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Diva

Diva – Capítulo 10

(Na Manhã Seguinte…)

 

“O Sol já raiava com sua elegância e soberba sob o céu poluído e enérgico de São Paulo, a grande metrópole. As redondezas do Condomínio Paulo Neves mantinham a velha quietude de sempre, às voltas de uma sete e meia quase normal. Dora dormira com o cheiro de vingança exalando de seu corpo esta noite, e seus sonhos possuíam a frieza mais fétida que um ser humano poderia emanar. E não é que a maldita informante finalmente dera as caras?! Amanda. Mais um item a ser incluído na sua lista de inimigos. Nisso Dora era sádica, não podemos discordar, que qualquer pessoa que cruzasse seu caminho era esmagada, triturada, engolida e deglutida por este enorme gigante de feições amigáveis mas de solas traiçoeiras sob os pés desta dama notável ainda mais colossal. Dora possuía um senso de justiça próprio, talvez mais incerto que a lucidez de muitos lunáticos. Não media o tamanho das bombas as quais lhe atingiam para depois tomar julgamento do que lhe caberia fazer. Simplesmente tinha prazer na vingança e na desgraça alheia, seja qual fosse o tamanho da ameaça que algo ou alguém lhe representasse. A mais recente prova do que lhes digo, é a jovem e doce Charlote. A essa altura, dormia como um anjo em seus aposentos sem sequer desconfiar o que lhe viria a seguir. Pascualita esgueirava silenciosamente pelos corredores em direção ao seu quarto. Então abriu a porta causando um breve ruído, adentrou o local e ao se aproximar de sua cama então inflamou o ar com o som ensurdecedor de uma buzina que fez Charlote de sua cama saltar.”

 

PASCUALITA : (com sotaque espanhol) Levanta a bunda dessa cama, sedentária de merda!

 

CHARLOTE : (sonolenta) Ai, onde é o incêndio?!

 

PASCUALITA : (com sotaque espanhol) No seu fiofó, demônio!!! Levanta, vamos! Levanta-te e anda. Que temos um longo dia pela frente.

 

CHARLOTE : Oh, Deus!

 

“Pascualita abre as cortinas espalhando pelo quarto todo, a luz da alvorada.”

 

PASCUALITA : (com sotaque espanhol) Esteja na mesa do café da manhã dentro de cinco minutos! Isto é uma ordem, ouviu bem?

 

CHARLOTE : (quase inaudivelmente) Ahãm!

 

“Pascualita pressiona a buzina nos ouvidos de Charlote.”

 

PASCUALITA : (grita) Não ouvi!! O que disse?

 

CHARLOTE : (nervosa) Eu já entendi, caralho!!!

 

(Cinco Minutos Depois, na Mesa do Café da Manhã…)

 

“Após ter quase despencado da escada, Charlote se sentou a mesa num salto toda desengonçada, quase tão morta quanto um zumbi.”

 

PASCUALITA : (com sotaque espanhol) Coluna ereta, Charlote! Pensa que estamos aonde? Na sua casa?!!

 

“Charlote concerta sua postura na cadeira. Pascualita dá dois breves estalares de dedos e com isso três copeiros entram na sala trazendo nas mãos três grandes bandejas. Em seguida entra Billy, um garoto de aproximadamente 14 anos em sobrepeso.”

 

PASCUALITA : (com sotaque espanhol) Sente-se Billy!

 

BILLY : Com prazer, mamãe!

 

“Billy toma um lugar na mesa e cada copeiro entrega a cada um sua respectiva bandeja.”

 

PASCUALITA : Bom apetite!

 

“Billy confere com os olhos famintos o conteúdo de sua bandeja: dois sabores de pudins, tortinhas super-recheadas, uma fatia de pavê de morango, dentre outras coisas deliciosas. Charlote faz o mesmo e fica embasbacada ao se deparar apenas com uma pequena torrada coberta por uma leve e quase invisível camada de maionese, acompanhada apenas por um copinho de café com leite menor do que uma dose de uísque. Pascualita também se servia do mesmo sem sequer se demonstrar insatisfeita com a tão pouca quantidade de comida. Já Billy devorava todos aqueles doces sem vacilar. Enquanto comiam Dora ainda repousava em seu leito, totalmente avessa ao sofrimento da sobrinha.”

 

(Enquanto Isso…)

 

“Ginástica enfim cria coragem de ir até a casa de seus pais. Já estava a um metro da porta quando um mau pressentimento tomou conta de si e aquilo a deixou angustiada. Bateu a porta com certo receio, sendo atendida por um rapaz alto, moreno o qual não reconheceu e até estranhou. Poderia ser algum amigo de seu pai, ela pensou.”

 

BRUNO : Pois não?

 

GINÁSTICA : Vim falar com meus pais. Eles estão?

 

BRUNO : Você deve estar enganada!

 

GINÁSTICA : Como assim?

 

BRUNO : Moro sozinho nessa casa já faz dois anos!

 

“Ginástica sentiu seu semblante congelar, e seu corpo ali mesmo se enrijeceu.”

 

GINÁSTICA : Como assim, mora aqui há dois anos? Não pode ser!

 

BRUNO : Bem, a antiga dona desta casa se mudou da cidade logo após o falecimento do marido, pouco depois de me tê-la vendido!

 

GINÁSTICA : Não pode ser a minha mãe. Diga-me, qual era o nome dela? Você ainda se lembra?

 

BRUNO : É…Maria Ivone de Lima Vida!

 

“Então era isso: havia voltado à estaca zero. Seu pai, já havia morrido. E sua mãe havia se mudado para sabe lá Deus aonde. Durante todo o trajeto de volta, não conseguia conter as lágrimas. Chorava por tudo. Desde pelo pai falecido até pelo seu sonho e seu grande amor impossível em São Paulo. Teria de tomar alguma providência, ainda teria que conversar com o padre da cidade e procurar por alguém que soubesse do paradeiro da mãe. Mas não agora. Tudo o que desejava fazer agora, era chorar sobre os lençóis de sua cama velha e gasta a meia-luz do velho quarto de pensão em São João Tanquinho.”

 

(Enquanto Isso, na Casa de Dora…)

 

“De maneira sóbria, mas ao mesmo tempo imponente Dora desce as escadas até sua sala de estar onde Charlote jazia com seus poucos pensamentos e seu estômago coberto pelas fagulhas da fome (esta tão impassível), sobre o aconchegante sofá verde lima veneziano. Dora vestia um belo vestido de couro vinho, que lhe acentuava cada curva de seu corpo num equilíbrio formidável e indestrutível. Iria até os escritórios da Rede Redação esta manhã, para ter uma séria conversa com aquela redatorazinha, Amanda Valdêz! Por causa dela, hoje muitos a acusavam-na de ter criado uma doença forjada para assim reconquistar um lugar na mídia e nas colunas sociais (o que não era verdade). Fora culpa dela e de Geny, mas pelo menos já havia dado uma lição naquela maldita cabeleireira.”

 

DORA : Tomou seu café da manhã, Charlote?

 

CHARLOTE : Bem, tudo indica que sim. Eu acho!

 

DORA : Irei sair para resolver alguns assuntos pendentes, e você trate de obedecer a Pascualita! Ela sabe o que está fazendo.

 

CHARLOTE : (pensa) Sabe o que está fazendo?! Puta que Pariu, essa mulher usa o próprio filho como cobaia nas atrocidades que ela está fazendo comigo! O que ela me ofereceu de café não alimentaria nem um anão de jardim! Em contrapartida, ela tá matando aquela criança dando aquela quantidade absurda de comida pra ela, apenas pra me fazer uma pressão psicológica pra me deixar com fome! Essa Pascualita, é uma megera!

 

DORA : (chama) Ricky!

 

“Ricky entra na Sala.”

 

RICKY : Sim?

 

DORA : Traga as chaves do meu carro. Deixei-as sobre o meu criado-mudo, ao lado do abajur.

 

“Ricky sobe as escadarias até o Quarto de Dora, retornando logo em seguida com as chaves do carro em mãos.”

 

DORA : Vamos, quero que venha comigo!

 

RICKY : Sério?

 

“Dora faz que sim com um aceno de cabeça.”

 

RICKY : Arrasou Chefinha!

 

“Dora e Ricky saem de casa. Pascualita que havia acabado de levar seu filho até a escola, chegara há pouco tempo. Não demoraria muito e ela lhe estaria atormentando a vida novamente. Ainda de estômago vazio, Charlote cogita dar uma passada rápida na confeitaria da esquina. Mas ao pegar no trinco da porta, a nutricionista surge na Sala de Estar como uma assombração.”

 

PASCUALITA : ¿Dónde crees que vas? (Aonde você pensa que vai?)

 

(Enquanto Isso, no Apartamento de Galdéria Pedrosa…)

 

“Galdéria recebeu seu assessor de imprensa Guto Parson em seu apartamento para uma breve conversa e um uísque para espairecer.”

 

GALDÉRIA : Eu sou muito grata a você, Guto! Se não fosse por sua competência, esse escândalo teria se tornado uma verdadeira bola de neve para o “Diário das Estrelas”.

 

GUTO : Você não errou em sua aposta! Não é mesmo, Galdéria?

 

GALDÉRIA : Eu me lembro como se fosse ontem. Todos os produtores desacreditavam do seu potencial, diziam que era muito jovem para o cargo. Preferiam que eu optasse por alguém mais experiente! Já hoje…(ri)

 

GUTO : Hoje o queixo deles vai ao chão, só de olharem o nível ao qual sua carreira se elevou!

 

GALDÉRIA : Eu só sinto uma pena enorme da Amanda! Nós dois conhecemos a Dora, e sabemos que ela não vai deixar barato pelo escândalo que fizemos com o nome dela.

 

GUTO : Não quero nem imaginar!

 

(Mais Tarde, nos Escritórios da Rede Redação…)

 

“Tudo havia se estabelecido na mais sensata e perfeita democracia na sala de reuniões. Dora, Amanda, um advogado e os produtores discutiam a melhor solução a se tomar mediante aquela situação. Propuseram um acordo, mas Dora não se contentou com aquilo que pra ela pareciam ser-lhe migalhas atiradas em seu colo como pequenas esmolas.”

 

DORA : O que? Vocês acham que me oferecendo um emprego borocochô de repórter nessa emissora miserável de quinta categoria, eu irei deixar tudo em brancas nuvens pra essa daí?! Mas nem morta!! Eu quero o que é meu em dinheiro, quero uma indenização!

 

AMANDA : Pelo amor de Deus, vê se ao menos uma vez na vida aprende a descer desse salto! Eu escutei a sua conversa com o Doutor Rodrigo, e se tem alguém aqui que está sendo incoerente, esse alguém é você! Lhe convém muito, culpar a nós como imprensa por um engano que foi seu e não nosso. Nós temos metas, cumprimos obrigações! Você é uma personalidade, uma figura pública ou pelo menos já foi. Pedir para ser imune a nós é quase impossível! Não há nada que prove que fui eu quem fez o flagra, pois pode ter sido qualquer outra pessoa que pode tanto estar como não estar ligada a nossa rede. Eu apenas assumi ter redigido a reportagem em questão, nada mais além disso! Mas mesmo assim nós temos uma prova irrefutável de que tudo o que dissemos é verdade. Se você não tem câncer, parabéns! Fico muito feliz em saber. Mas agora se você não soube distinguir uma falha capilar de um tumor na cabeça, isso não é culpa nossa!

 

DORA : (grita) Cretina!!!

 

“Dora desfere um forte tapa no rosto de Amanda.”

 

QUATRO MESES DEPOIS…

 

“Já faziam mais de 60 dias desde o julgamento, quando Dora finalmente terminou de cumprir a pena de serviço comunitário. Devia de ter aceitado a proposta dos produtores para trabalhar como repórter no Diário das Estrelas. Pois agora as manchetes lhe bombardeavam de todas as maneiras e formas possíveis. Enfim se rebaixara ao nível mais baixo que uma mulher como ela poderia descer. Jogara seu nome na lama. E tudo por culpa de Amanda, aquela maldita redatorazinha.”

 

FLASHBACK…

 

AMANDA : Se você não tem câncer, parabéns! Fico muito feliz em saber. Mas agora, se você não sabe distinguir uma falha capilar de um tumor na cabeça, isso não é problema nosso!

 

DORA : (grita) Cretina!!!

 

“Dora vai pra cima de Amanda e começa a lhe esbofetear a cara com brutalidade até fazê-la sangrar pelo nariz e pelos lábios. Os seguranças chegam até a sala de reuniões e em pouco tempo botam Dora e Ricky pra fora.”

 

DORA : Me larguem, seus brutamontes, eu quero descer. Me soltem!

 

“Os Seguranças largam Dora e Ricky sob os degraus que davam passagem da calçada ao saguão de entrada.”

 

DORA : (grita) A posteridade me fará justiça!!!

 

RICKY : Meu Deus, você está doida?! O que pensou que estava fazendo afinal?

 

DORA : (após um longo suspiro) Eu não sei, eu me descontrolei! Eu…

 

“Amanda surge do alto da escada, acompanhada pelos seguranças do lado de fora do saguão.”

 

AMANDA : Não pense que vai sair barato pra você, Dora Farrell. Eu vou agora mesmo até a Delegacia abrir um processo contra você!! Você vai dançar rumba na cadeia, sua fracassada!

 

DORA : Eu quero que você tome no meio do seu cu, ouviu bem sua vaca de beira de estrada?! Puta de Motel de quinta. É isso que você é, sua vadia fofoqueira!

 

AMANDA : Vai, continua! Vamos!!! Tudo o que você disser aqui, eu vou usar contra você perante o juiz.

 

DORA : Pois que vença a melhor! E tenho dito.

 

FIM DO FLASHBACK…

 

DORA : Merda!

 

(Enquanto Isso, no Salão de Cabeleireiros de Geny…)

 

“Após tanto tempo sem ver uma cliente sequer cruzar pelas portas de seu Salão, Geny já cogitava a hipótese de acabar de vez com o seu negócio. Quando por um obséquio do acaso, uma cliente apareceu. Era uma de suas velhas conhecidas.”

 

GENY : Luíne! Há quanto tempo.

 

LUÍNE : Eu que o diga!

 

“Geny e Luíne trocam beijinhos.”

 

GENY : Entre por favor. Já daremos um jeito nesses seus cabelos, que pelo o que eu vejo estão bem secos, quebradiços e quiçá, cheios de frizz.

 

LUÍNE : Uma bosta, você quis dizer?! (ri) Sério preciso urgente de uma hidratação!

 

GENY : Deixa comigo!

 

“Geny começa a fazer a hidratação nos cabelos de Luíne. Conversa vai, conversa vem, e elas finalmente chegam ao ponto X de todo aquele Bate-Papo.”

 

GENY : Eu não entendo como, nem mesmo por que, mas nos últimos tempos eu não vejo mais nenhuma cliente neste salão, ninguém marca hora. Isso já tem quatro meses!

 

LUÍNE : Pois é. Mas pra falar bem a verdade, eu imaginei que você houvesse fechado.

 

GENY : Como assim?

 

LUÍNE : Era o que haviam dito! A Dora, aliás, nos indicou um cabeleireiro ótimo que viajou há uns tempos atrás e…

 

GENY : (ri forçado) Pera aí, me explica direito. A Dora fez o que?!

 

(Enquanto Isso…)

 

“Ginástica ainda estava em São João Tanquinho, a procura de notícias da mãe. E essa busca já durava meses. Já havia conversado com o Padre, que lhe dissera que a promessa feita em seu nascimento só poderia ser desfeita ou convertida pela mesma pessoa que a havia feito perante o altar do santo há anos atrás, no caso sua mãe. Agora, lá estava ela em seu velho quarto de pensão, com a cabeça longe, enquanto divagava em meio aos relatos de pessoas que mal ouviam falar de sua mãe, consequentemente não sabiam nada ao seu respeito, seu telefone tocou. Era Charlote a ligar-lhe de São Paulo.”

 

GINÁSTICA : (por telefone) Charlote?

 

CHARLOTE : (por telefone) Oi, Gina!

 

GINÁSTICA : (por telefone) O que houve? Sua voz não me soou muito boa!

 

CHARLOTE : (por telefone) Amiga, eu não aguento mais! Eu estou morrendo. Tia Dora contratou uma nutricionista, que é o verdadeiro diabo encarnado. Você nem imagina! Dizer que eu estou vivendo de pão e água, seria ótimo. Pra falar a verdade seria maravilhoso. Acontece que a coisa está bem pior!

 

GINÁSTICA : (por telefone) Péra aí, fica calma! Me diz, qual é o nome dessa nutricionista?

 

CHARLOTE : (por telefone) Pascualita Nieves.

 

GINÁSTICA : (por telefone) Meu Deus, eu conheço ela! Caramba. E você está bem?

 

CHARLOTE : (por telefone) Bem?! Eu estou definhando, Gina! Falando francamente, estou quase entrando num estado de vegetação. O meu estômago dói. Eu não entendo o que pode manter aquela mexicana viva! Ela come o mesmo que eu, e parece não se abalar nem um pouco com isso.

 

GINÁSTICA : (por telefone) Aaah! E eu sei exatamente por que!

 

CHARLOTE : (por telefone) Sabe?

 

GINÁSTICA : (por telefone) Sei sim. Você está sentada? Se não, então se prepare. Você vai saber de tudo que diz respeito à Pascualita Messa de Las Nieves!

Um comentário sobre “Diva – Capítulo 10

  • Que capítulo hein?!Bom, para inicio de conversa, aquela reflexão inicial do capítulo é simplesmente entendiante. Acredito que o autor não saiba disso, mas à partir de hoje, desejo esclarecer: Nunca conte, mostre. Em vez, de ficar contando que o dia amanheceu e blábláblá, insira isso na descrição da cena, simples, Se queria ser poético, o que se viu foi total vergonha alheia. O embate de Amanda e Dora foi artificial demais, porém, deu certo, O ponto alto do capítulo foi a cena e esse foi um acerto, apesar do diálogo de Amanda ser bastante extenso.
    Os outros personagens continuam apagados, humor, humor, cadê você? Sumiu! Para uma trama de comédia, o que se falta é a própria comédia. O autor tem que se reinventar para tentar convencer os leitores com um humor mais caprichado. Enfim, o capítulo está bem aquém, como quase todos os outros, excesso o capítulo inicial. Aqui termino minha analise.

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