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Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 2

[Estrada – Cidade de Brejo – Maranhão – Manhã]

Começo imediato da última cena…

TEODORO – (Cortando) cuidado, olha o garoto (puxa o volante)

O pau de arara derrapa na pista de terra e capota até chegar na beirada da ribanceira e fica perigando cair e Teodoro estar desmaiado.

***

[Fazenda dos Araribes – Cidade de Mororó – Maranhão – Manhã]

Eva está servindo chá para o seu marido, cantarolando a música besame mucho, chega perto do coronel e dá um beijo no rosto dele, depois volta a cantar, passando por trás do sofá.

De repente um arrepio frio toma de conta do seu corpo até chegar no seu coração e sente um aperto, seguido de angústia, ela para de cantar, congela e deixa derrubar a bandeja com os utensílios no chão.

EVA – (fala com aflição) Teodoro, meu filho!

***

[Estrada – Cidade de Brejo – Maranhão – Manhã]

O caminhão balança na beirada da ribanceira, Teodoro começa acordar lentamente, confuso, olhando a cena ao redor.

Do lado de fora do caminhão, várias pessoas que se encontravam à beira da estrada tentavam chegar próximo ao veículo, uma nuvem de poeira se formou com o derrapar do veiculo.

Teodoro olha para o motorista desacordado ao seu lado, tenta se mexer, porém sente uma dor forte no peito, ele desfivela o cinto de segurança e lentamente vai se levantando, sai do veículo, suas mãos estão feridas pelos cacos de vidro.

TEODORO – (gritando)  Socorro! Alguém nos ajude, por favor! Socorro!

Várias pessoas correm ao seu encontro, tiram ele de dentro do caminhão, ele olha para o interior do veículo e ver o motorista retomar a consciência.

MOTORISTA – Me ajude por favor!

O veículo começa a deslizar e cair ribanceira a baixo.

TEODORO – (grita com lágrimas nos olhos) – Não, não (se ajoelha e chora).

***

[Casa de Beatriz – Cidade de Mororó – Maranhão – Manhã]

JOSANIEL – (segura forte o braço da filha e fala irritado) E então me diga logo, que história é essa de irmã Beatriz?

SEBASTIANA – Solte a menina agora, não está vendo que ela só está desejando ter uma irmã?

JOSANIEL – (joga Beatriz em cima da avô, que a abraça, depois fala apontando o dedo na cara da filha) Eu já disse que não quero ouvir essa história aqui, onde está sua mãe?

SEBASTIANA – Ela está no quarto descansando.

JOSANIEL – Pois vou lá. (anda em direção ao quarto)

SEBASTIANA – (coloca-se entre a porta do quarto e Josaniel) Eu disse que ela está descansando e não deve ser incomodada, a situação dela é delicada.

JOSANIEL – Saia da minha frente, eu vou ver a minha mulher quando eu quiser e não será a senhora que vai me impedir.

SEBASTIANA – Eu não tenho medo de você, não me dobrei para o meu marido quando ele expulsou minha filha de casa e não vou me dobrar para você, que não é nada meu. Se eu acho que o melhor para minha filha é isso, eu não vou deixar você atrapalhar.

Josaniel bufa de raiva, anda em direção a dona Sebastiana, levanta a mão e com força dá um murro na parede ao lado da sogra.

JOSANIEL – Isso não vai ficar assim. (Sai)

SEBASTIANA – Beatriz, minha filha, venha aqui no quarto comigo.

As duas entram.

SEBASTIANA – Venha cá minha neta, você precisa jurar para mim que nunca mais vai falar sobre a criança que você viu, ta bom?

BEATRIZ – Porque voinha, eu vi ela nascer?

SEBASTIANA – Ela nasceu, mas não resistiu minha filha…

BEATRIZ – A senhora tá dizendo que minha irmã morreu? Ela tá mentindo né mainha?

Joana olha para a mãe enquanto abraça a filha, sem dizer nada apenas ver a dona Sebastiana fazer sinal de sim com a cabeça.

SEBASTIANA – Agora preciso que você vá lá para fora minha neta, tente acalmar o seu pai, que ele tá uma fera.

Beatriz concorda e deixa as duas mulheres no quarto.

JOANA – Mãe, porque disse aquilo?

SEBASTIANA – Melhor que seja assim, pelo menos ela não vai dar com a língua nos dentes sobre Maria Tereza… vamos manter o plano, vou ver se consigo o bebê morto e diremos que você perdeu.

JOANA – Mas e minha filha, como vou fazer para vê-la?

SEBASTIANA – Prometo que você vai acompanhar ela crescer… Agora aja naturalmente quando seu marido estiver com você, vou instruir Beatriz a fazer o mesmo.

JOANA – Deus nos proteja…

SEBASTIANA – Amém.

***

[Fazenda dos Araribe – Cidade de Mororó – Maranhão – Manhã]

CORONEL – O que foi Eva?

EVA – Teo, alguma coisa aconteceu com meu filho.

CORONEL – Acalme-se meu amor, deve ser nada, preocupação atoa.

EVA – Não é preocupação atoa carinho, é instinto de mãe, alguma coisa aconteceu com o meu menino, algo no meu coração me diz que ele está precisando de mim.

CORONEL – Daqui a pouco ele tá chegando meu bem (levanta e vai onde a mulher, abraça e beija ela).

O telefone toca e Eva volta a sentir o arrepio tomar de conta do seu corpo e põe-se a chorar.

CORONEL – Diná!!! … Diná!!!

DINÁ – Senhorzinho

CORONEL – Atenda esse telefone e arrume essa bagunça… (voltando-se para Eva) acalme-se meu amor.

Diná atende o telefone.

DINÁ– Senhorzinho, é para o senhor

Coronel pega o telefone

CORONEL – Aló! Coronel Araribe na escuta… (cara de espanto). Você tem certeza?… Em qual hospital ele está?… Estou a caminho, obrigado (desliga)

Com expressão de preocupação, ele se vira para Eva, olha nos olhos dela.

EVA – (chorando) Foi alguma coisa com meu filho, não foi?

***

 [Casa de Susana – Cidade de Mororó – Maranhão – 10 anos antes]

Início do flashback

 JOSÉ – Se essa rua

Se essa rua fosse minha

Eu mandava

Eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas

Com pedrinhas de brilhante

Para o meu

Para o meu amor passar

José canta enquanto penteia os cabelos da filha Beatriz, antes de ela dormir.

SUSANA – E num é que o senhor aprendeu direitinho papai.

JOSÉ – A mamãe foi uma boa professora.

SUSANA – Pelo visto o senhor aprendeu até pentear o meu cabelo, obrigado por tudo papai.

JOSÉ – Me promete uma coisa minha filha?

SUSANA – (virando para o pai) o que pai?

JOSÉ – Promete que nunca vai deixar de ajudar a quem precisa e que sempre vai ser boa.

SUSANA – Prometo pai.

JOSÉ – Te amo filha.

SUSANA – Também te amo

JOSÉ – Agora você tem que ir dormir

SUSANA – Ainda não, fica mais um pouco aqui… me conta uma história.

JOSÉ– Tá bom.

 Susana deita na cama

JOSÉ – Era uma vez, uma linda princesa…

 Fim do flashback

Susana está de olhos fechados, no seu pequeno quarto, as lágrimas voltam a tomar de conta da sua delicada face, encontrava-se deitado, viajando nos seus pensamentos.

Maria Helena adentra o quarto e olha a filha deitada.

MARIA HELENA – um cruzeiro pelos seus pensamentos.

SUSANA – Estou pensando nele mãe.

MARIA HELENA – ôh meu anjo (fala indo deitar junto a filha), tenho certeza que ele está olhando por nós e nos protegendo… Sabe o que ele me disse quando você nasceu… Que você era o maior presente que alguém podia ter dado a ele.

SUSANA– É como se a qualquer hora ele fosse entrar por essa porta e me abraçar mãe.

MARIA HELENA – Ele sempre vai está no seu e no meu coração, minha filha… agora você precisa comer algo, ainda não colocou nada no estômago hoje.

SUSANA – Estou sem fome mãe.

MARIA HELENA – Mas, saco vazio não para em pé, então vamos pelo menos fazer um lanche.

SUSANA – Ta bom mãe (sorri e abraça a mãe)

***

 [Casa de Misericórdia – Cidade de Mororó – Maranhão – Manhã]

CORONEL – Onde está o meu filho? (se dirigindo a recepcionista)

RECEPCIONISTA – Acalme-se senhor Coronel, ele está sendo cuidado pela nossa equipe.

CORONEL – (batendo na bancada da recepção) eu perguntei onde está o meu filho, infernos.

EVA – Acalme-se Araribe, a pobre da menina não tem culpa do que aconteceu… desculpe minha filha, ele está nervoso.

RECEPCIONISTA – Eu entendo, mas tente manter a calma coronel.

CORONEL – Basta desse lenga lenga todo, eu já disse que quero saber onde está o meu filho.

O doutor Luciano se aproxima.

LUCIANO – Calma, meu amigo, seu filho está bem.

CORONEL – Me leve até ele, por favor.

LUCIANO – Claro, por aqui.

Araribe e Eva acompanham o médico, que os leva até um quarto longe da enfermaria.

LUCIANO – Preferimos trazê-lo para cá.

EVA – É alguma coisa grave?

LUCIANO – Digo que ele teve muita sorte, se ele estivesse ficado mais um segundo no caminhão, não teria sobrevivido… felizmente ele só teve alguns arranhões…. Mas, tentem não falar sobre o acidente com o filho de vocês, o senhorzinho chegou aqui com sintomas de choque, ele viu o motorista do pau-de-arara cair ribanceira a baixo… então evitem.

EVA – Tudo bem.

O Doutor abre a porta do quarto e eles entram.

EVA – Meu filho, você ta bem? Fala comigo (abraçando Teodoro)

TEODORO– (com lágrimas nos olhos) A culpa é minha mãe, ele poderia ter sobrevivido, eu que merecia está no fundo daquele precipício.

EVA – Do que ele está falando doutor?

LUCIANO – Pelo que me parece o motorista do pau-de-arara que ele vinha, morreu no acidente e o Teo se culpa pelo o que aconteceu.

EVA – Você não tem culpa meu filho, foi uma fatalidade, uma obra do destino, ninguém podia prever.

CORONEL – Ele já pode ir para casa doutor?

LUCIANO– Por enquanto ainda não, vamos fazer outros exames para poder liberarmos ele, provavelmente anoitinha ele já deve estar em casa.

TEODORO – Eu podia ter salvado ele, mãe, eu podia, eu que tinha que ter morrido.

EVA – Não fale isso.

TEODORO – É a verdade, é a verdade minha mãe, eu que deveria ter morrido.

CORONEL – (zangado) Já chega dessa conversa

TEODORO – Vocês não entendem, saiam daqui, saiam daqui… me deixem só, saíam daqui.

Luciano retira Eva e o coronel da sala.

EVA – Ele está ficando louco doutor, meu filho.

LUCIANO – Calma, é só estresse pós-traumático, ele vai ficar bem daqui algum tempo.

EVA – Quanto tempo?

LUCIANO – Isso só ele pode dizer, mas o apoio de vocês é extremamente importante na recuperação, como eu disse anteriormente, nada de emoções forte e stress, não recomendo que esse seu comportamento, coronel, se repita perto dele.

CORONEL – Ora mais veja, quer mandar em mim.

EVA – (cortando) Tudo bem, pode deixar comigo. (Olha para o marido com olhar sereno e faz um gesto com a cabeça) agora vamos meu bem, a noite passamos para saber mais notícias… obrigado doutor.

***

 [Casa de Beatriz – Cidade de Mororó – Maranhão – Noite]

Mesa do café.

JOSANIEL – Me explica o que eu ainda não entendi, escutei choro de criança vindo do quarto e agora me vem com essa historinha que ainda não nasceu, alguém pode me explicar?

Beatriz olha para mãe e depois para avô e abaixa a cabeça.

JOSANIEL – Fala Beatriz, por acaso ta me escondendo algo minha filha?

SEBASTIANA – Para de atormentar a menina Josaniel, eu lhe contei o que aconteceu, ainda não está na hora.

JOSANIEL – Filhinha você sabe que se não me contar agora, eu vou descobrir depois, e o papai não vai ficar nada feliz com isso, entendeu?

JOANA – Para de colocar medo na minha filha.

JOSANIEL – Olha quem resolveu falar algo… se você estiver escondendo alguma coisa de mim Joana…

SEBASTIANA – Basta! Será que não podemos nem comer em paz.

O silêncio se estabelece na mesa, todos voltam a jantar. Depois de um tempo Joana se retira da mesa juntamente com sua mãe, Beatriz levanta e recolhe os pratos, talheres e copos e leva a pia onde começa a lavar as louças.

No quarto, Sebastiana e Joana conversam.

JOANA – Mãe, esse plano não vai dar certo, ele já está muito desconfiado, acho melhor contarmos logo a verdade.

SEBASTIANA – Pelo visto você quer ficar mesmo sem sua filha, ele vai levá-la para longe e você sabe disso, vamos continuar com o plano, já disse para você deixar comigo.

JOANA – Mas, mãe…

SEBASTIANA – Sem mais, eu ainda não sei o porquê de você continuar com esse homem, não consigo entender. Um homem que te trata mal, te bate, foi expulsa de casa por causa dele, perdeu toda a fortuna de seu pai, isso não entra na minha cabeça… isso não é amor… nem sei o que é.

JOANA – É amor, mas não por ele, não mais, mas por ela, mesmo não sendo minha filha de sangue, eu a amo como se fosse, não quero deixá-la com ele, nem quero imaginar o que aconteceria com ela.

Beatriz entra no quarto

BEATRIZ – Eu te amo também minha mãe, promete que nunca vai me deixar sozinha? Promete?

JOANA – Claro que prometo, meu amor, vem aqui me dar um abraço.

As duas se abraçam, nesse momento Josaniel entra no quarto batendo palmas.

JOSANIEL – Olha que cena mais bonita.

SEBASTIANA – O que você quer agora?

JOSANIEL – Calma, dona velhota…

SEBASTIANA (se levantando) – Você me respeite.

JOSANIEL -Será que eu posso me deitar para dormir, é pedir demais.

SEBASTIANA – Claro que não, vamos Beatriz, deixe seu pai descansar.

Sebastiana anda em direção a porta, quando passa pelo seu genro ele segura o seu braço.

JOSANIEL – É bom a senhora dobrar a língua quando falar comigo.

SEBASTIANA – (olha para mão de Josaniel no seu braço) Eu já disse que não tenho medo de você, agora me solte (desvencilhar-se da mão do genro)

***

[Fazenda dos Araribe – Cidade de Mororó – Maranhão – Noite]

EVA – Seja bem-vindo ao seu lar meu filho (fala indo ao encontro de Teodoro na porta do casarão)

DINÁ – Meu menino, que bom que você está bem.

CORONEL – Vamos parar com esse lenga lenga ai, entre logo que tem um banquete esperando por você, é bom tê-lo em casa… sua casa… muito em breve será dono disso tudo e de toda a fortuna de nossa família, e defender o nome dos Orleans de Bragança.

TEODORO – Não quero nenhum dinheiro seu, muito menos continuar com essa palhaçada que esse nome traz… não quero comer nada, vou pro meu quarto.

EVA – Mas meu filho, Diná preparou com tanto carinho para você.

TEODORO – Desculpe-me Diná… Perdão, mas estou sem vontade, me deem licença, por favor.

EVA – Mas meu filho…

TEODORO – Aproveitem vocês a janta, não deixem que a comida esfrie e nem que haja desperdício.

Teodoro começa a subir a escada, mas para quando seu pai começa a falar.

CORONEL – É um mal-agradecido mesmo, fazemos de tudo para agradá-lo e é assim que ele nos recompensa, depois de anos fora de casa.

EVA – Araribe, por favor, lembra do que o doutor disse.

Teodoro fala nada e continua a subir.

CORONEL – (subindo a escada e indo em direção a Teodoro, segura o braço dele) Não vire as costas para mim, seu… seu…

TEODORO – Tire a mão de mim, eu nunca vou ser um fantoche, que faz tudo o que o senhor quer.

CORONEL – Você é o meu único herdeiro

TEODORO– O senhor tem outra filha, mas essa sua máscara de coronel Araribe já excluiu ela de sua mente e de seu coração… Agora eu vou me deitar que estou cansado.

Teodoro volta a subir a escada e o Coronel dá um passo para trás com raiva, ele se desequilibra e rola escada abaixo.

EVA – Araribe!

***

[Casa de Beatriz – Cidade de Mororó – Maranhão – Noite]

Josaniel e Joana estão deitados na cama do casal.

JOSANIEL – Joana… Joana, quando vamos esclarecer as coisas?

JOANA – Já disse que não estou escondendo nada.

JOSANIEL – Eu sei que estão, eu não sou idiota, exijo que me digam a verdade, não é porque você está grávida que vai me impedir de arrancar a verdade.

JOANA – Para! Por favor, para! Eu não aguento mais isso.

JOSANIEL – Eu só quero a verdade

JOANA – Que verdade? Eu já te disse toda a verdade (Chorando)

JOSANIEL – Vamos parar com esse choro.

JOANA – Então me deixa em paz, deixa a minha filha em paz, por favor.

JOSANIEL – Ela não é sua filha

JOANA – Mas eu amo ela do mesmo jeito que amaria uma filha minha.

Josaniel vira Joana de frente para ele

JOSANIEL – Então me diz onde está o meu filho (colocando a mão na barriga de Joana)

JOANA – (Tirando a mão) Deixe ele de mão.

JOSANIEL – Eu só quero acariciar o meu filho, por que você não quer deixar?

JOANA – Porque sim.

JOSANIEL – Tira a mão, eu vou tocar no meu filho.

Josaniel coloca a mão na barriga da esposa, puxa a camisola da mulher, ela tenta impedir, mas o marido impede.

Joana levanta da cama rapidamente, porém Josaniel coloca-se entre ela e a porta e puxa a roupa que ela veste, rasgando-a, a barriga falsa é revelada.

JOSANIEL – Então é isso que você estava me escondendo né? Cadê o meu filho? Sua vagabunda!

Lucas Serejo

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