Cena 01: Rua do Povoado das Hortaliças. Manhã.
Então, Simone vê, a alguns metros de distância, Adelmo, caído no chão, ensanguentado. Desespera-se e corre em sua direção, agachando-se ao seu lado.
Simone – (Gritando) Adelmo!! Meu filho!! (Ele não responde. Ela começa a chorar, e olha para as pessoas ao redor) Ele… Ele está morto! Não, meu filho!! Não!
Leonor – (Chorando, comovida) Não, minha amiga! Tenha fé em Deus que ele há de ficar vivo!
Homem – Ele não morreu. A senhora pode ficar mais tranquila. O acidente parece ter sido grave, mas ele ainda está vivo.
Leonor – (Se dirigindo aos homens que estavam lá) Por favor, tem como levarem o filho dela para minha casa? Nós o colocaremos em minha cama. Ele não pode ficar aqui.
Simone – (Se levantando) Meu Senhor, ajuda meu filho. Ajuda-nos…
Ela abraça sua amiga. Um dos homens pega Adelmo e o leva para a casa de Leonor. Elas o seguem.
Cena 02: Sala de recepção da Igreja del Fiume. Manhã.
Santorini – Pois bem, Pero. Gostei da sua ideia. Somente me diga algo: como faremos para convencê-lo a ir nessa viagem?
Pero – Ora, padre, é só dizer que é uma ordem da Igreja, não é? Além do que ele já foi escudeiro do rei. Se o senhor falar que o papa precisa dos seus serviços…
Santorini – Então está tudo certo, meu filho. Aliás, como partiremos daqui amanhã, acho melhor ir agora até o povoado avisar a Brás.
Pero – (Sorrindo) Bem, nesse caso, eu o acompanho. Afinal, tenho que ir às terras, senão, em pouco tempo, não terei o que comer. Vamos, padre?
Santorini – Vamos.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Leonor.
Depois de algum tempo ajoelhada ao lado do filho, rezando e chorando, Simone decide se levantar.
Leonor – Estás, melhor, amiga?
Simone – É difícil, não é? Ver o meu filho nessa situação, e não há nada o que fazer…
Leonor – Mas nós podemos chamar o padre. Ele deve saber uma oração que há de tirar Adelmo desse sofrimento.
Simone – (Tentando enxugar as lágrimas) Tens razão, amiga. Vamos, então.
Leonor – (Para a vizinha que estava na casa dela) Cuide bem dele, por favor. Nós temos que ir até a igreja a pé, e vamos demorar. Tenha cuidado.
Após a confirmação feita pela vizinha, elas saem.
Cena 04: Nave da Igreja del Fiume.
Gregório está sentado em um dos bancos da igreja. Gustavo chega.
Gustavo – Parece que o padre saiu, não foi?
Gregório – Exatamente. Por que tu queres saber?
Gustavo –Na verdade, eu vim aqui pedir-te um favor. Como sabes, eu irei lutar pela Guerra Santa, mas eu não posso partir sem me despedir da mulher que eu amo. Só que…
Gregório – Só que o padre te proibiu de deixar a igreja. E tu queres que eu o deixe fazer isso. Irás desculpar-me, mas eu não posso desobedecer a ordens superiores.
Gustavo – Por favor, meu amigo, tem compaixão da minha situação! Eu estou deixando uma parte de mim aqui. Não vais me dizer que nunca sentiste isso? Nunca deixaste um grande amor para trás? Tu nunca amaste?
Gregório – (Levantando-se bruscamente) Não, nunca. Amo só minha família e a Deus. (Hesitante) E, claro, o meu próximo, como Jesus ordenou.
Gustavo – Mesmo assim, tu não despediste de tua família antes de vir para cá? Por favor, preciso fazer isso! Prometo que não me demorarei!
Gregório – Tudo bem, tudo bem. Eu desisto! Mas presta atenção: tem cuidado, e procura chegar o mais rápido possível aqui, antes do padre. Não quero ter problemas com ele.
Gustavo – (Apertando a mão de Gregório) Tens a minha palavra.
Gregório – Então vai logo. Vai!
Gustavo sai depressa da nave da igreja. Ao chegar ao lado de fora, procura seu cavalo, e não acha.
Gustavo – Mas, por Deus, onde está o meu cavalo?
Nesse momento, a irmã Francisca aparece com ele.
Francisca – Por acaso, procuras esse animal, rapaz?
Gustavo se assusta.
Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
O padre e Pero chegam à casa de Inês. Batem na porta.
Santorini – Olá! Brás, você está em casa?
A porta, então, é aberta.
Brás – Padre? A que devo a honra de sua visita?
Santorini – Bem, meu filho, creio que seja melhor eu entrar para conversarmos.
Brás – E esse inútil? Veio com o senhor? Se veio, aviso logo que em minha casa ele não entra.
Santorini – Na verdade, ele está de passagem. Não é, Pero?
Pero – Sim, padre. Vou trabalhar. Boa sorte com esse homem desalmado com o qual o senhor vai conversar. Ah, e cuidado para não virar prisioneiro dele também.
Brás se irrita e avança em direção a Pero.
Brás – Seu covarde! Vem aqui e me encara como homem!
Santorinio interrompe.
Santorini – Não vá brigar com ele, Brás! Vamos entrar, é melhor.
Eles entram. Pero segue em direção às terras, mas, quando chega na esquina da rua, se encontra com Simone e Leonor.
Pero – O que aconteceu com as senhoras? Não parecem estar bem.
Simone – Sai da frente, inútil! Temos uma coisa muito séria a fazer e não temos tempo a perder contigo!
Leonor – Pero, cuida da tua vida. Minha amiga está passando por um momento difícil, sim, mas nada da vida dela te interessa. Com licença. (Elas seguem andando, e Leonor se vira para Simone) Vamos, amiga, vamos logo encontrar o padre.
Pero ouve.
Pero – Eu sei que as senhoras não querem ouvir uma palavra minha, mas só para saberem, o padre não está na igreja. Ele está na casa de Inês!
Elas se olham.
Simone – (Para Leonor) Na casa da minha filha? O que ele faz lá?
Elas continuam, sem ao menos virar o rosto para trás.
Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
Brás – O senhor poderia ser bem rápido, por favor? Tenho que ir trabalhar logo.
Santorini – Acho melhor ter paciência. Bem, se não se importa, gostaria que a sua mulher me servisse um copo de água.
Brás – Ela não! Padre, ela está no quarto e não sairá de lá tão cedo. Se o senhor quiser, eu pego a água, mas terá que prometer…
Santorini –Por favor, traga Inês.
Vendo a firmeza do padre, Brás cede e vai buscar a mulher. Ele volta e ela segue para a cozinha.
Brás – Então?
Santorini – Vamos esperá-la.
Nesse momento, alguém bate na porta. Brás, bufando de raiva, vai abri-la.
Brás – Quem mais veio me encher a paciência?
Ao abrir, Simone entra sem pedir licença, e deixa a porta aberta.
Simone – Padre, pelo amor de Deus! Preciso da ajuda do senhor! O meu filho… Ele está morrendo!
Santorini – Como assim, minha filha? O que houve?
Leonor – Um acidente, padre. Ele não está nos respondendo, mas ainda está vivo. Neste momento ele está em minha casa. Nós estávamos atrás do senhor porque, quem sabe, o senhor não faz uma oração e… Ele se recupera, não é?
Nesse momento, Inês vem chegando à sala, e se assusta ao ver sua mãe.
Inês – Minha mãe? O que ela faz aqui?
Ela se esconde.
Santorini – Claro, vamos então. Brás, você vem comigo. Inês também.
Brás – Eu? Por favor, tenho mais o que fazer. E minha mulher ficará aqui, trancada.
Inês, então, aparece.
Inês – Eu não fico trancada aqui nem mais um minuto!
Ela consegue correr e, aproveitando a porta aberta, foge.
Simone – Filha, não vá!
Brás – Inês!! Volta aqui!
Ele corre para buscá-la, mas o padre o impede.
Santorini – Brás, venha comigo e com sua sogra até a casa de Leonor. Leonor, por favor, vá atrás de Inês. Ela tem que apoiar sua família neste momento.
Eles saem, cada um ao seu destino.
Cena 07: Igreja del Fiume.
Francisca – Pelo visto, temos aqui um rebelde desobediente. Eu avisei ao padre que tivesse cuidado contigo, que não confiasse. E pelo visto eu estava certa.
Gustavo – (Acuado) O que a senhora quer dizer com isso?
Francisca – Nada, rapaz. Somente que o padre ordenou que tu ficasses aqui e não colocasses um dedo do pé fora da igreja. E tu já estavas procurando o cavalo para fugir. Pois bem. Sinto informar-te que teus planos estão frustrados.
A irmã Francisca pega Gustavo pelo braço. Ele tenta se soltar.
Francisca – Eu sei muito bem que tu és mais forte do que eu. Mas se eu fosse tu não tentaria fugir, senão as coisas piorariam muito…
Gustavo cede. A freira entra na igreja e o leva até uma sala que ele desconhecia.
Gustavo – Mas que lugar é esse?
Francisca – Somente um quarto. Ficarás aí, Gustavo, até eu e o padre decidirmos o que faremos contigo enquanto amanhã não chega.
A freira sai e tranca a porta. Gustavo senta no chão do quarto, indignado.
Cena 08: Povoado das hortaliças. Casa de Enzo.
Prudência e Enzo estão na sala. Ela abre a janela.
Prudência – O que será que houve aqui na casa de Brás e Inês? Parece que teve mais uma confusão…
Enzo – Mulher, eu já falei para deixares de ser curiosa. Senta aqui, porque tenho algo de importante para conversar contigo.
Prudência – Já sei do que se trata. É sobre nossa filha, não é?
Enzo – Isso mesmo. Depois da decepção de ontem, acho que devemos urgentemente arranjar um casamento para Agnella. E um que dessa vez desse certo.
Prudência – Eu concordo contigo. Mas, afinal, com quem? A última pessoa que pensamos ser ideal não era. Tenho medo de nossa filha ficar falada no povoado.
Enzo – Não precisas ter medo. Há alguém que todos sabem estar interessado em casar com ela. Já decidi: Agnella se casará, o mais rápido possível, com Adelmo.
Prudência – Quem diria que um dia nossa filha se casaria com ele… Tudo bem que ele sempre gostou dela, mas eu nunca achei que ele fosse exatamente o melhor para Agnella.
Enzo – Não te queixes, mulher. Ele é camponês, assim como nós. E dará um bom casamento para ela.
Prudência – E quanto a Agnella? Não ficará sabendo disso?
Enzo – Acho melhor tu, que és a mãe, dizeres a ela. Agora, tenho que trabalhar.
Prudência – Tenha um bom dia, marido.
Enzo – Obrigado. Ah, e não se esqueça de levar, mais tarde, a comida para Agnella. Mas só mais tarde.
Enzo sai.
Cena 02: Entrada do Povoado das Hortaliças.
Inês estava chegando à entrada da floresta, no caminho que levava ao rio. Nesse momento, Leonor apareceu, vinda do povoado. Ela está um pouco distante de Inês.
Leonor – Inês! Não faça isso!
Inês – Deixa-me quieta, Leonor! Eu não vou mais viver presa por aquele crápula! Tenho que fugir!
Leonor – Mas tu não podes! Pelo menos não agora! O teu irmão…
Ao ouvir a menção ao irmão, Inês recua até Leonor.
Inês – O que há com meu irmão?
Leonor – Adelmo sofreu um grave acidente, e está agora em minha casa, como um morto. Foi por isso que Simone e eu estávamos à procura do padre. Ele, tua mãe e o teu marido seguiram para a minha casa, e eu vim buscá-la.
Inês – Bem, nesse caso, acho melhor irmos. Mas a senhora vai ter que me prometer uma coisa. A senhora vai me dar abrigo, porque de modo algum eu voltarei a viver junto de um homem horroroso como esse.
Leonor – (Suspira, sem ter o que fazer) Está certo, Inês. Mas andemos.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Leonor.
O padre, Simone e Brás chegaram e se dirigiram até Adelmo.
Santorini – Meu Deus, realmente foi grave! O que houve com ele?
Simone – Eu não sei, padre! Eu só sei que ele está aí, quase morto!
Santorini – Não digas isso, minha filha. Jesus há de curá-lo desse sofrimento e ele vai voltar à vida que ele tinha. Bem, não vamos perder tempo, não é? A situação é urgente.
O padre começa a rezar uma oração em latim. Simone e os vizinhos de Leonor que estavam lá se ajoelharam e fecharam os olhos. Só Brás ficou em pé.
Brás – (Sussurrando) Sinceramente, eu não sou obrigado a ficar aqui! Tenho coisa mais importante a fazer.
Na hora em que ele está do lado de fora, Leonor e Inês chegam, seguradas pelas mãos.
Brás – (Em voz alta) A-Ha! Peguei-te, mocinha!
Ele segura no braço de Inês e começa a puxá-la, porém ela resiste.
Leonor – Largue-a, seu cafajeste!
Leonor dá tapas em Brás, mas não tem efeito. Então, o padre chega.
Santorini – Brás, solte o braço de sua mulher!
Brás – Ah, padre, me esqueça! Já o ouvi demais por hoje. Aliás, o senhor não estava fazendo uma oração agora?
Santorini – Já terminei, e eu tenho certeza de que fará muito efeito. Agora, largue Inês.
Brás obedece. Inês bate o pé no chão, com ar triunfante, e depois segue para a casa de Leonor.
Brás – (Para o padre) Feliz agora? Com licença.
Ele se vira.
Santorini – Nem continue. Ou já esqueceu que temos uma conversa? Agora, por favor, fique aqui comigo na casa de Leonor enquanto sua mulher vê Adelmo. Depois, iremos a sua casa.
Eles entram e veem Inês ajoelhada ao lado de Adelmo, chorando. Simone vai falar com Santorini.
Simone – Ele irá ficar bem, não irá?
Santorini – Irá sim. O Senhor Todo-Poderoso vai agir por ele. (Ele se vira para Inês) Inês, por favor, venha comigo.
Inês – Mas, padre, não posso deixar meu irmão. E eu nunca mais quero ficar perto desse homem que está ao seu lado.
Santorini – Não tenha medo. Venha comigo.
Inês olha para sua mãe, que balança a cabeça em confirmação. Ela se levanta e sai, junto com Brás e o padre.
Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
Santorini, Brás e Inês chegaram.
Brás – Mas, afinal de contas, o que o senhor quer comigo?
Inês – E por que eu tenho que estar aqui ao lado desse homem a quem eu, tola, chamava de marido?
Santorini – Tenham paciência. O assunto é sério e diz respeito, no final de tudo, aos dois. Por isso estão aqui.
Brás – E do que se trata?
Santorini – Bem, meu caro, você andou faltando às missas, e perdeu o que eu falei na última delas. Explicarei para vocês o que eu expliquei ao povo naquela noite.
Santorini repete tudo sobre os mouros, Jerusalém e a Guerra Santa.
Brás – Ah, padre, mas isso eu já ouvi muito! Virou assunto aqui no povoado. Só não sei que relação tenho com isso.
Santorini – É simples. Você já foi um escudeiro do rei, não é? Por isso, seu nome foi lembrado como um dos homens que lutarão na Guerra Santa.
Brás se assusta. Os olhos de Inês brilham.
Brás – (Revoltado) Eu? Eu não irei a viagem alguma! Nada vai me tirar daqui! Nada!
Santorini – Não há discussão: são ordens da Igreja. Amanhã mesmo, bem cedo, partiremos daqui para o litoral. E você, Brás, irá conosco.
Brás começa a avançar em direção ao padre, mas desiste.
Brás – E… O que tenho que fazer?
Santorini – Não muita coisa. Separar roupas, claro. Ah, e, no seu caso, estar hoje na igreja no final da tarde. São ordens.
Brás – E quanto a Inês? Ela irá comigo.
Santorini – Nem pensar. Mulheres não irão. Ela ficará aqui, o aguardando.
Brás, furioso, parte em direção ao quarto e bate a porta. Inês corre para abraçar o padre.
Inês – Obrigada! Mil vezes obrigada!
Santorini – Não é bem a mim que tu tens que agradecer.
Inês – (Surpresa) Não?
Santorini – Não. Que isso não se espalhe, mas foi alguém muito mais preocupado contigo que me deu essa ideia.
Então o padre sai. Inês fica sorrindo.
Cena 05: Igreja del Fiume. Horas depois.
Gustavo permanece no quarto em que foipreso pela irmã Francisca. Ele está relembrando um momento.
– Flashback –
Gustavo e Agnella estão à beira do Rio dos Campos.
Gustavo – Eu te amo muito. De verdade.
Agnella – (Volta a abraçá-lo calorosamente) Eu também te amo. Muito.
Agnella e Gustavo, no calor do momento, não resistem aos impulsos. Começam a se beijar, e, aos poucos, se rendem, amando-se ali mesmo, embaixo da frondosa árvore e à beira do rio.
– Fim do flashback –
Gustavo – Agnella, meu amor, a gente ainda vai ficar junto! Eu prometo!
A porta se abre e o padre entra.
Gustavo – Padre? O senhor veio me tirar daqui?
Santorini – Não, rapaz, apenas trazer sua comida. Depois de desobedecer à minha ordem, você ficará aí pelo menos até o final do dia.
O padre entrega a comida a Gustavo.
Santorini – Pois bem, Gustavo, até mais tarde. E reflita muito bem sobre suas atitudes. Lembre-se: às vezes, é melhor não se precipitar.
Ele sai. Gustavo começa a comer.
Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Final da tarde.
Brás passou todo o dia dentro do quarto. Ao sair, pronto para ir para a igreja, encontra Inês.
Inês – (Irônica) Até que enfim tu saíste! Estive te esperando para me despedir de ti.
Brás – Não sei por quê. Me odeias tanto, não é?
Inês – (Se aproxima dele, cínica e sensualmente) Até que eu gostava de ti. Porém, me decepcionei quando percebi quem realmente tu eras. Só que agora, te vendo sair para a guerra, eu me sinto livre. (Se vira e vai se afastando dele) Boa viagem, escudeiro do rei! Quer dizer, do papa.
Brás – Que viagem que nada! Ainda vai nascer papa que me tire daqui!
Brás agarra Inês pelo braço, sai de casa, monta no cavalo e segue para a entrada do povoado.
Inês – (Gritando) Socorro! Me solta, seu crápula! Socorro!
Quando eles chegam à entrada, Pero aparece em sua frente, montado em seu cavalo, encurralando-os.
Pero – Larga a minha Inês!
Brás desvia, mas Pero o segue.
Pero – Estou dizendo: largue-a!
Brás – Saia do meu encalço, camponesinho apaixonado! Eu fugirei e levarei minha mulher comigo!
Pero – Ah, mas não vai fugir mesmo!
Pero dá um tapa forte no cavalo, que se descontrola e, correndo desenfreado, acaba batendo no cavalo de Brás. Todos caem no chão. Brás se levanta e corre, arrastando Inês, mas Pero pega uma pedra de tamanho médio e arremessa em sua cabeça. Ele cai, com Inês embaixo.
Cena 07: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.
Agnella está deitada, segurando um prato de comida e um copo de água. Sua mãe está ao seu lado.
Prudência – Minha filha, come! Desde o almoço que eu te trouxe isso, e tu não colocaste nada na boca!
Agnella – Não quero comer, mãe! Não enquanto eu não estiver com Gustavo e nós não noivarmos!
Prudência – Agnella, não insistas. Isso só irá te prejudicar!
Agnella – Mais do que a senhora e meu pai já me prejudicaram, me afastando do meu amor? Fazer jejum não se compara ao que eu já estou sofrendo.
Prudência – Minha filha, sendo tu eu comeria. Até porque não há mais esperanças para ti de casares com aquele homem.
Agnella – O que houve com Gustavo? Ele foi embora? Ele…
Prudência – Não, minha filha. Na verdade, eu e seu pai decidimos que você se casará com outro homem.
Agnella – (Agnella se apavora) C-casarc-om outro homem? Não, mãe, isso não pode acontecer!
Prudência – Filha, eu já disse que não há mais história entre ti e esse filho de senhores feudais! Realidades diferentes, que nunca irão se misturar!
Agnella – Não, mãe! Eu falo… De outra coisa mais séria.
Prudência – (Se assusta) Séria? Filha, não me ponhas medo. (Fala pausadamente) Por Deus e Nossa Senhora, o que te faz ter tanta repulsa em casar com outro homem, se não é o amor que dizes sentir por Gustavo?
Agnella – Eu não queria contar isso para ninguém, principalmente a meu pai. Mas não há saída. Mãe, eu… Eu e Gustavo nos… Nos amamos… Nós… Nós nos deitamos, ficamos juntos, nos unimos… Aconteceu, foi… Inevitável. E por isso, mãe, nenhum homem, a não ser ele, poderá se casar comigo. Só ele! Só…
Agnella vira o rosto, envergonhada. Prudência, atônita, tenta se levantar, mas sente uma tontura e cai no chão, desacordada. Vendo isso, Agnella se ajoelha ao lado dela.
Agnella – (Desesperada) Mãe! Acorda, mãe! Perdoa-me! Me perdoa…
E, olhando para o teto, começa a chorar.