Depois de tudo – capítulo 04: A pessoa certa na hora errada
A pessoa certa na hora errada
Amigo, está tudo bem com você?
Ouço uma voz ao longe ao mesmo tempo em que uma mão pesa sobre o meu ombro esquerdo.
Destapo os olhos e volto a me deparar com os carros sobre a avenida passando como flechas disparadas habilmente, rumo a um destino certo, sem interrupções…
Um resquício de vertigem me assola e então volto a cerrar os olhos
Amigo? Está tudo bem com você?
A tal voz novamente.
Não consigo identificá-la.
Ter pensamentos ansiosos sobre uma situação estressante é normal. Nem todo mundo que sofre de ataques de pânico tem transtorno do pânico.
Recordo as palavras que dona Lúcia me dirigiu depois das minhas primeiras manifestações dramáticas e de rebeldia quando fui informado da virada de 180 graus que minha vida iria sofrer…
Todas as pessoas possuem altos e baixos em algum momento de suas vidas, por isso é importante estar preparado para enfrentar cada um desses momentos e tirar o máximo de cada um deles.
Ter ou não ter uma mãe psicóloga? Eis a questão.
Elas racionalizam tudo. Não nos deixa dramatizar, padecer… E as tais fases do luto (a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação – essa última eu não sei se vou alcançar), onde ficam? Estou sofrendo perdas irreparáveis e quero passear com escalas entre todas elas.
Sinto mãos envolverem meus braços com firmeza, me forçando a recuar alguns passos, como se eu estivesse prestes a sair correndo, sem destino, incontrolável…
Você está bem perto da rua, sabia?
Olho para baixo. Não havia percebido que eu estava em pé, na beirada de um meio fio.
Mais uns dois passos e pode acabar sendo atingido por um carro…
Pelo Criador, a pessoa não pode tentar ter um ataque de pânico em paz?
Abro os olhos e decido, por fim, virar a cabeça para o lado, na direção dessa voz misteriosa… Deparo-me com um jovem esquadrinhando sem qualquer cerimônia cada canto do meu rosto.
Mesmo com o seu semblante refletindo uma brandura genuína, não consigo deixar de me sentir incomodado e então semicerro os olhos na tentativa de encontrar algum traço familiar em sua fisionomia que justifique essa postura insolente…
Nada!
– A vida é muito bela para que a desperdicemos amigo.
Oi?
Imediatamente trato de encarar o meu interceptor demonstrando toda a indignação que acabou de tomar conta de mim.
– Você está achando que eu vou me atirar embaixo desses carros? – pergunto sem disfarçar o quão ofendido estou e em seguida baixo os olhos na direção dos meus braços enlaçados por suas mãos e retorno, com cara de poucos amigos, demonstrando com exagerada ênfase o meu desconforto.
Não recebo qualquer resposta. O carinha apenas afasta suas mãos enquanto seus lábios se movem, ensaiando um sorriso carregado de indulgência, o que me deixa ainda mais puto.
É impressão minha ou esse ser humano realmente não parece nem um pouco afetado com a minha reação?
– Não quer se sentar? – ele pergunta.
Prendo o fôlego e solto o ar sem pressa, voltando a encarar a avenida.
Por que algumas pessoas precisam ser tão filantrópicas e simpáticas?, reflito com demasiada amargura.
Merda…
Talvez dona Lúcia esteja certa. Sou um egoísta…
Olho de soslaio para o individuo. Sou obrigado a reconhecer que o cara só está tentando me ajudar e eu estou retribuindo com dez pedras na mão…
SACO!
– Desculpe – respondo, enfim, mas entre os dentes, sem baixar a guarda, e me viro por completo na direção dele – Não se preocupe. Só estava pensativo, um pouco distante… – remato, dando de ombros.
Agora, de frente, percebo que temos a mesma altura, só não arrisco a mesma idade, mas ele não deve ter mais do que vinte e três.
Alguém grita o nome “Thiago” e meu interceptor se vira imediatamente.
– Estamos atrasados cara – vocifera um rapaz a certa distância, na nossa direção.
“Thiago” (com aspas) acena com a palma da mão direita, sinalizando para o outro que o aguarde e se volta para mim logo em seguida.
– Desculpe se te ofendi – ele inicia com um sorriso meio sem graça – Mas você me pareceu um tanto distraído…
– É… Eu estava realmente pensando na vida… – respondo pouco me importando se minhas palavras irão parecer deliberadamente evasivas.
Até que esse Thiago com aspas não é feio. Olhos em tom de mel, cabelos bem cortados, sobrancelhas grossas, nariz empinadinho…
E lábios finos?
Fazer o quê, ninguém é perfeito…
– Vamos – ele aponta para o alto, atrás de mim.
Viro-me e vejo o semáforo vermelho.
– Te ajudo a atravessar…
– Como assim? – retorno e lanço minha pergunta carregada de descrença e sarcasmo – Você está brincando, né?
“Thiago” encolhe os ombros, claramente desconcertado, mas ainda assim não deixa de me encarar. Seus olhos tom de mel irradiam uma estabilidade surpreendente diante da saia justa em que o envolvi.
Um instante de silêncio recai sobre nós dois.
– Thiago – o chamado (mais um) do seu amigo nos faz “despertar” – Cara, estamos atrasados.
Dessa vez ele o ignora.
– Creio que abusei do demérito de ser indelicado – recebo essa satisfação enquanto o vejo arquear as duas sobrancelhas, deixando escapar um sorriso meio tímido do canto dos lábios.
Demérito-de-ser-indelicado?
Quem, nos dias de hoje, consegue ser tão cortês, se preocupando em usar o português de maneira exemplar, já que nesse nosso país verde e amarelo as pessoas não só falam cada vez pior a nossa língua, como se interessam cada vez menos em aprendê-la?…
Estou completamente desarmado. Esse “Thiago” acabou de conseguir catapultar o meu humor volúvel da mais profunda depressão a uma felicidade exultante.
– Eu quem peço desculpas, por favor. É que estou um pouco ansioso, nervoso, ou qualquer outro adjetivo que termine em oso… – respondo revirando os olhos, me arrependendo dessa manifestação digna de um colegial.
Detesto me comportar como um idiota, ainda mais na frente de um carinha da hora como esse que consegue unir na mesma frase um substantivo e um adjetivo com uma elegância ímpar…
– Preciso ir então – “Thiago” anuncia estendendo a mão direita que eu trato de apertar sem demora – Meu amigo está me esperando e daqui a pouco vai entrar em trabalho de parto… E pelo andar da carruagem é bem capaz de parir elefantes gêmeos.
Rimos da sua piada, mas ele sorri um sorriso contagiante, delicioso e que mais parece uma estrela brilhando bem forte no meio de uma tempestade…
– Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
– Como? – questiono sem pestanejar diante dessa inusitada declamação ao mesmo tempo em que nossas mãos se soltam.
– Gabriel Garcia Marquez – ele responde sem afetação – Um dos meus escritores favoritos.
Gabriel Garcia Marquez?!
Pelo Criador. Onde esse ser humano estava escondido todo esse tempo? Além de ter um olhar sincero, um sorriso largo, sabe se expressar e tem um timing… Diferente do David, que só sabe falar de esportes e de coisas óbvias…
Peraí. O que eu tô fazendo?
Esse Thiago com aspas há cinco minutos estava sugerindo que eu era um neurótico suicida…
Cérebro, coração (o senhor principalmente), vamos dar um tempo, ok? Não vou deixar vocês me jogarem dentro daquela espiral de carência me fazendo ver coisas aonde não existe, e o pior de tudo, alçando o prego do David a um patamar de referência.
– Você está realmente bem? – “Thiago” pergunta, rompendo o meu silêncio.
– Estou sim… – não demoro a responder, me policiando a fim de evitar qualquer outra reação que me fará parecer um pateta – Obrigado pela sua gentileza e cavalheirismo. Está de parabéns…
Onde eu estou com a cabeça? A minha carência deve ter alcançado níveis insustentáveis e alarmantes. Agora estou me expressando como uma donzela de algum desses romances de época estrelado pela insossa da Keira Knightley.
Esforço-me para sustentar um semblante de paisagem.
– Tudo bem então. Mas tenha cuidado – ele sugere enquanto recua dois passos para trás, sem tirar os olhos de cima de mim.
Antes de “Thiago” se virar e começar a caminhar na direção do tal rapaz que o está aguardando com cara de poucos amigos, o vejo por completo: desde o tênis branco até os cabelos curtos e lisos e o corpo escultural, sem exageros, sendo valorizados por peças de roupas levemente justas, deixando alguns músculos visíveis.
Pode apostar que vou ter… Sussurro para mim mesmo, entre os dentes, extasiado, ao mesmo tempo em que fico admirando “Thiago” se afastar ao lado do seu acompanhante até começar a se perder no meio das pessoas que estão transitando pelo calçadão.
Uma estranha sensação de desespero me invade de repente. Sou tomado por um desejo arrebatador de segui-lo e perguntar se por algum acaso do destino não nos conhecemos, ou para me apresentar, dar o número do meu celular, o endereço do meu face, qualquer coisa que possa abrir um precedente para nos encontrarmos novamente.
Respiro fundo, bem fundo e fecho os olhos.
Preciso me conter.
O que esse Thiago, com aspas, praticou foi tão somente uma boa ação me fazendo enxergar que a humanidade ainda tem salvação.
Ergo os meus olhos para a praia, para o horizonte que se desdobra à minha frente. A noite está começando cair e uma brisa suave toca minha pele. Fecho os olhos por alguns instantes e então os abro e avanço para a areia, me afastando do calçadão onde o movimento dos transeuntes só faz aumentar.
Mas por que razão ele disse aquela frase do Gabriel Garcia Marquez sobre alguém poder ser apaixonar pelo nosso sorriso? E justo no momento em que sorri de volta para ele?…
Meneio a cabeça não acreditando nos devaneios que estou permitindo que meu cérebro crie.
Estou mais uma vez parecendo uma dessas protagonistas femininas desses romances cafonas que são retratadas exageradamente como inseguras, sem personalidade e ingênuas, a ponto de olhar para um estranho na rua e pensar: nossa ali está o grande amor da minha vida, e em seguida ouvirem fogos de artifícios explodindo, sentirem a terra tremer e cheiro de flores inundando o local onde estão…
Não. Não. Não.
Definitivamente não vou descer por essa estrada. Já sei onde ela vai dar: dias, uma semana ou duas criando expectativas, hipóteses, por alguém que nunca mais verei… Em suma: desperdiçando o meu tempo para morrer na praia.
Dessa vez vou optar pela racionalidade. Já tenho problemas demais acontecendo a minha volta para querer mais um…
Talvez essa ida para Tão, tão distante (se realmente acontecer, mas é óbvio que vai acontecer… A quem estou enganado?), me ensine como lidar com essa minha falta de maturidade emocional…
Por que fui sair do meu quarto, do apartamento? Devia ter ficado por lá, hibernando nessas últimas quarenta oito horas antes… antes…
Paro de caminhar quando chego bem próximo do mar, o suficiente para sentir suas águas tocando os meus pés, molhando as havaianas com as quais estou calçado.
Ok. Fiquei impressionado com a postura desse Thiago com aspas… Só isso… Ele parece ser bacana, inteligente, divertido… Tudo o que o David não é e nenhum dos meus outros dois namorados também foram…
Merda. Merda. Merda.
Não sei por que estou gastando essa energia… Esse Thiago com aspas nem sequer olhou para trás enquanto se afastava… Provavelmente o carinha que o estava chamando era o seu namorado…
Não resisto à tentação e viro a cabeça para o lado onde os dois se perderam na multidão, na expectativa de me surpreender com “Thiago” voltando…
Até parece.
Idiotice e ingenuidade a minha, claro.
Procuro o celular nos bolsos da minha bermuda para poder ligar para Gabriela… Nada feito. Saí tão desesperado do meu quarto que acabei esquecendo a criança por lá. Mas também não sei se minha amiga ia me dar a atenção que eu tô precisando… Do jeito que ela está enrolada com aqueles dois trabalhos da escola, no mínimo iria me passar outro sermão…
Volto-me na direção do mar, cruzo os braços e ergo um pouco o queixo enquanto semicerro os olhos, continuando a sentir a água brincando em volta dos meus pés.
Fato: meu cupido tem problemas sérios e dona Lúcia vai me torrar o saco porque eu estou demorando…
Melhor achar o rumo de casa.
Vai que ela decide colocar em prática o que prometeu e não me deixe ir à minha festa de despedida…
Pelo Criador.
***
Quero um machado
Pra quebrar o gelo
Quero acordar
Do sonho agora mesmo
Quero uma chance
De tentar viver sem dor…
Vou cantarolando trechos de Astronauta de Mármore, do grupo Nenhum de Nós, enquanto faço o trajeto de volta para o metrô.
Preciso ocupar minha mente, mas pelo jeito minha veia dramática está pulsando como se estivesse disputando um campeonato de fórmula um, e essa canção que escolheu para “musicalizar” esse meu momento sem noção, no melhor estilo Alice “chapada” no Pais das Maravilhas, não está me ajudando nem um pouco.
Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
Saco. Aqui estou me deixando consumir por um episódio tão comum, tão sem sentido, corriqueiro, me comportando como um compulsivo, imaturo e irracional, criando teorias fantasiosas, castelos de areia…
Se existe uma pessoa digna de possuir os títulos de Redundante e Idiota do século, essa pessoa sou eu!
Já perdi a conta das vezes em que uma simples troca de olhares, um esbarrão dentro do metrô, ou andando na rua, na escola, me fez imaginar uma vida a dois, com uma casa, filhos adotivos…
Será que existe algum estudo cientifico sobre isso?
Por que não posso ser como a maioria dos carinhas gays da minha geração, só buscando curtir, sem dramas, sem raízes, dormindo uns com os outros sem compromisso, sem se importar de no dia seguinte dar uma satisfação, retornar uma ligação, querer repetir o encontro desde que não seja tão somente a cama o objetivo a ser alcançado?
Odeio essa minha carência exacerbada. Odeio não conseguir controlar meu desespero por querer ter alguém a meu lado para dividir um instante, um entusiasmo, um sucesso alcançado, compartilhar alegrias… Alguém para me apoiar quando estiver decepcionado…
Minhas três tentativas de um namoro, DE VERDADE, deram com os burros n’água: o Jonas, que conheci numa biblioteca, era tímido e educado de dar pena, pedia por favor até mesmo pra me beijar, sem falar nas mãos trêmulas e suadas, a voz hesitante e um sentimento de inferioridade que quase beirava o insuportável, mas ainda assim procurei ver o melhor da situação, tendo a certeza de que o ajudaria, permanecendo ao seu lado até o quanto pude… Bem… Na verdade até um post it dele me dando adeus aparecer embaixo do meu celular…
O Thomas (fruto de um site de bate papo), era o equivalente a um sorvete no inferno: sua fidelidade tinha prazo de validade. Três semanas de namoro e ele sempre com uma desculpa pra justificar seus disparates, alegando ser perseguido por um histórico de relacionamentos fracassados, mas que ia conseguir superar… Graças ao Criador a Gabriela me fez cair na real, me obrigando a enxergar que ele não me valorizava… Na verdade não valorizava nem a si próprio…
E o David…
Sinto dor e raiva engasgando minha voz.
Sempre me julgando como uma criança… Como se ele fosse um adulto coberto de razões, detentor de toda maturidade que existe no universo…
Um fogo lento surge em algum canto do meu cérebro…
Preciso aprender a agir como Clark Gable, na pele de Rhett Butler, quando abandonou delicadamente Vivien Leigh e sua inesquecível e avassaladora Scarlet, no final de E o vento levou, respondendo às declarações de amor dela, um tanto tardias, com um simples: francamente, querida, eu não dou a mínima.
Magnetismo animalesco, personalidade persuasiva e delicadeza feroz… Uma combinação perfeita para não sofrer, ou pelo menos saber a hora certa de deixar o barco antes que ele afunde de vez.
Melhor não, constato balançando a cabeça, irritado, frustrado. Esse é o David e eu definitivamente não quero ser como ele.
Compro o meu ticket e atravesso a roleta que dá acesso aos vagões do metrô quase a arrancando do lugar.
A ansiedade e a pressão estão me deixando louco a cada minuto que passa.
Já desisti de contar, e isso no trajeto da praia até aqui, as vezes em que montei e remontei o rosto desse “Thiago”, das infinitas versões que criei para esse esbarrão que tivemos na beira da praia, incluindo um final cinematográfico onde ele deixa o seu possível namorado a ver navios e corre de volta para me reencontrar, empurrando as pessoas, ensandecido e gritando o meu nome (apesar de não termos nos apresentado e ele não saber como me chamo…).
Sem sombra de dúvidas o maior alucinógeno que existe é a carência, e com toda certeza ele é bem mais forte que aqueles cogumelos mágicos que a Alice comia enquanto batia um papo cabeça com uma lagarta que fumava mais que a Bette Davis.
Paro na amurada que antecede os degraus que levam aos vagões a fim de tentar recuperar o que resta da minha sanidade.
Eu nem sequer achei esse tal Thiago (e suas aspas) interessante antes dele pedir desculpas pelo demérito de ter sido indelicado e citar Gabriel Garcia Marquez…
Dou de ombros, acobertando meu despeito com uma camada frágil de resignação e arqueio as sobrancelhas para em seguida estufar o peito, endireitando minha postura.
É o mais próximo da dignidade que posso alcançar nesse momento.
Visualizo a frente de um vagão surgindo na saída do túnel escuro; ele e a fileira que o acompanha vão diminuindo a velocidade enquanto tomam conta dos trilhos que beiram a plataforma, onde um aglomerado de pessoas os aguarda.
Tomo impulso e desço as escadas de dois em dois degraus para me atirar dentro de um desses vagões já estacionados; algumas pessoas me olham, surpresas, outras, assustadas…
Caminho, sem pressa, até encontrar um espaço disponível para me encostar, sem ninguém tão próximo.
Inspiro. Expiro.
É isso… Vou pra minha festa de despedida, me esbaldar muito, beber todas e esquecer essa palhaçada.
Onde estou com a cabeça?
Eu ainda nem consegui digerir essa história do David com o seu novo namorado e já estou fomentando outro príncipe encantado perfeito, maravilhoso, digno de toda minha atenção…
Passo a mão no cabelo, em seguida me aprumo ajeitando minha roupa (como se eu estivesse vestido com um smoking), cruzo os braços e aperto os olhos uma, duas, três vezes: gestos que não deixam dúvidas do quão ansioso eu estou…
Esvaziar minha mente… Esvaziar minha mente…
Deixo escapar um som estranho pelos lábios entreabertos após encher e esvaziar minhas bochechas…
Quanto mais perturbadora a lembrança, mais persiste a sua presença, recordo uma frase do livro Água para elefantes e então arregalo os olhos e miro o chão, irritado diante da minha impotência por não conseguir resistir, de novo e mais uma vez…
Por tudo isso ser mais forte do que eu…
Merda!
Me odeio. Odeio o David. Odeio o Jonas, o Thomas. Odeio todos outros que cruzaram o meu caminho e despertaram em mim, sem saber, esperanças, um amor frustrado… A humilhação…
Engulo em seco. Meu coração está martelando de raiva.
Preciso me controlar.
Preciso me controlar.
Busco respirar pausada e profundamente…
Ergo os olhos e tento aquietar meu coração, recompor minha fisionomia. Devo estar parecendo um maluco…
Gradativamente a sensação de mal-estar começa a ceder e então viro a cabeça para trás, arriscando um olhar carregado de expectativas na direção dos degraus enquanto a porta automatizada do vagão se fecha instantaneamente.
Chega. Não vou pensar nisso agora.