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Detalhes Sórdidos

Capítulo 7 – Detalhes Sórdidos

TOM – Ele não se matou.
VALÉRIA – Como você pode ter tanta certeza?
TOM – Padre, o senhor arrombou a porta, havia alguma chave pelo lado de dentro?
PADRE DORNAS – Não, mas ela pode ter caído…
TOM – a não ser que alguém a tenha pegado, onde essa chave poderia ter caído aqui dentro? É um lugar relativamente pequeno, a não ser pelo teto alto.
EDSON – Para que o teto de um banheiro precisaria ter um gancho como aquele? Esse lugar foi feito para o professor se enforcar. Pois no banheiro do meu quarto não há um gancho como aquele no banheiro.
TOM – Nem o meu…
VALÉRIA – O meu também não. Mas se ele não se matou, quem poderia fazer uma coisa horrível dessas?
EDSON – Talvez você possa nos explicar, Valéria.
VALÉRIA – Heim?!
EDSON – Veja só o que eu encontrei debaixo do travesseiro dele. Uma das suas cartas de tarô. E muito sugestiva, já que a carta é “O enforcado”.

Todos olharam pra Valéria com desconfiança.

TOM – Pode nos explicar isso?
VALÉRIA – Não, claro que não posso! Eu não sei o que essa carta está fazendo aí. Ou melhor, nem sei se essa carta é minha.
TOM – Há uma maneira de saber: Vá lá e pegue suas cartas, e nos mostre.

Valéria retornou depois de uma hora de procura, à sala de convivência, onde todos os demais já estavam reunidos.

TOM – E então?
VALÉRIA – Não encontro… Todo o jogo sumiu!
EDSON – Claro que não. Não estão vem? Essa mulher está “macomunada” com esse tal de Garibaldi. Ele desaparece, de repente as cartas de tarô desaparecem, e alguém é encontrado morto da mesma forma como uma das cartas é encontrada.
VALÉRIA – Mas não eu! Gente, pelo amor de Deus, eu não faria isso. O Garibaldi talvez. E talvez ele até tenha roubado as minhas cartas.
EDSON gritando)– Já chega! Você vai ficar amarrada agora.
VALÉRIA – por que não me deixam dar a minha versão? A carta do Enforcado nada tem a ver coma morte, mas sim com uma nova vida, uma iniciação. Ou quando muito, com uma morte tranquila e com a sensação do dever cumprido. Uma expiação da culpa e não a culpa em si.
PADRE DORNAS – Me desculpe, mas eu não acredito em nada disso. Mas Edson tem razão, até que se prove o contrário, você é uma suspeita aqui, juntamente com Garibaldi. Aliás, temos que encontra-lo, e também dar um jeito no corpo do Garibaldi.
EDSON – Que jeito? Você quer que a enterremos? Temos que descobrir o que aconteceu.
TOM – Lá na despensa tem um freezer vazio. Vamos coloca-lo lá por hora. É o melhor que temos por enquanto. Quanto a você, Valéria, me desculpe, mas você vai ficar presa em seu quarto, e toda noite uma pessoa irá revezar para vigiar .
VALÉRIA – Mas e se eu for a próxima vítima?
EDSON – Eu não vou ficar em corredor nenhum a noite toda. Prefiro ficar no meu quarto com a porta trancada. Além do mais, ela é a maior suspeita agora, mas não é a única. Pode ser qualquer um e vocês…
TOM – Qualquer um de nós, você quer dizer.

Sala de refeições, hora do almoço.

EDSON – O que você fez o resto da madrugada, Valéria?
VALÉRIA – Fiquei no meu quarto, tentando dormir, por quê?
EDSON – Você quer me dizer o que é isso aqui?

Jogou uma carta de tarô sobre a mesa.

VALÉRIA – Eu… eu não sei…
EDSON(Aos berros) – As cartas são suas, droga! É claro que você sabe!
TOM – Que carta é?
VALÉRIA – A roda da fortuna.
TOM – E oque significa?
VALÉRIA – A natureza cíclica da vida humana. O movimento de ascensão e declínio.
EDSON – E por que pra mim? Responda.
VALÉRIA – Eu não sei!
EDSON – Diga logo!
VALÉRIA(chorando) – Eu não sei! Mas que droga! Quantas vezes eu preciso dizer que meu baralho foi roubado.
TOM – E pra que você tinha que trazer pra cá um baralho de tarô?
VALÉRIA – É quase imperceptível. Eu ando com essas cartas para todos os lugares que eu vou. Nunca me desgrudo delas.
TOM – No entanto, deixou que elas fossem roubadas.
MARIAH – Eu acredito nela.
ANITA – Eu também.
TOM(sarcástico) – Ótimo. As duas mais falantes da turma, de repente abrem a boca pra defender a principal suspeita.
ANITA – Se eu não abro a boca pra falar, é porque não fico falando abobrinha como você e esse aí.(apontou para Edson).
PADRE DORNAS – Gente, o foco aqui é o professor Sérgio…
TOM – Aliás, padre, eu gostaria de me desculpar por eu ter acreditado que o senhor era um pedófilo.
PADRE DORNAS – Não é culpa sua, filho. Mas de uma imprensa sensacionalista que fixa seu olhar de fogo nos os padres enquanto centenas de pedófilos profissionais estão traficando crianças sem que eles sequer prestem atenção a este fato.

Houve um instante de silêncio.

TOM – Pessoal, enquanto Garibaldi estiver solto por aí, não estaremos seguros. Então vamos nos dividir em duplas e procura-lo. Você, Valéria, ficará aqui amarrada até sabermos o que iremos fazer.
VALÉRIA – Isso não é justo.
EDSON – Espere um pouco: está dizendo que temos que ficar andando por essa casa maluca, e ir naquele quintal que toda hora acontece alguma maluquice?
TOM – É exatamente isso que estou dizendo.
EDSON – Eu sei que eu vou me arrepender disso.
TOM – Sairemos eu e a Mariah, O Edson e a irmã Sofia, O Padre Dornas e a Anita. A Marinna revezará de duas em duas horas a vigilância da Valéria. A cada duas horas nos encontraremos aqui para sabermos se está tudo bem, e também para o revezamento. Vamos lá.

Bosque, depois do pomar.

EDSON – Acho que andamos demais.
IRMÃ SOFIA – Eu estou morrendo de medo.
EDSON – me diz uma coisa, irmã. Por que a senhora resolveu aceitar essa proposta?
IRMÃ SOFIA – Eu achei que seria apenas reuniões sociais em uma casa de campo. Não pensei que nossas vidas estariam em perigo. Além do mais, o dinheiro poderia ajudar em muito o orfanato onde trabalho, o meu convento, e até mesmo à minha família, por que não?
EDSON – É um bom motivo.
IRMÃ SOFIA – Veja ali! Garibaldi!!!
EDSON – Onde?
IRMÃ SOFIA – Ali!

A irmã saiu correndo, tendo Edson corrido logo em seguida. Estava escuro, e Edson gritou a irmã, para que ela o deixasse ir à sua frente, pois ela poderia se machucar. Ela desacelerou, e Edson a ultrapassou, vendo também um vulto que corria na frente, mas bem longe.

EDSON(Gritando) – Achamos ele! Achamos! Ach…

O chão some dos seus pés, e Edson se vê despencando de um barranco. Ele cai em um poço de lama bem densa, e todo movimento seu o atolava cada vez mais ao fundo.

EDSON – Socorro! Irmã, jogue-me uma corda, ou eu vou afundar! Socorro.

A lama já estava pelo meio em sua cintura, e a sua tentativa de sair só o condenava cada vez mais. Para seu desespero, os famintos e monstruosos cães que rodeiam a propriedade chegaram aos bandos na beira do lamaçal. Eles esperam pacientemente que Edson seja resgatado, para avançar sobre ele e rasgar sua carne.

EDSON – irmã, pelo amor de Deus, o que está fazendo aí que ainda não foi procurar uma ajuda? Irmã!

A lama já está no peito. “A natureza cíclica da vida” –Edson parecia poder ver nitidamente Valéria falar sobre a carta de Tarô. “Um dia você está por cima, outro dia está por baixo. É a vida!”

EDSON (desesperado) Irmã, me ajude!

Mas ao bater uma última vez a luz da lanterna no alto do barranco, o que ele viu, lhe tirou todas as esperanças. A irmã lhe olhava calmamente, e ao seu lado, Garibaldi, que lhe apontou uma arma e disparou. O tiro foi certeiro no peito, e ele apagou.

TOM – Ouviu um tiro?
MARIAH – Sim, vem dali.
TOM – Vamos…
MARIAH – Não! Não estamos armados. E se sobrar pra nós?
TOM – Estamos sempre correndo riscos aqui.

Eles seguiram a direção do disparo, encontrando com a irmã Sofia no caminho.

IRMÃ SOFIA – Ainda bem que apareceram. Alguém atirou em Edson.
TOM – Onde ele está?
IRMÃ SOFIA – Venha, eu levo vocês até ele.

Sala de convivência

VALÉRIA – Marinna, você acredita em mim, não acredita?
MARINNA – Eu não sei mais em que acreditar.
VALÉRIA – Olhe nos meus olhos. Veja se eu tenho coragem de fazer coisas de que estão me acusando. Eu sou tão vítima quanto vocês.
MARINNA – Eu não. Por favor, não me peça nada…
VALÉRIA – Não estou pedindo nada, só que você confie em mim. Minhas mãos estão rochas, inchadas. Por favor, apenas as libere um pouco.

Marinna atendeu ao pedido. Com as mãos liberadas, Valéria passou a acariciar Marinna, e essa começou a se sentir excitada.

VALÉRIA – Eu sempre tive uma atração por você.

Depois de mais carícias, Marinna não suportou, desenrolou as cordas do corpo de Valéria e a abraçou e a beijou avidamente.

Jardim Frontal.

TOM – Já está passando das duas horas do revezamento. Vamos levar Edson lá pra dentro e ver o que podemos fazer.

Sala de convivência.

Ao transpor a grande porta em arco da sala de convivência, o inesperado acontece. Marinna está caída, desacordada. Há sangue no chão, e uma forme marca de pancada na cabeça.

Fim do capítulo 7

Resumo do Capítulo 8

Garibaldi e Valéria estão desaparecidos.Edson acorda, mas está em estado de choque. irmã Sofia aparece e diz que viu quando garibaldi atirou em Edson. irmã sofia tenta matar Edson, mas é interompida por Anita. Tom, o Padre Dornas e Mariah descobrem algo importante do passado de Garibaldi e do Anita. Eles começam a desconfiar que algo em comum os ligam de alguma forma. Garibaldi reaperece.

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