que forma ele se acidentou. Só sabemos que foi entre ontem de manhã e o final da tarde de anteontem.

Prudência –(Fica um pouco assustada) Anteontem? Mas foi anteontem…

Simone – Que ele veio a tua casa, não foi? Ele quis vir, mesmo contra a minha vontade, porque era naquele dia que Agnella estava noivando. Mas eu estou aqui agora porque eu gostaria de saber o que se sucedeu. Quem sabe não entendemos alguma coisa desse acidente.

Prudência se lembra de Agnella, do tropeço e da jarra de água, mas não fala nada.

Prudência – Bem, Simone, o que eu sei é que ele veio conversar algo com meu marido. Só que ele nem teve tempo de fazer isso, porque Agnella foi lhe oferecer água, e sem querer o molhou. Então, ele disse que iria para casa, mas que depois voltaria para terminar a conversa com Enzo.

Simone – Foi somente isso? Tu não lembras se ele estava estranho, ou passando mal, por exemplo? Não te lembras de nada que chamou tua atenção?

Prudência – Nada. Absolutamente nada.

Simone – Sendo assim, esse acidente permanece um mistério para mim. De qualquer forma, obrigada, querida.

Prudência – De nada, minha amiga. Eu rezarei por Adelmo. Tenho certeza de que Deus há de querer, há de permitir que ele viva.

Simone – Obrigada, mais uma vez.

Simone vai embora.

Prudência – Meu Deus, um acidente…

Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.

Prudência abre a porta do quarto e entra.

Agnella – Já vieste me trazer comida, mãe? Eu falei que só comerei se Gustavo estiver comigo…

Prudência – Tua comida só virá mais tarde, minha filha. E quanto ao tal rapaz, ainda estou pensando. Eu vim aqui por causa de anteontem.

Agnella – Por que ficar lembrando aquele triste dia? Nada deu certo.

Prudência – Nada mesmo. Minha filha, a mãe de Adelmo veio me perguntar o que aconteceu com o filho dela quando ele veio aqui anteontem.

Agnella – Por que ela teve que vir aqui? Não podia perguntar a ele?

Prudência – Definitivamente não podia. Porque ele sofreu um acidente logo depois que saiu.

Agnella – Acidente? E como a senhora sabe que foi anteontem, depois que ele saiu daqui?

Prudência – Ora, Agnella, só pode ter sido por causa daquela jarra de água que tu quebraste em sua cabeça. E o pior, minha filha, é que foi muito sério. Simone me disse que ele não responde, nem abre os olhos; enfim, que parece estar morto.

Agnella – (começa a sentir culpa) Morto? Eu não o matei! Eu… Não matei! Não matei!

Prudência – Ele não morreu. Mas, por Deus, filha, por que fizeste aquilo?

Agnella – Por que ele viu, mãe! Ele me viu com Gustavo, no dia em que nós… Nos deitamos. E ele ia contar a meu pai!

Prudência – Meu Deus! E por isso tu provocaste um acidente! E agora já não sabemos se ele irá acordar. Eu só te dou um conselho, minha filha: reze, mas reze muito, tanto por ti quanto por ele. Se ele não acordar, minha filha, a culpa será tua.

Prudência sai do quarto. Agnella começa a bater na parede.

Agnella – Eu não sou uma assassina! Não! Nããão!

Ela desliza, e deita na cama, chorando.

10 dias depois…

Cena 07: Litoral italiano. Região portuária. Início da manhã.

Foi preciso uma semana e meia andando a cavalo para que o padre e sua comitiva chegassem ao local de onde os homens partiriam para lutar em nome de Deus. Era uma região portuária, um pequeno povoado, onde, também, havia uma igreja, ainda maior que a Igreja del Fiume. Era a Igreja del Mare.

Santorini –Meus irmãos, meus filhos! Prestem atenção! Estamos no lugar de onde vocês e vários outros homens seguirão para Jerusalém!

As pessoas começam a conversar entre si.

Edetto – É, meu filho, acho que essa será a nossa despedida mais dolorosa.

Izabella – Será tão difícil, Gustavo, saber que tu poderás deixar essa vida a qualquer instante!

Gustavo – Eu não morrerei, mãe. Eu não morrerei.

Santorini – Silêncio, pessoal, por favor! (As pessoas obedecem.) Obrigado. Fomos a última comitiva a chegar aqui, e, por isso, não teremos tempo de dormir. O navio partirá ainda hoje! (A multidão volta a se alvoroçar.) Calma, calma! Nesse momento, teremos uma missa que será rezada pelo arcebispo, assessor do papa, o qual não pôde vir. Logo depois, vocês terão um tempo para se despedir, ou não, caso estejam sozinhos, e para se instalarem no navio. Então, partirão. O que temos que fazer agora é entrar na igreja. A missa irá começar.

Cena 08: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Enzo e Prudência terminaram de fazer a primeira refeição, e estão na sala.

Prudência – Meu senhor, eu estou preocupada com Agnella.

Enzo – Por que, Prudência? Por acaso ela passou mal ontem à noite?

Prudência – Não é disso que falo. Nossa filha está perfeitamente bem de saúde. Eu falo do futuro dela.

Enzo – Mas isso nós já decidimos, não foi? Ela irá se casar com Adelmo.

Prudência – Sim, eu também pensava ser essa a melhor atitude a tomar. Porém, ele sofreu aquele grave acidente, e até agora não acordou! Então, eu comecei a me perguntar sobre as possibilidades de esse casamento realmente ocorrer.

Enzo – Mas ele irá acordar, mulher. Além disso, esse não é o momento certo para sermos pessimistas. Pelo bem de Agnella, temos que torcer para que ele viva.

Prudência– Mas é pelo bem dela que eu prefiro não arriscar.

Enzo – E o que tu queres dizer com isso?

Prudência – Nossa filha não pode mais ficar naquele quarto, à espera de um casamento que talvez nem chegue. E ela ainda está pensando naquele rapaz, o Gustavo, porém sabemos que ele não voltará. Precisamos fazer algo para que Agnella não tenha o tempo ocioso pelo resto da vida. E, se não podemos casá-la…

Enzo – Tu dizes que não podemos. Eu ainda prefiro esperar.

Prudência – Não, marido! Esperar só irá aumentar a dor de nossa filha. O melhor para ela, agora, é dedicar sua vida a Deus. Se tu concordares, Agnella irá para o convento.

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