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Herança do Passado

Herança do Passado – Capítulo 5: A Resposta que Eu Quero e Mereço

CENA 1/ ESTRADA PARA GRAMADO / NOITE

Dirigindo pelas pistas da estrada e encarando a solidão da noite, Walter dirige o carro que antes fora de seu patrão enquanto Leila olha pela janela a paisagem da serra gaúcha:

Walter: O que você tá pensando?

Leila: No Leo…

Walter: Amiga, deixa isso pra lá, ele não merece nem um segundo do seu pensamento

Leila: Eu sei, mas eu não consigo parar de pensar. Minha cabeça fica dando essas voltas, pensando se um dia a gente vai voltar a se ver… Se perdoar…

Walter: Já chega Leila, já deu! Abre esse porta luvas e pega uma das fitas, a gente precisa de uma música pra espantar a tristeza desse carro.

Leila abre o porta-luvas, pega uma das fitas e coloca no tocador. Ela começa a rir ao ver que está tocando a música What a Feeling, de Irene Cara: https://open.spotify.com/track/3cbV252akVZInSvJk7jAYX

Leila: Eu sei que esse carro era do meu pai, mas essa fita com certeza é sua Waltinho!

Walter: A fita é minha sim, mas a música a partir de hoje é nossa! Eu quero que toda vez que você se sentir triste, escute essa música e se lembre de mim! Assim a tristeza vai embora, junto com esse monte de pensamento inútil!

Leila: Você é realmente meu anjo da guarda Walter…

Walter: Sou muito mais do que isso – ele ri – Agora cala a boca que você tá atrapalhando a música!

Walter aumenta o volume do som e continua a dirigir, cantando a música junto com a Leila enquanto o carro rompe a escuridão da noite em busca de um novo destino para os dois

 

ALGUNS MESES DEPOIS

CENA 2/ SÃO PAULO / CAFÉ/ TARDE

O sol começa a se pôr na metrópole paulista enquanto Leila trabalha servindo as mesas do café, já com sua barriga de grávida totalmente visível e dando a impressão de que ela está pronta para dar a luz a qualquer momento. Ela serve café para os clientes quando Walter chega em seu uniforme da garçom para a troca de turnos e a leva para a cozinha do café:

Walter: Fui no cartório e consegui uma vaga pro nosso casamento, semana que vem ao meio dia. Já falei com o Seu Pires e ele vai liberar a gente pra ir lá assinar os papéis

Leila: Graças a Deus a gente vai poder resolver logo essa história, cada vez mais eu tô sentindo que essa criança tá perto de nascer – ela passa a mão na barriga – Meus pés estão me matando, eu preciso ir logo pra casa descansar…

Walter: E você já pensou em um nome? A gente precisa pensar em um enxoval pra a nossa filha…

Leila: Pensei sim, vai se chamar Luiza. Significa lutadora…

Walter: Nada mais apropriado…

Leila: Mas vê se não vai gastar mais do que a gente tem nesse enxoval, lembra que a gente tem muito pouco do que sobrou da venda do carro.

Walter: Mas ainda tem o dinheiro das suas joias…

Leila: Aquele dinheiro é pra uma emergência extrema Walter

Walter: O enxoval da minha filha é uma emergência! Eu sei que a gente combinou em dar só o meu sobrenome pra ela, mas ela também é uma Hesse-Kassel, ela merece tudo de bom e do melhor!

Leila: A última coisa que eu quero que a minha filha seja é uma Hesse-Kassel… Agora dá licença que eu tenho muita condução pra pegar até chegar em casa.

CENA 3/ GRAMADO /PROPRIEDADE DOS HESSE-KASSEL/ QUARTO DE ODESSA E ANTÔNIO/ NOITE

Deitada em sua cama e de repouso, uma Odessa cada vez mais fraca e sem cabelos lê um exemplar da bíblia sagrada e faz suas orações, quando escuta alguém bater na porta do cômodo:

Odessa: Entra…

A porta do quarto se abre e Jeanne, vestindo o uniforme de governanta da mansão, entra com uma bandeja nos braços, ostentando uma enorme barriga de grávida. Ela põe a bandeja no criado mudo e se senta na cama, ao lado da patroa:

Odessa: Oh Jeanne, por que você não pediu a uma das criadas pra trazer minha janta? Eu já disse que eu não quero você subindo essas escadarias com esse barrigão!

Jeanne: Não é trabalho nenhum Dona Odessa, eu gosto de vir aqui a noite, me faz bem ver a Senhora…

Odessa: Me faz bem ver você também minha querida… Nesses últimos meses você se tornou mais do que uma amiga pra mim, justamente quando todos me abandonaram… A minha filha Leila sumiu no mundo, Rose me largou e foi morar com o pai em um hotel, as minhas amigas todas sumiram desde que eu confirmei a doença, mas você não Jeanne! Você foi fiel a mim nesses últimos meses de uma maneira que eu não esperaria de ninguém!

Jeanne: Não é verdade Dona Odessa, você recebeu uma visita importante, só não quis recebê-la…

Odessa: Já falei pra parar de me chamar de Dona! E aquela visita não conta!

Jeanne: Claro que conta, era a sua irmã!

Odessa (irritada): Ela que vá pro inferno, aquela desgraçada! Aposto que veio só pra saber quanto que eu ia deixar pra ela no testamento! E vamos parar de falar dela antes que eu fique mal!

Jeanne: Ok, não tá mais aqui quem falou… Mas mudando de assunto, alguma notícia daquele detetive que a senhora contratou?

Odessa: Ele ficou de me ligar, mas até agora nada. A última pista de Leila foi quando ele achou o carro que ela usou na fuga, disse que estava em São Paulo. Mas aquela cidade é gigante, demora tempo até achar uma pista da minha filha e do seu irmão…

Jeanne: Ontem eu sonhei com ele, sabia? Sonhei que ele vinha me visitar, ver o sobrinho dele

Odessa: Ele vai vir lhe visitar minha querida… Eles vão vir, eu sei! – Odessa se inclina um pouco e abraça Jeanne – Mas e o pai dessa criança, alguma notícia?

Jeanne: Leonardo?! Desde o dia que a gente dormiu juntos que ele sumiu, ninguém mais teve notícias… Não passou nem aqui pra buscar as coisas dele, ainda estão lá embaladas…

Odessa: Você precisa ir atrás dele, seu filho precisa do pai Jeanne!

Jeanne: Meu filho vai precisar de mim só, e nada mais! Com todo o respeito Odessa, mas eu dou conta sozinha

Odessa: A gente sempre acha que dá conta minha filha, sempre acha… O problema é que a realidade é tão diferente do que a gente planeja…

CENA 4/ GRAMADO /APARTAMENTO DE LUÍS/ SALA/ NOITE

Sentada em uma das poltronas da sala, Rose fuma um cigarro enquanto Luís prepara um drink para os dois:

Luís: No que você tá pensando?

Rose: No de sempre, o testamento…

Luís: Ainda nenhuma pista?

Rose: Nada! E o pior é que eu voltei na mansão ontem pra ver se eu achava em algum lugar alguma coisa, mas mesmo assim nada! E o pior é que cada vez que eu a vejo, ela fica cada vez pior! Eu não dou mais umas duas semanas até a desgraçada morrer!

Luís: Talvez você esteja procurando no lugar errado… – ele bebe um gole do drink e serve o outro para a amante – Talvez não esteja na mansão…

Rose: Onde mais estaria?

Luís: Sei lá! Sua mãe não tem um cofre fora da casa? No escritório da Kassel, ou em um banco?!

Rose: É isso Luís! Quando ela começou o tratamento ela ia muito em Porto Alegre e algumas vezes quando eu a acompanhei eu vi ela entrar no banco! Ela sempre ia ao banco no mesmo horário, entrava na agência e saia de mãos vazias… Talvez esteja lá!

Luís: Olha, eu detesto ter que lhe dar a notícia, mas esse é o pior lugar pra pegar esse testamento… Eles nunca vão deixar você mexer nesse cofre sem uma autorização de Odessa….

Rose: Isso é porque eles nunca conheceram Rose Hesse-Kassel! Fiquei até animada agora! – ela pega o drink e o bebe de vez – Vamos pro quarto!

Luís: Você não tem que ir pra casa? Seu pai não vai ficar atrás de você?

Rose: Papai foi pra uma viagem no Japão, pra fechar um negócio de uma loja Kassel no aeroporto de Tóquio! Esse fim de semana eu tô livre, leve, e, principalmente, solta!

Luís: Do jeito que eu mais gosto de você!

Luís agarra Rose e a beija com vontade, a levando em seguida em seu colo para o quarto e fechando a porta

CENA 5/ SÃO PAULO / CAFÉ PIRES/ NOITE

Cumprindo seu turno de garçom, Walter serve as mesas do café quando de repente é chamado de um cliente de chapéu em uma das mesas. Ele se aproxima do homem e se prepara para anotar o pedido, quando é surpreendido de súbito ao ver que se trata de Antônio Hesse-Kassel:

Antônio: Surpreso em me ver Walter? São Paulo pode até ser uma cidade grande, mas não é tão grande assim né… Senta ai um pouquinho, a gente tem muito o que conversar.

Walter (nervoso): Eu não posso, tô em serviço… Você vai ter que esperar a hora da minha folga se quiser conversar.

Antônio: Senta logo rapaz, antes que eu compre essa birosca aqui só pra lhe demitir! Eu preciso ter uma conversa com você, de homem pra homem!

Sem alternativa, Walter se senta à mesa com o ex patrão e começa a ouvir o que ele tem a dizer:

Walter: Então, o que você quer comigo?

Antônio: Você pode ficar tranquilo, eu não vim aqui fazer nenhuma ameaça, eu vim corrigir um erro…

Walter (irônico): Engraçado, mas você acabou de ameaçar comprar o meu local de trabalho só pra me demitir…

Antônio: Walter, me escuta… Eu preciso saber onde está a minha filha. Os últimos meses foram complicados, a minha esposa me expulsou de casa e acabou ficando cada vez mais doente, eu não sei mais quanto tempo ela tem de vida, já está desenganada pelos médicos.

Walter: Ok, supondo que eu lhe dê o endereço dela, você acha mesmo que depois de tudo que você fez com Leila, ela vai querer lhe ver?

Antônio: Não é a mim que ela precisa ver, ela precisa ver a mãe, antes que seja tarde… Eu quero consertar o meu erro Walter, quem sabe até aceitar o meu neto, dar a vida que ele merece.

Walter: Neta. É uma menina.

Antônio: Que notícia boa! Pra quando que é?

Walter: Uma semana ou duas…

Antônio: Então, eu posso ver a minha filha?

Walter (seco): Não.

Antônio (surpreso): Como assim não?! Eu quero consertar o que eu fiz rapaz! Você não pode me negar isso!

Walter: Não só posso, como estou negando. Perto da minha mulher e da minha filha você não chega perto!

Walter se levanta da mesa dá as costas para Antônio, mas é surpreendido por uma das falas do ex patrão:

Antônio: Você sabia que a sua irmã tá gravida rapaz?

Walter (surpreso): Jeanne? Impossível…

Antônio: Veja se não acredita por si mesmo…

Antônio abre sua pasta e tira dela uma foto de Jeanne com sua barriga de grávida nos jardins da mansão Hesse-Kassel:

Antônio (cínico): Você sabe que uma mulher nesse estado é uma mulher frágil, não sabe? Claro que sabe, você tem uma em casa! Qualquer coisa pode acontecer durante esse tempo e qualquer acidente pode ser fatal…

Walter (revoltado): Você tá falando o que eu tô pensando, seu desgraçado?!

Antônio: Olha a boca rapaz! Aqui não é o lugar! Eu não estou falando, ou sugerindo nada, estou apenas lhe dando uma visão mais ampla dos fatos!

Walter: Você é um monstro mesmo Antônio!

Antônio: Monstro? Monstro não! Eu só estou cumprindo meu lema: nunca aceitar um não como resposta – ele dá um leve sorriso de canto de boca – E você, já está pronto pra dar a resposta que eu quero, e mereço?!

FIM DO CAPÍTULO

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