De onde vêm os bebês – Dedo Podre
Assim que Gomide descobriu para a sua tristeza, que não adiantava ficar olhando nos olhos da menina, para engravidá-la, ele foi tomado de grande tristeza. Logo ele viu o absurdo disso. É óbvio que os bebês vinham em um avião, e eles eram de alguma forma misteriosa, enfiados dentro da barriga das mães. Ele tentou imaginar como a sua mãe teria passado por aquele processo seis vezes, sem que ele tivesse visto, sendo o filho mais velho. Como ele tinha quatro irmãos, e ainda tinha o seu pai, que ele jurava que também era filho da sua mãe, o mais natural seria ele ver os aviões chegando e trazendo os bebês. Ele até que perguntou, mas a parte do avião era só até onde a sua mãe contava. E quando passava um avião, ele não perdia tempo, já gritava logo:
–Oh avião, traz um neném pra mim!
E um dia um avião passou bem baixo. Estava claro: ele finalmente veio trazer o neném que Gomide queria, e como era sempre a sua mãe que os recebia, ele ficou bem escondido, esperando saltar alguém do avião, e empurrar o bebê para dentro da barriga da sua mãe, e assim, finalmente ele viria com clareza como esse misterioso processo se dava. Mas nada adiantou ficar esperando, pois o avião sumiu, e não apareceu ninguém portando um bebê, e ele ficaria ainda pelo menos mais uns meses com essa dúvida cruel.
Um dia, Gomide subiu em uma cadeira, e ficou olhando umas tralhas em cima do guarda-roupa dos seus pais, e quão não foi a sua surpresa ao encontrar umas revistas pornográficas, habilmente escondidas entre uns jornais velhos dentro de uma mala. Ao vir aquilo, ele não sabia o que era, mas começou a ter sensações que ele desconhecia, mas que era muito bom. Nem é preciso falar dos efeitos físicos daquela travessura, que o leitor já deve até imaginar. E ele olhando aquele volume que se formou dentro da sua bermuda, se sentiu constrangido, mas queria sentir aquilo todos os dias. E a sua mente fervilhava. Afinal de contas, o que é que aquelas pessoas estavam fazendo? Todas nuas, se tocando, e fazendo coisas que ele não imaginava o que vinha a ser. Ah, mas tinha uma pessoa que sabia. Correu para a sua mãe para perguntar.
Dona Maria sentiu as pernas lhe faltarem quando, na sala cheia de visitas, Gomide apareceu com uma revista pornográfica, aberta ao meio, perguntando o que aquelas pessoas estavam fazendo. A avó teve um desmaio, e o pai saiu despistado, assoviando, fingindo que a revista não eram dele.
–Onde você arrumou isso, Gomide? –Perguntou a mãe, tentando fazer as visitas acreditarem que na sua casa não entravam revistas pornográficas.
–Lá em cima do guarda-roupa, mamãe… –Respondeu inocentemente o menino.
–Não tem nada disso lá em cima do meu guarda-roupa! Para de mentir!
Ela já suava às bicas, e a sua pele já formava todas as cores do arco-íris, com vergonha das visitas.
–Tem sim, mamãe. E eu só peguei uma, tem mais lá…
Gomide não terminou de falar. Dona Maria já o pegou pela orelha, e saiu puxando a criança para a cozinha, onde ele ficaria de castigo, e nem ao menos sabia por que.
Mas nos dias que se seguiram, ele havia descoberto o que as pessoas faziam na revista. Só que ainda não entendia por que a sua mãe ficara tão estressada.
Na aula de ciências, a professora finalmente falou sobre reprodução humana, e explicou o que era um pênis, e o que era uma vagina, e a aula se seguiu como deveria ser.
–O papai pega o seu pênis, e coloca dentro da vagina da mamãe, e solta lá dentro o espermatozoide, que é uma sementinha. No útero da mamãe, são formados uns ovinhos, onde a sementinha vai entrar e germinar.
A mente de Gomide funcionava de outra forma, e ele imaginava o papai dele pegar o seu pênis, como se fora um funil, introduzir na vagina da mamãe, que ele imaginou estar no umbigo, e lá deixar depositar um monte de sementes como mamão, pretinhas e redondinhas.
“Isso deve doer” –Ele pensou.
E pensou em como a barriga da mãe devia estar cheias de ovos, como os da galinha. Finalmente ele descobrira de onde vinham os ovos da galinha. Era a mãe que os depositava na cozinha, à noite, quando todo mundo estava dormindo, e colocava no ninho das galinhas, para finalmente nascer os pintinhos. Isso explicaria por que ele não se lembra dos seus irmãos entrando na barriga da sua mãe. Era óbvio: todos nasceram de uma só vez em uma ninhada daqueles ovos maravilhosos, que a sua mãe emprestava à galinha, para que ela também pudesse ter seus pintinhos. Ele só ficou triste com uma coisa, se a sua mãe não tivesse dado tantos ovos à galinha, e ao contrário, os utilizasse, ele poderia ter bem mais irmãos. A galinha mesmo teve dez pintinhos na última chocada. Se a sua mãe não tivesse se desfeito dos ovos, ele teria no mínimo quinze irmãos. Só lhe faltava saber ainda como. Mas ele estava maravilhado com o funcionamento da natureza.
A professora então mostrou um desenho muito elementar e simples, de como todo acontecia, e ele então se lembrou das revistas. Se a professora estava dizendo aquilo, as revistas só podiam ser uma coisa: “livros da escola”. Ele ficou pensativo, começando inclusive a repensar a sua paixão pela professora. Se as pessoas faziam o que ele via nas revistas, para ter bebês, a sua professora já tinha feito três vezes, pois ela disse certa vez, que tinha três filhos. Na casa dela deveria ter muitas galinhas, razão pela qual ela se desfez de tantos ovos, para ter tão poucos filhos. E as pessoas faziam uma cara tão feia quando estavam fazendo os bebês, que ele começou a imaginar se isso realmente era bom. Bom, deve doer, principalmente na hora que as sementinhas de mamão estavam saindo. Tal possibilidade lhe fez ter pena da sua mãe, pois ela fez cinco vezes, já que ela tinha cinco filhos, mais o pai, que para ele, como já foi dito, também era um filho. Mas ele tinha que mostrar para a professora que já estava bem entendido no assunto, e quem sabe assim, ela não aceitaria fazer um filho com ele, mesmo doendo tanto.
No dia seguinte, ele chega à escola todo vitorioso. Sabia que depois da sua apresentação, a professora na certa iria aceitar a sua proposta, depois que ele demonstrasse que sabia de tudo.
–Tia, posso mostrar de onde vem os bebês?
A professora se emocionou com a inocência do menino, e aceitou. Na certa ele iria mostrar a figura de um avião, a despeito da aula que já tivera. Pior: ela mandou que Gomide fosse à frente da sala, falar para toda a classe, como ele havia entendido todo o assunto. Foi quando ele retirou uma daquelas revistas pornográficas, em uma cena bem escrota, e abriu para toda a turma. Os olhos da professora se arregalaram. Os dos alunos também. Todos, crianças dez anos. A professora gritou. As crianças passaram a gargalhar. Ela avançou sobre o menino, e lhe arrebatou a revista, conduzindo-o à secretaria, onde uma orientadora tentava entender a situação.
–Gomide, onde você conseguiu essa revista?
–Lá em casa. Acho que foi com elas que a minha mãe e o meu pai aprenderam a fazer os bebês…
–Pela santa Madre! –Fez a orientadora.
–Meu filho, pelo amor de Deus, para que você trouxe isso para a escola?
–Eu queria mostrar para a tia que eu sei de onde vem os bebês…
–Meu filho, deixa eu te explicar: isso aqui é indecência, e meninos bons como você não podem ficar vendo, porque é pecado, e Papai do Céu não gosta. Você vai para o inferno se ficar olhando isso.
Um novo paradigma se formou aí. Se Papai do Céu não gosta, então ia todo mundo para o inferno já que todo mundo fazia bebês.
Ele olhou apavorado para a professora. Não podia supor que a ela, a qual ele era tão apaixonado, fosse para o inferno.
–Então a senhora também vai para o inferno, Tia?
–Eeeuuu?! Claro que não, meu filho…
–Mas a senhora tem três filhos…
–Sim!
–E para fazer, não é preciso colocar a sementinha de mamão na sua barriga?
–Colocar o que?
–A sementinha. E deve doer, porque as pessoas fazem uma cara tão feia, olha…
Apontou mais uma vez ara a revista.
–Dá isso aqui. Não, Gomide, a tia não vai para o inferno, por que… por que…
Ela não sabia o que responder, até que a orientadora a acudiu:
–Gomide, isso é coisa que os papais e as mamães fazem, e só quem se ama e são casados. Crianças não podem, porque isso sim é pecado. Entendeu?
Ele fez que sim.
–Agora, você vai ali na capela e rezar para pedir papai do Céu desculpa por ter visto indecência.
Gomide foi rezar. E logo em seguida, foi para casa. Mas não se deu por vencido. No dia seguinte, chegou para a professora com uma vasilha de plástico e a estendeu carinhosamente.
–O que é isso, Gomide?
–São ovos. Esses já estão com a sementinha do meu pai dentro, e como a senhora tem tão poucos filhos, eu trouxe esses para a senhora chocá-los, e criar como seus.
Mais gargalhadas dos colegas.