Noite Adentro Cpt 1 | Proposta de casamento 💍
NOITE ADENTRO
CAPÍTULO UM – Proposta de Casamento.
2010
CENAS DO SOL SE PONDO NA CAPITAL PAULISTA
CENAS DE UM CONGESTIONAMENTO GIGANTE NA AVENIDA PAULISTA – UM TIROTEIO TOMA CONTA DO CONJUNTO NACIONAL. ADAMASTOR FERRAZ FAZ UMA GAROTINHA DE REFÉM. A IMPRENSA, A POLÍCIA E CURIOSOS CERCAM O LOCAL.
Repórter- Um bandido fortemente armado furtou um carro e fez de refém uma menina de dez anos. Segundo testemunhas, ele quer uma quantia de cem mil reais. De acordo com a polícia, ele tem ligação com o PCC…
CENA UM. CONJUNTO NACIONAL. INT. NOITE.
DO LADO DE FORA DE TUDO, CHEGA CAROL, NAMORADA DE ADAMASTOR. ELA ESTÁ TOTALMENTE DESESPERADA COM TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO.
Carol- Adamastor! (Desesperada)
Juarez- Calma, filha!
Carol- Eu disse pra ele não se meter em confusão! Eu falei! Policial? Policial?!
Policial Antunes- Sim?
Carol- Eu sou namorada do rapaz, do Adamastor… Ele não é mal!
Policial Antunes-(irônico) Não, não é não – só está deixando uma garotinha traumatizada! Se esse povo ficar sabendo que você é namorada desse bandido, eles vão te linchar!
Carol- Ele não é bandido!
Policial Antunes- Sai daqui! Agora! Pela sua vida!
Carol- Mas eu amo o Adamastor!
Juarez- Vem filha… Vem comigo… (Ouvem três tiros)
Policial Antunes- Matamos o meliante! Vagabundo!
Carol- ADAMASTOR! (Cena escurece)
…HORAS ANTES…
CENAS DO SOL NASCENDO
IMAGENS DE OSASCO
Carol-(Voz Over) Eu te amo! Te amo muito! Quero passar a vida inteira contigo!
CENA DOIS. CASA DE ADAMASTOR. INT. DIA. QUARTO DE ADAMASTOR.
CAROL E ADAMASTOR ESTÃO DEITADOS EM UMA CAMA – O CASAL ACABOU DE ACORDAR. ELA ACARICIA OS CABELOS DELE COM DELICADEZA.
Adamastor- (apaixonado) Eu também te amo muito!
Carol- E quando será?
Adamastor- Será o que?
Carol- Nosso casamento, amor! Quando a gente vai se casar! (Empolgadíssima)
Adamastor- Já te disse… Quando eu juntar uma grana
Carol- Há quantos anos você diz que precisa juntar uma grana e nunca consegue!
Adamastor- O problema é que o salário é de miséria – não dá pra nada! (Se levanta)
Carol- E se eu vendesse aquele meu carro? (O segue, abraçando-o)
Adamastor- (irritado) Não, não quero! Eu sou o homem, eu tenho que juntar toda a grana!
Carol- Machista! Vou mexer com seu orgulho se eu pagar o nosso casamento?
Adamastor- Nada a ver, Carol! De onde você tirou isso?
Carol- Vou vender e pronto!
Adamastor- Não, você não vai!
Carol- Vou sim!
Adamastor- Não vai! (A empurra)
Carol- Calma, seu bruto! Tá bom, eu não vou… (O abraça novamente) Só quero viver feliz pra sempre com você!
Adamastor- Fica fria, eu arranjo o dinheiro…
Carol- (se beijam) Vou tomar um banho e vou correndo pra casa… Te amo! Amo muito!
Adamastor- Também!
CENAS DE OSASCO
CENA TRÊS. CASA DE JUAREZ. INT. DIA. COZINHA.
JUAREZ ESTÁ PREPARANDO O ALMOÇO PARA JANAÍNA E CAROL, SUAS FILHAS. JANAÍNA ESTÁ JOGANDO EM SEU COMPUTADOR.
Noticiário da Rádio- …Na noite de ontem, um idoso de setenta e três anos fez durante três horas e meia sua esposa, Vitória Maria, de refém e depois a assassinou com um tiro na cabeça. Agenor Santiago será encaminhado para a CDP de Santana. Ele será indiciado por homicídio doloso e por…/
Jana- (se levanta) Que notícia ruim! (Troca de rádio) Só no pagodinho! Agora sim!
Juarez- (irritado) Bota de novo nas notícias, Jana!
Jana- Pra que? Só tem desgraça, morte, sangue… Jorra sangue desses noticiários!
Juarez- Eu gosto!
Jana- E por isso que o senhor é tão pra baixo!
Juarez- É por isso que você não sabe de nada, nunca!
Carol-(entra em cena) Bom dia, família!
Jana- Bom dia! (Se abraçam)
Juarez- Foi dormir na casa do desocupado?
Carol- Ele não é desocupado, papai! Ele só não está trabalhando por enquanto
Juarez- Incrível como nunca arranjou trabalho – o Brasil tá crescendo, tão precisando de pedreiro a cada esquina! Como que não arranja trabalho?! (Irrita-se)
Carol- Não sei, papai… Alias, trabalho ele tem – falta a remuneração certa!
Juarez- Falta um homem de verdade! Remuneração certa… Sempre ganhei pouco e consegui sustentar você e a sua irmã – ele não sabe lidar com a grana! Gasta com gorote barato!
Carol- Nada a ver! (Brava)
Juarez- Tudo a ver! Eu não nasci ontem, sabia?
Carol- Então o senhor deveria saber muito bem que as coisas estão caríssimas!
Juarez- Não quero mais ter essa conversa! Que saco!
Carol- Também não! Jana, vem comigo até o quarto, tenho que te contar uma coisa… (Sai de cena)
Jana- Já vou… Não tira da rádio, papi soberano! (Sai de cena)
Juarez- Você cria com amor, carinho e dá nisso – tiram da sua rádio e te desrespeitam! Papi soberano… Humpf!
CORTE DE CENA RÁPIDO
CENA QUATRO. CASA DE JUAREZ. INT. DIA. QUARTO DE JANA E CAROL.
AS IRMÃS CONVERSAM SOBRE O CASAMENTO. JANA TRANÇA OS CABELOS DA IRMÃ QUE DESABAFA.
Jana- Vender o carro?! Mas você ganhou naquele sorteio do shopping, lembra? A cada trezentos reais em compras você ganha um cupom…
Carol- Lembro sim, o carro está semi-novo, ainda vale uma boa grana! Dá pra pagar o casamento – vai ser um casamento simples mas vai ser o meu casamento!
Jana- Super acho legal! Usa sim seu dinheiro!
Carol- Eis a questão, o Ada não quer que eu venda o carro! Orgulho masculino, sabe?
Jana- Ah, sei…
Carol- Ele quer juntar a grana e ele fazer o casamento!
Jana- Isso complica – o que o papai disse não é mentira! Ele nunca está com grana, ou trabalho… Ou seja lá o que for!
Carol- Eu vou tentar vender o carro, tudo às escondidas – daí, ter dinheiro suficiente pra pagar o casamento!
Jana- E o orgulho tal masculino?
Carol- Eu me entendo com o Ada, fica fria!
CENA CINCO. BAR DO BETO. INT. DIA. AMERICAN BAR.
ADAMASTOR CONVERSA COM PAULÃO, SEU AMIGO, SOBRE O CASAMENTO. OS DOIS ESTÃO DE PÉ, TOMANDO UMAS OU OUTRAS.
Paulão- Vender o carro? Aquele que ela ganhou naquele sorteio do shopping?
Adamastor- É! Acredita!? Q
Paulão- Você deve ter ficado com o orgulho ferido!
Adamastor- Não sou esse tipo de homem…
Garçom- Mais um gorote?
Adamastor- Por favor! O mais barato, hein!
Paulão- E como você pretende ter grana se nem pro gorote você tem…
Adamastor- Roubar um anel
Paulão- O que?!? Roubar! (Assusta-se)
Adamastor- Fala baixo, caramba!
Paulão- (sussurros) Roubar? Como assim?
Adamastor- Tenho tudo no esquema – eu tenho uma arminha de brinquedo, entro na loja, faço uma ricaça de refém, eles me dão o anel mais caro e fujo! Não é brilhante?!
Paulão- (ri) Trocadilho mais besta! Besta igual a sua idéia! Cara, isso nunca vai dar certo! Ninguém vai te respeitar com uma arminha d’água! Você precisa de uma arma de verdade!
Adamastor- Não quero matar ninguém, cara! Só quero um anel caro, casamento e lua de mel em Ubatuba!
Paulão- Vem comigo que é sucesso! Amigo, pode cancelar o gorote… (Os dois saem de cena)
Hilton- (desconfiado) Garçom, quem são esses dois?
CENA SEIS. CASA DE JUAREZ. EXT. DIA. QUINTAL DE TERRA BATIDA.
UM POSSÍVEL COMPRADOR ANALISA O CARRO DE CAROL.
Carol- E aí?
Denis- De que ano é mesmo? (Com desdém)
Carol- De 2008, ou 2009… Não me recordo
Denis- Quilometragem boa, bom uso… Boa pintura… Tudo certo… Manutenção também está boa. (Maneia a cabeça prum lado, pro outro) Uns vinte mil
Jana- (brava) Vinte?! Que?! Você acha que estamos vendendo um carrinho de rolimã?
Denis- Veja bem a minha posição…/
Carol- Janaína, deixa comigo. Seu Denis, esse carro tem uma quilometragem baixa, está inteiro, só dois anos de uso e outra, ele vale uns setenta mil. O justo era você me dar uns cinquenta
Jana- Ou mais!
Denis- Por ter dois anos de uso, está muito… Muito usado… Entende?
Carol- (desanima) Desculpas, sem negócio
Denis- Trinta e cinco
Carol- Quarenta e cinco, fazendo barato!
Denis- Não… (Com desprezo)
Carol- Então muito grata, sem preço justo não tem negócio! (Irritada)
Denis- (entrega um cartão) Meu cartão, caso queiram fazer negócio ou falar sobre o carro
Jana- Não vamos perder nosso tempo!
Carol- Cala a boca, Jana! Muito grata, tenha uma boa tarde…
Denis- (ri) Espero sua ligação… (Sai de cena)
Carol- Pretensioso!
Jana- Se eu pudesse, dava uns bons tapas naquela cara
Carol- E da próxima, Janaína Silva, não se intrometa em coisa que não é da sua ossada!
Jana- Uia! Desculpas, senhora!
Juarez- (entra em cena) Conseguiu fazer negócio? Pelo jeito não (Ironiza) Seu namorado é tão bom que nem isso consegue fazer – tem que delegar pra namorada!
Carol- Não enche, papai!
Juarez- Já disse, consegui sustentar vocês duas só com um emprego e muito suor! Por que seu namorado não conse…/
Carol- (desabafa) Já que você é tão bom, me explica por que nunca voltamos pro nosso apartamento da Paulista? Se fosse bom mesmo, não estaríamos nesse fim de mundo de Osasco desde a morte da mamãe!
Juarez- Pois é… (Desanimado, vai para seu quarto)
Jana- Carolina!
Carol- (arrependida) Nossa! Eu não queria… Saiu, sabe? Na hora da raiva…
Jana- Até nessas horas temos que pensar…
Carol- Papai… (Vai até o quarto do pai)
CENA SETE. CONTINUAÇÃO DE CENA. QUARTO DE JUAREZ. INT. DIA.
CAROL CONSOLA SEU PAI. JUAREZ ESTÁ SENTADO EM SUA CAMA, OLHANDO PRA JANELA.
Carol- Papai? Pai? Desculpa pelo o que eu disse…
Juarez- Desculpas eu pela minha implicância com o Adamastor – ciúmes de pai, sabe?
Carol- (abraça o pai e senta-se ao seu lado) Sei… Sei sim!
Juarez- Meu sonho era voltar pra Paulista, pôr vocês duas nos melhores colégios
Carol- Agora faculdade – crescemos, lembra?
Juarez- Esqueci… Mas a vida tem dessas, né? Ou eu pagava o tratamento da sua mãe, ou…
Carol- Não precisa se explicar, papai! Eu sei que tudo o que o senhor fez foi pensando no nosso melhor! Entendo que o senhor sempre está querendo nos preservar da vida, das coisas ruins… Mas não tem como! Me promete uma coisa? Que vai parar de implicar com o Ada?
Juarez- Se você prometer que vai se cuidar! Tomar cuidado com a vida e…/
Carol- Se você me prometer primeiro, eu prometo!
Juarez- Prometo!
Carol- Prometo! (Se abraçam) Você vai ver, papai – o Ada é um cara legal!
CENA OITO. CASA DE PAULÃO. INT. DIA. GARAGEM.
ADAMASTOR TESTA UM REVÓLVER ANTIGO DE PAULÃO.
Adamastor- (finge que atira) Mas eu não vou atirar em ninguém!
Paulão- Não seja burro, cara! É sempre bom ter uma munição ou outra! Caso queiram entrar em conflito, fogo cruzado! (Faz uma arma com a mão e finge atirar nas janelas)
Adamastor- Tira pra mim a munição – não vou precisar
Paulão- Tá bom… (Pega a arma) Cara chato! (Tira a munição do revólver) Não ponha a culpa em mim caso algo aconteça! (Devolve com rispidez)
Adamastor- Só vou roubar e dar o fora! Só isso! Vai ser fácil, fácil! Um pedaço de bolo!
Paulão- E a fuga?
Adamastor- Fuga?
Paulão- Vai roubar uma jóia e espera fugir como? De metrô? Linha verde ou amarela?
Adamastor- Eu tenho algo em mente
Paulão- O que?
Adamastor- O carro da Carol – vou pegar e ela nem vai saber! Vai ser vapt, vupt! Rápidíssimo! Ela nem vai perceber… Tenho esse anel no papo, já até sei qual loja roubar!
…Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…
CENAS DE SÃO PAULO
CENA NOVE. CEMITÉRIO CAMPO GRANDE. EXT. DIA.
ACONTECE O ENTERRO DE DONA VITÓRIA MARIA, ASSASSINADA PELO MARIDO VICIADO, AGENOR SANTIAGO. ADILSON, SEU FILHO, ESTÁ DESCONSOLADO. VÁRIOS AMIGOS DA FAMÍLIA E PARENTES ESTÃO PRESTANDO SOLIDARIEDADE.
Fernanda- (a abraça) Oi Ana, como vai o Adilson?
Ana- Vai mal, muito mal – ele sempre alertou que o pai dele não batia da cabeça
Fernanda- Não tenho cara pra falar algo pra ele, dar meus pêsames
Ana- Amiga, fica calma, só de você estar aqui já é um grande apoio!
Fernanda- E onde está seu sogro…o Santiago…
Ana- O Seu Agenor Santiago está na delegacia de Santana, em uma cela à parte… Até onde sei é isso, o Adilson sabe mais
Fernanda- Quem diria?
Ana- Ele me alertava constantemente sobre o pai sempre violento – piorou quando se tornou usuário de drogas. Sempre me ameaçando, ameaçando se matar, ameaçando Dona Vitória… Até que você sabe, né
Fernanda- E de onde ele tirou aquela arma?
Ana- Ele era militar reformado, tinha uma arma em casa
Adilson- Oi, Fernanda… (Se abraçam)
Fernanda- Meus pêsames, Adilson. Nem sei o que dizer
Adilson- Aconteceu, não tem muito o que fazer. Agora quero meu pai atrás das grades, sofrendo muito!
Ana- Sem vingança
Adilson- A punição daquele pobre diabo vai ser a melhor das vinganças. Como se não bastasse se viciar, tinha que levar minha mãe? É bom eu não pensar muito nisso – é capaz de eu… (Segura o choro raivoso)
Ana- Calma, amor!
Fernanda- Eu conheço um médico excelente. Se quiserem seu telefone?
Adilson- Não tem médico, Pai de Santo, Padre, nada que cure a demência daquele velho! Ele sempre foi louco! Sempre foi doente! Lembro quando minha mãe se separou dele – quase pulou do prédio
Ana- Calma, Adilson!
Adilson- Quero mesmo que aquele velho morra! Entende? Arda no fogo do inferno!
Fernanda- É difícil
Adilson- Licença, tem uns parentes ali… (Sai de cena)
Ana- Meu Deus! (Nervosa)
Fernanda- Eu tenho o telefone de um psicólogo muito bom – cuida de casos pós-traumáticos
Ana- Me passa o telefone dele. Vamos precisar! E como vai sua mãe? Seu irmão?
Fernanda- Vão bem, na medida do possível. Minha mãe não queria vir, está muito abalada
Ana- Dona Vitória e ela eram muito amigas…
Fernanda- Zé Roberto está em Lisboa, terminando um curso de administração, algo assim…
Adilson- (falando ao celular) Ok… Tô indo… (Desliga o celular) Maldito!
Ana- Que foi?
Adilson- Meu pai está em crise de abstinência, foi transferido pra uma clinica de reabilitação às pressas. Quando se recuperar, volta pra prisão…
Ana- Meu Deus! E quanto tempo leva isso?
Adilson- Não sei, vou agora no consultório do médico responsável, verificar o que será feito. Por mim, injetava veneno de rato nas suas veias
CENA DEZ. CLÍNICA SÃO VICENTE. INT. DIA. CONSULTÓRIO.
ADILSON E ANA CONVERSAM COM O MÉDICO RESPONSÁVEL DO CASO DE AGENOR SANTIAGO. TODOS ESTÃO PREOCUPADOS.
Adilson- E ele? (Mexendo suas mãos incessantemente)
Dr. Augusto- Ele está bem, está sendo medicado e tudo está sendo controlado – acho que em oito ou nove meses ele vai cumprir a pena na prisão. Por enquanto, temos que desintoxica-lo das drogas que ele usava. E tem um porém, fazer tudo isso com muita cautela – ele é um idoso
Adilson- Olha, por mim eu colocava veneno de rato na comida dele! Matava esse desgraçado!
Ana- Calma, amor
Dr. Augusto- Calma, não adianta termos pressa, raiva nem sermos passionais nesses momentos! O que precisamos fazer é recupera-lo, traze-lo de volta ao seu bom estado de saúde e puni-lo! E outra, todo mundo erra, todo mundo peca e todo mundo tem direito de uma segunda chance
Adilson- Menos o meu pai – o que ele fez é completamente imperdoável! Matou minha mãe, se utilizou de drogas…/
Dr. Augusto- Você vai ter essa opinião por hora, mas sei que vai mudar com o tempo. E se não mudar, o amor mudará! Assim como vai mudar seu pai!
Adilson- (riso seco) Tudo muito lindo, tudo muito maravilhoso – falar sobre o poder do amor! É lindo mesmo, Doutor! Mas o senhor não sabe quem de fato é o meu pai e do que ele é capaz! Eu sei! Sofri em suas mãos! Essa minha revolta não é gratuita – são anos e mais anos aguentando aquele velho! Se o senhor soubesse… Não dá pra esquecer
Dr. Augusto- Sei disso, sei que não dá pra esquecer! E ele vai também ficar remoendo esse passado, vai se arrepender, vai tentar se concertar – eu acredito muito no Ser Humano, no seu poder de restituir-se, remendar-se e de se reinventar! Seu pai errou, mas sei que ele vai se tornar uma pessoa melhor – sogro melhor, cidadão melhor, pai melhor… É só questão de tempo!
Adilson- Queria ser esperançoso como o senhor, Doutor!
CENAS DA VILA MARIANA
CENA ONZE. CASA DE DONA LUANA. INT. DIA. SALA DE ESTAR.
FERNANDA, SUA FILHA, CHEGA EM CASA. AO CHEGAR, CONSOLA SUA MÃE. DONA LUANA ESTÁ SENTADA NO SOFÁ.
Fernanda- Oi mãe… Está melhor?
Dona Luana- O que você acha? (Rezando um Rosário)
Fernanda- Não sei – espero que sim. Temos que seguir em frente! Que calor – hoje chove!
Dona Luana- A Dona Vitória era uma das minhas melhores amigas… Não merecia esse fim! (Seca uma ou outra lágrima)
Fernanda- O pai do Adilson…/
Dona Luana- Aquele assassino!
Fernanda- Aquele assassino está sendo punido na forma da lei – o que devemos fazer é rezar para que ela se cumpra do início ao fim!
Dona Luana- Tomara! Deus te ouça, minha filha! Que Maria conforte o coração dos degredados do paraíso!
Fernanda- E o Zé? Mandou notícias? Ligou?
Dona Luana- Não, se eu não ligo, não nos falamos por mais de três dias!
Fernanda- Exagerada! Só três dias…
Dona Luana- O dia que você for mãe, vai me entender… O dia que você tiver filhos vai ser um milagre, até onde sei lésbicas não reproduzem
Fernanda- Mais respeito, Dona Luana! Estávamos falando sobre o Zé
Dona Luana- (direta) O Zé está bem, está de namoricos com uma Inglesa… Margot Mary…
Fernanda- E a senhora contou sobre Dona Vitória? Quer café?
Dona Luana- Acabei de passar… Se quiser, só esquentar… Dona Vitória? Contei só por alto – ele já sabia algumas coisas. Viu na Internet… No FaceAlgo…
Fernanda- Facebook, mamãe! (Leva café pras duas) Café quente
Dona Luana- (prova) Sem açúcar? Quero açúcar!
Fernanda- A senhora sabe da sua diabetes! Sem nada! Café puro!
Dona Luana- Tomara que dê certo esse namoro. Cai por terra a previsão que a Dona Gertrude fez no começo do ano – de que o Zé iria se relacionar com uma garota pobre daqui. Imagine se meu filho vai se misturar com a ralé
Fernanda- Nunca se sabe, né
Dona Luana- Criei bem o meu caçula – você já se desviou, não tem o que fazer
Fernanda- Respeito!
Dona Luana- Mas Zé Roberto há de se relacionar com a pessoa certa! Essa Inglesinha, por exemplo… Mary, mãe de Jesus!
CENA DOZE. CASA DE JUAREZ. INT. DIA. SALA DE ESTAR.
JUAREZ QUESTIONA CAROL SOBRE O CARRO. ELES ESTÃO VENDO TV.
Juarez- Carol? Filha? Onde está o carro?
Carol- O que, papai? (Distraída)
Juarez- O carro, onde está?
Carol- O Ada pegou emprestado – foi fazer não sei o que no centro de São Paulo
Juarez- Já sabe…
Carol- Por que essa cara? Hein? Quer ter aquela conversa de novo?
Juarez- Não, não quero. Se você emprestou o carro, então sabe o que faz…e arca com as próprias consequências… (Sai de cena)
Carol- (irritada) Ah, papai, me deixa em paz, vai!
IMAGENS DA AVENIDA PAULISTA
CENA TREZE. AVENIDA PAULISTA. EXT. DIA. CARRO DE CAROL.
ADAMASTOR E PAULÃO PLANEJAM O FURTO. ADAMASTOR ESTÁ NERVOSO.
Adamastor- …é só isso mesmo?
Paulão- Sim! Vai, entra, mostra a arma pra dona da loja, manda ela…/
Adamastor- Já entendi, já entendi! Vou fazer de tudo pra ser rápido – quando eu chegar já sabe
Paulão- Pé na tábua! Agora vai logo, seu bunda! (Adamastor sai e caminha até uma joalheria/muito nervoso)
Paulão- Só não seja burro, cara!
CENA QUATORZE. CONJUNTO NACIONAL. INT. ENTARDECER. LOJA BRILHANTE.
NERVOSO, ADAMASTOR ADENTRA A LOJA E FAZ ALGUMAS PESSOAS DE REFÉNS.
Hilton- Olá, em que posso… (Observa Adamastor) Nossa, já te vi antes, queredo? Nos barezinhos da vyda?
Adamastor- Não, jamais! Quem é a responsável por essa loja?
Hilton- Dona Louise Cleopatra viajou, se quiser, fale com a minha persona!
Adamastor- (assustado, faz de refém uma criança) PARADOS! ISSO DAQUI É UM ASSALTO! QUERO A JÓIA MAIS CARA DESA LOJA! (Todos os clientes desesperados)
Hilton- (assustado) Acalmame-se, meu filho! ABAIXE ESSA ARMA! NÃO APONTE PRA NINGUÉM!
Adamastor- NÃO QUERO MATAR NINGUÉM, SÓ QUERO O ANEL MAIS CARO! (A arma dispara, destruindo a vitrine e assustando a todos – inclusive, Adamastor)
Hilton- Agora a porra ficou séria! Salve-se quem puder! Britney, Beyoncé e Madonna -help! (Se joga no chão)
CENA QUINZE. CASA DE JUAREZ. INT. ENTARDECER.
CAROL RECEBE UMA LIGAÇÃO DE PAULÃO – ADAMASTOR ESTÁ EM APUROS.
Noticiário do rádio- Um bandido fortemente armado furtou um carro e fez de refém uma menina de dez anos. Segundo testemunhas, ele quer uma quantia de cem mil reais. De acordo com a polícia, ele tem ligação com o PCC…
Jana- (no PC) Nossa, que horror! Onde isso?
Juarez- Se você deixasse eu ouvir a notícia, quem sabe eu saberia te dizer
Jana- Quem sabe eu saberia – muito que bem!
Noticiário do Rádio- …uma força tática está sendo levada até a Avenida Paulista, na altura do Conjunto Nacional…
Juarez- Qual o nome do meliante?!
Carol- Ai, papai, tira dessa rádio! (Telefone toca) Abaixa o som, por favor!
Jana- Logo mais a gente fica sabendo – notícia ruim é o que mais faz sucesso!
Carol- (ao telefone) …sei sim, conheço você! O que aconteceu com o Ada? (Desconsola-se) E o que mais?! Meu Deus!! Vou agora! Você tem o meu celular? Se mantenha alerta! (Desliga o telefone)
Jana- Nossa, que cara é essa?
Carol- O bandido fortemente armado é o Adamastor!
Todos- (incrédulos) O QUE?!
CENAS DE SÃO PAULO
CENA DEZESSEIS. CASA DE ADILSON E ANA. INT. ENTARDECER.
ANA ASSISTE AO NOTICIÁRIO LOCAL.
Noticiário da TV- Adamastor Ferraz, de vinte e sete anos, adentrou uma loja de bijuterias que fica dentro do Conjunto Nacional – Avenida Paulista. Uma das vitimas do bandido foi Hilton Cruz – segundo ele, Adamastor já estava planejando isso há dias em um boteco pé sujo de Osasco…
Ana- Que horror! Tem que matar um verme desses – e que Deus abençoe as vitimas!
Adilson- Vendo o que?
Ana- Cidade Alerta
Adilson- Jornal sensacionalista? Esse tipo de jornal deveria ser proibido!
Ana- Eu não acho! Acho necessário
Adilson- Só tem desgraça, morte, sangue… Jorra sangue desses noticiários!
Noticiário da TV- …agora, Adamastor faz uma garotinha indefesa de dez anos refém…
Adilson- Indefesa – eles sabem como ser imparciais! Bota em outra coisa, Ana! Séries, filmes, novelas… Qualquer outra coisa – o dia já foi cheio! Não pago TV por assinatura pra ver canais abertos! (Troca de canal incessantemente)
Ana- Dona Luana ligou, disse que está muito abalada com tudo e…/
Adilson- Por favor, não quero falar sobre esse assunto mais – pelo menos por hoje! Vamos ver série que é melhor!
Ana- Quem vai morrer hoje?
Adilson- Tomara que não seja um personagem que eu goste!
CENAS DO SOL SE PONDO NA CAPITAL PAULISTA
CENAS DE UM CONGESTIONAMENTO GIGANTE NA AVENIDA PAULISTA – UM TIROTEIO TOMA CONTA DO CONJUNTO NACIONAL. ADAMASTOR FERRAZ FAZ UMA GAROTINHA DE REFÉM. A IMPRENSA, A POLÍCIA E CURIOSOS CRECAM O LOCAL.
CENA DEZESSETE. CONJUNTO NACIONAL. INT. NOITE.
DO LADO DE FORA DE TUDO, CHEGA CAROL. ELA ESTÁ TOTALMENTE DESESPERADA COM TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO.
Carol- Adamastor! (Desesperada)
Juarez- Calma, filha!
Carol- Eu disse pra ele não se meter em confusão! Eu falei! Policial? Policial?!
Policial Antunes- Sim?
Carol- Eu sou namorada do rapaz, do Adamastor… Ele não é mal!
Policial Antunes-(irônico) Não, não é não – só está deixando uma garotinha traumatizada! Se esse povo ficar sabendo que você é namorada desse bandido, eles vão te linchar!
Carol- Ele não é bandido!
Policial Antunes- Sai daqui! Agora! Pela sua vida!
Carol- Mas eu amo o Adamastor!
Juarez- Vem filha… Vem comigo… (Ouvem três tiros)
Policial Antunes- Matamos o meliante! Vagabundo!
Carol- ADAMASTOR! MEU AMOR! (Juarez a abraça)
Juarez- Fica calma, minha filha… Calma…
Carol-(Voz Over) Eu te amo! Te amo muito! Quero passar a vida inteira contigo!
FIM DE CAPÍTULO