Batalha Espiritual – Capítulo 7
Desejo
Serena encontrou um poço no meio daquela mata, após três horas à procura de amparo. Usou-o para acabar com sua sede. Localizou uma casa vazia de madeira numa enorme árvore, subiu-a e refugiou-se nela, mesmo tendo plena certeza de que morava alguém ali.
Vasculhou cada centímetro do lugar. Conseguiu encontrar alimentos e assim, comeu. Fazia tempo que não vinha nada até sua boca que não fosse suor, lágrimas, poeira e sangue.
– Está saciada? – a jovem tomou um susto ao ouvir a voz e voltou-se para trás, para ver quem era.
– Perdoe-me! Eu estava com fome e… – sentiu-se intimidada, porque havia se deparado com um homem usando máscara de leão subindo as escadas na árvore.
– Sei o que aconteceu. Não precisa explicar-se. Afinal, fiz esta casa justamente por ti…
– Micael?! – reconheceu o olhar, a voz e o vestuário. Aproximou-se e ele retirou a máscara.
– Certamente… A hora chegará…
– A hora de que?
– Do sacrifício… Sou mortal, assim como tu.
– Mas… Momentos atrás…
– Sim, também estava na forma mortal. Do contrário, não poderias me ver… Tens conhecimento disto: O pecado afasta de mim. Mas, como agora sou homem como tu, é natural que me vejas.
– Se és mortal, por que ainda tens virtudes de Deus?
– Sou completamente homem e completamente Deus nesta ocasião. Uso minhas aptidões em momentos oportunos… Por exemplo, sarar as feridas de teu corpo, para mim, era oportuno.
A menina permanecia encabulada depois do que aconteceu. Não que estivesse com remorso de ter se arrependido, mas agora ela sabia que não era merecedora de tudo o que Micael fazia e faz por ela.
– Amada, por que não me ouviste acerca da ordem que te dei na masmorra? – ele chamou sua atenção, retirando-a dos devaneios.
– Mas… Mas eu saí do calabouço, da forma que tu pediste…
– Sim. Contudo, agiste por impulso para com o guarda do castelo de Lucian. Não era minha vontade. Não era esta a missão a qual me referi. Não quero que você saia agredindo a todos que tomam atitudes errôneas. Até porque, tu também o fazes e eu te perdoo.
– Desculpe-me, senhor… Só sirvo para gastar teu tempo…
– Não fale desta maneira. Peço-te para guardar as minhas leis… Nas leis, te mando amar o próximo como a ti mesma… Como poderás fazê-lo sem amor próprio? Podes não ser nada para o mundo, mas para mim, vales a vida de teu criador… – ainda assim, Serena não compreendia essa história de martírio, imaginava que fossem simplórias metáforas. – A tua missão será falar de mim para todo aquele que precisar ou quiser ouvir, para que seja salvo dentro de ti.
– Salvo dentro de mim?
– És minha escolhida, Serena… Quando eu voltar, quero que estejas à minha espera.
– Já vais embora?!
– Não, querida, ainda não. Contudo, hei de morrer…
– Por que falas tanto de morte?
– Porque é para isto que vim. Acompanhe-me, tenho coisas para te mostrar. – pegou-a pela mão e a levou para uma porta que ali havia, estava repleta de presentes. – Vamos, peça algum.
– Por que tenho que pedir se tu sabes qual eu gostaria de ganhar?
– Pela mesma razão pela qual não apareci sem tu teres me chamado… Tenho muitas bênçãos para ti, basta me pedir.
– Simplesmente pedir?
– Simplesmente pedir.
– Certo… Hm… Eu quero aquele. – apontou para uma embalagem azul.
– Aquele não.
– Oras, por que não? Disseste para pedir qual me agradasse!
– Sim, mas não é daquele que tu precisas e nem é aquele que quero te dar.
– Então… Podes dar-me o que tu desejas dar-me?
– Sabe… Gosto quando tu me perguntas assim… – a deidade pegou uma pequena caixinha e abriu. Tinha uma aliança dentro. – Queres casar comigo? – ajoelhou-se.
Não havia presente melhor do que esse… Ia além de tudo o que Serena conseguia imaginar… Ela estava sem reação, mas depois e segundos surpresa, finalmente sorriu e abraçou-o, dizendo que sim. Micael colocou-a no dedo anelar da mão direita.
– Ah… Não mereço… Todavia, obrigada… É muito bonita.
– Bonita, porém não tanto quanto a pessoa que está com ela. – aparentava feliz enquanto segurava sua mão. – Sabes que te amo, não sabes? – ergueu-se do chão e foi chegando mais perto. A garota sentia-se um pouco intimidada, por causa disso, andava para trás. Até que suas costas tocaram a parede da casa e não ter mais como se apartar.
– Sim… – ela fitava o peitoral de seu amo, porque estava demasiadamente vexada para olhar em seus olhos.
– No entanto, não sabes o tamanho do meu amor. Estou ardendo de paixão por ti… Induz-me a querer a tua presença… Instiga-me…– acariciou o pescoço da moça. Havia apenas dois centímetros de distância entre as bocas.
A donzela ficava cada vez mais acanhada com tudo aquilo, contudo, o rapaz não se agradava dessa timidez. Por esta razão, deu-lhe outro abraço e pediu para que não saísse da casa.
– Senhor… Eu terei que ficar presa aqui para sempre?
– Não estás presa… Podes sair à hora que quiser… Apenas te dei uma ordem. Tem a oportunidade de segui-la ou não.
– Eu gostaria de ver as tuas obras lá fora… Devem ser coisas formidáveis! E também devem ser muitas, contando o tempo em que fiquei detida… – praticamente sussurrava.
– Terás conhecimento daquilo que eu fizer. Necessitas ver para crer?
– Não, senhor. Tua palavra me basta.
– Alegra-me saber disto. Eu a levarei até o vilarejo quando for a hora certa. Tem roupas novas para ti bem em cima da cama, caso queira trocá-las.
– Está bem… Tome cuidado. – Micael estava contente pela preocupação de sua noiva com sua atual mortalidade. Beijou-lhe a mão e saiu dali.
Na mente da princesa: horas parada, após trocar as vestes, olhando para a porta, aguardando seu amado chegar. Todavia, foram apenas minutos. Estava ansiosa e cansada da espera. Resolveu sair dali e ir atrás dele. O que ele estaria fazendo para que demorasse tanto? Será que estava… Traindo-a com outra?
Aparentemente, Serena sempre abria ema brecha para falhas quando permitia que sua mente se afastasse das coisas espiritualmente edificantes.
Na floresta, tomou o máximo de cuidado para não fazer barulhos altos e não chamar a atenção. Depois de muito andar, chegou até o vilarejo. Tentava tomar cuidado para que nenhum dos guardas a visse. Estava no meio de um dos centros comerciais mais movimentados da região. Seria uma tarefa difícil encontrar um específico homem no meio de tantos outros… Ao menos, foi o que ela pensou. No maior aglomerado de gente, deparou-se com Micael acima de uma rocha, pregando para o povo que por ali passava. Alguns ignoravam, entretanto, a maioria o louvava e ouvia o que tinha a dizer. O próprio mencionara que sua amada seria a responsável por guiar os habitantes quando fosse embora daquele recinto.
A jovem teve a sua alma tomada por um sentimento angustiante… Além de ter duvidado de seu enamorado, ela novamente o desobedecera. E não sabia a razão de persistir em seus erros… Queria voltar para casa… Mas não poderia agir como se nada tivesse acontecido… Resolveu continuar observando as obras do simples homem.
Quando a hora em que as vendas foram encerradas, a maioria saiu. Poucos foram os que permaneceram com Micael para ouvir os sermões sobre amor e santificação dos adeptos de Lucian. Nesse meio de tempo, o rapaz fora conversar com um dos vendedores de cavalos que permaneceu com seu estabelecimento aberto:
– Acabo de conseguir vestimentas novas para a minha amada e não quero que ela suje-as e nem que se canse vindo até aqui. Quais alazões tu possuis?
– Hã? O que disseste?! És meu Deus, faço questão de que leve a nossa melhor carruagem de alazões sem que seja necessário pagar! Peço-te que perdoe todos os pecados que cometi… Não, não quero comprar teu perdão. Dei uma lembrança e fiz um pedido, respectivamente! – o homem tentava não confundir-se nas palavras, mas o entusiasmo de receber o criador deixava-o nervoso e acabava tropeçando em cada vírgula.
Enquanto isso, lá fora, Serena estava sentada atrás de um muro, com as mãos cobrindo sua face. Levantou-se, desejando sair dali imediatamente.
– Não é tu aquela feiticeira e ladra que todo o reino procura? – era um anjo caído, usando armadura que havia encontrado-a.
– Já disse que não sou feiticeira!
– Mas és ladra, certamente. Precisa vir comigo, senhorita.
– Eu não quero!
– Não perguntei se queres ou não! Precisas vir comigo! Serás castigada por seus delitos! Temos um governo justo!
– Não posso ir contigo, irei me casar!
– Achas mesmo que isso é desculpa? Nem que Draco abençoasse esta união eu permitiria que isso se tornasse um empecilho para julgar-te.
– Acontece que o meu noivo é o rei!
– És noiva de Draco?…
– Não, do verdadeiro rei! Sou noiva de Micael!
– É muita soberba da tua parte pensar que Micael iria querer alguém como tu! Só podes estar louca! Cometestes transgressões e crimes! Não és íntegra para receber misericórdia, tampouco amor! És impura, ignóbil, desprezível e abjeta! Fazes parte da corja da população! Considera mesmo que ele vá te perdoar? Renda-se de uma vez! É a coisa mais sábia a se fazer! Pare de inventar desculpas e assuma teus erros! Isto acabará com o teu sofrimento e não trará vergonha a Micael!
Serena concordava com tudo aquilo…
Retornemos ao estábulo… A deidade estava negociando com o vendedor para agradar sua futura esposa quando um de seus seguidores apareceu às pressas, dando-lhe um aviso:
– Senhor, senhor! Uma mulher está sendo presa e acho que é tua prometida!
O rapaz arregalou os olhos e saiu ligeiramente para poder ver o que ocorria. Verdadeiramente, era Serena quem estava sendo levada pelos demônios.
Muitos que antes ouviam os sermões da potestade agora satirizavam e escarneciam entre si “Não era esta a dama que viria nos guiar e nos afastar do mal?”.
Micael foi correndo até ela e os guardas pararam de empurrá-la, pelo respeito que aquele homem impunha:
– Por que saíste do lugar que te falei? – questionou de modo apreensivo.
– Demoraste… Então… Pensei que tivesse me atraiçoado… – respondeu sem coragem de elevar o rosto.
– Sabes que odeio adultério! Por que eu faria uma coisa dessas? Eu te amo! Sou apaixonado apenas por ti e por mais nenhuma! Para mim, és como um lírio no meio dos espinhos! Não acreditas em mim? Venha comigo, eu te perdoo se tu tomares teus atos em reconsideração!
– Já basta! Não sou benemérita de tua ajuda! Não a quero! Não consigo sequer dar um passo sem pecar! Saia de perto de mim para que não se contamine!
– Quem colocou isto em tua cabeça, querida? Eu te aceito, não interessa o que tu fizeste!
– Estou farta de viver dependendo de ti para tudo! Não quero mais viver! Deixe-me!
– Não irás desta maneira! És meu tesouro! Sou atraído por ti, não podes fugir de mim! Nada consegue desunir-me de ti! Meu coração está abrasado! – a cada segundo, ele ficava mais preocupado.
– Encontrarás alguém melhor. – Serena tirou o anel de seu dedo e o entregou de volta a quem o dera. Foi levada pelos guardas sem mais relutar…
“Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e misericordioso, muito paciente, rico em amor e em fidelidade.”
Salmos 86:15
DEUS AMA SUA CRIAÇÃO COMO TUDO O QUE TEM ,E AMA TODOS QUE NELE CREÊM , MAS NÃO DE UM AFORMA TÃO IMPUSSIVA COMO UM HOMEME AMA UMA MULHER O AMOR DE DEUS É MUITO MAIOR QUE UM SIMPLES AMOR E UM ROMANCE ,TER O AMOR DE DEUS É TER TUDO .
Concordo, exatamente por isso não passa de uma representação. Da mesma forma que o próprio Deus fez no livro de Oséias, onde o Senhor diz para o profeta se casar com uma prostituta para ter consciência da dor que sentia pela traição de Seu povo. O amor de Deus também é comparado biblicamente ao amor de mãe, mas sabemos que este amor ultrapassa qualquer relacionamento humano que possa existir. Obrigada pelo comentário!