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Depois de tudo

Depois de tudo – capítulo 07 : O sonho não acabou

 

 

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web série indicada a “Melhor Abertura”

 

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O sonho não acabou

 

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– O que você tá dizendo? – questiono, tomado de sobressalto, ao mesmo tempo em que pressiono o meu corpo contra os dormentes de madeira, acabando por massacrar de vez as pobres azaleias e rachando, pelo menos, meia dúzia de vasos de suculentas – O que ele tá fazendo aqui? – sussurro entre os dentes, estarrecido, apertando o celular contra a perna numa tentativa alucinada de abafar a sua entrada de som.

– Por enquanto do outro lado da rua – Gabriela relata com um tom de voz inacreditavelmente sereno e sem desviar o olhar da direção de onde o David provavelmente está – Mas pelos movimentos que acabou de fazer, acho, não vai demorar a vir até aqui.

– O quê! – exclamo, tapando minha boca com a mão esquerda enquanto encaro Gabriela com os meus olhos mais que arregalados.

Ela se volta para mim numa composição de movimentos lentos e graciosos, como se fosse a primeira bailarina do Municipal executando com maestria e fluidez o Lago dos Cisnes.

– Desgruda daí, Lucas, e acaba logo com isso – Gabriela ordena, com firmeza, assumindo, de pronto, a delicadeza de um ouriço – Essa é a oportunidade que você queria: ficar frente a frente com o David e jogar na cara dele tudo o que está engasgado na sua garganta; mas caso tenha mudado de ideia, ficar aí, espremido sobre essa madeira, não está adiantando muito.

– Você poderia apertar logo a merda dessa campainha? – retiro a mão de cima da boca e lanço minha pergunta carregada de exasperação ao mesmo tempo em que semicerro os olhos, fuzilando Gabriela.

– Não seja por isso – ela se volta e sobe os dois degraus que faltam para alcançar o portão de aço ladeado por um muro (imenso) em concreto aparente, semi coberto por heras, e aperta, por fim, a famigerada campainha com o indicador, uma, duas, três vezes e em seguida acena para a pequena câmera fixada à parede, a uns 3 m acima de sua cabeça, até se virar novamente e me encarar – Satisfeito, senhor? – pergunta com ar de deboche enquanto encosta displicentemente sobre o muro, cruzando os braços.

– Posso saber de qual lado a senhora está? – questiono, voltando a sussurrar.

– Deixa de ser cretino – ela retruca, descruzando os braços, se afastando do muro e dando um passo na minha direção – Só estou tentando acabar logo com esse suplício, ou você realmente achou que o seu ex ia deixar barato aquela postagem difamatória? Ia ficar com o rabinho entre as pernas depois do passa fora que dei nele pelo celular?

– Falta um pouco menos de quarenta e oito horas para eu ir embora…

– Mais um motivo pra você resolver isso o quanto antes – o tom de voz de Gabriela, agora baixo, mas ainda firme, chega aos meus ouvidos – O David sabe onde você mora, esqueceu? Sua mãe vai adorar ver esse bostinha na portaria do prédio, gritando, colocando pra fora todos os palavrões que conhece…

– Ele não seria capaz disso…

– Eu não pagaria pra ver…

Sinto minha garganta queimar.

– Lucas, meu amigo, você feriu a hombridade dele, não se esqueça – Gabriela me devolve ríspida – O seu ex faz parte de um grupo de gays que busca por uma masculinidade absoluta; desses que estufam o peito e dizem aos quatro ventos que são gays, sim, mas só curtem “outros machos como eles” e com isso se consideram superiores aos “veados”…     

– Jura que você está fazendo esse discurso aqui? Agora? – questiono com uma dose de ironia, batendo o pé, impotente.

Gabriela me encara como se eu tivesse quatro anos de idade, desprezando sem titubear a minha reação. De súbito, ela volta a desviar os olhos para a rua; nesse instante sou tomado pela constatação obvia de que o David está se aproximando e então, imbuído de uma curiosidade sádica, quase incontrolável, faço menção em acompanhar o olhar de minha amiga, mas desisto diante da avassaladora enxurrada de imagens onde David surge à minha frente, possesso, punho fechado, jogando-se sobre mim como um leão de chácara transbordando testosterona e cólera…

Meu cérebro entra em ebulição.

O ar me falta.

Respiro fundo e afasto-me, um tanto hesitante, dos dormentes de madeira e das azaleias sobre as quais estava caído, porém não consigo dar um passo adiante, voltando a me recolher ao mesmo tempo em que esquadrinho com afã o muro da casa de Rômulo, me perguntando por que cargas d’água os pais dele precisavam construir uma fortaleza de concreto.

O David tá vindo.

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A voz de Gabriela soa um tanto longe, acima de mim, mas chega tão pesada como se fosse uma das sete trombetas anunciando o apocalipse.

Me seguro para não correr até o portão de aço e arrebentá-lo com socos e chutes.

Um, dois, um dois…

Cadê o Rômulo, caralho, ou quem quer que seja? Uma porra de uma mansão dessas e não existe um sistema eletrônico com portão automático?

Volto a me apoiar sobre os dormentes de madeira.

Por que ainda não vieram atender a campainha?

– Você sabe muito bem da distância da casa até esse portão, Lucas…

Gabriela me repreende, postando-se à minha frente com as mãos na cintura, me encarando, desafiadora e com uma das sobrancelhas arqueadas.

Eu não sabia que havia reclamado tão alto a ponto dela ter escutado.

– Quem foi mesmo que disse “se o David tentar se aproximar de mim, você anota aí Gabriela, vou virar assunto do Jornal Nacional”?

– Me deixa em paz – devolvo irritadiço – Se for para lembrar quem disse o quê, a senhora me garantiu que ele não ia ser convidado, lembra?

– Ele não foi. O seu ex não é nosso amigo. Nós só o conhecemos por sua causa e não o contrario, e com toda certeza o Rômulo não ia ser tão descortês assim.

Lembro-me do celular que ainda está ligado, pressionado contra minha perna. Imediatamente o trago até à altura dos olhos e o desligo, sem pensar duas vezes, guardando-o no bolso da calça jeans logo em seguida.

Me sinto sufocar novamente, apesar de não lembrar do instante em que voltei a ter o ar transitando pelos meus pulmões.

Num gesto brusco começo a abrir os primeiros botões do colete sob um contínuo olhar de reprimenda por parte de Gabriela… de repente a voz de David invade os meus ouvidos, inabalável, ameaçadora.

Finalmente te encontrei seu viadinho de merda.

Estremeço.

Pesadelo ou realidade? Ele atravessou a rua? Ele já está aqui, na escadaria, em frente à casa do Rômulo?

Minha cabeça gira.

Busco o semblante de Gabriela, mas ela já está de costas para mim, começando a descer alguns degraus.

Fecho os olhos, inspiro com força e em seguida tento me colocar de pé, mas me desequilibro e volto a me amparar sobre os dormentes de madeira, sobre as infelizes azaleias…

Você não tem outra palavra no seu vocabulário para tentar ofender o Lucas que não seja o diminutivo daquele animal quadrúpede ruminante cervídeo de pontas ósseas ramosas?

Reconheço a voz de Gabriela em meio à minha confusão mental, o suficiente para perceber que ela está debochando do David e pelo lado mais fragilizado que ele possui: a astúcia.

A ansiedade é um combustível que alimenta a baixa autoestima. Nem sempre ela é negativa, claro, mas uma pessoa que sofre por antecipação está claramente se sentindo em desvantagem diante de uma situação.

As palavras de dona Lúcia, nas diversas ocasiões em que ela acreditava que eu estava mergulhado em um mar de aflição somado à minha autoestima prestes a alcançar um patamar abaixo de zero (e tinha razão), passeiam pela minha mente como um outdoor de neon piscando, constante, determinado a atingir seu propósito de comunicar, anunciar, orientar…

Será que ela realmente disse isso ou estou criando um mecanismo de autodefesa, uma manutenção emocional para justificar minha reação de total covardia diante da investida de David?

Um barulho de vozes.

Abro os olhos e viro a cabeça na direção de onde elas vêm e consigo enxergar as imagens de Gabriela e David, de início um tanto embaciado, apesar da iluminação eficaz projetada pelos dois postes dispostos em cada lado da escadaria e das três arandelas penduradas estrategicamente sobre a parede do muro de concreto.

Ouço, bem longe, uma música tocando. Não consigo identificá-la e nem tampouco de onde está vindo. Possivelmente de dentro da casa do Rômulo…

Também ouço o som de um carro passando pela rua…

 

O meu problema é com o seu amiguinho aí, Gabriela. Sai da minha frente…

Parece que os dois estão em uma dimensão diferente da minha…

Ou então o quê, David? Vai me empurrar? Me bater? Se isso te fizer bem, vá em frente. É uma ótima maneira de comprovar sua masculinidade…

Semicerro os olhos e vejo David alguns degraus abaixo de onde estou; ele, de frente para mim, sempre com sua boa aparência, alto, ombros retos, abundantes cachos louros sobre a testa branca, está encarando a postura valente, e por que não arrogante, de Gabriela, de mãos na cintura, ereta, gigantesca em seus 1.68m, empedernida, bloqueando sua passagem.

David começa a gesticular…

Reagir. Eu Preciso reagir.

 

Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.

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Num relance de milésimo de segundos me vejo naquele calçadão, frente a frente com Thiago, com seus olhos tom de mel, suas sobrancelhas grossas, seu sorriso largo, a expressão de classe e dignidade perseverando em seu corpo esbelto e ereto…

Sucumbindo a uma onda pueril de uma ingenuidade sem precedente, lanço ao redor um olhar sub-reptício na esperança de ser resgatado por ele…

Não demoro a menear a cabeça com raiva diante da minha imperdoável estupidez, da minha obstinada fascinação e, por conseguinte, do meu desejo frustrado. 

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Sinto muito Lucas. Não podemos continuar. Descobri que não sinto mais atração por homens… Você me ajudou a enxergar isso…

O desprezo da voz de David ao terminar o nosso namoro atravessa o meu cérebro, assim como a imagem estagnada do seu olhar esquivo ao me dar a notícia, projetando em mim sua fraqueza, sua desonestidade, me acusando a fim de ocular seu mau comportamento.

Eu não deveria estar com medo, afinal de contas, o David me enganou… Ele é o vilão nessa história. Concluo, enfim.

O ar frio e úmido da noite toca o meu rosto.

Ajeito os ombros e com um pequeno esforço me coloco de pé. Minhas pernas tentam me trair, mas permaneço firme, convicto de que preciso por fim a esse conto de fadas macabro…

Busco desesperadamente me convencer enquanto tento retomar o controle.

Rezar.

Isso.

Fecho os olhos imediatamente e tento iniciar uma oração, mas ela não vem.

Há quanto tempo não vou a uma igreja?

Sou tomado por um medo abismal.

Talvez o Criador me virou a cara devido às minhas numerosas culpas… Desde que eu soube da mudança para Laranjeiras tenho sido um péssimo ser humano transbordando impaciência, arrogância…

Se fosse menos egoísta, meu filho, a notícia da nossa separação não teria sido uma surpresa para você.

 E também Tenho sido um péssimo filho!

Fecho os olhos…

Pai nosso que estás no céu…

Santificado seja o vosso nome…

Venha a nós o vosso reino…

 

Ao terminar minha oração sou invadido por uma calorosa onda de gratidão ao Criador, ao mesmo tempo em que sinto uma firmeza se expandir por todo o meu peito, buscando dizimar, com brandura, o desespero que me assola ao mesmo tempo em que sinto minhas emoções mais aguçadas, ampliadas…

Enquanto me movimento para ficar de pé, deixando em paz o que restou das pobres azaleias, visualizo David parado a poucos centímetros, ainda gesticulando de maneira exagerada, quase caricata, diante da figura diminuta de Gabriela, e constato, de súbito, que eu nunca passei por isso: rever um ex-namorado, rever alguém que dividiu algumas experiências comigo por um tempo, por mais superficiais que elas possam ter sido, afinal de contas, o Jonas sumiu da face da terra depois daquele post it que largou embaixo do meu celular e o Thomas deve ter voltado oficialmente pra sua vida de pegador, no quinto dos infernos, após eu ter terminado com ele…

Realmente não havia como saber, mas também não sabia o quão libertador poderia ser…

Eu devia estar desolado. Devia estar gritando, partindo pra cima do David, culpando-o por ter me deixado, por ter mentido… Por te me usado…

Ainda hoje pela manhã tudo isso me causava uma dor imensa, mas agora… Nada… Estranhamente não me importo…

É incrível. Tenho até medo de reconhecer, mas acho que nunca me importei…

De imprevisto minha mente viaja até a noite em que conheci David, há um pouco mais de quatro meses, dentro de uma boate… A imagem do príncipe maduro que ele me parecera… Seus cabelos louros brilhando sob as luzes artificiais do ambiente…

Agora consigo reconhecer, sem quaisquer resquícios de uma pretensa dúvida ou arrependimento, que o idealizei dentro do meu desespero em querer encher o enorme vazio das minhas aflições românticas, costurando um belo traje de um elegante cavalheiro, bonito, diferente, acreditando que finalmente o destino tinha me reservado o cara perfeito…

Gabriela está certa… O David é uma prova viva da minha fixação desmedida em querer ter um namorado custe o que custar…

Que tolo eu venho sendo todo esse tempo… Reflito com extrema amargura.

Tomara que eu tenha aprendido a lição…

Consigo, por fim, me postar de pé, e, de frente para David, tendo apenas três degraus e minha amiga Gabriela nos separando, chamo por seu nome.

– Ora, ora, ora – o tom de escárnio pontuando sua voz é o que recebo como resposta enquanto nossos olhares se cruzam – Finalmente resolveu sair debaixo da saia da sua amiguinha…

– Vai embora David – Gabriela ruge, fazendo menção em avançar sobre ele.

– Deixa – peço, claudicante, juntando forças para não esmorecer diante do olhar perscrutador do meu ex enquanto Gabriela se vira para trás e me encara, um tanto confusa.

– Então o boiolinha decidiu virar macho de uma hora para outra?… – ele insiste, apontando para mim ao mesmo tempo em que um sorriso torpe surge no canto do seu rosto. Ódio e desgosto ardem em seus olhos enquanto rugas impiedosas começam a surgir nos cantos da sua boca.

– O que você quer David? – questiono tendo cuidado ao pronunciar cada palavra.

Ele tenta avançar um degrau, mas Gabriela se volta para frente, de imediato, abrindo os braços, impedindo-o.

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– Quero tirar a limpo a merda que você postou… – ele brada em alto e bom som, gesticulando, demonstrando todo o seu descontrole. Dor e raiva são o que enxergo em seu semblante… A raiva do orgulho ferido, da vaidade masculina…

– Não há o que tirar a limpo, cara – replico com certa dificuldade depois que as palavras travam em minha garganta – Não sei do que você está falando…

A cada segundo David se parece cada vez mais com um gato à caça, alerta, tendo a prontidão daqueles com os nervos continuamente tesos e Gabriela vai acabar pagando o pato se continuar tentando me proteger.

– Eu te conheço, Lucas – ele me devolve entre os dentes, sacudindo os braços por cima dos ombros da minha amiga – Eu sei que tu tá mentindo seu bostinha…

Um resquício de medo volta a me assolar diante da constatação de que ele está certo, porém logo dá lugar a uma crescente irritação, e também decepção, por ter me permitido ser tão transparente para alguém que não merecia metade do lhe dei durante os quatro meses em que ficamos juntos.

 – E se por acaso eu fiz isso… – tento argumentar, consternado.

– Por acaso? – David grita ainda mais alto, soltando uma gargalhada carregada de sarcasmo enquanto olha para o lado, sacudindo a cabeça e voltando a encarar, primeiro, Gabriela, e logo depois a mim, deixando cair um canto da boca, erguendo uma das sobrancelhas – Não sei como te aguentei sabia? – a expressão de desdém permeia suas últimas palavras.

Respiro fundo.

 – Ninguém te obrigou…

– Não mesmo – ele meneia a cabeça.

A vibração de raiva que emana de si é inconfundível

– Só te suportei… – David reinicia num tom de voz absurdamente calmo, controlado – Por mera falta de opção. Por que você me suplicava pra não te deixar. Por que, tenho que reconhecer… – agora um ricto nervoso, de triunfo, corta o seu rosto – Você não era tão ruim na cama…

– Sai daqui David – Gabriela ordena, corroborando ainda mais a fortaleza imposta pelos seus braços abertos, mas ele a ignora.

– É isso mesmo – David continua. Seus olhos estão firmes sobre mim – Um putinho. Somente isso. Eu te usei o quanto pude, era o preço a pagar por aguentar suas crises de imaturidade, de ciúmes, inseguranças…

Penso em revidar, mas não consigo.

Nesse instante sou surpreendido com a chegada de um homem praticamente surgindo do nada; ele coloca uma das mãos sobre o ombro esquerdo de David, que se vira instantaneamente aos berros, dando a impressão de saber quem o teria tocado.

– Caralho, Augusto, eu não te falei pra não vir até aqui, porra?

– Vamos embora – o tal homem responde num tom de voz quase inaudível, mas sem deixar de encarar David em nenhum momento, ao mesmo tempo em que lhe toca o braço – Você prometeu que não ia fazer escândalo, disse…

– Volta pro carro – David grita, puxando o braço asperamente – Esse problema é meu, ok? Não se meta.

Ele empurra o tal homem, que com certo esforço se equilibra para não cair e imediatamente se volta para mim, me encarando, exasperado.

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Nunca o tive e agora não o quero. Nem em uma bandeja de prata… Reflito com um quê de pesar, enquanto o que resta do meu transe onírico se estilhaça e então devolvo para o David um olhar cansado, transbordando uma piedade ardorosa.

– Você tem razão, David…

A melancolia permeia o meu tom de voz.

– A minha atração por você foi infantil, e hoje, mais cedo, quando postei aquilo tudo no Whisper…

Gabriela se vira para mim e percebo em seus olhos um pedido silencioso de ponderação, mas eles também irradiam um sustentáculo inebriante que me dá forças para continuar…

Respiro fundo e me volto para David e não me surpreendendo com o seu rosto estreito, mal conseguindo ocultar a fúria diante do início da minha confissão.

– Quando postei aquilo tudo no Whisper… – reinício. Sinto minha garganta queimar – Eu estava me portando como uma criança mimada impedida de ter um brinquedo… – engulo em seco antes de seguir adiante. Meu coração está doendo, apesar de tudo – Você, David, para mim, nunca existiu de verdade. Eu me apaixonei por uma coisa inventada. A minha insistência em tê-lo ao meu lado não é mais importante que meus desejos em querer todos aqueles posters de filmes famosos dos anos 80 milimetricamente dispostos sobre a parede do meu quarto…

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David deixa escapar um urro ensurdecedor e empurra Gabriela, que vai de encontro aos dormentes de madeira, das azaleias, dos vasos de suculentas, sem qualquer chance de defesa, e parte para cima mim como um animal ferido.

Os três degraus que nos separam se tornam apenas um ante o seu passo gigantesco no intuito febril de me alcançar.

Instintivamente recuo, quase me desequilibrando ao tentar dar um passo para trás.

Nesse instante o som de um metal pesado reverbera atrás de mim. Volto-me e vejo Rômulo e mais três amigos surgirem após o portão de aço se abrir totalmente.

 

 

2 comentários sobre “Depois de tudo – capítulo 07 : O sonho não acabou

  • Gostaria de aproveitar para agradecer aos leitores, que vem acompanhando esta web, pelas crescentes colocações de audiência que ela vem alcançando e também expandir esses meus agradecimentos, se possível, e torço para que seja, a despeito do ranking da semana anterior (de 07 a 13/11), onde vocês alçaram “Depois de tudo” ao patamar de 100,5.

    Espero continuar fazendo jus a essa confiança, a essa lealdade com que todos vocês vem dedicando aos capítulos dessa história, acompanhando, nas narrativas de Lucas, seus dramas (algumas das vezes elevados à potências “mexicanas”…rsrsr), seus medos, suas ousadias, suas imperfeições, enfim, suas desventuras.

    Muito, muito obrigado por ter cada um de vocês fazendo parte do universo criado para “Depois de tudo”.

    “Gratidão significa que energia recebida deve ser devolvida”

    Um beijo no coração de cada um de vocês.

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