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Como Nossos Pais

Segundo Capítulo – Como Nossos Pais

Capítulo 2

Cena 1. Mansão da família Albuquerque. Quarto/ Sala de Estar. Madrugada

General: O que viestes fazer aqui?

Soldado: Vim noticiar que vosso filho, Reynaldo, está apreendido no galpão que pertence à ditadura militar por vandalismo.

Dinorah se aproxima da porta e se desespera.

Dinorah (Grita): Não!

O General abraça sua esposa, consolando-a.

Soldado: Mais uma vez, peço perdão pelo incomodo mas realmente eu precisava noticiar isso à vocês.

General: Não houve incomodo algum, agradeço por sua competência e dignidade de vim revelar isso em pleno expediente.

O soldado abaixa a cabeça em reverencia e se despede dali, O general entra em casa ao lado da esposa.

Dinorah: Vá, Donato, não permita que nosso filho morra nas mãos daqueles desgraçados.

General: Irei me aprontar, se eu bem conheço os métodos dos ditadores, eles só executariam Reynaldo ao amanhecer.

Dinorah: Adiante. Não posso me segurar, sabendo que nosso filho está sendo torturado pelos inescrupulosos, sem que eu possa fazer nada.

General: Acalme-se, ore à Deus e peça à ele, que dê proteção ao nosso filho.

Dinorah: Tá bom.

O general segue para seu quarto e Dinorah se ajoelha, orando intensamente.

Cena 2. Mansão da família De La Fontaine. Cozinha. Int. Manhã

Adelaide e Mathias estão sentados à mesa tomando seu café da manhã normalmente, até que, Heloísa entra no local, sentando-se ao lado dos pais.

Adelaide: Bom dia, minha filha, como foi sua noite?

Heloísa: Um desastre total, não consegui pregar os olhos, ao lembrar dos massacres de ontem, se continuar assim, não dormirei por muito tempo.

Mathias (Sorrindo): O hospital deve estar lotado de pacientes.

Heloísa: vocês parecem um bando de psicopatas, felizes com a desgraça alheia.

Adelaide: Ai, Heloísa, troca o disco minha filha, estamos ricos por causa desses massacres, deveria agradecer por ainda ter alguma coisa pra comer pela manhã.

Heloísa: Quer saber de uma coisa? Eu vou ir pra escola, as crianças já devem estar chegando para a aula.

Mathias: Poupe as crianças de sermões.

Heloísa: Eu sei conciliar o meu trabalho com a minha vida pessoal, pena que não posso dizer o mesmo do senhor, meu pai.

Heloísa se levanta e sai da cozinha.

Cena 3. Galpão. Int./Ext. Manhã

Os revolucionários estão despidos adormecidos no chão frio, enquanto, o general Fernão está sentado na poltrona lendo um jornal, um barulho de carro se ouve, o general-mor se levanta, posicionando-se, Donato entra no local e se aproxima de seu superior.

General Fernão: Que surpresa! O que fazes aqui?

General Donato: cadê meu filho, vim busca-lo.

General Fernão: Qual desses vândalos é seu filho?

Reynaldo escuta a voz do pai e se levanta envergonhado, tampando suas partes intimas com as mãos.

General Donato: Esse é meu filho.

General Fernão: você me envergonha, Donato. Um general do seu porte, tendo um filho revolucionário, é algo desprezível.

General Donato: Pena que não podemos escolher nossos filhos, não é? Meu filho é um revolucionário e isso me incomoda um pouco, mas agradeço à Deus por não ter uma bicha como filho.

Reynaldo ri disfarçadamente.

General Fernão: Meu filho não é bicha, ele só é assim por ter estudado demais.

General Donato: Não é isso que a sociedade comenta. Agora, exijo que entregue uma roupa ao meu filho para que ele possa voltar pra casa exatamente do jeito em que saiu.

General Fernão: Não me dê ordens, afinal, sou seu superior.

General Donato: Eu sei o que devo e o que não devo fazer. E o que estou pedindo é um dever meu e tens que concretizar, querendo ou não.

General Fernão: Só farei isso por prezar nossa amizade. Venha comigo rapaz, te levarei até o quartinho para vestir-se.

Reynaldo segue o general Fernão até o quartinho.

Cena 4. Escola. Sala de aula. Int./Ext. Manhã

Heloísa entra na sala de aula e se depara com apenas cinco alunos.

Heloísa: Cadê o resto dos alunos?

Um dos alunos se aproxima de Heloísa.

Lucas: O Diego, o Maicon, a Brenda, a Luísa e a Laurinha morreram ontem, tia.

Heloísa chocada, não contém as lágrimas e chora intensamente, enquanto isso, uma aluna emocionada também se aproxima da professora.

Beatriz: Tia, eu tô confusa.

Heloísa se recompõe.

Heloísa: por que, meu amor?

Beatriz: Minha avó me disse que minha mãe foi pro céu, mas quando eu estava vindo pra cá, eu vi ela dormindo no chão no meio da rua.

Heloísa retoma às lágrimas.

Heloísa: Olha, ás vezes as aparências enganam. Ela pode estar no céu, mas a saudade que sentes dela é tão grande que viu outra mulher caída no chão e confundiu com ela.

Beatriz: Não, mas era ela mesma. Tentei acordá-la, mas ela nem se mexeu.
Heloísa: Tá vendo? Ela não se mexeu, por que era outra mulher, se fosse sua mãe, tenho certeza que acordaria.

Beatriz: Deve ser mesmo, obrigado tia, estou mais confortada agora.

Beatriz abraça Heloísa, sendo retribuída com um beijo na testa da professora.

Heloísa: De nada, meu amor.

Tiros se ouvem e Heloísa se desespera.

Heloísa: Abaixem, crianças. Abaixem.

As crianças e Heloísa se abaixam, enquanto, muitas pessoas corriam e gritavam intensamente, a sirene da polícia se ouve e um ruído ensurdecedor esmorece à todos ali, eram os revolucionários que arrombaram o portão da escola, ocasionando numa grande movimentação, os soldados atiravam abruptamente, com medo de seus últimos alunos serem atingidos por eles, Heloísa se arrisca, entrando na manifestação agarrada aos meninos, levando-os para fora, um tiro atinge a perna do pequeno Lucas, ela coloca-o no colo e segue correndo ao lado dos outros, o carro de Donato passava na hora, Heloísa se põe na frente dele e Donato é obrigado à parar o veículo.

General Donato: Louca, sai da frente.

Heloísa: Por favor, senhor, deixe-nos entrar em seu carro, preciso salvar essas crianças.

Reynaldo se deslumbra com a beleza de Heloísa.

Reynaldo: Deixe ela entrar, pai.

General Donato: Entrem rapidamente, vou levá-los para minha casa.

Heloísa: Não precisa, deixe-nos no hospital São Bernardo.

General Donato: Ok.

Heloísa e as crianças entram no carro, que segue em disparada em meio ao caos que se via pelo vidro.

Cena 5. Hospital São Bernardo. Ext. Manhã

O carro de Donato para em frente ao hospital.

Heloísa: Obrigado senhores, sem vocês evidentemente, estaríamos mortos nesse exato momento.

Reynaldo: Por nada, espero que algum dia, o destino possa nos dar a oportunidade de um reencontro.

Heloísa: Não acredito em acasos, então, acho que não haverá reencontro entre nós.

Reynaldo: Veremos!

Heloísa e as crianças descem do carro, menos Lucas que se agarra à ela, sendo levado por ela até a porta do hospital, Donato acena para eles e segue com o carro, enquanto, o Lucas gemia, Heloísa demonstrava satisfação em ter conhecido Reynaldo.

Cena 6. Mansão da família Albuquerque. Sala de Estar. Manhã

Dinorah está ajoelhada no chão, orando, até que, um ruído de carro se ouve, ela se levanta, a porta se abre e Reynaldo entra, Dinorah se emociona em vê-lo e abraça-o.

Dinorah: Meu Filho voltou! Meu filho Voltou! O que eles fizeram contigo?

Reynaldo: Estou bem, quero apenas tomar um banho e comer algo.

Dinorah: Eu agradeço à Deus por ter trazido você de volta aos meus braços.

O general entra e fecha a porta.

General Donato: Eu avisei! Espero que se afaste desses vândalos e se ponha na posição de redimido.

Reynaldo: É isso que o senhor queria, né? Que eu me acovardasse e fosse igual fora seu pai e igual é o senhor. Tentei ser diferente e me dei mal. E apesar de ter feito tudo, tudo o que eu fiz, hoje percebo que ainda sou o mesmo e estou vivendo como meus antepassados como um fracassado mequetrefe.

General Donato: É melhor ser covarde e ter a vida preservada do que, ser um valentão e acabar morto pelos ditadores.

Dinorah: Agora, chega de lamúrias. Vamos comemorar que a vida de nosso filho fora preservada, Donato.

General Donato: É verdade, vamos comemorar. Vem cá, vamos nos abraçar para selar essa felicidade.

A família Albuquerque se abraça intensamente, selando o elo familiar que os unia, até que, Dinorah se esquiva.

Dinorah: Ah, eu andei pensando e decidi uma coisa.

General Donato: Que decisão é mais importante que nosso abraço em família?

Dinorah: Reynaldo não pode mais continuar aqui nessa cidade, por isso, já telefonei para Irene e ele vai morar com ela amanhã mesmo.

Reynaldo: O quê?

A cena congela no questionamento de Reynaldo.

CONTINUA…

 

 

 

 

 

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