Aguenta Coração

Aguenta Coração – Capítulo 01

Baixa das Éguas, Brasil.

Baixa das Éguas – Manhã – Comício Politico.

[O prefeito Virgulino Mastur faz seu comício politico em um palanque, para vários moradores da cidade]

Virgulino: Eu peço o voto de vocês para a CIBE, Coligação dos Idosos Baixa das Eguenses. Juntos, nós faremos uma cidade melhor! Nos meus quatro anos de prefeito eu procurei fazer o melhor, nesses meus bolsos nunca entraram dinheiro sujo, corrupto.

[Alguem da plateia grita]

-Ta de calça nova, é?

[Virgulino se intimida, mas continua]

Virgulino: Se eu ganhar novamente prometo que no meu mandato não haverá corruptos, ladrões, pedófilos, nem assassinos!

[Alguém da plateia grita]

– Promessa eu já vi muitas, agora milagre é a primeira vez!

[Todos da plateia começam a rir e cochichar, Virgulino fica sem graça e sai do palanque.]

[Oneide – esposa de Virgulino, 70 anos, agarra Caíque, rapaz de 18 anos no camarim.]

Oneide: Meu Deus, que fogo! Me chama de Eva e me leva pro seu paraíso… Delicia!

[Ela vai tirando a camisa dele]

Caíque: Tem certeza? O senhor Virgulino pode entrar a qualquer momento.

Oneide: Aquele velho broxa deve estar tentando ganhar essa idiotice de politica. Cala a boca e curte o momento!

[Eles escutam passos e ela empurra Caíque para detrás de uma cortina. Virgulino entra e senta no sofá, com a respiração ofegante.]

Virgulino: Ah, minha pressão… Vou dar uma crise…

Oneide: O que houve?

Virgulino: Eu aposto Oneide, com unhas e dentes, que foi aquele desgraçado do Pascoal Virgílio que mandou esses palhaços para atrapalharem meu discurso.

Oneide: Você acha que não ganhará dessa vez?

Virgulino: Eu não acho… Tenho certeza! Mas vai ver estou velho demais para isso…

Oneide: Não se preocupe, estarei aqui para o que der e vier.

[Ela dá um selinho nele e o faz uma massagem enquanto Caíque observa por detrás da cortina]

 

Senhora da Hora, Portugal.

Boate Bella Baci – Noite– Baile de Máscaras.

[Kelly está mascarada sentada no bar da boate, bebendo um drink, quase bêbada, Max – um homossexual – se aproxima dela]

Max: Ai amiga, abafa tudo! Tudo! Acabei de ver um bofe de por o queijo na nuca! Me apresenta ele?

Kelly: O que é isso, meu filho? Tá me estranhando? Se enxerga… Olha pra minha cara, vê se eu sou mulher pra andar com boiola. Se toca!

Max: Credo! Cuidado com a Lei Maria de Penca, hein?!

[Ele sai. Bella – irmã de Kelly – se aproxima]

Bella: Kelly, eu não tô me sentindo bem.

Kelly: Ué, e eu com isso? Tô com cara de aguardente agora?

Bella: Com essa máscara? Quer mesmo que eu te responda?

Kelly: Vai embora então, eu não vou sair da festa onze horas da noite, o pancadão nem começou.

[Ela dá mais um gole no drink]

Bella: Tudo bem, fica aí então. Eu já vou indo, vou deixar a chave embaixo do tapete.

[Bella vai saindo, há várias pessoas dançando. Um garçom mascarado passa com uma bandeija de bebidas e acaba derrubando em Bella]

Bella: Droga!

Felipe: Me desculpe…

Bella: Olha só o que você fez… Já não basta estar com a cabeça doendo, você teve que molhar minha calça inteira.

Felipe: Olha, me desculpe, eu não…

[Eles levantam a cabeça e se olham firme um no olho do outro.]

Bella: Eu vou ao banheiro, me enxugar.

Felipe: Eu vou com você.

Bella: Ao banheiro?!

Felipe: Sim, ele é unissex.

[Eles vão ao banheiro. Kelly já está bêbada, dança loucamente e grita sozinha.]

Kelly: Não tem um homem nessa bosta de mundo que me mereça. Frouxos! Nem pegada esses manés têm… Há quarenta e oito horas na seca. Isso existe? Lógico, só no meu mundo.

[Max – o homossexual – dança ao lado dela.]

Kelly: Ei gatinho… Vem cá, delicia.

[Max se assusta]

Max: Está falando comigo?

[Ela está bêbada]

Kelly: E está vendo outro bonitão por aqui?

[Ele se aproxima dela. Ela dá um beijo de língua nele, demorado. O beijo termina e ela o vê de perto.]

Kelly: Você? O gayzinho?

Max: Você quem me chamou…

[Ela faz ânsia de vômito]

Kelly: Oh! Vou vomitar! Sai da frente, preciso ir ao banheiro!

[Ela sai apressada]

 

Boate Bella Baci – Noite– Banheiro.

[Bella esfrega o papel-higiênico na calça.]

Bella: E agora? Quem disse que essa joça quer sair?

Felipe: Me deixe tentar.

[Ele começa a esfregar, levanta a cabeça e os rostos ficam muito próximos um do outro. Ele ergue a parte de baixo da máscara dela e a beija.]

Bella: Me deixe ver seu rosto?

[Ele começa a tirar a máscara quando Kelly entra a interrompe.]

Kelly: Desgraçado dos infernos! Bella? O que está fazendo aqui ainda?

Bella: Tive que limpar minha calça…

Kelly: Diarréia?

Bella: Não!

Kelly: E o que o bonitão faz aqui?

Bella: Nada, nada demais.

Kelly: Então vamos embora, não estou afim de beijar outro gay.

[Kelly a puxa, ela e Felipe ficam se olhando até ela sair]

 

Dias depois…

Mansão Mastur – Manhã– Suíte Master.

[Fátima – empregada da mansão – chega com algumas toalhas na mão e bate na porta do quarto.]

Fátima: Dona Oneide, sou eu, Fátima. Trouxe as toalhas limpas. [Ninguém responde] A senhora está aí?

[Divina – outra empregada da mansão – chega]

Divina: Fátima, cadê o Seu Virgulino? Tem mais de vinte minutos que o assessor está na linha querendo falar com ele.

Fátima: Eu não sei. Bato na porta, mas ninguém abre. Viu eles saindo hoje?

Divina: Não. Logo agora que ele ganhou a eleição iria sair? [Elas encaram uma a outra] Acha que eu devo abrir?

Fátima: Abra, se ela disser algo ao menos temos argumento pra nos defender.

Divina: Um… Dois… Três!

[Divina abre a porta e encontra o corpo de Virgulino por cima do de Oneide com um lustre fincado nas costas. Os dois estão nus e mortos.]

Fátima: Meu Deus!

Divina: Maria de Fátima do céu, que visão do inferno é essa?!

[Elas se assustam]

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Italo Silva

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