CANTIGA DE AMOR – edição especial: capítulo 06
Cena 01: Igreja del Fiume. Galpão subterrâneo embaixo da sala do padre. Noite.
A leitura de Gustavo é interrompida por passos, vindos do outro lado da biblioteca subterrânea. Alguém entrara, deixando Gustavo atento. Os passos se aproximavam cada vez mais, mas não era possível ver quem chegara. Até que pararam por um instante, na estante ao lado de onde Gustavo tirara o livro de Platão. Depois, a pessoa voltou a se movimentar, e andou na mesma direção de onde veio. Gustavo, imediatamente, resolveu conferir o que a pessoa misteriosa pegou. Chegou à estante em questão.
Gustavo – (Surpreso; pensando) Minha Nossa Senhora! Quer dizer que foi isso que essa pessoa levou para ler? Não acredito!
Então, impulsivamente, Gustavo decide descobrir de quem se tratava. Seguindo o som dos passos, ele corre na direção da pessoa misteriosa. Em certos momentos, ele consegue ver sombras das estantes se movendo, mas não vê quem segura a lamparina. Até que, no momento em que essa pessoa chega à porta, Gustavo visualiza sua sombra. Entretanto, quando ele tenta se aproximar, a porta é fechada.
Gustavo – Mas eu tenho a impressão de que eu conheço essa sombra… Mas, quem ela me lembra?
Cena 02: Rio dos Campos. Manhã.
Adelmo chega ao rio, mais atrasado do que o costume, já que teve que fazer um favor para a mãe. Então, se depara com uma cena. Gustavo e Agnella estão sentados embaixo de uma árvore.
Agnella – Meu amor, estou um pouco aflita. Meu pai enviou um recado por um conhecido, e parece que ele chega hoje de viagem.
Gustavo – Mas tu não precisas ficar aflita. Não te prometi que falaria com ele? E assim será: podes ter certeza de que tu serás a minha esposa.
Agnella – (Radiante, dá um abraço caloroso em Gustavo) Como é bom saber que eu posso confiar em ti! Tenho passado todos esses dias na expectativa do teu pedido, do nosso casamento…
Gustavo – Eu também, meu amor. Tenho certeza de que conseguirei convencer teu pai. (Fica pensativo um pouco) Agnella, eu preciso compartilhar um pensamento meu contigo.
Agnella – O que, Gustavo? É algo sério?
Gustavo – Não… Na verdade, é sobre o fato de haver muitas regras hoje em dia. Sabe, meu amor, existem certas coisas que não deveriam ser proibidas.
Agnella – (Se assusta) Como assim, querido? As proibições fazem parte da educação de uma pessoa.
Gustavo – O que eu falo, Agnella, é do fato de a Igreja nos proibir de ler algumas coisas. Eu, por exemplo, fiquei no seminário até o ponto de aprender a ler, e, esses dias, descobri aqui mesmo, na Igreja, textos maravilhosos que deviam ser mostrados às pessoas. Mas parece que o padre se nega a fazer isso.
Agnella – Se ele não quer, deve ter algum motivo. E, aliás, não achas perigoso ficar lendo esses textos? Se o padre não mostra a nós, também não concordaria em mostrá-los a ti.
Gustavo – Ele não sabe que eu faço isso. E eu vou lhe provar como esses textos são bons. Existe um que fala sobre o amor. Chama-se “O Banquete”. Ele diz que às vezes amamos aquilo que não podemos ter, o que não é meu caso, porque eu tenho a ti e te amo. Mas ele também diz que o amor verdadeiro é o amor do belo, e tu és bela. És linda. Eu te amo muito. De verdade.
Agnella – (Volta a abraçá-lo calorosamente) Eu também te amo. Muito.
Agnella e Gustavo, no calor do momento, não resistem aos impulsos. Começam a se beijar, e, aos poucos, se rendem, “amando-se” ali mesmo, embaixo da frondosa árvore e à beira do rio.
Adelmo – (Espantado) Meu Deus! Isso é um pecado gravíssimo! Ah, mas isso não vai ficar assim! Esse homem ainda vai pagar por ter desvirtuado minha Agnella!
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Manhã.
Inês e Brás continuam na mesma situação. Ela ainda é maltratada por ele, e vive presa em casa. Nesse momento, após ter tomado café e Brás ter saído, Inês teve que começar a preparar o almoço do marido. Então, ao andar da sala para a cozinha, viu um balde.
Inês – O que será que tem nesse balde? (Então, ela abriu) Plantas? É alguma espécie de erva isso que está plantado no balde? Será que elas servem para o almoço? Vou ver.
Então, Inês pega nas ervas que estão no balde. Leva ao nariz.
Inês – Estranho… Não cheira a nada. Mas… Espera aí! Isso daqui, se eu não me engano, é erva daninha para as nossas plantações! Até serve pra comer, mas se colocada perto das hortaliças daqui, causa o maior estrago! O que isso está fazendo aqui? Por que Brás poria uma coisa dessas em nossa casa? (Então, um pensamento lhe vem à mente) Então… Será possível? Ah, mas eu vou dar um jeito de evitar uma tragédia. Não sei se vai ficar muito bom, mas essas ervas vão parar no nosso almoço!
Cena 04: Igreja del Fiume. Manhã.
Conforme o castigo imposto pela irmã Francisca, duas vezes por semana Valentina tinha que ir à igreja para limpá-la. Sempre dando um jeito de evitar um encontro com alguém do povoado, vez ou outra ela esbarrava em Gregório, mas em nenhum momento saía debaixo dos olhos da freira. Nesse momento, ela estava limpando a nave da igreja. Gregório e irmã Francisca também estão lá.
Francisca – Muito bem, irmã Valentina. Parece que você aprendeu direitinho como limpar isso daí. Mas, ora, veja só… (Passa o dedo em um banco da igreja) Isso está imundo! Vê se passa melhor esse pano! Venha aqui e conserte seu erro.
Valentina – Mas, irmã Francisca, ele está brilhando! Eu demorei um bom tempo só nesse banco!
Francisca – Não discuta! Venha aqui e limpe.
Nesse momento, alguém aparece chamando a irmã Francisca.
Francisca – Bem, eu vou sair rapidamente. E, Gregório, me faça um favor: veja se essa menina não faz nada errado, certo?
Gregório – Tudo bem, irmã Francisca.
Ela sai.
Gregório – Irmã Valentina, agora que a irmã Francisca saiu, não é preciso ficar mais limpando esse banco. Podes continuar de onde paraste.
Valentina – Mas… E se ela vir e reclamar?
Gregório – Não fiques preocupada. Todos nós sabemos que a irmã Francisca é complicada mesmo. Às vezes ela é um pouco implicante, mas isso passa.
Valentina sorri. Gregório cora.
Valentina – Vejo que és tímido. Algum problema?
Gregório – (Abaixando a cabeça) Não… Eu só tive um calafrio mesmo. A irmã pode continuar fazendo o serviço. C-com licença. Eu preciso sair um pouco.
Valentina – Está bem. Mas lembre-se: não precisas ficar tímido diante de mim. Sou uma noviça, tu és um seminarista, és quase um padre. Somos irmãos em Cristo.
Gregório – (Ri no canto da boca) Verdade. Mas tenho que ir agora.
Valentina sorri enquanto Gregório sai. Ele acaba encontrando a irmã Francisca voltando para a igreja. Gustavo está chegando do povoado nesse momento.
Gregório – Algum problema, irmã Francisca?
Francisca – Não. Na verdade, uma ótima notícia. O padre e Enzo mandaram uma carta para nós através de um conhecido. Ele está chegando hoje à tarde. Vai poder celebrar a missa de hoje.
Gregório – E quanto ao casamento?
Francisca – Não sei bem, mas parece que deu tudo certo.
Gustavo ouve tudo.
Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Tarde.
Depois que Brás trancou a janela do quarto e pregou, impedindo de ser aberta, Pero deixou de visitar Inês com comida, mas de vez em quando ia importuná-la, e eles ficavam “conversando”. E esse é um dos dias em que ele resolve visitá-la. Inês está no quarto, quando ouve uma batida na janela.
Inês – (Sorri) Pero!! (Se dirige à janela) Pero, és tu?
Pero – Sou eu sim, minha princesa! Não aguentei de saudade e vim conversar contigo!
Inês – Camponês, não me tome o tempo, porque já não aguento mais tuas ladainhas de amor. Eu tenho uma coisa importante para te dizer.
Pero – O que, minha flor maravilhosa?
Inês – Descobri que Brás planejava sabotar tuas plantações com ervas daninhas!
Pero – (Surpreso) Como é? De que forma descobriste? E o que fizeste?
Inês – Eu encontrei um balde cheio dessas ervas aqui em casa, e deduzi que fosse para ti, já que és a única pessoa daqui com quem eu sei que Brás poderia ter alguma rixa. Então eu peguei essas ervas e as usei no almoço.
Pero – Mas não te fizeram mal? Será que não vão causar problema?
Inês – Não, camponês, claro que não. Eu quero saber é o que tu irás fazer, agora que tu sabes disso.
Pero – Não sei… Mas eu tenho certeza de que darei um jeito de retribuir isso. Vou à missa hoje, parece que o que padre está de volta. Quem sabe lá não encontro uma solução?
Cena 06: Igreja del Fiume. Nave. Tarde.
Gregório está começando a organizar os paramentos para a missa, no caso de o padre não chegar ou não poder celebrá-la. Nesse momento, ele tem uma surpresa.
Gregório – Padre! Que bom que chegaste!
Santorini – Pois é, meu filho! A viagem foi cansativa, mas eu estou aqui! E pronto pra celebrar quantas missas for preciso!
Gregório – Graças a Deus! Daqui a pouco ela começa. O senhor vai estar à frente, então?
Santorini – Sim, meu filho, pode ter certeza.
Cena 07: Igreja del Fiume. Final da tarde.
A missa começou. O padre está conversando com os fiéis.
Santorini – Meus irmãos, como todos sabem, eu tive que realizar uma viagem para arranjar o casamento de uma das moças daqui do povoado. Para encontrar a residência da família do atual noivo, tive que passar na igreja principal da região da Campania, e lá tive uma notícia importante e que eu trago hoje para vocês. Irmãos, precisamos nos armar. A Igreja e a propagação do Evangelho estão ameaçadas, porque os mouros, ou muçulmanos, tomaram a nossa cidade sagrada de Jerusalém! (A Igreja entra em alvoroço) Por favor, tentem se controlar! Eu sei que é difícil, eu também achei essa uma situação de muita calamidade, mas temos uma boa notícia. O nosso papa já está decidido, e a Igreja vai entrar em guerra contra os nossos inimigos que estão em Jerusalém. Será o começo de uma Guerra Santa, e para isso estou aqui. Tenho a responsabilidade de selecionar pelo menos dois homens de cada povoado ao redor que estejam dispostos a viajar para Jerusalém e combater o mal! Se levantem, irmãos! Precisamos vencer o Inimigo!
Pero está assistindo à missa.
Pero – (Pensando consigo mesmo) Então essa é a solução para todos os nossos problemas!
Cena 08: Igreja del Fiume. Noite.
A missa acabou de terminar. Depois de ser atacado por vários fiéis que estavam alvoroçados com a notícia recente, o padre Santorini conseguiu sair, e agora estava no quarto de Gregório.
Santorini – A irmã Francisca me falou que você ficou com a chave do meu quarto. Eu vou precisar dela agora, obviamente, para dormir. Onde ela está?
Gregório está mexendo em seu guarda-roupa.
Gregório – Eu a coloquei aqui padre, no fundo falso que existe em nossos guarda-roupas. (Então, ele abre o fundo falso e toma um susto.) Mas… Cadê a chave?
Santorini – Não é possível. Você tem certeza que…
Gregório – Ela sumiu, padre! A chave do quarto do senhor sumiu!
Santorini – Como isso é possível, Gregório? Você tem certeza de que não mexeu nela, não a tirou do lugar ou até mesmo a usou para entrar no meu quarto?
Gregório – De forma alguma! Eu fiz o que era certo: a escondi no guarda-roupa e a deixei lá até a sua volta. Mas agora… Ela sumiu!
Santorini – Eu vou averiguar isso melhor. Pode ter certeza de que quem fez isso vai responder pelos seus atos.
Cena 02: Igreja del Fiume. Quarto de Gustavo. Noite.
Gustavo está deitado em sua cama. Não consegue dormir direito. Seus pensamentos estão a todo vapor.
Gustavo – Ai, meu Deus… Se tudo ocorreu como Agnella disse, o pai dela chegou hoje à tarde. E o padre também. Parece que deu tudo certo com ele e esse casamento que estão tentando arranjar pra mim… (Tem um estalo) Mas, espera aí! Se eu estou certo, o pai de Agnella e o padre Santorini viajaram no mesmo dia, e voltaram no mesmo dia! Meu Deus, é claro! Como fomos estúpidos em não perceber essas coincidências! Não podia ser melhor: Agnella, a mulher que eu amo, a mulher dos meus sonhos, é a tal moça com quem pretendem me casar!
Com a cabeça a mil, porém mais tranquilo, Gustavo continua exaltado com essa conclusão que fez. Em pouco tempo, acaba dormindo.
Cena 03: Igreja del Fiume. Nave principal. Manhã.
O padre está se dirigindo ao quarto de Gustavo para acordá-lo, mas se surpreende ao vê-lo já de pé.
Santorini – Muito bem, meu filho! Vejo que já está acordado, e que não precisei levantá-lo da cama! Por acaso… Vai sair?
Gustavo – Eu… Acho que vou dar uma voltinha. Aqui mesmo, pelo rio.
Santorini – Sinto lhe informar, meu rapaz, mas isso não vai ser possível agora. Temos que tomar o nosso café da manhã, e hoje temos visitas especiais.
Gustavo – Visitas especiais? Quem?
Nesse momento, um casal aparece, vindo do lado de fora.
Edetto – Nós, meu filho. Nós somos a visita especial.
Cena 04: Rio dos Campos. Manhã.
Agnella chegou ao rio, mas Gustavo não estava.
Agnella – Estranho… Por que ele ainda não chegou?
Nesse momento, uma sombra se projeta, vinda de alguém atrás dela. Agnella se vira, sorridente.
Agnella – Meu amor?
Adelmo – Não. Sou eu, Agnella.
Agnella – (Perdendo o sorriso) Adelmo? O que tu queres?
Adelmo – Vejo que já chamas aquele homem, que chegou faz pouquíssimo tempo, de “meu amor”. Que coisa feia, hein, Agnella. Tu estás namorando escondida dos teus pais! E ainda mais agora, que estás prometida em casamento!
Agnella – Essa é apenas uma ideia de meu pai. O homem que eu amo vai falar com ele, e vai me pedir em casamento. E ele há de aceitar.
Adelmo – Como és inocente, Agnella! Eu sempre te amei, teus pais sabem disso, todo o Povoado das Hortaliças sabe disso. Eu merecia estar casado contigo. Por outro lado, quem é esse tal? Um desconhecido! Garanto que nem tu o conheces! Já dizes que o ama, mas não deve saber nem quem é sua família!
Agnella – Claro que eu sei! Ele é um filho de senhores feudais, uma posição bem melhor que a tua, Adelmo. Mas, queres saber? Isso não importa! O que importa é que nós amamos!
Adelmo – Ora, ora! Ainda mais essa! Um filho de senhores feudais! Pois saibas, Agnella, que essa união é impossível de acontecer. São dois mundos totalmente diferentes, o teu e o dele! Esse namoro entre vocês não irá para a frente! E não pense que seu pai não vai ficar sabendo, porque ele vai. E não vai ser só do teu namoro.
Agnella – Como assim, Adelmo? Do que estás falando?
Adelmo – Eu vi, Agnella! (E começa a querer chorar) Eu vi vocês dois deitados, pecando juntos, ontem, aqui mesmo na beira desse rio! Tu não sabes como isso foi doloroso para mim!
Agnella – Então é isso que queres contar a meu pai? Por favor, não fales nada! Eu te imploro!
Adelmo – Só abro mão de falar isso se tu largares aquele homem e ficares comigo.
Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.
Enzo está na sala. Prudência está saindo do quarto.
Enzo – Prudência, não achas que Agnella está demorando?
Prudência – Marido, não sejas tão exigente. A menina acabou de sair. Mas, falando nela: e os detalhes do casamento da nossa filha?
Enzo – Falamos com a família dele. Eles não são senhores feudais de muita importância, parece que estão enfrentando certas dificuldades, ao passo que nós estamos melhorando a cada estação e a cada colheita. E, no final, eles aceitaram. Devem chegar hoje à igreja.
Prudência – Então, quer dizer que…
Enzo – Podes arrumar a nossa casa e a nossa filha. É hoje que vamos oficializar o noivado dela!
Cena 06: Igreja del Fiume. Manhã.
Gustavo está surpreso e feliz ao mesmo tempo. Corre para abraçar os pais.
Gustavo – Pai, mãe, quantas saudades! A benção!
Edetto – Deus te abençoe.
Izabella – Deus te abençoe! Bem, meu filho, tu já deves saber o motivo da nossa visita, não é?
Gustavo – Sim, mãe. Creio que sim.
Edetto – Pois bem. Antes de tudo, Gustavo, o padre havia me falado que você estava oferecendo resistência. (Eleva o tom da voz) Mas eu acho que tu não esqueceste que somos teus pais, e, como teus pais, nós temos todo o direito de escolher com quem tu irás casar. Portanto, saiba que se tentares fugir desse compromisso, não conseguirás. Já está tudo decidido, eu e sua mãe… (É interrompido)
Gustavo – Chega de falar, pai. Eu pensei, e decidi que aceito esse casamento que vocês arranjaram.
Todos ficam surpresos.
Izabella – Graças a Deus, meu filho! Tu recobraste o juízo!
Santorini – Bem, meus caros, eu acho que deveríamos fazer a nossa refeição agora. A propósito… Os seus aposentos já estão preparados.
Gustavo – Então quer dizer que…
Izabella – Vamos dormir aqui. É hoje, meu filho, que você vai noivar!
Cena 07: Rio dos Campos. Manhã.
Agnella – Estás maluco! Não farei isso de modo algum!
Adelmo – (Segurando-a pelo braço) Tens certeza, Agnella?
Agnella – Claro que sim! Eu o amo, e não a ti! E me solta! (Consegue se desvencilhar)
Adelmo – Já que queres assim, é com muito pesar que farei isto. O teu pai vai saber do caminho errado que resolveste trilhar com aquele cavalheiro ousado.
Agnella – Podes fazer o que quiseres, mas nada vai impedir o nosso amor e o nosso relacionamento. Pensando bem, podes ir em frente. Se contares isso, aí é que meu pai obrigará Gustavo a cumprir com suas responsabilidades. Eu vou me casar com ele!
Adelmo – Eu duvido muito que isso aconteça, depois que ele souber que o homem que dizes amar é um senhor feudal. Tu verás, Agnella, eu convencerei teu pai a dar-te a mim como esposa.
Adelmo parte com seu balde cheio de água. Agnella enche o seu balde e sai, tensa e nervosa.
Cena 08: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.
Enzo, Agnella e Prudência terminaram de tomar café. Eles estão na sala agora.
Enzo – Filha, eu hoje voltarei mais cedo para casa. Esse é um dia muito especial para você!
Agnella – O que o senhor quer dizer com isso?
Prudência – Minha filha, hoje tu irás conhecer o teu noivo!
Agnella – O quê? Não acredito nisso!
Agnella corre para o quarto e fecha a porta.
Enzo – Daqui a pouco tu vais lá, conversar com ela. E eu, tenho que ir. Tchau, mulher.
Prudência – Tchau, marido. E muito cuidado!
Enzo sai de casa. Do lado de fora, encontra Brás.
Brás – Bom dia, Enzo. Vejo que voltaste bem de viagem. Aliás… Desde antes de tu viajares, tenho algo muito importante para te dizer. É sobre tua filha.
E Brás conta o que viu no dia em que Agnella estava de castigo e Gustavo buscou comida para ela.
Enzo – (Revoltado) Não acredito em uma coisa dessas! Eu nem sei o que sou capaz de fazer com um rapaz impertinente como esse. Mas, graças a Deus, mais problemas serão evitados. Minha filha noivará hoje.
Brás – Graças a Deus, não? Bem, já cumpri minha parte. Podes seguir viagem.
Enzo continua em direção às terras coletivas. No caminho, se depara com Leonor.
Leonor – Bom dia, Enzo! Será que tu tens um minutinho? O assunto é importante.
Enzo – Claro que sim. Também gostaria de falar com a senhora. É sobre a minha filha.
Leonor – Que coincidência, não? Justamente sobre ela que eu queria falar. Sabe, eu não sou de fazer mexericos, mas outro dia desses eu vi a sua filha conversando com um rapaz que não é daqui do povoado. Na hora, pareceu-me que eles estavam bem íntimos. Aí, quando foi outro dia, algo comprometedor me chamou a atenção, só que eu não consigo me lembrar o que foi! De qualquer forma, achei importantíssimo alertá-lo.
Enzo – Mais uma vez me falam hoje algo desse tipo com relação a Agnella! Mas o meu alívio é que eu vou casá-la. O noivado será hoje, e, como a senhora é experiente em realizar casamentos, gostaria de convidá-la para comparecer à tarde a minha casa. Será de grande valia.
Leonor – Claro que sim. É uma honra receber esse convite. Mas por acaso… Vais esquecer o que eu te falei?
Enzo – De forma alguma. A senhora pode ter certeza de que eu vou investigar e descobrir tudo o que for preciso sobre esse homem que está querendo se aproximar de minha Agnella! E ele vai pagar!
Cena 09: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.
Leonor entra na casa de Simone.
Simone – Minha querida, como foi o teu dia ontem? A viagem foi cansativa?
Leonor – Que nada! O Povoado della Pace Divina fica aqui ao lado, próximo à igreja! Além disso, o pai da moça que noivou ontem providenciou uma carroça para me levar e trazer.
Simone – Era o mínimo que ele poderia fazer, não é? Tu conseguiste apresentar um ótimo rapaz para aquela família…
Leonor – Isso é verdade. Mas, minha amiga, falando em noivados… O senhor Enzo, pai da moça por quem Adelmo é apaixonado, também irá noivar Agnella hoje. E eu imagino que seu filho não saiba disso.
Simone – (Preocupada) Não… Ele não sabe. Ou pelo menos não me disse nada. Mas, por favor, Leonor, não comentes nada com ele. Eu tenho medo de que ele tente, sei lá, atrapalhar esse noivado.
Leonor – Mas ele sempre pareceu uma pessoa comedida, Simone. Ele faria isso?
Simone – Não sei… A gente acha que conhece os nossos filhos, que a educação que demos a eles é suficiente para que eles sejam boas pessoas e que não nos surpreendam negativamente… Porém muitas vezes nos enganamos.
Leonor – Bem… Vamos mudar de assunto, não é? (Ela sorri.) Minha amiga, ontem, lá nesse outro povoado, eu conheci um homem, um homem bonito, que me pareceu muito respeitoso, muito simpático…
Simone – Ah, não, Leonor! Eu já falei para parares com isso! Não me venhas falar de homens bonitos, e simpáticos, e com boas condições, e tudo o mais, como se eu fosse uma das pessoas para quem tu prestas serviço! Tu és apenas minha amiga, não uma alcoviteira contratada por mim, para mim!
Leonor – Mas é como amiga que eu me preocupo contigo!
Simone – Então deverias saber que eu não posso me casar novamente. Ainda que eu quisesse… Eu não posso. Por isso, eu nem crio mais ilusões. Até porque até hoje eu nunca encontrei alguém que me fizesse tê-las.
Leonor – Mas será que um dia não irás encontrar? Só Deus sabe…
Simone – Então deixemos que Ele se encarregue disso. Apesar de que não é o próprio Deus que proíbe as viúvas, principalmente as mais velhas como eu, de casar-se novamente? Estou errada?
Leonor – Não, não estás. Eu reconheço. Então… Que tal falarmos sobre a dona Julieta? Tu ficaste sabendo que ela queria mudar de casa?
Simone – Mas como ela irá mudar? Com os oito filhos que tem, nunca arranjará uma casa maior nem melhor que a dela…
E elas continuam conversando.
Cena 10: Igreja del Fiume. Tarde.
Edetto, Izabella e o padre Santorini estão arrumados, na nave da igreja.
Edetto – Cadê esse menino? Ele não pode se atrasar para seu noivado!
Izabella – Calma, meu amor, ele já deve estar pronto.
Nesse momento, Gustavo aparece.
Gustavo – Como estou?
Izabella – Perfeito para o noivado, meu filho.
Santorini – Agora, vamos. Chegou o grande momento.
Francisca entra na igreja.
Francisca – Desculpe-me a pergunta, mas… Que momento?
Edetto – A senhora é…
Francisca – Irmã Francisca, muito prazer. Quer dizer que esse rapaz irá realmente noivar hoje?
Izabella – Sim. Há algum problema nisso?
Francisca – Eu fico admirada e, por que não dizer, surpresa, com o fato de o padre insistir em uma mentira.
Santorini – (Fica em alerta) Do que a senhora está falando, irmã Francisca?
Francisca – O senhor sabe muito bem, padre, que esse noivado que o senhor arranjou não pode ser concretizado. A tal Agnella…
Ao ouvir isso, Gustavo imediatamente esquece o que se passa em sua frente, e é tomado por um pensamento.
Gustavo – (Sorrindo; pensando) Então eu estava certo! É com minha Agnella que eu vou casar!
Então, ele volta ao “mundo real”.
Francisca – Ela é filha de camponeses.
Edetto – Isso… É verdade, padre? Nós estamos noivando nosso filho com uma camponesa?