A Fênix – Capítulo 08

Capítulo 08

 Cena 01 – Casa dos Matos.
Suzana, recolhendo os cacos: É melhor eu arrumar que vai ver assim a mamãe não percebe.
Suzana coloca os cacos na lixeira, mas ela repara em alguma coisa curiosa dentro dela.
Suzana: Espera, o que é isso?
Com um lápis, Suzana tira o que viu dentro da lixeira e fica surpresa com o que é: uma camisinha masculina usada.
Suzana: Será que depois de tantos anos a mamãe e o papai ainda usam isso? A mamãe me disse que depois que eu nasci ela não podia mais ter filhos, por que a prevenção?
Priscila entra no quarto: Suzana, vamos logo.
Suzana coloca a camisinha na lixeira.
Suzana: Vamos, vamos.
Priscila: Por que você está aí abaixada?
Suzana: Por nada, vamos!

 Cena 02 – Horas mais tarde. Apartamento de Helena.
Helena recebe uma visita, é sua velha amiga Pilar.
Helena abraça Pilar: Oi Pilar, minha amiga.
Pilar: Oi Helena, há quanto tempo? Tudo bem?
As duas se sentam para conversar.
Helena: Tudo mais ou menos. Então, como você anda levando a vida?
Pilar: Bem, depois que eu me casei as coisas melhoraram e muito pra mim.
Helena: Eu também, muito melhor que aquela vida horrível que a gente levava na boate.
Pilar: Nem me lembre daquilo, graças a Deus o meu marido me aceitou mesmo sabendo que me prostituía.
Helena: E o meu também.
Pilar: Puxa, quando eu olho pra você é difícil de acreditar que você é aquela mesma moça toda suja e exausta que eu conheci há alguns anos.

 FLAHBACK.
 Ano de 1999.
Subúrbio no Rio de Janeiro. É noite, em uma rua muito humilde e pobre, as portas de uma boate estão quase abrindo, as dançarinas estão se arrumando.
Rapaz: A boate vai abrir logo, preparem-se meninas.
Pilar: Não se preocupe, hoje nós vamos arrasar.
Rapaz: Assim espero.
Pilar: Com licença, eu vou fumar um pouquinho, pra melhorar o meu ânimo.
Pilar vai até a porta-dos-fundos da boate e se escora na parede para fumar um cigarro. Ela olha para o lado e vê um vulto se aproximando.
Pilar, assustada: Oi, quem é que tá aí?
O vulto se aproxima, a pessoa estranha vem mancando.
Pilar: Tá legal, não tem a menor graça, pode parar.
O vulto cai. Pilar se aproxima e só então que ela vê que é uma mulher toda suja e fraca, está machucada.
Pilar: Moça, moça você está bem?
Helena, fraca: Me ajuda, me ajuda, por favor, eu não me lembro de nada!
FIM DO FLASHBACK.

VOLTA AO PRESENTE.
Helena: Eu fiquei vagando perdida pelo subúrbio durante horas, nunca me esqueci daquela noite.
Pilar: Foi logo depois do seu acidente, não foi?
Helena: Foi sim. Eu bati com a cabeça no acidente, por isso assim que cheguei lá eu disse que não me lembrava de nada.
Pilar: E você não se lembrava de nada mesmo, não sabia o seu nome.
Helena: É, e vocês me chamavam de “A Fênix”, né?
Pilar: É, você surgiu do nada, dava pra ver que tinha escapado da morte, como se você tivesse morrido e renascido, estava toda fraca e suja, mas lá dentro da boate você dava o maior show como dançarina.
Helena: Pois é. Três anos seguidos que eu passei sem me lembrar de nada.
Pilar: Até aquela outra noite, né?
Helena: É!

 Cena 03 – Mansão Alcântara Barreto de Albuquerque. Sala.
Mateus e Miguel estão falando com as amigas sobre uma festa na piscina que terá no dia seguinte.
Mateus: Então a presença de vocês está confirmada?
Suzana: Com toda a certeza!
Mateus: Beleza.
Miguel: Me explica de novo Mateus, o que exatamente estamos comemorando com essa festa na piscina?
Mateus: Nada, só pra descontrair um pouco.
Miguel: Mateus, será que você não cansa de festas nunca? Já teve a do seu aniversário, a balada de ontem e agora mais essa?!
Mateus: Ah Miguel, você é muito careta, hein?
Priscila: Não vão começar vocês dois de novo não né?

 Cena 04 – Manhã seguinte. Mansão Alcântara Barreto de Albuquerque. Jardim.
Muitos jovens estão tomando banho na piscina da família, é a festa organizada por Mateus.

 Cena 05 – Sala.
Raquel está conversando com os filhos sobre a festa.
Raquel: Olha lá, eu não quero saber de bebidas ou coisas do tipo nessa festa, entendido?
Mateus: Relaxa mãe, quantas vezes eu vou ter que repetir que não vai ter isso?
Raquel: Não importa quantas você repetir, eu ainda vou duvidar!
A campainha toca. Horácio atende. É Helena.
Helena vai entrando: Bom dia, família!
Raquel: Helena? O que faz aqui?
Helena: Ué, eu soube que estavam dando uma festinha na piscina e resolvi aparecer, eu adoro festas e adoro piscina.
Raquel: Vai embora daqui, ninguém te convidou.
Miguel: Na verdade mãe, eu convidei ela!
Raquel: O que? Mas por que você fez isso e sem me avisar?
Miguel: Ué, vocês são irmãs, qual o problema da tia Helena vir até a nossa casa?
Raquel: Desde que eu esteja sabendo, e você Helena, vá embora, você aqui não é bem-vinda.
Helena: É mesmo, e o que vai fazer se eu não for?
Raquel: Não me desafie, você não sabe do que eu sou capaz.
Helena: Eu sei sim, você não sabe do que eu sou capaz!
Miguel: Tá bom, tá bom, já deu as duas.
Raquel: Não se mete Miguel.
Helena: Não grita assim com ele Raquel!
Mateus segura Miguel pelo ombro e sussurra em seus ouvidos: Vamos dar o fora daqui que o clima tá esquentando e vai sobrar pra gente.

 Cena 06 – Jardim.
Mateus: Eu vou dizer uma coisa, parece que a relação entre elas duas não é das melhores.
Miguel: Elas são irmãs Mateus, irmãs e irmãos sempre brigam, olha pra nós dois.
Mateus: Eu admito que às vezes nós discutimos, mas elas parecem bem pior.
Miguel: Eu já reparei que a mamãe não gosta quando a tia Helena vem aqui.
Mateus: Elas não devem se gostar, porque a mamãe nunca falou que a gente tinha uma tia.
Miguel: Deixa quieto.
Suzana e Priscila aparecem.
Suzana: Oi meninos, a festa de vocês tá bem legal.
Mateus: A gente sabe.
Priscila repara que Mateus está de sunga, mas Miguel está de roupa.
Priscila: Miguel, você vai tomar banho de roupa?
Miguel: Hum? Não, eu não vou tomar banho não.
Suzana: Ah, qual é Miguel? Todo mundo tá curtindo a festa, menos você.
Mateus: Relaxa cunhada, eu sei como cuidar disso.
Mateus empurra Miguel pra dentro da piscina.
Miguel, depois de submergir: Mateus, seu idiota!
Mateus, rindo: Agora que você tá molhado é melhor aproveitar pra ficar na piscina com a gente!

 Cena 07 – Cozinha.
Horácio está arrumando os copos e as taças na cozinha. Quando ele se vira, Helena está bem atrás dele.
Horácio: Dona Helena, que susto!
Helena: Olá Horácio, querido, como tem passado?
Horácio: Vou muito bem, e a senhora?
Helena: Vou bem. Sabe Horácio, eu fico surpresa, há mais de 20 anos você é mordomo nessa mansão.
Horácio: É, desde a época dos seus pais.
Helena: E eu me lembro que você trabalhava aqui há 18 anos atrás, quando eu ainda morava nesta casa antes daquele acidente.
Horácio: Sim, eu fiquei surpreso quando a senhora pareceu, disseram que a senhora não tinha resistido ao acidente.
Helena: Quem sabe você também teve a certeza de que eu iria morrer porque tinha alguma coisa a ver com o acidente.
Horácio, nervoso: Do que a senhora está falando?
Helena: Horácio, Horácio, você sempre foi um pau-mandado da Raquel ou do Sérgio, aposto que deve saber o que eles planejaram pra mim.
Horácio: Eu não sei do que a senhora está falando.
Helena: Eu sei muito bem que aquele acidente não foi acidente Horácio, eu sei que foi premeditado e sei também que você sabe de alguma coisa.
Horácio: Eu? Por que eu teria alguma coisa a ver?
Helena: Eu sei que o Sérgio e a Raquel não iam saber mexer no meu carro, só quem saberia fazer isso era o motorista daqui, e você e ele eram muito amigos.
Horácio: Nem tanto, aonde a senhora quer chegar com isso?
Helena: Horácio, eu sei que você e o motorista eram bons amigos e que ele não valia nada e por isso deve ter aceito mexer no meu carro e provocar o meu acidente e eu sei que você sabe que eu estou certa!
Horácio: Não, eu não sei de nada.
Helena: Está bem, pode ficar em silêncio se quiser, mas um dia eu vou conseguir provar tudo que estou dizendo.

 Cena 08 – Quarto de Miguel.
Miguel entra no quarto para tirar sua roupa molhada.
Miguel, tirando a camisa: Agora que o Mateus me paga, espera só até ele ficar sozinho, eu vou acabar com ele.
Miguel se olha no espelho e vê alguém na porta, é Suzana.
Miguel, surpreso: Suzana, há quanto tempo você tá aí?
Suzana: Há pouco tempo. Você não devia trocar de roupa com a porta aberta se prefere não ser espionado.
Miguel: Olha, se você quer conversar, vamos deixar isso pra depois, eu agora preciso tirar essa roupa molhada.
Suzana: Miguel, por que você me evita tanto?
Miguel: Eu? Eu não te evito…
Suzana se aproxima: Miguel, você me conhece tão bem, eu prometo que eu seria uma boa menina, por favor, eu gosto tanto de você, me dá uma chance.
Miguel, nervoso: Suzana, por favor…
Suzana, mais perto: Por favor, eu te amo, me dá uma chance.
Suzana se aproxima mais de Miguel, tentando beijá-lo.

 Cena 09 – Jardim.
Mateus e Helena estão conversando.
Mateus: Você e a minha mãe pelo visto não se dão muito bem.
Helena: Não se preocupe, isso não é de hoje. Eu sempre quis me aproximar da Raquel desde que éramos crianças, mas ela nunca gostou de mim.
Mateus: Nunca? Mas por quê?
Helena: Não sei, eu sempre gostei muito dela, tentei fazer com que nos déssemos bem, mas nunca adiantou.
Mateus: Entendi. Eu e o Miguel também somos assim, eu sempre quis que nós fossemos bem próximos, mas ele sempre dificultou isso.
Helena: Imagino. Bem, mas vamos parar de conversar e entrar na água?
Mateus: A senhora vai nadar?
Helena, irônica: Ih rapaz, eu posso ter cara de velha, mas eu ainda sou muito jovem, fui campeã de natação na minha escola.
Mateus: Só acredito vendo.
Helena tira sua camisola.
Helena: Pois você vai ver.
Mateus repara em uma cicatriz nas costas de Helena.
Mateus: Tia Helena, que cicatriz é essa?
Helena: O que? Essa cicatriz?

Léo Menezes