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Detalhes Sórdidos

Capítulo 2 – Detalhes Sórdidos

Sala de refeições.

IRMÃ SOFIA – Alguém ouviu um choro de bebê ontem à noite?
GARIBALDI – Eu não ouvi nada. Também, depois de ter comido como eu comi, caí na cama e dormi aquele sono merecido
EDSON – Só tem uma coisa que não estou gostando…
GARIBALDI – uma coisa? Você não está gostando de nada desde que chegamos aqui!
EDSON – Fica na sua, e não vai encontrar problemas, tá bom?
TOM – Pessoal, a gente nem se conhece direito, e já estão discutindo…
EDSON – Por isso mesmo. Esse metido nem me conhece e vem com gracinhas. Eu já notei que ele é o “palhacinho da turma”
TOM – Que tal nos apresentarmos? Meu nome é Tomas, eu sou executivo de um shopping
IRMÃ SOFIA – Sou Sofia, como pode ver, sou freira.
MARIAH – Meu nome é Mariah. Eu… eu não sou nada. Meu pai é dono de uma rede de concessionárias de automóveis, e… eu acho que é isso.
EDSON – Meu nome é Edson e eu sou analista de sistemas. Trabalho numa multinacional, fabricante de softwares.
GARIBALDI – Como eu sou o mais famoso aqui, acho que todos me conhecem, não é?

Todos em silêncio. Alguns encolheram os ombros.

GARIBALDI – Vocês estão de brincadeira comigo! Eu sou um escritor muito conhecido.
EDSON – Bem, parece que não é tão conhecido assim.
PADRE DORNAS – Por que será que estou tendo uma estranha sensação de deja-vú?
TOM – Vamos continuar. Você, que é?
VALÉRIA – Valéria. E eu sou… como vou dizer? Bem, eu sou uma mística. Jogo búzios, tarô, e tenho poderes psíquicos.
GARIBALDI – Era só o que me faltava!.
PADRE DORNAS – Sou João Dornas, e como podem ver pelo meu colarinho, sou um padre.
SÉRGIO – Eu sou Sérgio e não faço nada. Estou desempregado. Na verdade, sou professor. Mas estou desempregado.
ANITA – Meu nome é Anita.
TOM – E o que você faz da sua vida, Anita?
ANITA
– Torno a vida dos homens mais agradável.
GARIBALDI – Eu acho que não entendi. Como você pode tornar a minha vida mais agradável? Me fala aí.
EDSON – Que cara desagradável!
MARINNA – Meu nome é Marinna, e o que eu faço não é da conta de ninguém.
TOM – Agora que nos apresentamos, acho que podemos tentar descobrir por que nós fomos convidados para participar desse projeto. Acredito que a todos aqui foi dito o mesmo, que o anfitrião é um escritor bem sucedido…
GARIBALDI – Isso foi pra mim?! Porque se foi, fique sabendo que também sou bem sucedido!
EDSON – No entanto não pode pagar um milhão pra cada um aqui!
TOM – Por favor, me deixem continuar. O nosso anfitrião é um escritor bem sucedido, possivelmente um sociólogo que está escrevendo uma tese de doutorado, e que nos ofereceu a quantia de um milhão de reais por uma temporada nessa mansão que não sabemos onde fica, porque os automóveis que nos trouxeram aqui tinham os vidros escuros, e nos mantinham isolados do motorista. A questão é: Por que nós? Alguém tem alguma ideia? Talvez a nossa vidente aqui?
VALÉRIA – Eu?!
TOM – Claro! Como pode adivinhar sobre a vida das pessoas se não sabe nem sobre si mesma?

Garibaldi rolou de rir.

VALÉRIA – Posso tentar…

Valéria se levantou, foi até o seu quarto e retornou com um veludo verde nas mãos. Espalhou as cartas do Tarô, e ficou apreensiva.

TOM – Então…
VALÉRIA – O papa, a papisa, o diabo, a torre. As cartas então falando em situações de crise, prisão, medo… Os amantes. Junto com a papisa fala em mentiras. Coisas que são preferíveis manter segredo.
GARIBALDI – A minha vida é um livro aberto! (risos) Alguém aí sacou? Livro aberto! Eu sou escritor, lembram?
EDSON – Onde foi que arrumaram esse imbecil?

Todos saíram. Só a madre ficou. Logo, o padre se aproxima.

PADRE DORNAS – Não vai conhecer o restante da casa, madre?
IRMÃ SOFIA – Não tenho coragem. Ontem à noite escutei uma coisa estranha. Um bebê chorando, como se estivesse com dor. Depois um grito de uma mulher. Um grito de medo. Eu acho que vou pedir pra ir embora, eu não aguento essa pressão psicológica. Nem mesmo sabemos quem é o dono dessa casa.
PADRE DORNAS – por que aceitou o convite? Por que uma freira teria interesse em um milhão de reais?
IRMÃ SOFIA – Ajudar os pobres. O senhor não.
PADRE DORNAS – Talvez…

Jardim. Marina e Tom andam a sós e lado-a-lado. À frente deles um labirinto formado de arbustos.

TOM – Você não tem medo?
MARINNA – Medo? Não. Medo não faz parte do meu vocabulário.
TOM – Você é muito misteriosa. Não quis dizer o que faz da vida, como todos nós. Não quer dizer pra mim?
MARINNA – Melhor não.

Ouvem um urro!

MARINNA – Ouviu isso?
TOM – O que?
MARINNA – Não sei. Acho que é um…
TOM – Cãããããooooooo!!!
Um cão imenso passa a persegui-los e para fugir, eles entram no labirinto de arbustos. Eles correm juntos até uma certa altura, mas Tom se separa de Marina para que cão a deixasse de lado. Mas não foi o que aconteceu. O cão foi atrás dela.

MARINNA – Socorro!
TOM – Marinna! Onde você está?

Marina corria e olhava pra trás, já sentindo o hálito do cão quase em seu pescoço. Como se não bastasse, o chão lhe falta sob seus pés. Ela desaba e fica tudo escuro.

MARINNA – Socorro! Alguém me tira daqui.

Ela está até a cintura mergulhada em água. Mas a água parecia se mexer sozinha. Não era apenas água. Eram rãs, milhares de rãs.

MARINNA – Socorro! Socorro!
TOM – Marina! Onde você está? Marina!!!!
MARINNA – Meu Deus! Meu Deus! Sapos! Eu quero sair daqui.

Ela arranhava suas unhas na parede tentando subir. Inutilmente.

TOM – Continue gritando pra eu te encontrar!
MARINNA – Aqui! Pelo amor de Deus, me tire daqui!
TOM – Te encontrei. Fique calma, vou buscar uma cor…

Tom sente uma pancada na cabeça e cai desfalecido. Minutos depois uma corda é jogada no fosso. Marinna consegue sair, mas não encontra ninguém.

Do outro lado jardim

EDSON – Eu ouvi alguém gritando.
MARIAH – Tudo é tão estranho aqui, que nada mais me surpreende.
EDSON – Já perdeu a capacidade de se surpreender? As pessoas perdem o gosto pela vida quando perdem a capacidade de se surpreender, sabia?
MARIAH – Analista de sistemas e filósofo. Boa mistura. Gosto de homens surpreendentes.
EDSON – Então ainda consegue se surpreender…
MARIAH – Quando encontro homens interessantes, sim.
EDSON – Mesmo um homem negro e classe média como eu?
MARIAH – A cor realmente não importa nem um pouco. Quanto a ser classe média… Podemos dar um jeito nisso.

Mariah agarrou Edson e o beijou intensamente. Mas ao abrir seus olhos, foi com horror que ela gritou com todas as forças dos seus pulmões. Edson olhou pra trás. Havia cadáveres, muitos cadáveres dependurados nas árvores.

Fim do Capítulo 2

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
As sementes da discórdia e da desconfiança são jogadas dentro da casa e a partir de agora, todos são suspeitos de querer a morte um do outro. Mais uma vez a irmã ouve o pranto de um bebê, e ao sair para verificar, é atacada nos corredores.

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