Eventyr – Capítulo 6
Meu despertar no dia seguinte não foi muito diferente do dia anterior. Acho que ainda demoraria um pouco para me acostumar de que não estou mais em casa.
O café da manhã foi tão saboroso quanto o da manhã anterior – talvez até mais – e eu começava a me apegar aquela casa como se fosse minha, mesmo estando há tão pouco tempo nela.
– Beatriz? – Lifa me chamava com a delicadeza de uma rainha – Venha, preparei outro vestido para você!
Lifa e eu havíamos nos tornado mais amigas do que imaginávamos. Na noite anterior nós continuamos contando sobre a minha vida e ela parecia realmente interessada. Tentei fazer com que ela falasse um pouco dela também – era muito chato ser a única atenção da conversa – mas ela não entrou em muitos detalhes.
Lifa havia me contado que era costureira e já havia feito roupas para a família real – assim que ela conheceu Neandro -, mas nos últimos anos ela vem tendo poucas clientes, o que me fez ficar envergonhada de aceitar os vestidos que ela havia feito para vender.
Essa não era a segunda peça de roupa que ela me dava. Além do vestido do dia anterior, Linfa havia me dado também duas roupas para dormir. As duas eram muito bonitas e confortáveis. Uma era leve, bem solta, de cor rosa, com um belo corte e era muito fresca. Já a outra era longa e macia, de um tecido quente para os dias frios. Ela era mais fechada e da cor roxa.
O novo vestido era tão lindo quanto o outro. Assim como o anterior, esse tinha duas partes de cores diferentes. A parte de cima era preta e tinha pequenas voltas no pequeno decote. Tinha uma fita listrada colorida que amarava na cintura e a sua parte de baixo era toda vermelha com bolinhas pretas minúsculas, quase imperceptíveis.
Linfa havia dito que Neandro voltaria naquele dia ou no dia seguinte. Eu estava louca para conhecer-lo, e conheci. Infelizmente não foi do jeito como eu queria.
Estava me trocando para provar o vestido, novamente apenas de peças intimas, quando a porta abriu. O susto foi imediato e recíproco.
– TARADO! – eu gritei impulsivamente enquanto pegava o vestido que estava usando para cobrir-me.
Com o susto acabei pulando para trás, perto de onde Lifa estava sentada e – para minha “sorte” – acabei espetando o bumbum com a agulha que estava na mão de Lifa – que havia deixado a mão estendida no ar com a surpresa.
Quando olhei de novo, o rapaz havia tapado os olhos com uma das mãos e estava completamente vermelho, como eu provavelmente devia estar.
– Lifa, quem é essa moça? – ele perguntou visivelmente constrangido.
– Neandro, desculpe… Essa é a… Beatriz! – Lifa sorriu tão sem jeito quanto ele.
Ela explicou toda a história até o ponto onde ela sabia. Expliquei um pouco mais e contei até onde eu sabia, isso tudo – claro – depois de sermos devidamente apresentados.
– Que história mais… Interessante. – Neandro parecia não saber exatamente o que pensar – Quer dizer que você vem deu outra dimensão?
– Parece que sim! – respondi.
– Nunca conheci um ser de outra dimensão. – ele pareceu envergonhado – Eu imaginava vocês de uma forma… Como posso dizer… Ahn… Diferente.
– Diferente como? – sorri curiosa.
– Diferente tipo… Meio verde, gosmento, careca, de olho grande…
– E inteligência superior? – completei quando vi que era a exata descrição de como imaginávamos os extraterrestres.
– Não! – ele respondeu espantado, para minha surpresa – Como algo verde e gosmento pode ter inteligência superior? Isso é uma ideia estapafúrdia!
Fiquei constrangida e achei melhor não revelar que na Terra essa ideia era bem “aceitável”.
Com toda a confusão que aconteceu no nosso “primeiro encontro”, quase não pude reparar em Neandro.
Era um rapaz muito bonito, de não mais que 23 anos, alto, com o cabelo preso em um rabo de cavalo. Não tinha o físico atlético, mas não aparentava ser esquelético. Ele parecia estar na medida. Seus olhos eram cativantes, serenos e verdes, como os do irmão – mas eles se pareciam apenas nisso.
As roupas que ele usava lembravam as roupas de um pirata. Usava uma camisa branca de manga comprida com um colete marrom por cima. Tinha uma fita vermelha amarrada na cintura e usava uma calça azul e botas pretas.
– Você irá para o castelo? – Lifa perguntou um pouco triste.
– Não! – ele não precisou pensar – Mande um soldado avisar que cheguei, como foi pedido. Se quiserem falar comigo, que venham aqui! Irei apenas se for necessário.
Notei na voz de Neandro a mesma rispidez e rancor que vi na voz de Alexis. Estranhei esse desprezo todos que ambos tinham uns pelos outros. Eles haviam brigado serio, era a única explicação.
Neandro contou sobre a viagem para Lifa, que parecia uma criança ouvindo aquelas velhas histórias de avô aventureiro ou veterano de guerra. Ele contava sobre as dificuldades que enfrentaram na ida até um reino chamado Koram, sobre a tripulação que temeu o pior quando um monstro marítimo atacou a embarcação deles e de como os Zoirianos o ajudaram a vencer-lo. Contou sobre alguns negócios lucrativos e sobre acordos feitos com os Koranos.
Era uma conversa muito estranha para mim, todos aqueles nomes… E que história era aquela de “monstro marítimo”? Estava começando a me sentir deslocada e novamente temia pelo meu futuro neste mundo. Mais do que nunca eu precisava voltar para Terra.
Não demorou muito até um guarda do castelo aparecer. E trazia com ele uma “visitinha”.
– Alexis! – fiquei surpresa quando abri a porta
– Olá! – ele estava exatamente com as mesmas expressões monstruosas da ultima vez que o tinha visto.
Tentei esquecer a ultima imagem que havia guardado dele e torcer para que ele voltasse a ser o Alexis implicante e egocêntrico de sempre – essa imagem era milhões de vezes melhor do que a imagem de monstro aterrorizante.
– Onde está Neandro? – ele estava serio.
– Está com Nifa, na cozinha. – disse sorridente, tentando mudar a expressão seria dele.
– Chame-o! – a sua expressão continuava seria. – Quanto antes resolvermos esse assunto… – Ele deixou o restante no ar.
– Alexis… – tentei novamente.
– Chame-o agora!
Engoli a seco aquelas palavras. Por mais simples que fossem, o modo como elas foram ditas doíam demais. Estava confusa, não era a dor da humilhação e descaso, era algo mais forte e mais doloroso que qualquer coisa que já havia sentido. Era uma dor que nunca desejaria para ninguém.
Segui para cozinha, mas acabou não sendo necessário, os gritos de Alexis provavelmente alertaram os dois de que ele já estava os esperando.
– Você não perdeu seu jeito arrogante! – Neandro parecia tão enojado quanto Alexis.
– Fica ainda mais ridículo com essas roupas de plebeu! – Alexis retrucou.
– Vejo que já me considera como um plebeu, acho que só estou me vestindo a caráter!
Os dois continuaram durante um bom tempo trocando insultos antes de alguma coisa realmente importante começar a ser dita.
– Poderia pedir para… Sua… Arg… Poderia pedir para sua… Para sua esposa se retirar por um momento? – Alexis parecia não gostar nada em pedir aquilo. Era como se a Lifa tivesse que se tocar sozinha.
– Não! – Neandro foi curto e grosso – Tudo o que você disser, eu irei contar a ela depois, melhor economizar tempo e palavras.
– Não, não! – Lifa se levantou – Eu saio!
– Você fica! – Neandro a segurou pelo braço.
– Não Neandro, deixe-me ir! – ela parecia muito constrangida.
– Não Lifa! – Neandro a fez sentar – Alexis tem que aprender que ele não é o dono do mundo. Eu como irmão, não tenho o dever de acatar nenhuma de suas ordens. Eu quero que você fique!
Os olhos de Alexis faiscaram de ódio e os de Neandro pareciam soltar raios e trovões. Arrisquei piorar ainda a situação, mas tive que defender a Lifa.
– Vocês irão falar sobre mim, certo? – Alexis consentiu – Eu também quero que ela fique!
Alexis lançou o seu olhar furioso para Neandro e depois para mim, o que me deixou um pouco sem jeito. Em seguida ele desamarrou a cara e ficou com as expressões serias novamente.
– Como já devem ter lhe explicado, Beatriz chegou ao nosso mundo através de uma caixa enfeitiçada. – Alexis agora estava apenas concentrado – Meu pai mandou que investigassem todo e qualquer vestígio para descobrir quem chamou Beatriz para Monterra e o melhor jeito de mandar-la de volta para seu mundo.
Olhei esperançosa para Alexis. As poucas palavras já eram reconfortantes – principalmente a parte do “melhor jeito de mandar-la de volta para seu mundo”. Isso parecia me deixar mais perto da Terra.
– Infelizmente não conseguimos descobrir quem a trouxe para Monterra – Alexis continuou – Mas sabemos que foi uma pessoa com grandes conhecimentos de magia, pois o selo estava muito bem escondido.
– Selo? Tipo… Selo postal? – perguntei.
Alexis olhou feio para mim e bufou, como sempre fazia quando estava perguntando algo que, para ele, era obvio. Neandro se dignou a responder.
– O selo que Alexis está se referindo é um selo de magos. Todo mago tem um selo próprio, algo que diferencie a magia dele com o de outros magos, assim como as digitais. Uma magia sem selo e como um humano sem digitais.
– Então como essa magia foi feita? – perguntei assustada.
– Alguns magos aprenderam a “camuflar” seu selo, para que ninguém o reconheça. Mas apenas magos do mais alto nível conseguem fazer esse tipo de magia.
– E vocês conhecem magos do mais alto nível? – perguntei.
– Os magos são sempre pessoas da família real, mais ninguém. – Neandro continuou – Então não seria difícil encontrar magos que poderiam ter te trazido para Monterra, se não fosse pelo fato de apenas uma pessoa ter chegado ao mais alto nível.
– Quem? – estava curiosa.
– Eline, a rainha de Nebro! – Alexis respondeu desta vez. Suas expressões eram tristes.
– Rainha de Nebro? – raciocinei – Então é a mãe de vocês? Como?
– Exato! – Alexis continuou explicando – Como? Essa é a pergunta. O selo era da minha mãe, mas como seria possível?
– Não podemos perguntar a ela? – sugeri inocentemente, mas não fui muito bem interpretada.
– Minha mãe morreu! – Alexis quase berrou – Ela… Morreu!
Só então me lembrei de não ter visto a rainha quando estive no castelo. Que mancada imperdoável a minha!
– De… De… Desculpe! – estava sem jeito.
– Já faz um mês, foi morta durante a 1ª batalha. – Neandro também estava triste.
– E se não fosse por causa da sua… Esposa, ela não teria sido morta por Leone! – Alexis quase cuspiu na cara de Lifa.
Lifa se levantou chorando e saiu da sala. Ela estava arrasada. Também não era para menos, depois de ouvir o que ela ouviu. Tentei imaginar o que deveria ter acontecido de verdade durante essa 1ª batalha. Neandro suspirou e fitou o nada. Parecia não querer tomar partido sobre esse assunto.
Um longo minuto de silêncio tomou conta da sala. Um longo e terrível minuto de silêncio. Fui obrigada a quebrar-lo, e isso era horrível – pelo menos naquele momento.
– E minha volta para o meu mundo dependia dela? – fiquei com medo da resposta.
– Sim! – Alexis começava a se recuperar – Sem o mago que fez a magia, não podemos desfazer.
– Mas vocês não tem algum feitiço que possa me mandar de volta? – perguntei perdendo as esperanças.
– Temos e podem ser executado por magos do nível médio. Se esse fosse o caso…
– Como assim “se esse fosse o caso”? existe algo que impeça que esse feitiço seja executado? – interrompi Alexis, que não gostou muito.
– Se esse fosse o caso… – Ele recomeçou – Poderíamos pedir para o rei de Zoira, que tem experiência em transportar pessoas, seu nível médio. Poderíamos também pedir para os reis de Padja, os dois tem nível médio alto, mas eles seriam difíceis de convencer.
– Então qual é o real problema? – comecei a me estressar.
– Teríamos que quebrar o feitiço que está em você! – Alexis me fitou serio.
– Como? – não entendi.
– Independente de quem tenha feito o feitiço, esse alguém sabia que você não tinha nenhum conhecimento em magia e junto com o feitiço que te trouxe para Monterra, essa pessoa também colocou uma mágica um tanto… Peculiar.
– Como assim? – continuava confusa.
– Essa pessoa lhe deu parte de sua magia. Toda a pessoa contem magia em seu corpo e os que estudam magia fazem o máximo para evoluir, subir de nível. – Alexis começava a enrolar demais para o meu gosto.
– E o que isso tem haver com esse feitiço? – estava ansiosa.
– Essa pessoa sabia muito bem que eu ou alguém da família real te encontraria. Sabia que você não seria condenada a morte e que a magia iria despertar assim que alguém tentasse lhe ensinar como usa-la. – ele continuava enrolando – Por isso houve aquela reação com o seu colar. Você já está com boa parte de sua magia evoluída, provavelmente já passou do nível básico…
– Aha! – ouvi Neandro exclamando – O mesmo nível que você maninho. – Ele sorriu – Acredita que ele demorou 10 anos para chegar ao nível do básico!
– E você ficou parado no nível médio, sendo que já poderia estar no nível medio alto! – Alexis não parecia mais tão enojado, mas ainda matinha a expressão seria no rosto.
– Você sabe que não me foi permitido continuar a aprender sobre magia! – Neandro me fazendo questionar o motivo.
– Tudo bem, vocês discutem isso depois! – interrompi a briga de família – Será que agora alguém pode me responder o que realmente aconteceu comigo.
– O importante é… – Alexis parecia finalmente ir direto ao assunto – A pessoa que te trouxe para Monterra sabia muito bem o que estava fazendo, e com esse segundo feitiço foi quase como se pedisse para alguém lhe ensinar magia.
Alexis olhou para Neandro que olhou para mim e depois novamente para Alexis.
– O que? – Neandro gritou – Você está querendo que eu ensine a Beatriz?
– Eu não poderei ficar o tempo todo neste cortiço. – Alexis se levantou – Alguém terá que ensinar magia a ela. E duro dizer isso, mas acredito que ela seja…
– O que? – Neandro interrompeu – Você também ficou desconfiado. – Alexis afirmou – Então ela pode mesmo ser a Mallory?
– Eu posso ser o que? – me assustei.
– Melhor não saber de nada agora. – Alexis caminhou até a porta – Irei conversar com meu pai sobre isso e sobre o Cristal de Damaris. Enquanto isso ensine o máximo que puder de magia, volto daqui a uma semana.
– Espere! – o segurei pelo braço. Preferi não olhar para seu rosto – O que é esse “Cristal de Damaris”?
Como de costume, ele bufou, fechou os olhou e balançou a cabeça negativamente.
– Explique a ela! – Alexis abriu a porta – Voltarei daqui a uma semana.
Assim que vi Alexis montando em seu cavalo e saindo rumo à estrada que levava a cidade, fechei a porta e fiquei fitando Neandro, esperando que apenas com minhas expressões ela já soubesse o que eu queria. UMA RESPOSTA. Funcionou.
– O cristal? – ele perguntou.
– Sim! – sentei ao lado dele. – O Cristal de Damaris e um dos artefatos mágicos mais antigos de Monterra.
– Artefato mágico? – perguntei a mim mesma, achando a palavra “curiosa”.
– É uma história um pouco longa. Quer mesmo ouvir?
Não disse nada, apenas o fitei com os olhos semicerrados e com expressões que já não necessitavam de maiores explicações.
– Essa história aconteceu na época do 1º rei de Koram, Esileu. Antes as pessoas de Monterra acreditavam que só existisse os reinos de Koram e Monaya. Acreditavam que o mundo de Monterra começava e acabava ali, até Esileu tomou a decisão de que iria descobrir se realmente não existia mais nada além daquele oceano. Ele ficou anos e anos tentando construir algo que o transportasse com segurança pelos oceanos. Assim surgiu o 1º navio de Monterra.
– Que incrível! – comecei a me interessar mais pela história.
– Esileu navegou até a ilha de Nebro, que era apenas uma floresta. Ao chegar ele se deparou com uma pequena tribo que vivia pela ilha. Não eram muitos, pouco mais de 50 pessoas. Ele conseguiu se comunicar com os nativos e acabou aprendendo sobre magia.
Neandro parecia estar pedindo para que eu pedisse para falar. Parecia estar cansado de contar aquela história. Mas eu provavelmente estava com um rosto pidão e ele continuou.
– Depois de ganhar a confiança dos nativos, Esileu ganhou a permissão de conhecer Damaris, a rainha deles. Foi amor a primeira vista. Esileu ficou tão encantado com Damaris, que passou anos e anos na ilha. Ele sempre tentava conquistar Damaris, mas não conseguia. Até o dia em que ele se cansou e sequestrou Damaris durante a noite, levando-a até Koram.
– E o que aconteceu?
– Quando Esileu voltou, encontrou muita coisa diferente. O seu lugar no trono havia sido ocupado por seu 1º ministro e sua mulher estava casada e com filhos. Irritado, Esileu contou varias mentiras ao povo. Disse que havia encontrado terras novas, mas que estavam invadidas por monstros e que ele havia sido morto e Damaris o havia ressuscitado. Esileu obrigou Damaris a mostrar seu poder e convenceu o povo a retirar o seu 1º ministro do trono.
– O que mais aconteceu? – a curiosidade era imensa.
– Esileu voltou ao trono e casou-se com Damaris. Tiveram dois filhos, Esiliana e Esileu II. Após o nascimento dos filhos, Esileu começou a recrutar soldados para invadir a ilha que havia encontrado. Durante os meses que esteve no trono, mandou construir vários navios e barcos e deixou Damaris sozinha, tomando conta do reino.
– E ele foi invadir a ilha?
– Sim, é a batizou de Nebro. Houve uma grande matança e a sede de poder tomou conta de Esileu que começou a procurar mais e mais reinos. Assim foram descobertos os reinos de Cecia, Padja, Zoira e Kaahfes, que hoje se tornou um grande deserto. Todos tiveram o mesmo fim da ilha de Nebro. Isso durou anos.
– E ele voltou?
– Um dia ele teria que voltar! Mas ele acreditava que Damaris era honesta demais para trair-lo como fizeram a sua antiga esposa e o seu 1º ministro.
– E quando ele voltou viu a mesma cena da outra vez? – presumi erroneamente.
– Não a mesma cena. Ele havia esquecido um detalhe: Damaris era uma maga. Ela conseguiu o amor e carinho do povo dando a eles tudo o que queriam, assim como fazia em sua antiga ilha e ensinou magia aos seus filhos. Ela tomou o poder e arquitetou um plano para assassinar Esileu, caso ele voltasse.
– E ela o matou?
– Ela induziu o povo a se voltar contra Esileu, assim que ele voltou. Ela conseguiu convencer o povo a querer a cabeça dele e como todos só obedeciam a ordens de Damaris, Esileu foi executado dias depois de seu retorno.
– E o que aconteceu com Damaris?
– Ela mandou os filhos para Zoira e Padja, para que governassem os reinos que herdaram do pai. Mandou para Cecia seu primeiro ministro e deixou em Monaya e Koram pessoas que ela acreditava ser boas de coração e que trariam um reinado de paz e prosperidade.
– E o cristal? – lembrei do motivo dessa longa história.
– Ele entra agora. Damaris voltou para sua ilha e governou durante anos e anos da melhor forma que pode, mas não poderia dar o melhor de si. Seu coração estava amargurado, cheio de arrependimento pela morte de Esileu. Damaris não suportou viver daquela forma e se suicidou, transformando-se em um cristal mágico. Esse cristal foi deixado ao povo de Nebro como presente. Sempre que precisassem, era só fazer um pedido que o cristal realizaria.
– Então esse cristal pode me ajudar a ir para casa? – perguntei empolgada.
– Sim, esse cristal pode, mas você terá que achar-lo primeiro.
– E onde ele está? – fiquei preocupada.
– Como disse, o cristal realizava qualquer desejo e as pessoas com o tempo se tornaram sujas e ambiciosas. – não estava gostando disso – Para evitar que o pior acontecesse, o cristal foi dividido em 6 partes e espalhados por Monterra, para que ninguém mais o encontrasse.
– Então… – achei que minhas chances estavam perdidas.
– Mas meus pais estavam estudando e pesquisando sobre onde os cristais poderiam estar e, acredito eu, que Alexis vai aproveitar o seu problema para pedir autorização para começar a procurar pelos cristais.
– E você acredita que ele permitirá? – perguntei.
– Honestamente, acredito que sim! Até por que tem a história da Mallory…
– Lá vem vocês de novo com essa história de Mallory! Afinal, o que é isso? – fiquei nervosa.
– Ainda não é o momento. – ele sabia como decepcionar – Ainda temos que ter certeza!
Nossa conversa foi interrompida bruscamente por um som de porcelana se quebrando. Só então lembramos… LIFA!