Capitulo 2 – Sagrada Família
http://www.youtube.com/watch?v=RKX2bo2GwSE
Favela do Vidigal, Rio de Janeiro. 18:00
Antônio entra no quarto de Amanda para conversar com ela.
ANTÔNIO – Filha o que está acontecendo com você?
AMANDA – Se o senhor veio aqui para falar a mesma ladainha da mãe é melhor cair fora.
ANTÔNIO – Eu só quero conversar com você.
AMANDA – Então fala.
ANTÔNIO – O que está acontecendo com você?
AMANDA- Nada!
ANTÔNIO – Tem certeza? Você não para mais em casa, nem eu e nem a sua mãe estamos gostando dessa história.
AMANDA – Pai, só vou na casa do meu namorado e as vezes nós saímos para algum lugar, nada demais.
ANTÔNIO – E sexo? Tá se protegendo?
AMANDA – Pai, não Grila, claro que ainda não fiz isso!
ANTÔNIO – Mesmo assim minha filha, quando chegar a hora não se esqueça de se proteger.
AMANDA – Não acredito que estou escutando isso de você.
ANTÔNIO – Você prefere ter essa conversa com sua mãe?
AMANDA – Prefiro ter com nenhum e se o senhor não se importar pode se retirar do meu quarto.
ANTÔNIO – Só não esqueça da proteção, minha filha.
AMANDA – Ta pai, vaza.
Antônio sai do quarto da filha e vai em direção a sala onde encontra Marta sentada no sofá.
MARTA – Já falou com sua queridinha?
ANTÔNIO – Marta, para! Tá vendo o que você está fazendo? só afastando ela de você.
MARTA – Não me importa constante que ela não me cause problemas.
ANTÔNIO – Ela não causará.
MARTA – Sabe que essa garota merece é umas boas cintadas que ainda não dei nela, só estou prometendo, pois, quando eu a agarrar… ela vai ver só.
ANTÔNIO – Você não vai encostar um dedo na minha filha, entendeu? – fala com um pouco de raiva na voz.
MARTA – Ela também é minha filha e eu faço o que eu quiser com ela.
ANTÔNIO – Pelo visto o tapa que levou hoje não foi o suficiente para abrandar sua língua, talvez outro a acalme…
MARTA – Você nunca mais ousará tocar na minha face.
ANTÔNIO – Isso só dependerá de você.
Neste momento Amanda sai de seu quarto e vai até a cozinha beber um pouco de água, sua mãe levanta e se recolhe para o seu quarto e Amanda aproveita para falar com o pai.
AMANDA – Pai, por favor, deixa eu ir ver meu namorado, fica aqui perto no Leblon!
ANTÔNIO – Tudo bem filha, mas volte antes das dez horas
AMANDA – Ta bom, obrigado pai, Te amo!
ANTÔNIO – E juízo!
***
Leblon, Rio de Janeiro
CRISTIANA – Mãeeeeeeeee…
O grito se propaga pela casa inteira ela entra desesperada no quarto e vai ao encontro de sua mãe que estava desacordada no chão, ela chama por ela mais uma vez, mas Helena não responde, então Cristiana pega a mãe nos braços e a coloca na cama.
CRISTIANA – Mãe, por favor fale comigo – as lágrimas começam a brotar. – acorde mãe – ela começa abraçar Helena e encontra marcas roxas pelo corpo da mãe.
CRISTIANA – Foi aquele desgraçado.
Nesse momento Helena começa a retomar a consciência e a balbuciar as palavras “não, por favor, não”.
CRISTIANA – Mãe fala comigo – ela começa a levantar devagar a mãe até colocá-la sentada – o que aconteceu?
HELENA – Não lembro bem, só lembro que eu estava com o Tony e tínhamos discutido sobre você ir para outro país.
CRISTIANA – Ele bateu na senhora?
HELENA – Não me lembro…
CRISTIANA – Com certeza, olha as marcas roxas em seu corpo.
HELENA – Minha filha melhor deixar isso para lá.
CRISTIANA – Claro que não vou deixar só ele chegar aqui.
HELENA – Não faça nada, ele pode fazer algo contra você.
CRISTIANA – Deixa ele tentar.
Cristiana sai para chamar a empregada para trazer um copo d’água pra sua mãe e depois volta.
HELENA – (chorando) Minha filha não faça nada por favor.
CRISTIANA – Mãe, deixa isso comigo.
***
Favela do Vidigal, Rio de Janeiro
Marta vai até o quarto de Amanda e não a encontra lá, saí procurando ela pela casa e percebe que ela saiu.
Ela põe-se a marchar para a sala na direção de Antônio.
MARTA – Onde está Amanda?
ANTÔNIO – Eu deixei ela ir ver o namorado dela.
MARTA – Você só vai parar de deixar ela sair quando ela aparecer grávida.
ANTÔNIO – Ela não vai aparecer grávida.
Marta começa a andar de um lado para o outro na sala.
MARTA – Eu não sei o que faço com vocês, eu tentando economizar e vocês só sabem gastar, gastar, gastar.
ANTÔNIO – Quem coloca as coisas aqui sou eu e não vejo que a Amanda vá gastar algum dinheiro indo na casa do namorado que fica praticamente aqui do lado.
MARTA – Por enquanto né…
ANTÔNIO – Para com essas suas paranoias!
MARTA – Agora eu sou a paranoica (com o tom de deboche) eu daqui de casa sou a mais certa.
ANTÔNIO – Não faça-me rir Marta.
MARTA – Claro que não faço… não sou palhaça e vou me recolher, você que fique esperando sua filha ai.
Marta volta para seu quarto e Antônio fica assistindo televisão.
***
Leblon, Rio de Janeiro
AMANDA – (ao celular com Gabriel) Oi, amor, estou aqui em baixo.
GABRIEL – Já estou chegando em casa.
AMANDA – Você não está em casa?
GABRIEL – Não, estava na praia, mas, pode subir me espera lá.
Amanda sobe para o apartamento e começa a olhar as coisas de Gabriel, encontra várias cartas que mandou para ele, algumas fotos, presentes, mas algo lhe chamou atenção, o Inbox do facebook do seu namorado estava aberto e uma mensagem de uma mulher chamada Luciana que dizia: oi, me liga! 985132319, tentou ver a foto de perfil só que não havia nenhuma.
Amanda senta em frente ao notebook e fica se perguntando quem é essa mulher? No momento que ela iria responder a porta do quarto começa se abrir e ela fecha o aparelho.
AMANDA – Oi amor, não foi hoje pra escola?
GABRIEL – (grosseiramente) Claro que não você sabe que eu estava na praia.
AMANDA – Se for para me tratar assim, vou para casa.
GABRIEL – Desculpa amor, é que ainda estou grilado com o bolo que você me deu hoje.
AMANDA – Já disse que a culpa não foi minha.
GABRIEL – Eu sei, vem aqui.
Amanda levanta e vai se sentar junto com Gabriel na cama.
GABRIEL – Eu estava pensando nós já estamos juntos a um tempo e ainda não fizermos sexo.
AMANDA – Eu acho que ainda não está na hora.
GABRIEL – Já está passando é da hora Amandinha.
AMANDA – Tenho que pensar no assunto, sexo pode levar a ter uma criança e eu não tenho condições de criar uma agora.
GABRIEL – Quem disse que teremos uma criança? É só sexo.
AMANDA – Mas pode acontecer algo de errado…
Gabriel abraça Amanda e diz suavemente no seu ouvido:
GABRIEL – Não vai acontecer nada.
Gabriel puxa Amanda para deitar na cama e começa a tirar lentamente a roupa de sua namorada…
***
Gávea, Rio de Janeiro, 20:00
Tony tinha acabado de sair do Hospital São Miguel e vinha dirigindo pela General Venâncio Flôres escutando Mozart gostava de músicas clássicas e vinha sorrindo o trajeto todo de volta para casa.
***
Leblon, Rio de Janeiro
Cristiana está no quarto falando ao telefone com Rafael.
CRISTIANA – O clima está tenso aqui, Rafa.
RAFAEL – Cris, você vai conseguir contornar essa situação.
CRISTIANA – Está meio difícil, eu não sei o que fazer.
RAFAEL – Pense bem antes de agir e se precisar de ajuda é só me ligar.
CRISTIANA – Eu tenho medo de tomar uma decisão e ele acabar descontando na minha mãe.
RAFAEL – Por que você não denuncia? Hoje em dia não é apenas a pessoa que está sendo agredida que pode denunciar, mas qualquer pessoa que sabe da violência pode ir na delegacia e fazer o boletim de ocorrência, você não deve ter medo, eles têm medidas protetivas para as vítimas até a prisão do agressor.
CRISTIANA – Eu sei, mas você não sabe do que o Tony é capaz, ele teria coragem de matar para eliminar um problema de sua vida, eu tenho que pensar na segurança da minha mãe e do meu irmão.
RAFAEL – Minha opinião é que você denuncie.
CRISTIANA – E sei que ainda hoje há juízes machistas que acham que a mulher é culpada.
RAFAEL – É complicado mesmo.
CRISTIANA – Rafa eu pensei na sua proposta de hoje de manhã.
RAFAEL – Não se preocupe com isso Cris, sei que você não está em condições de pensar em baile com tudo isso que está acontecendo.
CRISTIANA – Eu vou com você.
RAFAEL – Tem certeza que quer ir ao baile? Eu irei compreender se você não quiser ir.
CRISTIANA – Eu vou, serve para esfriar minha cabeça.
RAFAEL- Que bom, fico feliz.
CRISTIANA – Já é daqui a duas semanas né?
RAFAEL – Sim.
CRISTIANA – Nossa, acho que já não tem nenhum vestido bonito nas lojas.
RAFAEL – Qualquer coisa em você fica bonito.
CRISTIANA – Isso foi uma cantada?
RAFAEL – Pode ser que sim.
CRISTIANA – Rafael…
RAFAEL – Cristiana…
CRISTIANA – Posso te perguntar uma coisa?
RAFAEL – Pode sim Cris.
CRISTIANA – Deixa pra lá, é besteira.
RAFAEL – Pode falar.
CRISTIANA – hum… você… (respira e fala rapidamente) – Você está gostando de mim?
RAFAEL – (fala tentando esconder algo) Claro que eu gosto, você é minha amiga.
CRISTIANA – Não desse jeito… jeito de namorado e namorada.
RAFAEL – Por que você está perguntando isso?
CRISTIANA – Sei lá, veio a vontade de perguntar.
RAFAEL – Não sei Cris, você aceitaria se eu pedisse você em namoro?
Nesse momento Cristiana escuta Tony chegar.
CRISTIANA – O Tony chegou, vou desligar.
RAFAEL – Cuidado, não faça nada de cabeça quente Cris.
CRISTIANA – Tá bom, até mais, boa noite.
RAFAEL – Boa noite.
Cristiana levanta e sai do seu quarto e desce as escadas e vai direto para a sala onde encontra Tony fechando a porta.
CRISTIANA – Eu quero falar com você.
***
TONY – Se for para encher meu saco com negócio de ONG, pode esquecer, já disse que você não vai.
CRISTIANA – Não tem nada a ver com isso, só quero te dizer que da próxima vez que você tocar em um fio de cabelo da minha mãe, eu te denuncio.
TONY – Você não vai fazer nada disso, garota.
CRISTIANA – Ah não vou! Experimenta então.
TONY – Você tem que entender que é perfeitamente normal, as mulheres têm que fazer o que os homens querem, elas foram criadas para isso e quando isso não acontece elas têm que ser punidas, no Afeganistão é assim.
CRISTIANA – Não estamos no Afeganistão e não me venha com esse seu machismo barato, só estou te avisando.
TONY – Você conhece Gabriel, seu irmão?
CRISTIANA – O que tem ele?
TONY – (com tom de deboche) Seria tão triste se ele sumisse para sempre.
CRISTIANA – Você não vai fazer nada com ele.
TONY – Então tenta fazer alguma coisa, vai lá denunciar Cristiana. Eu mato seu irmão.
DEPOIMENTO REAL
Lili – São Paulo SP
Fui agredida pelo meu marido, desta vez foi fisicamente também, porque psicologicamente e verbalmente acontece sempre. Ele me acusa de ter amantes (que só existem na mente dele, que é muito ciumento) e procura me acusar de todas as formas. Desta vez eu fui orientada a ir à delegacia de mulheres, eu nunca tinha ido a uma delegacia antes. Fui também ao IML porque ele me causou lesões físicas, mas demorou um mês para ele receber a intimação, e ainda mais um mês para chegar o dia de ir lá prestar esclarecimentos, nem sei se foi, só espero que tenha levado ao menos uma repreensão, mas como não foi pego em flagrante, está tranquilo, trabalhando normal, espero que não volte a me bater pq se não houve nenhuma punição e ele voltou pra casa, com apenas uma bronca, ele não vai ter medo de fazer novamente.
Eu gostaria de acreditar que ao menos uma punição por menor que seja ele tenha sofrido e aprendido a lição. Não me separei porque não tenho como sobreviver, sempre fui pressionada a não trabalhar e agora com quase 50 anos, fica complicado começar no mercado de trabalho. Também não gostaria de acabar com minha família, não fui educada desta forma. Estou aqui torcendo para que agressores que não são presos recebam uma punição suficiente para não querer fazer de novo, caso a mulher não se separe por inúmeros motivos. Gostaria de acreditar que ele foi punido.
Sobre esse capítulo achei melhor do que o anterior. Fiquei na curiosidade sobre essa obsessão do Tony em querer que Cristina vá morar no exterior, será que ele quer afastá-la para continuar roubando e maltratando a mãe dela e o irmão? (aposto nisto) Outra coisa, uma pergunta ao autor: quando você escreveu a história o elenco você se inspirou em atores e atriz de novelas tipo da globo ou record? Porque quando estou lendo imagino o Tony sendo interpretado pelo Henry Castelli (kkkk desculpa se for viagem minha) kkk. Boa sorte e continue escrevendo.
Obrigado, imaginei sim, mas o Guilherme Weber rsrs
Sagrada Família vai marcar a volta dos bons tempos do site!
Tony me deu nos nervos. Odeio demais ele.
O melhor personagem é o Antônio. Tem como colocar ele dentro de um potinho e levar pra casa?
Essa Martha… Quero mais dela! Ela é aquela vilã prática.
Obrigado, espere que a Marta ainda vai fazer muita coisa.
Capítulo delicioso! Nunca imaginei que poderia ser à favor de um homem que agride uma mulher, afinal, o tema está sendo explorado de uma forma maravilhosa! Antônio é um pai muito bom (o que foge do clichê) e só bate na esposa, Marta, para tentar reverter a audácia da mulher. Marta é uma mulher má e uma mãe horrorosa, às vezes, lembra uma vilã: Então, uma vilã não merece apanhar? Essa pergunta me fez delirar um pouco! Um luxo de abordagem.
Cristiana é uma mocinha sem importância, uma mulher fraca e que não consegue atingir um nível aceitável. Já se tornou cansativa! Tony é cheio de nuances, um antagonista bem delineado e que renderá bastante. Já, o Rafael é outro sem importância, por isso, já nomeio ele e a Cristiana como o casal principal: O Sr. e a Sra. insignificancia.
O capítulo focou em mais diálogos e devo admitir que os diálogos são ótimos! E mais uma vez, Manoel Carlos te inspirou! A conversa entre Amanda e Antônio lembra cada vez mais o estilo do grande Maneco. Os dramas familiares estão sendo bem explorados e esse é outro mérito da obra.
A obra é absolutamente interessante! Fico feliz com o grande desempenho do autor e tenha certeza de que, estarei aqui no próximo capítulo para me deliciar com esse manjar delicioso das 21 hrs.
Obrigado 😀