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Batalha Espiritual

Batalha Espiritual – Capítulo 3

Perfídia

“Por que Micael criara Lucian se sabia que ele rebelar-se-ia?”. Esta é uma das prováveis perguntas que estejam martelando em sua mente. Mas, você já parou para pensar que se Micael deixasse de criar Lucian porque este anjo daria muito trabalho, não estaria tirando a liberdade do próprio? Todos se tornam responsáveis por seus atos e criações. Não é tão complexo de compreender a isto. Além disso, Lucian era amado pela deidade…

Francine entrara correndo no castelo, à procura de sua irmã mais nova, que se encontrava deitada, em seu enorme quarto, lendo:

– Serena! Serena!

– O que houve? Por que gritas? – levantou-se.

– Venha comigo, preciso te apresentar pessoas!

– Pessoas?

– Sim, pessoas! Uma em especial! –a dama puxava a caçula pelo braço.

– Não estou com vestes próprias para sair daqui. O próprio Micael foi quem nos fez estas roupas. Tu também deverias ter mais cuidado com elas!

– Não seja tola! Micael não nos quer mais do que como cativas!

– Por que dizes isto? – Serena soltou seu pulso das mãos da irmã e a analisou. – O que é esta marca vermelha em tua testa? E onde está o colar que ele te deste?

– Não preciso mais daquilo. Sou livre!

– Onde está o colar, Francine? Ele não te pertence! Não podes jogá-lo fora desta maneira!

– Não o joguei fora! Apenas o dei para quem é digno de sua posse.

– Tu o entregaste para um dos anjos?! Achas mesmo que algum deles é tão digno quanto Micael?! – a jovem procurava ser tardia em irar-se.

– Não foi para um anjo qualquer. Foi para o arcanjo comandante da revolução.

– Revolução? Do que estás falando? Bateste a cabeça no portão de uma das torres?

– Não! Esta marca em minha fronte é a que ele me dera para provar que estou ao seu lado. – mostrou sua mão, igualmente selada. – Também tem esta! Ambas foram feitas com sangue de animal! Ele disse que se eu voltar com você logo, ela será permanente!

– Sangue?… O que é sangue?

– Um líquido que sai do corpo dos animais quando os cortamos. Você precisa ver! É incrível de fazer! Venha comigo, mostrar-te-ei!

– Não sei se isto é uma boa ideia, Francine… Micael nos disse que sofreríamos caso não permanecêssemos com a joia.

– Para ti, parece que estou a sofrer?

– Não…

– Então por que não vir? Não confias em mim?

– Confio… Mas não vejo motivo para querer libertar-me de Micael. Ele não está me encarcerando. Posso sair quando bem desejar. Ele me ama!

– És muito ingênua, minha irmã! Também não imaginei o tamanho da vilania que há pelo governo desse teu senhor…

– Vilania?

– Meu dirigente me ensinou que se Micael não nos permite saber de todas as coisas que faz, é porque há algo que se almeja esconder! Algo ruim que faz! A liberdade que ele nos dá é apenas uma ilusão!

– Talvez ele queira nos proteger desse algo…

– Bem, eu não sei acerca de ti, mas não me sinto livre por ser protegida de algo que não conheço. Tampouco agora que estou a experimentar… E a gostar.

– Precisamos confiar nele… O chamarei. Ele saberá o que fazer em relação a isto.

– Não! Ele de tudo sabe! Está escutando nossa conversa! Se não apareceu para explicar-se e impedir que fujamos, é porque nossa presença não é um diferencial!

– Talvez ele queira que o procuremos…

– “Talvez”, “talvez”! Estou farta! Fique aqui se é tua vontade! Eu mesma me alforriarei! Preciso de alguém que se importe comigo verdadeiramente! – Francine deu as costas.

– Espere! – Serena disse, indo atrás dela. – Vou com você…

Uma dúvida fora semeada no coração da dama mais jovem, por sua própria irmã, que estava desvairada com essa história de conflagração.

Seguiram até o ponto indicado pela fumaça, que ainda subia. Destarte, adentraram o local de culto e sacrifício, onde se encontrava muitos anjos caídos e o capitão destes. Era um local sombrio e tenebroso. O ambiente era coberto de uma coisa que a princesa mais jovem nunca experimentara: pecado.

– Esta é a tão falada Serena? É um prazer recebê-la. – Lucian beijou a mão da jovem. – Creio que tua bela irmã já tenha te relatado sobre nossos propósitos.

– Sim… – respondeu surpresa com tamanho porte nobre que o arcanjo possuía.

– Digas que Draco não é digno de adoração! – ironizou Francine, cruzando os braços, pois notara o encantamento de sua irmã ao ver as feições do regente, especialmente os seus olhos, que reluziam.

– Micael é infinitamente mais majestoso. – Serena falou ao mesmo tempo em que recuava. Sentia-se instigada a segui-los, mas tudo o que aprendera era contra os seus anseios.

– Se me conhecesses melhor, não pensaria desta forma. – o querubim retrucou. – Sou mais sábio também.

– Porém, pelo visto, não és mais humilde. – a caçula esforçava-se para não ceder tão facilmente às propostas feitas pelos dois, porque a argumentação da mais velha lhe causara uma reflexão intensa. – Estes os anjos que você conseguiu convencer quando se rebelou contra o meu senhor? São poucos, não achas?

– Não estão todos aqui. Os quais eu libertei foram um terço de miríades de miríades! Todos eles não caberiam neste cubículo para a reunião. Escolhi alguns poucos para vir. Os outros estão a construir nosso império. Esta caverna é apenas um protótipo relapso da gloriosa monarquia que está por vir!

– Para… Para ser sincera, não estou interessada em participar.

– Ela deve estar com medo de ser castigada. – Francine intrometeu-se.

– Fique tranquila. Quando você trabalhar para mim, eu te protegerei. Quando entregar-me a joia, Micael não mais terá poder sobre ti. Tu seguirás conforme teu querer, conforme o teu coração mandar! E sem precisar cumprir aquelas leis estúpidas para estar segura.

– Mas… Ele disse que nós duas sofreríamos caso fizéssemos algo indevido…

– Sob minha liderança, tu não sofrerás.

– Como posso saber que és confiável?

– Micael, por acaso, está aqui pata proteger-te do mal que tu supões que eu tenha? Se ele te amas e se preocupa contigo, onde ele está no momento?

Serena calou-se. Achara tudo o que Draco dissera muito convincente e coerente… Sentia-se indignada por ter passado tanto tempo reverenciando a aparente pessoa errada. Em sua mente, realmente fazia sentido Micael não a procurá-la… Ela pensou que era tão valorizada por ele quanto deveria ser, desde sua ascensão ao reino. Andou até a direção de Lucian e ajoelhou-se.

– Fez bem. – ele disse, cravando sua espada no corpo de um urso que jazia ali, morto.

Com o sangue da lâmina, selou-a, na testa e na mão direita, da mesma forma que fora feito em sua irmã. Antes que o sangue começasse a escorrer, ele proferiu palavras em uma língua estranha, que Serena não compreendia e arrancou-lhe o colar do pescoço. Por um segundo, os olhos da jovem ficaram totalmente negros. Depois disto, ela tinha uma nova visão do mundo em que vivia…

“Quem gera a maldade, concebe sofrimento e dá à luz a desilusão.”

Salmos 7:14

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