Capítulo 9 – Detalhes Sórdidos
CAPÍTULO 9
TOM – Vamos pegá-lo!
Tom, e o padre amarram Garibaldi em uma cadeira.
TOM – Agora você vai me explicar tudinho o que está acontecendo.
GARIBALDI – Por hora, posso dizer que todos nós estamos aqui pra morrer. E antes que você me inquira sobre o motivo de eu estar fazendo tudo isso, eu respondo: Há uma regra que você já sabe. O último que sobreviver, sai daqui vivo e rico.
Tom deu um soco tão forte na cara de Garibaldi, que doeu a sua mão.
GARIBALDI – Não adianta me bater. Se não me tirar daqui, eu vou morrer, mas você também vai. E eu sou o único conheço todas as armadilhas da casa, porque eu descobri uma planta, e eu me movo como quiser aqui dentro.
PADRE DORNAS – Não podemos confiar nele, ele está mentindo.
TOM – Mas ele se move mesmo como quer aqui dentro, de repente…
GARIBALDI – Muito sensato…
PADRE DORNAS – Mas assim que soltarmos, ele vai fugir. Lembra: é um louco.
GARIBALDI – Vejo que andaram fuçando o meu quarto. Não os culpo, muito embora isso seja uma total falta de educação.
TOM – Cale a boca!
GARIBALDI(Com um sorriso sínico) – A única esperança que vocês têm, sou eu. E desgraçadamente, vocês também são a minha esperança. Sabem por que? Porque o Anfitrião não tem nenhuma intenção de que saiamos daqui vivos. Nem mesmo eu, apesar de vocês imaginarem o contrário.
TOM – Então me diga: quem é o Anfitrião?
GARIBALDI – Eu não sei…
Outro murro.
GARIBALDI – Acredita que me torturar vai resolver alguma coisa?
TOM – Você tentou matar o Edson duas vezes.
GARIBALDI – Tom, me escute: eu tentei matar pra ficar vivo. Quer que eu repita? Tudo bem: o último que ficar vivo, sai vivo e rico. Eu não sei se você me pouparia, numa situação dessas. O ser humano é imprevisível.
PADRES DORNAS – Tom, esse cara já provou que é um maluco. Ele é um assassino e um fugitivo do hospício. Aposto como foi colocado aqui pra nos matar.
GARIBALDI – Tom, o cerco está se fechando e você não tem muito o que escolher. Eu conheço a casa, e eu posso nos tirar daqui.
PADRE DORNAS – Veja o que ele fez com Edson. Eu não vou permitir que você o solte.
GARIBALDI – Escute, Tom. O dinheiro, todo ele, está guardado em um armário aqui dentro dessa casa. Dez milhões de reais. Eu ainda não sei onde está, mas estou quase o encontrando. O Anfitrião está jogando conosco e eu acredito que ele vai deixar sair vivo daqui quem vencer o jogo. Mas eu sei como sair daqui vivos. Tem lanternas na ala norte da casa. Vamos desligar o sistema elétrico, e o Anfitrião ficará “cego”. Não poderá nos ver. Pegamos o dinheiro e damos um jeito de sair.
TOM – Mas e os que estão desaparecidos?
GARIBALDI – Esqueça-se deles. Não sairão vivos de qualquer forma.
PADRE DORNAS – Tom…
TOM – Calem-se! Eu preciso pensar.
GARIBALDI – Não há tempo para pensar, Tom. O Anfitrião pensou nas formas mais requintadas de tortura física e psicológica. É um artista. Vocês devem ter notado que ele deve ter lido o meu livro, por causa de algumas semelhanças…
TOM – Exatamente! Por isso desconfiamos de você. Você vai me falar onde está a planta, e ficará preso. Se conseguirmos sair, você sai. Se não, você morre conosco.
GARIBALDI – É uma proposta tentadora, Tom. Infelizmente terei que declinar, porque assim como vocês não confiam em mim, eu também tenho meus direitos de não confiar em vocês.
Tom e o Padre se afastaram e falavam em sussurros.
TOM – O que você acha?
PADRE DORNAS – Eu acho que assim que o soltarmos, ele tentará nos matar.
TOM – Não temos muitas opções, não é?
PADRE DORNAS – Não, não temos. Eu voto em deixa-lo amarrado.
TOM – Faremos isso por enquanto. Depois vamos ver o que faremos.
Virando-se para Garibaldi.
TOM – Você ficará preso por enquanto.
GARIBALDI – A sai insensatez vai custar a sua vida, Tom.
TOM – E a sua também. Padre, fique vigiando. Eu vou ver como está a Marinna. Ela foi sedada e dormiu um bocado.
Quarto de Marinna.
TOM – Você está bem?
MARINNA – Minha cabeça dói um pouco.
TOM – Agora você quer me dizer o que aconteceu?
MARINNA – Eu não sei se consigo. De alguma forma, ela descobriu um segredo meu, e eu não estou preparada, eu… eu tenho muita vergonha.
TOM – Esse segredo será desnudado cedo ou tarde pelo Anfitrião. É melhor você estar preparada para não terminar como o Sérgio.
MARINNA – Então você acredita agora que o Sérgio se matou?
TOM – Não, mas isso também não está descartado. Ele sofreu muita pressão psicológica. Muito se fala sobre pedofilia, se condena, mas o pedófilo, em sua maioria, precisa de tratamento. É uma doença que deve ser tratada e não condenada. Muitos deles lutam contra isso, mas não conseguem.
MARINNA – Você fala como fosse um.
TOM – Eu não, mas um grande amigo meu era. Ele me contava as lutas internas pelas quais passava. As noites de agonia, implorando a Deus que tirasse aquilo dele. Ele se matou depois de abusar da própria filha de cinco anos.
MARINNA – Bom, ele poderia ter poupado pelo menos a filha.
TOM – É uma dependência psíquica. Quando surge o ímpeto, não há como poupar ninguém. Será que esse seu segredo também não tem a ver com isso? Com um ímpeto incontrolável?
MARINNA – por favor, não me obrigue a falar disso…
TOM – Marinna, a única forma de nossos segredos não nos causarem constrangimento, é falando sobre eles.
MARINNA(Gritando) – Não! Não sei como a Valéria se soltou, e nem sei pra onde ela foi. Pode me deixar em paz, por favor?
TOM – Está bem. Mas se quiser conversar, por favor, pode usar o meu ombro.
MARINNA – Obrigada…
Sala de convivência.
PADRE DORNAS – E então? Ela falou alguma coisa?
TOM – Não, mas alguma coisa muito grave ter acontecido.
PADRE DORNAS – O Anfitrião está usando nosso passado contra nós. Está estudando nossas reações e está se divertindo com elas.
TOM – E se Garibaldi estiver certo? E se o Anfitrião quiser nos matar a todos?
PADRE DORNAS – Por falar nisso, o Anfitrião deve surgir a qualquer momento. Vou buscar o Garibaldi.
Dez minutos depois.
ANFITRIÃO – Garibaldi, então se deixou prender…
TOM – onde estão Valéria e a freira?
ANFITRIÃO – Deveria se preocupar consigo mesmo, Tom. Devia ouvir o que o Garibaldi tem a dizer.
TOM – Ele é um psicopata. Não confio nele.
ANFITRIÃO – E em mim? Você confia. A confiança é algo tão abstrato, mas tão abstrato, que pode desaparecer no momento em que surge. O padre por exemplo, deixou de confiar em Deus, no momento em que precisou dele, não é mesmo, padre José Dornas? Fale para os seus amigos, como é ser um padre sem fé. Descreva como é ser um padre ateu.
MARIAH – O senhor é ateu?
PADRE DORNAS – Eu tive sim uns problemas de relacionamento com o Divino. Mas isso não quer dizer que eu seja ateu.
ANFITRIÃO – Não é ateu? Então por que o senhor não se ajoelha e reza pra dormir? Por que o senhor a muito já deixou de rezar a missa?
PADRE DORNAS(gritando) – Isso não significa que eu seja ateu!
ANFITRIÃO – Claro que não, mas o seu descontrole significa, afinal, um homem que tem Deus no seu coração, não precisa perder o controle.
PADRE DORNAS(Ainda gritando) – Sou ateu sim, isso é crime por acaso? É crime ser ateu?
ANFITRIÃO – Crime foi o que o senhor cometeu em sua paróquia, padre! Você roubou a sua Igreja, você roubou um orfanato e foi o responsável pelo fechamento do mesmo. O senhor, padre é ou não é o responsável pela queda de muitas vidas? Fale!
O padre começou a tremer.
TOM – Que direito você tem de julgar alguém aqui? Você é tão mau caráter quanto qualquer um de nós.
Não houve resposta. O padre sentou e colocou a cabeça entre os joelhos. Estava chorando.
GARIBALDI(rindo) É assim que ele age, Tom. Ele vai nos matando aos poucos…
TOM – Mas por quê? O que fizemos?
GARIBALDI – Eu não sei. Mas você tem que me soltar. Vamos descobrir juntos. Vamos, nós dois… nós quatro: você, o padre, a … a mocinha ali e eu, vamos trabalhar juntos…
TOM – Você mostrou que não é digno de confiança, então, fique quieto.
GARIBALDI – Tá bom, Tom. Vou ficar quieto. Mas vou adiantar uma coisa. É melhor vocês encontrarem a freira e mata-la. Pois ela descobriu tudo o que descobri. E ela sim, é uma assassina.
De repente alguém bate à porta. O padre abre, e surge a irmã Sofia, se esvaindo em sangue.
IRMÃ SOFIA – Ele vai nos matar! Ele sabe de tudo!
TOM – Quem?
IRMÃ SOFIA – GARIBALDI.
Fim do Capítulo 9