Segundo Capítulo – Vovó Macumba
Capítulo DOIS
Web de: Igor Cesar Nascimento
(…) O sol surgia na linha do horizonte, iluminando suas pupilas dilatadas. Nunca pensou ter dentro do coração um outro lado tão incontrolável e sombrio. Será que as idas semanais ao psiquiatra foram em vão?
“Talvez foram” reflete Miguel, se afastando do corpo falecido de sua vítima. A cada passo de distância dado, percebia as consequências que esse vício lhe causava. Ter matado aquele inocente cidadão por causa de alguns trocados, que gastaria com mais algumas gramas de cocaína, o fez refletir:
“Quais as possibilidades disso se repetir?”
– Entre! – falou Valerie, fechando a porta assim que Miguel entrou no apartamento.
– O que aconteceu? – perguntou Barbara, vendo o carro parar no acostamento da avenida.
Will desce, abrindo o capô do carro. Uma cortina de fumaça se espalha pelo ar em seguida:
- – Acho que deu problema no motor, querida! – respondeu Will, limpando a graxa que sujou a sua mão na barra da calça. O acaso deixou Barbara ainda mais aflita, que já estava preocupada por notícias da filha.
– Vou tentar telefonar para o seu irmão, querida. Ele é mecânico, poderá nos ajudar. – pegou o seu telefone-móvel, mas naquela parte da avenida não atingia o sinal – Droga, não estou conseguindo ligar!
– O que vamos fazer então, Will? – Barbara fica mais aflita ainda.
Will pega a chave e os documentos do carro, saindo do carro novamente – Irei ver se encontro ajuda aqui por perto.
– Pensei que você tinha parado com essas coisas. – comenta Valerie, se sentando no sofá a frente da qual Miguel estava sentado. Miguel não olha nenhum momento em seus olhos, estava focado em um canto qualquer da sala:
- – Precisava falar com você. – começa ele, ainda nervoso.
– Não tinha como esperar até amanhã? Você viu que horas são agora? Se os meus patrões chegarem e pegarem nós dois aqui sozinhos estamos mortos!
– Eu sei, mas se eu esperasse até amanhã ficaria louco! – e se vira para olhar em seus olhos – Faz um tempo que precisamos ter essa conversa… – nessa hora, Alice começa a chorar novamente em seu berço.
– Miguel, conversaremos uma outra hora. Preciso cuidar dela – ela ia saindo em direção ao quarto, quando ele agarra o seu braço, impedindo-a:
- – Talvez seja melhor terminarmos o nosso namoro – disse ele, vendo os olhos a sua frente se lacrimejarem.
– Espere! – grita Will, vendo Zé fechando o bar.
-Desculpe, meu amigo. Já estamos fechados.
-Eu sei, mas é que aconteceu uma emergência e queria saber se o senhor deixaria eu usar o seu telefone. Será um rápido telefonema, garanto!
Zé pensa em negar o pedido, mas percebe o tom de desespero em seu olhar:
-Está bem. Mas que seja breve. – Will abre um sorriso aliviado ao ver ele abrindo as portas novamente.
Em um pulo assustado, Castidade desperta de seu sonho. Angustiada, se levanta da cama, cautelosamente para não acordar o marido, e caminha até a cozinha. Enche um copo com aguá. Puxa uma parte da cortina que cobria a janela da pia, não avistando ninguém na rua aquela hora. No relógio, já eram 00:10. Seu coração se aperta outra vez. O pesadelo que havia tido com a filha a poucos minutos não queria acreditar que fosse real.
– 1° Intervalo Comercial –
– Ele está demorando muito, será que aconteceu alguma coisa? – Barbara pensa em voz alta, assim que apertou o botão do telefone para ver as horas.
Na avenida não havia nenhum carro e nenhuma pessoa, aumentando ainda mais o seu pânico e insegurança.
Devido ao grande silêncio naquela área, não foi difícil escutar o leve ruído abafado que se aproximava do veículo. Ela inclina o seu corpo no banco para olhar o que era, mas as janelas estavam embaçadas devido ao sereno da noite. Puxou a manga da blusa para limpá-la. Com o vidro limpo, consegui ver o que havia lá fora, se deparando assim com a sombra de uma pessoa parada ao lado do carro:
- – Isso é um assalto! – escutou o grito desse indivíduo, enquanto via a fechadura da porta sendo pressionada.
– Está bem. – diz Valerie, limpando as lágrimas que insistiam em cair. Ela tentava demonstrar ao menos o seu desapontamento – Se é isso o que você quer.
– Está vendo? Eu estou aqui terminando o nosso namoro, e você não fez nenhum esforço para tentar evitar. Talvez seja o melhor a fazer mesmo. – e se levanta também.
- – O que você quer que eu faça? Que eu me jogue aos seus pés implorando “por favor, não vá embora?”. Se é uma coisa que eu aprendi com a vida é que tudo tem o motivo para acontecer. Se eu não te dei todo o amor e carinho suficiente ou se você começou a gostar de uma outra garota, o que eu posso fazer?
-Sinceramente, você não me deu todo o amor e carinho suficiente. Claro, eu sou grato por tudo o que me fez, ajudando a controlar o meu vício, mas talvez você não tenha feito o suficiente para que continuássemos.
– Está bem, continue jogando na minha cara. O que mais?
- – Eu percebi que somos completamente opostos, e vivemos em realidades completamente diferentes. Você ainda é uma criança e…
– Não me chame de criança! – repreende Valerie explicitamente irritada.
– Não era essa a intenção de que eu queria dizer. Eu quero falar que eu não posso exigir de você o que não tem para oferecer, compreende? Valerie, esse é o seu primeiro relacionamento, o seu primeiro amor. É natural nem tudo ser perfeito pois você ainda está aprendendo. Eu mesmo passei por isso. Foi assim que cheguei a essa conclusão. Talvez não seja esse o nosso momento. Talvez tudo tenha que acontecer numa outra hora e …
- – Pare de falar! – Valerie o cala. Caminha até a porta, abrindo-a – Sai daqui!
– Valerie, eu queria…
- – Sai daqui, Miguel! Por favor, eu preciso ficar um pouco sozinha.
Miguel pensa em ficar para não deixar a situação como estava, mas percebe que o melhor a ser feito era partir. De cabeça baixa, passou por ela, escutando o forte barulho da porta batendo.
Valerie se senta no chão, encostando a cabeça na superfície de seus joelhos, sentindo o tecido da calça molhar com o cair de suas lágrimas.
– Seu idiota! – berra Barbara extramente irritada assim que a porta do carro se abriu, e o suposto “assaltante” apareceu:
– Surpresa, maninha! – falou Kauan, o seu irmão mais velho, rindo da expressão assustada dela.
– Que brincadeira de mau gosto! Poderia ter sido um assaltante de verdade, sabia? – repreende-o, tentando se acalmar.
– Eu sei, é que eu não poderia perder a oportunidade. O seu marido me ligou pedindo para eu vir ajudá-lo com o carro.
– Ele havia me falado que era no motor que tinha dado problema.
– Vou dar uma olhadinha lá então. – ele fecha a porta, enquanto ia em direção à parte frontal do carro. Barbara suspira aliviada por não ter sido um assalto de verdade.
– Aconteceu alguma coisa, mãe? – Floriano se assusta ao encontrá-la sentada sozinha na mesa da cozinha.
– Não aconteceu nada, meu filho. Apenas não estou conseguindo dormir.
– Já está um pouco tarde. A val não chegou ainda? – perguntou enquanto pegava da geladeira a jarra com leite para beber.
– Não, ela não chegou ainda. É isso que me preocupa.
– Aposto que amanhã o papai irá dar a maior bronca nela.
– Eu espero profundamente que isso aconteça – comentou, se levantando da mesa.
– Por que? Você também ficou brava com ela?
- – Não chega nem a ser por esse motivo. Mas sim que, se isso acontecer, ela estará em casa amanhã.
– Prontinho! Problema resolvido! – avisa Kauan, fechando o capô do carro sorridente. Will havia chegado poucos minutos antes. O casal aguardava-o do lado de fora do carro, vibrando juntos com a notícia. – O que seriam de vocês sem mim, não é?
– Um pouco menos, Kauan. – fala Will, indo para cumprimentá-lo em agradecimento, mas recua ao ver a sua mão completamente suja por graxa. – Mas confesso que sem a sua existência na face da terra, estaríamos perdidos nessa hora.
– Não mereço, mas agradeço. – brinca ele, aplaudindo a si próprio.
– Pelo menos para alguma coisa você prestou, não é? – Barbara adverte, dando uns tapinhas no ombro do irmão – Deis de pequena, apenas eu sou o orgulho da família.
– É que alguém tinha que deixar o exemplo de “como não ser na vida” para você. Eu fiz esse favor. – todos riem, enquanto Will entrava no carro para testá-lo:
– Perfeito! – vibrou satisfeito ao ouvir o ronco do motor. Todos entram no veículo enquanto Will tiravam-os daquele lugar:
– O papai está dando um churrasco lá na casa dele. Vocês não querem ir? – convida Kauan, no banco de trás.
– Você viu que horas são, Kauan? Essas horas já deve ter acabado. E mesmo se não, deixamos a Alice sozinha lá em casa com a babá. Estou preocupada.
– Não acabou não. Acabei de vir de lá. Estávamos jogando pôquer com alguns conhecidos. Inclusive, ele me pediu para levar Will querendo ou não. E você mesma disse que ela está com a babá, o que custa deixá-la mais um pouco lá? Não demoraremos muito.
– Você disse “pôquer”? – se anima Will ao volante – É comigo mesmo!
– É melhor não. Está tarde e quero voltar para casa.
– Será apenas uma partida, meu amor? Vai?
- – É Barbara, nem demorará muito. Deixa? – Barbara revira os olhos incomodada pela pressão. Não havia outra solução a não ser deixar.
Sentindo novamente aquela preocupação martelando na cabeça, seguia o caminho sem demonstrar empolgação, ao contrário deles.
– 2° Intervalo Comercial –
– Olá, papai. – cumprimenta-o Barbara. Ao notar que a única sóbria, ou com a intenção de ficar sóbria naquele lugar, era ela. Seu pai, o velho e rico coronel Ernesto, nem lhe deu tanta atenção. Estava mais preocupado em prosseguir com a partida.
O lugar de Will já estava reservado, o mesmo que logo trata de se sentar, mas antes Barbara insiste em lembrá-lo:
- – Será apenas uma partida. – ele assente, virando um copo de bebida que estava sobre a mesa. A partida começou. Barbara se senta em uma das cadeiras, quieta.
– Desculpe-me, eu te acordei. – Barbara se senta ao lado da mãe na cama assim que ela se mexe sobre o colchão sonolenta:
– Faz muito tempo que você está aqui? – pergunta Sílvia, mãe de Barbara – Hoje estou tão desapercebida que nem te vi na festa.
– Cheguei faz pouco tempo com o Will. Mas volte a descansar, mãe. Já é madrugada, vim apenas lhe dar um “Olá”. É que essas últimas semanas, Alice vem dando tanto trabalho que não me restou tempo nem para um telefonema.
– Não se preocupe, minha filha. Também venho andado tão farta e cansada ultimamente, até me recolhi mais cedo hoje. O seu pai não encerrou a reunião ainda?
– Não. Eles continuam jogando pôquer. – Barbara se levanta, e começa a vagar pelo quarto, como se as paredes lhe trouxessem lembranças – Sinto saudade dos tempos que morava nesta casa…
– Deis que você se casou com o Will, as coisas nesta mansão andam tão amenas e estávei-…
- Nessa hora, escutam barulhos de gritaria e tumulto:
– Isso é uma briga? – Sílvia se preocupa, se levantando. As duas saem juntas do quarto.
– Droga, tudo deu errado! – Valerie continuava se lamentando – Hoje foi o pior dia de aniversário de todos! Perdi o dia inteiro trabalhando; Perdi o bolo; Perdi presentes; Perdi “Feliz Aniversário” das pessoas pela rua, e como se não fosse o suficiente, agora perdi o namorado!
Alice retorna a chorar em seu berço. Sem ânimo, caminha até o quarto. Pega-a nos braços, dando tapinhas em sua costa. Seus olhos se reviram de raiva ao ver a bebê vomitando em sua roupa:
– Obrigada, Alice! Essa foi para encerrar o dia com chave de ouro.
– O que está acontecendo aqui? – Sílvia ainda terminava de amarrar o seu roupão quando chegaram no jardim. Kauan segurava Will para acalmá-lo e impedi-lo que avançasse para cima de um dos convidados:
– Não está acontecendo nada. – responde Kauan, com um olhar de indireta aos dois – Foi apenas um pequeno desentendimento, não foi, senhores?
- Will se solta de seus braços, com a respiração pesada. Barbara se aproxima:
- – Já está tarde, Will. Vamos embora? – Barbara congela ao olhar para o marido. O que menos temia aconteceu. Os olhos límpidos esverdeados de seu marido deram lugar a um tom escuro e sombrio – Você…
(explosivo) – “Você” nada, Barbara! Estou farto de você e dessa sua família. Para mim chega! – gritou, indo embora completamente desestabilizado, deixando todos preocupados:
– Desculpem-me. – o convidado envolvido na confusão se constrange – Eu apenas comentei que aquela jogada não era justa. Não queria causar todo esse rebuliço.
- – O problema não foi você ter fala isso – fala Barbara, reflexiva – O problema, é que o meu marido é bipolar.
- “Maluco! Olha por onde anda!” esses foram um dos comentários que Will escutava enquanto dirigia aceleradamente o seu carro pelas ruas.
Os ponteiros do relógio indicavam 03:30 da madrugada. Da sala dava para escutar os respingos vindos do banheiro. Valerie se limpava e aproveitava para se banhar. Nunca havia tomado banho numa banheira, apenas no chuveiro.
Sobre a água, ela se deleitava. Reguardou o sabonete após esfregá-lo no seu corpo nu.
Poderia ser esse um momento relaxante, até novamente escutar barulhos pela casa. Desconfiada, se levantou preocupada. Seus olhos se arregalam ao ver a maçaneta sendo pressionada e a porta se abrir:
- – Senhor Will, o que está fazendo aqui? – pergunta apavorada, tampando as partes de seu corpo.
- – CONTINUA –
Caramba!!! Que capítulo de tirar o fôlego.
Primeiro o Douglas termina tudo com a Valerie, depois Barbara e Will desviam novamente do destino deles…
O que será que vai acontecer entre Valerie e Will???? Estou ansioso pelo próximo capítulo.
Miguel*
Essa trama continua maravilhosa! Estou amando tudo.
Odiei esse Kauan. Só pra ferrar ainda mais a Valerie.
Will e Barbara são ótimos personagens. Eles tem uma ótima base dramática.
O término do namoro de Valerie e Miguel também foi ótimo.
Obrigado Will, aguarda só mais alguns instantes que logo logo sai o Terceiro Capítulo, e já adianto, vai acontecer umas coisas ‘bafônicas’ rsrs. Espero vocês lá, hein!
Ops, é Anderson*. O Will até ficou na minha cabeça agora rsrs
Igor, li os dois primeiros capítulos, confesso que sim, a trama é envolvente, seus ganchos (Uma parte importantíssima do capítulo que vai de alguma forma conduzir o leitor ao próximo capítulo) são bons, sua ortografia é de dar uma certa “inveja” (kkkkkkkk), resumindo, uma trama que é *SUCESSO*, vai ser ainda mais se você não pecar (Provável que não)….
Mas me surgiu uma enorme dúvida, posso estar sendo ignorante, mas mesmo assim eu vou perguntar (KKKKKKK), por que o título da trama é ‘Vovó Macumba’?
Então Gabriel, existe sim uma razão para o título da trama ser “Vovó Macumba”. É que esses primeiros capítulos ainda não aborda tanto essa explicação, mas, aos poucos começará à ser mais explícito que Castidade, mãe da Val, possui um dom de visão. E como nos dias de hoje, isso não é encarado a bons olhos. Dai ela, Castidade, ficou apelidada de Vovó Macumba. Nos próximos capítulos vocês entenderão melhor. E obrigado pelas críticas e elogios!
Interessante!
rs Obrigado!
E daqui a pouco já será publicado o terceiro capítulo, as emoções continuam lá!