Capítulo 10 – Detalhes Sórdidos
Uma hora depois.
GARIBALDI – Essa vadia está mentindo!
PADRE DORNAS – Ela é uma serva de Deus! Lave a boca pra falar assim de uma pessoa consagrada…
GARIBALDI – Não seja tolo, padre. Onde ela esteve até agora? Está na cara que ela descobriu alguma coisa e foi ferida pelo Anfitrião. Agora ela quer me culpar, pra que vocês me deixem preso.
TOM – Mas é assim que você vai ficar até descobrirmos o que está acontecendo, quem é esse Anfitrião, e principalmente, o que você tem a ver com tudo isso.
PADRE DORNAS – Eu não estou gostando nada disso, Thomas. Parece que as pessoas estão enlouquecendo aqui dentro.
TOM(sussurrando) – Parece que os únicos lúcidos aqui somos o senhor, a Mariah e eu. Não confio em Marinna. A Anita está em estado de choque e está sedada. Vamos ter que trabalhar em equipe, nós três.
PADRE DORNAS – Por que você não confia na Marinna?
TOM – Padre, com os poucos anos que tenho trabalhado como executivo, aprendi que nada acontece por acaso, ou melhor, nada acontece sozinho. Está na cara que Marina soltou Valéria. E a Valéria continua desaparecia. Não podemos nos esquecer das cartas de tarô.
PADRE DORNAS – É, mas não apareceram mais.
TOM – Ainda…
MARIAH – Vocês dois querem parar de cochichar e nos dizer sobre o que estão conversando?
PADRE DORNAS – Eu vou ao quarto da irmã, ela tem que nos revelar alguma coisa.
Quarto da Irmã Sofia.
PADRE DORNAS – Irmã, a senhora pode me dizer onde esteve quando desapareceu?
IRMÃ SOFIA – Eu estava fugindo.
PADRE DORNAS – De quem?
IRMÃ SOFIA – Garibaldi. Ele é um criminoso, um assassino. O senhor não sabe do que ele é capaz…
PADRE DORNAS – E a senhora sabe, Irmã? Por favor, não se cale.
A freira virou o rosto.
PADRE DORNAS – Irmã, me diga: o que aconteceu entre a senhora e o Sérgio aquele dia? Ele jura que a senhora tentou mata-lo. E ele está muito ferido, levou um tiro, quase morreu afogado em lama.
IRMÃ SOFIA – Padre, eu quero me confessar…
PADRE DORNAS – Irmã, por favor, isso não. Sabe que qualquer coisa que disser, pode nos ajudar. Estamos presos aqui e nem sabemos se vamos sair vivos.
IRMÃ SOFIA – Ninguém vai sair vivo daqui, padre, por isso quero me confessar. Quero ir para o mundo espiritual de alma limpa.
PADRE DORNAS – Irmã, depois de todos esses anos, eu não creio que essa seja a saída. Se confessar para limpar a alma. Seria fácil demais.
IRMÃ SOFIA – Está fugindo às suas responsabilidades, padre?
PADRE DORNAS – Não. Só não estou dando a mesma importância de antes. Acho que o Anfitrião tem razão, eu não tenho mais fé.
IRMÃ SOFIA – Fé em Deus, ou em si mesmo?
PADRE DORNAS – Irmã, eu nunca tive verdadeiramente fé em Deus. Mas agora estou perdendo a fé em mim mesmo.
IRMÃ SOFIA – Um sábio disse certa vez que “quando o homem perde a fé em Deus, ele perde parte do seu ser, mas quando ele perde a fé em si mesmo, ele perde tudo.”
IRMÃ SOFIA – Por isso mesmo eu não posso ouvir sua confissão, Irmã. Acho que me perdi.
IRMÃ SOFIA – Mas o senhor não renunciou ainda à sua batina. Por isso, ainda tem obrigação de me ouvir. Eu preciso me confessar.
PADRE DORNAS – Está bem.
Uma hora depois – Biblioteca.
PADRE DORNAS – O que estamos procurando, Tom?
TOM – Qualquer coisa que nos dê uma pista.
PADRE DORNAS – O senhor não acha que deveríamos estar procurando no quarto do Garibaldi.
TOM – Eu coloquei um remedinho forte na água dele. Quando estiver dormindo, vamos pra lá, muito embora eu não acredite que ele deixe pistas tão óbvias. Ele pode ser louco, mas não é tolo.
MARIAH – Ei, vejam isso! São fotografias do Garibaldi. Veja aqui, o lançamento do seu único livro; aqui ele entrando em algum lugar.
TOM – A julgar pela situação, eu diria que essas fotos foram tomadas quando ele não estava olhando. Talvez por um detetive particular.
MARIAH – Eu também acho, pois eu não me lembro de ter permitido essas fotos.
Eram fotografias de Mariah em várias situações. No clube, na balada, em restaurantes.
TOM – Parece que você leva uma vida bem agitada…
MARIAH – Você não?
PADRE DORNAS – Mas não são somente eles. Veja, somos nós. Dezenas de fotografias nossas. Esse cara esteve nos vigiando por muito tempo.
TOM – É, e isso me cheira muito mal. O que me intriga é que as fotografias do Garibadi estão separadas.
PADRE DORNAS – Deve haver mais coisas escondidas aqui que nos dão uma pista.
Corredor Central.
PADRE DORNAS – Veja! Valéria!
Ela estava saindo quarto de Garibaldi. O padre Dornas e Tom correram atrás. Valéria virou a esquina do corredor, que estava mal iluminado, mas que dava para ver sua silhueta perfeitamente. Ela corria muito para uma pessoa de 55 anos.
TOM – Não deixe ela escapar!
PADRE DORNAS (gritando) – Valéria, só queremos conversar.
Ela entrou por uma porta, mas a mesma trancou-se assim que ela passou.
TOM – Fique vigiando aqui, vou buscar alguma coisa pra arrombar essa porta.
Ele voltou em seguida com um machado, com o qual, arrebentou a porta depois de algumas tentativas.
TOM – É madeira muito maciça.
Era um lugar escuro. Não havia interruptores. Tom tinha que contar com uma pequena lanterna, que estava começando a falhar.
TOM – Valéria!!!
PADRE DORNAS – tem outra porta ali.
Eles ultrapassaram a outra porta.
TOM – Tem um alçapão aqui. O senhor acha que vai dar em algum ambiente subterrâneo.
PADRE DORNAS – Com certeza. Vamos tentar abrir.
Era impossível. Nem mesmo o machado conseguia provocar algum estrago no alçapão.
TOM – É melhor sairmos daqui e ver como estão os outros. Depois retornamos com alguma coisa pra arrombar.
PADRE DORNAS – Espere, tem outra porta aqui.
Eles a transpuseram.
TOM – Valéria! O que você está fazendo aí?
Sentada em uma cadeira, com uma única e fraca luz no teto, e o quarto escuro. À sua frente, uma mesa. Misteriosamente.
TOM – Você vem conosco!
VALÉRIA – Não posso sair daqui.
TOM – Mas você deve…
VALÉRIA – será que você não entende? Está lidando com forças que não pode compreender. Eu sou a sua salvação. E para a sua surpresa, Garibaldi também é.
Valéria retirou uma carta do seu baralho.
PADRE DORNAS – Você recuperou seu baralho?
VALÉRIA – Não me interrompam. Não me perguntem nada, apenas ouçam, vou retirar uma carta. A Torre!
TOM – O que isso significa?
PADRE DORNAS – Não significa nada! Isso é uma bobagem.
VALÉRIA – eu não surpreendo com suas palavras, padre. Elas vêm de um homem que nem em Deus acredita. Thomas, a Torre significa queda. Mudança geral no panorama, dificuldades, como eu havia previsto no começo.
Ela retirou outra carta.
VALÉRIA – O Enamorado. Vindo juntamente com a Torre, que é uma carta muitas vezes com significado negativo, ela também pode ser negativa. Ruptura, desconfiança.
TOM – Isso eu já sei! Desconfio de você e do maluco do Garibaldi
Outra carta. O Papa.
VALÉRIA – Seu maior inimigo, está perto de você. Ele será o motivo da ruptura. Ele é o Padre Dornas.
PADRE DORNAS – isso é mentira!
Fim do Capítulo 10