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Noite Adentro

Noite Adentro Cpt 2 | Uma conversa difícil 💔

NOITE ADENTRO
CAPÍTULO DOIS – Uma conversa difĂ­cil.

NoticiĂĄrio da TV- Adamastor Ferraz, de vinte e sete anos, adentrou uma loja de bijuterias que fica dentro do Conjunto Nacional – Avenida Paulista. Uma das vitimas do bandido foi Hilton Cruz – segundo ele, Adamastor jĂĄ estava planejando isso hĂĄ dias em um boteco pĂ© sujo de Osasco… Adamastor foi preso em flagrante e responderĂĄ por tentativa de homicĂ­dio… O rĂ©u estĂĄ na CDP de Guarulhos, aguardando ser transferido para outra unidade… “Adamastor nĂŁo era uma pessoa ruim, ele fez isso por impulso, sem pensar” – diz sua namorada, Carolina Silva, de vinte e quatro anos… Maria Fernanda Agostini, a menina feita de refĂ©m por Adamastor Ferraz, estĂĄ passando por sessĂ”es de terapia com os melhores psicĂłlogos de SĂŁo Paulo… Hilton Cruz, um dos refĂ©ns de Adamastor, o manĂ­aco da Paulista, nĂŁo conseguiu recuperar-se do trauma. Em decorrĂȘncia disto, ele cometeu suicĂ­dio no final deste ano, 2011… Abril de 2012, Adamastor Ferraz foi julgado e condenado a trĂȘs anos, quatro meses e cinco dias. O rĂ©u foi levado a jĂșri popular… A justiça estĂĄ sendo feita!

23/08/2013

CENAS DE SÃO PAULO SOB UMA INTENSA CHUVA

CENA UM. CASA DE DONA LUANA. INT. NOITE. SALA DE ESTAR.
FERNANDA FALA COM SEU IRMÃO PELO TELEFONE. DONA LUANA VÊ NOVELA.
Dona Luana- Xiu! Fale mais baixo, Fernanda! Mal posso ouvir o que o FĂ©lix estĂĄ dizendo
Fernanda- tĂĄ bem… TĂĄ bom… Estou curiosa! Volta?! Quando!? Ok, falo pra mamĂŁe… Tchau, te amo! (Desliga) O ZĂ© disse que…/
Dona Luana- A novela, pĂŽ!
Fernanda- Comercial, podemos conversar agora… O ZĂ© disse que tĂĄ morto de saudades!
Dona Luana- Novidade
Fernanda- E que ele terminou com aquela tal de Mary Wendice
Dona Luana- Terminou? Mas por que?! Ela era uma excelente moça
Fernanda- E que conheceu uma brasileira…/
Dona Luana- Esse verme chamado brasileiro!
Fernanda- Deixa eu falar, poxa!
Dona Luana- Fala antes que a novela volte!
Fernanda- Ele conheceu uma brasileira através de um site de relacionamentos! E ele quer vir ao Brasil pra conhece-la!
Dona Luana- Através de um site? Tipo, internet?
Fernanda- É na internet
Dona Luana- JĂĄ odiei essa garota! Brasileira que foi contatada por um site de sem-vergonhice! Tomara que nĂŁo seja uma rampeira! Que seja da nossa classe, pelo menos
Fernanda- Preconceituosa!
Dona Luana- Oh, a novela voltou – depois a gente discute!
Fernanda- E o ZĂ© disse que estĂĄ muito feliz e quer voltar a morar aqui no Brasil
Dona Luana- Vai largar um bom emprego em Portugal pra morar aqui? VocĂȘ e seu irmĂŁo bateram a cabeça quando crianças, sĂł isso explica!

CENAS DE OSASCO

CENA DOIS. CASA DE JUAREZ. INT. NOITE. SALA.
CAROL CONVERSA COM SEU PAI SOBRE ADAMASTOR NA MESA DA COZINHA.
Jana- Oh, a novela voltou!
Juarez- Abaixa esse som!
Jana- (vidrada) NĂŁo dĂĄ, hoje Ă© capĂ­tulo especial!
Carol- Deixa ela
Juarez- Essa novela vai derreter o cérebro dela
Jana- Xiu! Fala baixo! O FĂ©lix tĂĄ apanhando!
Juarez- VocĂȘ quer terminar tudo?
Carol- Quero sim… NĂŁo quero me prender ao Ada… E outra, eu conheci alguĂ©m
Juarez- Onde?
Carol- Internet – se chama JosĂ© Roberto, estuda em Portugal mas Ă© daqui. Ele quer vir pra cĂĄ pra me conhecer
Juarez- (hesitante) Sei nĂŁo, minha filha… Eu acho que nĂŁo Ă© uma boa essa de conhecer gente pela internet
Carol- Eu sei que existe seus riscos, mas eu quero viver de novo! Com o Ada, eu estava presa a uma rotina que o agradasse, entende? Bem antes dele estar encarcerado, eu jĂĄ me sentia uma prisioneira do tipo de mulher que ele idealizava e projetava em mim! Agora que ele estĂĄ realmente preso…/
Juarez- Entendo vocĂȘ querer separar, terminar com o Adamastor – nunca gostei dele e vocĂȘ sabe! Mas essa de conhecer gente estranha pela internet nĂŁo Ă© coisa boa!
Carol- VocĂȘ ainda acha que tenho doze anos, nĂ©? Mas eu e Jana crescemos e nĂłs jĂĄ sabemos nos defender! ZĂ© trabalha e estĂĄ terminando seus estudos em Portugal, e eu quero prestar vestibular de psicologia – quero mudar de vida! Quando que eu ia pensar em faculdade com o Adamastor? Jamais! Ele se contentava em apenas ter um bico ali e outro aqui, sĂł pra conseguir pagar as contas e viver precariamente. O ZĂ© me abriu a cabeça, papai! Ele me mostrou que sem estudos a gente nĂŁo avança na vida!
Juarez- Ele estuda o que?
Carol- Administração de empresas
Juarez- Umh… Um bom curso. Mas ainda quero conhece-lo! Quero me sentir seguro em relação ao homem que minha filha decidiu enamorar-se!
Carol- VocĂȘ vai conhece-lo, papai! Ele estĂĄ vendo uma data boa pra voltar pra cĂĄ – obviamente, visitar a famĂ­lia e me conhecer
Jana- Umh… Um conhecendo o outro!
Carol- (ri) Deixa de ser tonta, mulher! Quero beijar ele sim! Mas tambĂ©m conversar, aprender – ele Ă© uma pessoa muito culta!
Juarez- Assim me deixa um pouco menos apreensivo – mas sĂł um pouco!
Carol- Ele Ă© um amor!
Juarez- E quando vocĂȘ pretende terminar tudo? Esse domingo, na visita Ă­ntima?
Carol- Sim… Assim espero, nĂ©…

CENAS DE SÃO PAULO
IMAGENS DO SOL NASCENDO AOS POUCOS

CENA TRÊS. PENITENCIÁRIA DE SANTANA. INT. DIA. CELA.
ADAMASTOR CONVERSA COM AGENOR SANTIAGO SOBRE SUAS VIDAS. ELES DIVIDEM UMA MINÚSCULA CELA COM VÁRIOS OUTROS DETENTOS.
Adamastor- AmanhĂŁ! (Ansioso)
Agenor- (ansioso) AmanhĂŁ! Faz uns trĂȘs anos que nĂŁo vejo o meu filho e amanhĂŁ vou ver, abraçar e poder conversar tudo o que tenho que conversar… Meu menino!
Adamastor- AmanhĂŁ a minha princesa vem – quero muito dar um beijo nela! Abraçar ela! Saudades!
Agenor- SĂł tem ela que te visita?
Adamastor- Todos os meus parentes moram em Salvador – sĂł tenho um primo e uma tia avĂł que moram aqui no estado de SĂŁo Paulo. Bragança Paulista, conhece?
Agenor- Conheço sim – sou de lĂĄ!
Adamastor- Olha, que legal!
Agenor- Constitui famĂ­lia lĂĄ… Que saudades da represa! (Suspiro fundo)
Adamastor- Nunca estive lĂĄ… (Rememora) Na verdade, estive lĂĄ uma vez, num casamento
Agenor- Mantiqueira, regiĂŁo de ouro!
Adamastor- Quando eu sair daqui, vou comprar uma casinha na serra. Eu saindo pra trabalhar todo dia, Carol cuidando das crianças e da casa e no final do dia… Canguru perneta! (Riem) Vida perfeita, malandro!
Agenor- Eu sou mais humilde com o meu sonho – quero me reconciliar com o meu filho Adilson! Abraçar ele, conversar com ele e ouvir da boca dele que me desculpa por todas as minhas burradas!
Adamastor- VocĂȘ fez o que mesmo?
Agenor- Matei a minha esposa com um tiro (chora) Ele sabia que eu estava em abstinĂȘncia da droga!
Adamastor- Qual?
Agenor- Usei pedra, fumei erva, cheirei e injetei – eu estava realmente fora de mim! Fora de quem eu sou de verdade – um homem honesto, integro e que jamais faria mal a alguĂ©m!
Adamastor- Claro, seu filho vai ver o quanto vocĂȘ estĂĄ arrependido
Agenor- A Aninha, a minha norinha do coração, veio me visitar semana passada. Só ela sabe o quanto eu mudei! Só ela sabe como o sofrimento estå me iluminando, me transformando!
Adamastor- Essa Ă© a função do sofrer – provocar mudanças dentro da gente!
Agenor- Quero muito me reencontrar com o Adilson, meu menino!

CENAS DE SÃO PAULO

CENA QUATRO. SHOPPING PAULISTA. INT. DIA. PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO.
FERNANDA E ANA ALMOÇAM JUNTAS. ELAS DISCUTEM SUAS VIDAS.
Fernanda- Depois desse lanche, vou pegar um Milk Shake no Bob’s!
Ana- Eu nĂŁo tĂŽ no pique
Fernanda- Que foi, Ana? Foi alguma coisa que eu disse?
Ana- Claro que nĂŁo, o problema Ă© o Adilson – amanhĂŁ ele vai visitar o pai dele
Fernanda- Nossa! Ele deve estar uma pilha! Nervoso
Ana- Nervoso que sĂł ele! VocĂȘ tinha que ver ele respondendo o meu bom dia… Uma rispidez
Fernanda- Seu marido sempre foi meio pé na bota, né flor
Ana- TĂĄ bem mais grosso! Muito mais! Pra ele tĂĄ sendo difĂ­cil, sabe? Ele foi categĂłrico – “nĂŁo vou perdoar o meu pai jamais!”. Ele fica relembrando a mĂŁe… Terça passada ele foi visitar sua lĂĄpide, vĂȘ se pode!
Fernanda- Complicado!
Ana- Acho que o papo amanhĂŁ vai ser acalorado entre pai e filho!
Fernanda- E onde estĂĄ Adilson agora?
Ana- Futebol… Assim espero, nĂ©…

CENA CINCO. CEMITÉRIO CAMPO GRANDE. EXT. DIA.
ADILSON VISITA O TÚMULO DE SUA MÃE. ELE ESTÁ EXTREMAMENTE ABALADO.
Adilson- (seca as lĂĄgrimas) Oi mĂŁe, como vai? Comprei flores pra vocĂȘ – violetas, suas favoritas… Eu tambĂ©m estou com saudades, muita saudades! Mas eu sei que um dia a gente vai se rever! (Deita na lĂĄpide e chora) Te amo, mĂŁe!
Cigano Miro- (toca as costas de Adilson) Filho de luz?
Adilson- Que isso?!? (Assustado) Quem Ă© vocĂȘ?!
Cigano Miro- Sou Cigano Miro – sei do futuro e vim lhe alertar sobre ele!
Adilson- (seca as lågrimas e sai andando) Não tenho tempo pra charlatÔes!
Cigano Miro- Estava a chorar a morte de um parente?
Adilson- Um cachorro Ă© que nĂŁo era, nĂ©! Eu conheço esses seus truques – vocĂȘs falam uma ou outra coisa genĂ©rica e os trouxas acreditam. “Olhem, uma mensagem divina!” VocĂȘs e um biscoito da sorte chinĂȘs tĂȘm a mesma…/
Cigano Miro- Apesar do assassinato, sua mĂŁe descansa em paz, meu menino… (Sai andando)
Adilson- De onde?! De que lugar?! (Corre atrĂĄs do Cigano) Hey! Bruxo!
Cigano Miro- Miro, Cigano Miro!
Adilson- De onde vocĂȘ tirou essas previsĂ”es!
Cigano Miro- (aponta pro cĂ©u) Destino…
Adilson- Destino…? É… VocĂȘ pode falar mais?
Cigano Miro- É sobre isso que vim falar contigo – sobre seu futuro, Adilson…
Adilson- EntĂŁo fale! Tudo! AtĂ© os nĂșmeros da loteria!
Cigano Miro- É esperto, nĂŁo Ă© lĂ©pido! Estou aqui para falar sobre o seu pai!
Adilson- Aquele… (Segura o choro) O que?
Cigano Miro- Tome muito cuidado com a ovelha – na verdade Ă© uma raposa disfarçada! E as raposas foram feitas para matar as ovelhas mais dĂłceis! E quando vier a vida nova, aceite-a de todo o coração! Sem medo! Caso contrĂĄrio, a raposa rĂĄpida e lĂ©pida atacarĂĄ! (Sai andando e some)
Adilson- Vida nova? Como assim?! Cigano? Oh, bruxĂŁo? Cade?! Vida nova…? AtacarĂĄ quem? (Confuso)

CENAS DE LISBOA

CENA SEIS. APARTAMENTO DE ZÉ ROBERTO. INT. NOITE.
ZÉ ROBERTO CONVERSA COM CAROL VIA SKYPE. ELA DESABAFA COM ELE SOBRE ADAMASTOR.
ZĂ©- Oi amor, como foi hoje seu dia?
Carol- (Voz Over) Foi muito bem… Na verdade, mais ou menos…
ZĂ©- É sobre aquele Adamastor de novo?
Carol- (chora) Desculpa por te atormentar de novo com esse papo – sei que jĂĄ estĂĄ…/
ZĂ©- Pode falar a vontade! Sou todo ouvidos! O que te dĂĄ medo?
Carol- NĂŁo Ă© medo, Ă© que… Eu fico receosa em terminar tudo…
ZĂ©- VocĂȘ ainda gosta dele? Sem segredos!
Carol- NĂŁo, claro que nĂŁo! Eu te amo ZĂ©! Mais que tudo!
ZĂ©- E de onde vem esse medo? Medo de que?
Carol- NĂŁo Ă© medo, Ă© receio! Receio dele tentar alguma coisa, atentar contra a vida dele, sabe? Ele Ă© meio…
ZĂ©- Entendo. Mas se ele nĂŁo aceitar bem a separação, o problema Ă© dele, sim ou nĂŁo? Ele tem que ser maduro o suficiente pra conseguir digerir uma notĂ­cia dessas – vocĂȘ nĂŁo pode ficar refĂ©m mais uma vez dele – agora, refĂ©m de uma possĂ­vel reação! Compreende?
Carol- Entendo, claro
ZĂ©- Claro que vocĂȘ nĂŁo vai esculachar ele, nĂ©! Vai falar o que tiver que ser dito com muito respeito
Carol- Assim como manda a etiqueta!(Riem)
ZĂ©- Exato!
Carol- E quando vocĂȘ vem pra cĂĄ, me ver?
Zé- Vi uns sites de passagens aéreas, quem sabe pra Setembro?
Carol- Nossa, vou ter que esperar tudo isso?!
ZĂ©- (rindo) TambĂ©m estou ansioso, meu amor! Mas, aproveito que Setembro Ă© mĂȘs de aniversĂĄrio de minha mĂŁe
Carol- Sua mĂŁe Ă© de Libra ou de Virgem?
ZĂ©- (ri) Sei nĂŁo – nĂŁo sou ligado nessa coisa de signos, pra mim isso Ă© mentira!
Carol- Eu jĂĄ sou a louca dos signos! (Riem)Amo!
ZĂ©- TĂĄ mais calma?
Carol- Sim, tĂŽ sim… Te amo ZĂ©
ZĂ©- Te amo Carol!

CENAS DO SOL SE PONDO NA CAPITAL PAULISTA
UM HELICÓPTERO SOBREVOA A CIDADE

RepĂłrter- Uma massa de ar polar chega a SĂŁo Paulo derrubando as temperaturas…

CENA SETE. CASA DE ADILSON. INT. NOITE.
ANA FECHA AS JANELAS POIS ESTÁ FRIO. ADILSON ESTÁ SENTADO NA CAMA, PENSATIVO.
NotĂ­cia do RĂĄdio- … As temperaturas ficam entre dezenove e doze graus…
Ana- Vai esfriar mais?
Adilson- De madrugada, a temperatura sempre fica mais fria…
Ana- Que fome! Afim de pedir uma pizza!
Adilson- Um miojo pra mim tĂĄ de bom tamanho
Ana- Que foi? EstĂĄ praticamente estĂĄtico! Seu pai?
Adilson- AlĂ©m disso…
Ana- Além? Tipo o que?
Adilson- Se te contar vocĂȘ vai rir!
Ana- (o acaricia) Pode falar! Fala, amor!
Adilson- VocĂȘ acredita no destino? Sei lĂĄ – destino, Deus, deuses, algo maior que tudo!
Ana- No sentido mĂ­stico da palavra? Um pouco, talvez… Por que?
Adilson- Hoje eu tava no cemitĂ©rio do Campo Grande…/
Ana- Mentira! VocĂȘ… Meu Deus! VocĂȘ disse que ia pro futebol, Adilson!
Adilson- (firme) Eu sei o que eu disse! Me escuta! Eu estava lĂĄ, visitando a minha mĂŁe qua…/
Ana- Jå disse que isso estå virando doença! Tenta esquecer só por um instante!
Adilson- NĂŁo foi vocĂȘ que foi abusada pelo seu pai quando tinha dez anos! DEZ ANOS! Por que vocĂȘ acha que meus pais se separaram?! Hein!? EntĂŁo vocĂȘ imagina o motivo de… (Chora) VocĂȘ imagina o que eu sofri quando vi a minha mĂŁe no IML?! O quanto foi dolorido pra eu pagar o caixĂŁo dela!
Ana- Por que nunca me contou? (Com lĂĄgrimas nos olhos) Desculpas, meu amor! Eu… Eu nĂŁo…
Adilson- Tudo bem… AmanhĂŁ eu te conto, agora eu quero ficar sĂł… (Sai de cena)
Ana- (chora) Meu Deus!

CENAS DO DIA CLAREANDO-SE EM SÃO PAULO – AS NÚVENS DÃO À CIDADE TONS BRANCOS E TRISTES.

25/08/2013

CENA OITO. CASA DE JUAREZ. INT. DIA.
CAROL SE ARRUMA PARA VISITAR ADAMASTOR – ELA ESTÁ MUITO NERVOSA. JUAREZ A CONSOLA.
Carol- …Deus me ajude!
Juarez- Filha? EstĂĄ bem?
Carol- (segura o choro) VocĂȘ vai se sair bem, minha filha! E ele vai entender!
Carol- Vai sim, tenho certeza… E caso nĂŁo entenda, isso nĂŁo Ă© de minha responsabilidade…
Juarez- Claro que nĂŁo – ele que seja maduro o suficiente pra te compreender
Jana- Desculpas por atrapalhar esse momento tĂŁo lindo – fiz um bolo de banana que estĂĄ um verdadeiro pecado! Vem comer, mana!
Carol- Vou indo… (As duas saem de cena)
Juarez- Quero cabeça erguida! Que Deus nos ajude!

CENA NOVE. CASA DE ADILSON. INT. DIA.
ANA ACORDA PROCURANDO POR ADILSON. APENAS ENCONTRA UMA CARTA.
Ana- Adilson? Amor? (VĂȘ uma carta em cima da mesa de jantar. Começa a lĂȘ-la) Amor, desculpe por ontem – estava totalmente fora de mim…

… Estava nervoso com tudo o que tem acontecido com a minha vida nos Ășltimos tempos. Visitar minha mĂŁe no cemitĂ©rio Ă© como se fosse fumar um cigarro para um fumante – nem que seja por uns minutos, me sinto completamente em paz comigo e com o meu passado. E nesses momentos de nirvana, qualquer palavra bate em nossa face como um tapa – e foi isso o que aconteceu. Um homem misterioso, que sabia meu nome e minha histĂłria, falou sobre meu pai – raposa em pele de cordeiro, um traĂ­ra, um Judas. Desculpe pelos borrĂ”es de lĂĄgrima, Ă© inevitĂĄvel quando falamos sobre quem amamos ou odiamos – amor e Ăłdio, seis e meia dĂșzia. Quando voltar da visita te conto o resto, estou indo pra Santana encarar o maior Ăłdio de minha vida…
Do seu eterno amor, Adilson

CENA DEZ. PENITENCIÁRIA DE SANTANA. INT/EXT. DIA.
OS PRESOS ESTÃO RECEBENDO VISITAS DE SEUS PARENTES. EM SUA MAIORIA, TODOS SE REUNEM NO PÁTIO CENTRAL EXTERNO E OUTRAS PESSOAS DENTRO DAS CELAS – CAROL CONVERSA COM ADAMASTOR NO PÁTIO CENTRAL.
Carol- (abraçada a Adamastor) Eu queria muito vir… (Os dois sentam em um banco)
Adamastor- VocĂȘ nĂŁo sabe o quanto eu tava com saudades, meu amor!
Carol- (nervosa) EntĂŁo, precisamos con…/
Adamastor- Essa semana eu recebi uma carta! De mainha, lĂĄ de Salvador! Que saudades!
Carol- Que bom, Ada! Fico feliz em saber que…/
Adamastor- Ela disse que estĂĄ morta de saudades e que quer te conhecer! Assim que eu sair, nĂłs vamos pra BahĂ­a!
Carol- É sobre isso que eu quero falar
Adamastor- Sobre? BahĂ­a?
Carol- Sobre nĂłs!
Adamastor- Como assim? NĂłs, eu e vocĂȘ…/
Carol- (suspira) NĂŁo tem mais nĂłs! Estou terminando com vocĂȘ, Ada!
(Silencio sepulcral)
Adamastor- (incrĂ©dulo) Como? Como assim? Isso Ă© palhaçada, brincadeira, piada! (Se levanta, nervoso) VocĂȘ nĂŁo pode terminar comigo!
Carol- (mais nervosa ainda) Olha tudo o que vocĂȘ fez, Adamastor! Olha o buraco que vocĂȘ me enviou!
Adamastor- Eu também estou enfiado nesse buraco!
Carol- Por que quis! Por que procurou! Por que foi burro! Ao invĂ©s de ir procurar um trabalho sĂ©rio, vocĂȘ foi roubar!
Adamastor- Foi tentativa!
Carol- (nervosa) Foda-se! Pelo amor de Deus! Olha pra vocĂȘ! Olha essa merda de lugar!
Adamastor- Que tem? Tem preconceito agora? NĂŁo curte um preto? Na cama vocĂȘ geme igual uma puta! (Leva um tapĂŁo)
Carol- (tensa) NĂŁo sou preconceituosa! Nunca fui e vocĂȘ sabe! Eu falo pra vocĂȘ olhar pra si mesmo, pra sua vida! Qual sua expectativa? O que vocĂȘ espera dela? Ir no bar e tomar o gorote mais caro? Realização? Foder com a puta mais gostosa da esquina? Sucesso? Isso pra vocĂȘ Ă© perspectiva de vida? Trabalhar somente o necessĂĄrio pra poder pagar as tuas contas e viver mal e porcamente?!
Adamastor- Eu sou pobre e faço de tudo pra lutar na vida!
Carol- Eu sei o quanto vocĂȘ faz. Faz nada! É ajudante de pedreiro – nada contra os pedreiros -, mas ao invĂ©s de se aperfeiçoar, vocĂȘ faz questĂŁo de chorar misĂ©ria!
Adamastor- Isso nĂŁo Ă© verdade! Quem foi que te deu essas idĂ©ias tortas? Hein? Por que tambĂ©m era muito cĂŽmoda a sua vida – a gente trepava atĂ© de madrugada, vocĂȘ acordava a qualquer hora e trabalhava meio perĂ­odo naquela vendinha. O que aconteceu com vocĂȘ? Alias, quem Ă© vocĂȘ pra apontar o dedo e me julgar? Mudou da ĂĄgua pro vinho?
Carol- Sim! O normal da vida Ă© nĂłs mudarmos de idĂ©ias e opiniĂ”es – e graças a Deus fiz isso! De fato eu era dessas – mas percebi que a vida tem um mundo pra me oferecer! Percebi que sem estudar, faculdade…/
Adamastor- Olha, que menina prendada – faculdade nĂŁo Ă© pra qualquer um
Carol- Mudei de opiniĂŁo e perspectiva!
Adamastor- Até tå falando bonito!
Carol- VocĂȘ nĂŁo sabe levar a conversa, Adamastor! Com vocĂȘ, sĂł no baixo nĂ­vel… É por isso que tudo acabou! (DĂĄ um soco em Adamastor) Tchau! (Sai de cena esbravejando)
Adamastor- Vagabunda! Vai ter volta!

CENA ONZE. PENITENCIÁRIA DE SANTANA. INT. DIA.
ADILSON PROCURA PELA CELA DE SEU PAI. ELE ESTÁ NERVOSÍSSIMO.
Adilson- (coração acelerado) Carcereiro, vocĂȘ sabe onde estĂĄ a cela do Agenor Santiago?
Carcereiro- EstĂĄ ali…/ (Aponta, direcionando)
Agenor- (toca no ombro do filho) Deixa ele comigo!
Adilson- (segura o choro) Pai…
Agenor- (chora e abraça o filho) Que saudades, meu menino! Perdão por tudo!

Tome muito cuidado com a ovelha – na verdade, Ă© uma raposa disfarçada! E as raposas foram feitas para matar as ovelhas mais dĂłceis!

FIM DE CAPÍTULO

3 comentĂĄrios sobre “Noite Adentro Cpt 2 | Uma conversa difĂ­cil 💔

  • NĂŁo consegui comentar o primeiro capĂ­tulo, mas deixo aqui minha opiniĂŁo geral.
    Minha personagem favorita é a Dona Luana, gostei dela.. Acho que ela merece cada vez mais destaque. Carol me pareceu muito receosa em relação aos seus sentimentos. Adamastor mereceu a prisão, bem como o Agenor. Adílson também me pareceu muito legal e sofredor, mas gostei da história dele, que foi bem elaborada e merece ser mais explorada.
    Enfim, vou seguir acompanhando.

    • Muuuito obrigado pela atenção JoĂŁo!
      Grato pela critica e pode esperar mais de Dona Luana! A velha apronta!
      Se eu fosse vc, tomaria mto cuidado com Adilson, ele tĂŁo Ă© tudo isso oq vc estĂĄ pensando!
      Obrigado novamente e sucesso pra vc nesse 2017!
      đŸ”«đŸŒč😳📝

  • A todos os leitores e a toda a equipe do SĂ©ries de Webs, um feliz 2017! Mtas alegrias, felicidades, sucessos e mais leituras incriveis!
    Que esse ano seja beem mais leve!
    Att Pedro Montanaro 😉
    AtĂ© ano q vem đŸŒč

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