“Na Estrada da Vida”: 7° Capitulo
Sempre na época do inverno,Lázaro e eu saímos as ruas para entregar cobertor e sopa aos
moradores de rua.Nós sabíamos muito bem o que é ter fome e frio.
Em uma dessas nossas caminhadas pela rua,eu vi um rapaz que me lembrou muito o meu irmão
Guilherme.
Será que era ele? Mas o que ele estaria fazendo nas ruas? Para tirar a duvida eu gritei:
-Guilherme!!!
Ele me olhou e saiu correndo. Então era ele realmente,mas porque ele estava morando nas
ruas?
Eu comecei a ir lá diariamente para ver se encontrava o Guilherme novamente. Certo dia,eu
estava já prestes a desistir quando ouvi:
-Ei!!
Eu me virei,era o Guilherme,todo sujo e maltrapilho. Eu perguntei:
-Guilherme você lembra de mim?
-Não!! Quem é você?
-Sua irmã.
Ele ficou me olhando e disse:
-Safira?
-Sim.
Me aproximei com a intenção de abraçá-lo,mas ele não permitiu. Então perguntei:
-O que aconteceu?
-Nada.
-Porque você veio morar nas ruas?
-Depois que você sumiu,Rogério se tornou um
homem violento.
-Como assim?
-Ele começou a nos agredir,e cansado de ser agredido eu vim para as ruas.
-E nossa mãe?
-Não sei,não tenho noticias dela faz tempo.
Eu fiquei muito triste em saber tudo isso. Por alguns minutos cheguei a me culpar,mas se existe
um culpado,ele é o Rogério.
Guilherme levantou-se e começou a andar. E eu disse:
-Onde você vai?
-Embora.
-Para onde?
-Não sei.
-Venha para minha casa.
-Tem certeza?
-Sim.
-Eu vou,mas é só por uns dias.
Eu fiquei feliz em ajudar meu irmão. Chegando em casa, Lázaro e Dona Cida ficaram assustados
ao me ver com Guilherme. Dona Cida disse:
-Safira quem é o seu amigo?
-Ele é meu irmão.
-Serio?
-Sim! Encontrei ele morando nas ruas. Ele pode morar aqui?
Dona Cida olhou para Lázaro, Guilherme percebendo à troca de olhares disse:
-Acho que não sou bem vindo aqui.
Lázaro levantou-se e disse:
-Que isso rapaz,aproveite a sua temporada aqui.
Depois que Guilherme comeu,tomou banho e foi dormir. Lázaro veio falar comigo.
-Safira tome cuidado.
-Com o que?
-Com esse rapaz.
-Ele é meu irmão.
-Que você não vê há anos.
-O que você quer dizer?
-As pessoas mudam.
-Eu sei disso. E sei que as ruas também mudam a personalidade da pessoas. Mas o que você quer
que eu faça?
-Fique de olho nele. Nem todos tem a mesma sorte que tivemos.
Confesso que fiquei com muita raiva. Eu não poderia virar as costas para o meu irmão.
O Gustavo ,também dizia,que o Guilherme,não era mais o garoto inocente que eu conheci. Mas
eles não o conhecem,como poderiam dizer isso.
O Guilherme também não ajudava,dormia o dia todo e a noite saia. Ninguém sabia o que ele fazia
quando saia.
Certo dia eu questionei:
-Guilherme,porque você não arruma um
emprego?
-Se você quer que eu vá embora é só falar.
-Não é isso.
-O que é então?
-Acho que seria bom para você.
-Eu já trabalho.
-De que?
-Vigia noturno.
-Onde?
-Numa boate.
-Fico feliz por você.
-Que bom.
Guilherme não era o garoto gentil e educado que eu conhecia,agora era sempre desconfiado e
agressivo.
Saber que ele estava trabalhando me tirou um peso das costas,afinal era bom saber que ele não
estava fazendo algo de errado.