Eventyr – Capítulo 17
– Espere – Neandro parecia não ter entendido – Como assim?
– Ele veio, pediu o cristal e eles deram. Simples assim! – Selena estava muito nervosa.
– Mas… Mas… – Neandro estava inconformado.
– O que vamos fazer agora? – perguntei.
– Vocês precisam muito deste cristal, certo? – Selena parecia ter bolado um plano.
– Sem ele não conseguiremos chamar Damaris para fazer o pedido. – Nicardo explicava.
– Então só existe um jeito! – ela parecia não gostar muito deste jeito.
– Qual? – todos nós perguntamos ansiosos.
– Invadir o castelo!
– O que? – Neandro deu um pulo. – Mas… Não, de jeito nenhum!
– Neandro… – ela tentou argumentar.
– Eu conheço a família real de Zoira desde antes de atingir a maior idade, não tenho necessidade de sair invadindo castelos. – Neandro caminhava até a saída.
– Mas Neandro… – ela tentou novamente.
– Nem adianta, eu não vou fazer isso! – ele balançava excessivamente a cabeça – Eu irei até o castelo e pedirei o cristal. Vou explicar a nossa situação e dizer o quanto precisamos deste cristal, ele irão entender.
– Neandro, eles não vão! – Selena entrou na frente dele.
– Como pode ter tanta certeza? – Alexis perguntou irritado. Acho que ele também não gostou da idéia de invasão.
– O Rei Berlo e a Rainha Aléia estão muito mudados. – ela parecia decepcionada. – E mesmo que consiga falar com eles, não irá conseguir o cristal. Ele não irão te entregar.
– Eu não concordo com isso. – Neandro mantinha-se firme – Eu não gosto nem um pouco desta idéia.
– Mas é a única forma! – Selena tentava convencer de qualquer forma Neandro.
– Não! – ele a parou – Eu ainda acho que do meu jeito é melhor.
– Do seu jeito será um atraso! – ela alterou o tom de voz.
– Do meu jeito será o certo! – ele ainda não estava convencido.
– Mas existem pessoas que não merecem que joguem limpo com elas. – Selena ficou seria.
– Por que essa implicância com a família real? – Neandro se irritou – O que te faz ter tanta raiva assim deles?
– Não é raiva… E desgosto! – ela ficou triste – Se você… Esquece! Quer saber, faça como quiser! Se lhe é conveniente perder tempo e se arriscar falando com meu… Com o Rei Berlo, a escolha é sua.
– E se resolvêssemos invadir o castelo? – Neandro resolveu pensar na possibilidade – Como faríamos? Quem garante que o cristal está lá? O que faríamos se fossemos pegos?
– Isso você deixa comigo! – ela deu um sorriso torto – Eu não já disse que já fiz isso várias vezes?
– Talvez ela possa estar certa. – Nicardo partiu em defesa de Selena.
Neandro olhou para Nicardo desconfiado e ele pareceu pedir para dar uma chance a Selena. Já estava me habituando a essas conversas “cerebrais” de Nicardo e Neandro.
– Tudo bem, vamos fazer do seu jeito! – Neandro cedeu – Mas ainda continuo não gostando nem um pouco desta ideia.
Saímos da caverna. O taxista ainda estava lá, como Neandro havia pedido. Ele parecia extremamente entediado e no momento em que saímos, ele estava sentado em uma rocha pequena, chutando pedrinhas para longe.
– Você tem certeza de que sabe o que está fazendo? – Neandro perguntou para Selena.
– Confie em mim! – ela sorriu.
Seguimos para o castelo. Ainda não estava acreditando que estávamos prestes a invadir um castelo. Não estava sentindo que poderíamos ser pegos, mas eu tinha certo receio quanto a isso.
Selena nós passou uma quase aula de como invadir o lugar. Explicou cada local onde passaríamos, cada risco que correríamos, quando deveríamos ficar atentos e quando poderíamos relaxar. A cada palavra que ela terminava de dizer, um arrepio na espinha aparecia.
– Entenderam tudo? – Selena perguntou quando terminou de explicar.
– Acredito que sim. – sorri constrangida.
– Entendemos! – Alexis ainda estava com raiva de mim.
Chegamos ao portão do castelo. Havia dois guardas atentos, vigiando cada passo. Como Selena havia explicado, passamos por trás, pelo lado esquerdo. Os portões se abriram e o resto do grupo seguiu com o plano. Por algum motivo eu não consegui sair da frente do portão, estava paralisada.
De repente alguém, montado a cavalo, sai do castelo e segue em minha direção. Queria sair da frente dele, mas não conseguia. Quando viu que não sairia da frente, ele parou o cavalo, que relinchou, e ficou um curto período de tempo me fitando.
O homem vestia um manto negro, mas por baixo podia ver que vestia uma armadura. Sua pele era avermelhada, como a de Nicardo, mas ele não parecia um padjiano. Tinha um longo nariz e seus cabelos eram cor de vinho. Seus olhos eram verdes escuros e transmitiam uma áurea podre, maligna e aterrorizante.
O homem prosseguiu e eu continuei paralisada. Quando voltei a raciocinar, estava sendo puxada por Selena que havia aproveitado que os guardas haviam fechado o portão e entrado para o castelo. Apenas um guarda ficou do lado de fora, mas ele não me viu sendo levada.
Demos a volta no castelo até chegar a uma grande árvore de tronco azul marinho. A árvore era na verdade uma porta para uma passagem secreta. Selena abriu a passagem e entramos rapidamente.
Dentro da árvore havia um túnel pequeno. Seguimos por ele e saímos dentro do jardim do castelo. Ali só havia três guardas, bem longe e passamos entre os arbustos. Meu corpo congelou quando um dos guardas começou a se aproximar de nós depois de eu ter esbarrado em uma pedra. Se ele desse mas cinco passos teria nós visto, mas o seu colega o chamou e pudemos continuar.
Dos arbustos passamos para dentro de uma pequena torre. Dentro da torre havia apenas armamentos de guerra. Selena parou na frente de uma parede, nos chamou e empurrou a parede que revelou outra passagem secreta.
Andamos em um corredor mais longo e Selena prestava atenção em cada parede, que estavam numeradas. Na parede 112 ela empurrou e saímos em um quarto extremamente luxuoso. Foi o quarto mais belo que eu já havia visto em Monterra. Havia uma cama que caberia cinco de mim, com lençóis e cortinado, vários enfeites de seres marinhos espalhados pelas cômodas e escrivaninhas e desenhados na parede. Havia um guarda roupa incrivelmente grande e um tapete azul claro no chão. Havia outras coisas que eu não sabia dizer o que era, mas sabia que eram lindas. Saímos do quarto e passamos por um pequeno corredor que nos levou até um jardim interno.
Do jardim, pegamos outro corredor. Diferente dos demais, esse era extremamente longo e vazio. Havia alguns – muitos – quadros e Selena contava cada um com muita atenção. Ela parou no quadro de número 14 e novamente passamos por outra passagem secreta.
– Mas nós estamos indo para algum lugar? – Alexis perguntou irritado.
– Shiii! – Selena colocou o dedo indicador na frente da boca e começou a sussurra – Quer que nos ouçam? Precisamos despistar qualquer guarda que possa está passando. Confie em mim, eu sei muito bem o que estou fazendo!
Prosseguimos e saímos em outro corredor. Desta vez, ao invés de quadros havia varias portas. Passamos um pouco mais tranquilamente, até que ouvimos um barulho.
– Acha que ele pode querer aparecer por aqui? – uma voz apareceu no corredor.
– Espero que não! – outra voz e duas sombras apareceram no corredor.
– E agora? – sussurrei.
– Ei! – um dos guardas parou – Ouviu isso?
– O que? – o outro pareceu não ter prestado atenção.
– Uma voz. Acho que ouvi uma voz.
Enquanto eles discutiam se havia ou não uma voz no corredor, Selena nos puxou para dentro de um quarto em uma ação de emergência. Não estava muito a fim de ser pega e possivelmente presa, por isso entrei sem perguntar.
– Vamos tentar manter silêncio! – Selena falava tão baixo que quase não ouvi.
– Pode ser muito perigoso ser preso por invasão em Zoira. – ela parou – Se não me engano, pode dar até morte.
– E só agora que você diz isso? – Alexis sussurrou.
– Achei que já soubesse. – Selena continuou sussurrando.
Continuamos no quarto até a voz dos guardas sumirem completamente.
– Selena? – Neandro quebrou o silêncio – Invadimos o castelo para pegar o cristal, mas você faz ideia de onde ele possa estar?
– E claro! – Selena sorriu. – E é mais fácil do que se espera.
– Sei… – Alexis bufou. Estava sentindo saudades de quando ele bufava e fazia a serie de expressões.
Selena se aproximou de um tipo de tapete que estava pendurado na parede. Na verdade o tapete escondia mais uma passagem secreta.
– É a última que iremos passar! – Selena entrava na passagem.
A passagem era subterrânea, descemos uma longa escada de pedra rumo à escuridão que desapareceu com minha magia favorita: a do fogo.
Chegamos até uma sala branca, com uma porta fechada. A sala estava vazia e o branco estava me cegando. Selena chegou até a porta e a abriu com extrema facilidade. A porta era bem grande.
– Vamos, é aqui! – Selena disse.
A sala estava repleta de tesouros de tudo quanto é espécie. Havia pedras preciosas, esculturas, quadros e tudo o que parecia ter grande valor. Fiquei muito intrigada com a facilidade com que entremos nessa sala. Uma sala de tesouros deveria ser mais bem vigiada, mesmo o acesso a ela sendo através de passagens secretas.
– Tudo bem… Nós vamos roubar o cristal? – Neandro realmente não estava gostando da idéia.
– Se você enxerga desta forma… – Selena foi caminhando suavemente. Fizemos o mesmo.
– Geralmente eles guardam esse tipo de coisa aqui! – ela apontou para um grande cofre.
Alexis olhou para Neandro e Nicardo. Os dois olharam para mim e todos ficamos intrigados com como aquele cofre poderia ser aberto.
– Legal, é agora o que vamos fazer? – Alexis perguntou.
Um barulho de porta de metal se abrindo e batendo em cristais de vidro nos fez voltar à atenção para Selena.
– Prontinho, cofre aberto! – ela batia as palmas das mãos como se estivesse tirando poeira.
– Mas… Co-co-co-como… Por q…. Tem certeza que você não é uma assaltante profissional? – Alexis estava perplexo, assim como todos nós.
– Tenho. – ela respondeu seria e começou a procurar pelo cristal.
Ela mexeu em gavetas, abriu caixas, vasculhou em papéis, tentou ver se havia algum tipo de compartimento secreto no cofre – o que não me espantaria nada se tivesse – e não conseguiu achar nada que fosse do nosso interesse. No cofre havia apenas jóias que pareciam raríssimas e caríssimas, vários documentos, uns desenhos e mais nada.
– Que raiva! – ela gritou – Não está aqui.
– Acho que já conseguimos perceber. – Alexis disse debochado e levou uma cotovelada do irmão.
– Creio que seja melhor voltarmos e fazermos do meu jeito agora. – Neandro disse serio – Provavelmente o cristal ainda está com eles.
– Mas nós iremos precisar voltar tudo? – perguntei.
– Sim, caso não queira entregar a nossa invasão! – Neandro respondeu.
– Desculpe te corrigir, mas não precisaremos voltar todas aquelas passagens. – Selena deu alguns passos e abriu uma passagem.
– Esse castelo tem quantas passagens secretas? – Alexis perguntou. Selena sorriu sem jeito.
– Essa é uma passagem mais rápida e sai direto no jardim, perto da árvore onde nós entramos. – Selena fez um gesto para que prosseguíssemos.
– E por que não usou essa passagem antes? – Alexis ficou nervoso.
– Porque essas portas só abrem por dentro. – ela também se zangou.
O corredor não era muito largo, mas era grande o suficiente para passarmos um por um com tranquilidade, o problema mesmo era a altura. O corredor era muito baixo e só poderíamos andar engatinhado.
– Os garotos primeiro! – eu disse.
– Ei, por quê? – Alexis se alterou – Por acaso você manda em alguma coisa?
– Humpf! – bufei – Eu não vou entrar engatinhando dentro deste buraco com três homens olhando para minha bunda!
Neandro, Nicardo e Alexis ficaram vermelhos e Selena deu uma risadinha baixa.
– Concordo com a Beatriz, melhor irem primeiro! – Selena sorriu.
– E como vamos saber onde abrir a passagem? – Alexis perguntou.
– Iii é mesmo! – Selena deu um sorriso sem graça e coçou a cabeça – Acho que vou ter que ir na frente. Vou me sacrificar por você Beatriz! Mas vocês, se eu sentir algum olhar suspeito…
Selena entrou primeiro, depois foi Neandro, Nicardo, Alexis e por fim eu entrei. Não sei se me sentiria mais confortável com a bunda da Selena na minha frente, mas confesso que foi meio estranho engatinhar com a bunda do Alexis na minha cara.
Demoramos um pouco para chegar à saída, mas como a própria Selena havia dito, foi bem mais rápido do que seria se voltássemos pelo mesmo caminho que entramos.
Não foi nenhum pouco agradável quando Selena encontrou a porta. Ela parou do nada e fez Neandro parar do nada, que fez Nicardo parar do nada, que fez Alexis parar do nada e que me fez bater de cara na bunda de Alexis – uma situação da qual apaguei da minha memória naquele exato momento.
Selena conferiu se não tinha ninguém por perto através de um tipo de olho mágico e depois abriu a porta. Finalmente estávamos de volta ao lado de fora do castelo.
– Então agora é só voltar para dentro do castelo da maneira correta! – disse tirando a poeira da minha roupa.
– Acho que sim. – Selena não parecia animada.
– Neandro, você já sabe o que vai falar? – perguntei.
– A verdade! – ele também tirava poeira da roupa – Eu confio nos reis de Zoira.
– Se eu fosse você não confiava muito. – ouvi Selena resmungar.
– Ainda não entendo sua… Decepção. – Neandro tentava manter-se educado.
– Vamos combinar uma coisa? – Selena estendeu a mão para Neandro – Você para de ficar elogiando a família real de Zoira e eu paro de te importunar com minhas… Decepções?!
– Tudo bem. – eles apertaram as mão. – Acho melhor saímos e pegarmos aquela estrada ali. Fica longe do portão do castelo, assim ninguém nos vê. Entrar agora poderia ser arriscado.
– Mais uma coisa! – Selena interrompeu – Eu não irei entrar.
– Tudo bem, faça como quiser! – Neandro estava mais calmo.
Passamos pela estrada e demos um tempo até voltarmos pela principal. Selena ficou escondida atrás de uma árvore e disse que iria ficar esperando ali.
Quando chegamos ao castelo, os guardas me fitaram desconfiados. A principio não me toquei, mas depois lembrei que havia ficado parada feito uma estatua na frente do portão poucas horas antes.
– Um momento! – um dos guardas nos parou – Quem são vocês e o que querem?
– Eu sou Neandro Célio Arrife Cliteno Corpeu de Nebro e esse é meu irmão, Alexis Célio Arrife Cliteno Corpeu de Nebro, príncipe e futuro herdeiro do trono de Nebro e esse são nossos acompanhantes. Gostaríamos de marcar uma assembléia com vossa majestade. Precisamos disso com certa urgência!