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Ordinários

Ordinários – Capítulo 3

Aquela escola estava lotada de adolescentes chatos e arrogantes… Deduzi isto sem mesmo chegar lá. Meu irmão estacionou em frente ao colégio.

–Tenha um bom dia. –ele sorriu pra mim.

–Você também.

–Até mais. –Edgar apertou minha bochecha e praticamente me varreu pra fora do carro.

–Até… –respondi dando um lento passo para fora do carro.

Observei o lugar imenso por alguns segundos, o lugar tinhas partes mais cuidadas que outras, dava pra ver o contraste que há no nosso país lindo e cheiroso. Entrei crente de que tudo aquilo acabaria rapidamente… Mas era uma perda de tempo acreditar naquela mentira.

Estava no corredor procurando meu armário, o número era 158. Até que três peruas me derrubaram. Uma loira de cabelo cacheado preso vestida toda de rosa, salto alto… Patricinha clássica, sabe? Outra loira com o cabelo mais curto, usando umas roupas, não sei, da moda, acho. E mais uma de cabelo roxo longo liso e solto que mascava chiclete e se vestia como uma cantora de pop… Não, claro que ela não queria chamar a atenção de ninguém com aquilo. Imagina!

–Não olha por onde anda? –a loirinha pink que aparentava ser a mandante da facção virou como se estivesse desfilando.

–Você me atropela e eu que sou a cega? Deixa de estupidez. Não é minha falta se seu ego polui a visão.

–Quem você pensa que é pra falar assim comigo?! Nem me conhece!

–E sou muito grata por isso. –fui me levantando e recolhendo meus livros que caíram no chão. Gente assim já me irrita normalmente, mas eu estava com sono. Ou seja, os desejos de revidar a grosseria aumentavam.

–Você vai aprender a deixar de ser abusada. –fui empurrada e voltei a medir a temperatura do chão. Deu vontade de dormir ali mesmo, mas eu não queria perder a moral que eu já não tinha logo no primeiro dia de aula.

Sendo três contra uma é fácil brigar. Eu já estava prestes a sentar a mão na cara delas, mesmo sabendo que ia me ferrar pela desvantagem. Já estava acostumada com covardia, mas isso não fazia doer menos.

–Quero ver você falando do mesmo jeito que antes. –a de rosa estava se preparando pra me dar um tapa com aquela mão cheia de anéis. Seria fácil desviar, aquele tipo de menina geralmente não sabe brigar… A expectativa era que ela fosse tentar puxar meu cabelo. Antes que começasse, alguém a impediu, segurando seu braço.

–Ariadne? Por que quer bater nela? O que ela fez?–era o garoto do ponto de ônibus. Ele tinha um sotaque estranho. Eu achei super estranho ele brotando assim do nada… Acho que está mesmo me perseguindo.

–Com licença, mas a briga não é contigo, Salamander! –a de cabelo roxo tentou tirá-lo dali, e esse soltou a mão da tal Ariadne.

–Só depois que vocês deixar ela ir. –parecia até um daqueles filmes adolescentes em que eu troco de canal bem rápido.

–Essa daí me insultou! Como se fosse alguém pra falar comigo dessa maneira! –a que viria me bater acabou dando um piti.

–Deixa ela em paz. –ele parecia querer acabar logo com aquilo. –Por favor.

–Ou o quê, lindinho? –a de cabelo roxo, que insistia em interferir na intromissão do garoto, botou a mão no queixo dele.

–Ou nada. Deixa em paz. –ele deu um passo para trás, se afastando dela com cara de repulsa, mas tentando disfarçar o nojo.

A outra loira chegou perto da Ariadne e “sussurrou” no ouvido dela:

–É melhor a gente ir. Temos que evitar outros problemas na escola… Depois você revida.

–Eu só vou porque são raras as vezes que você diz coisas inteligentes, Bianca. –ela resolveu sair de cena com as outras. –Vamos meninas, a graça acabou. Deu sorte, novata. –as três foram embora tentando pagar de modelos e entraram por uma mesma porta.

–Desculpa por elas… Depois de um tempo param de implicar com você. É que são meio… São meio estressadas… –o garoto parecia não querer ofendê-las. Os olhos dele tinham cor de esmeralda quando vistos de perto… Era bem exótico.

–Meio? Ah, esquece… –olhei para baixo. –Pode me ajudar? –comecei a pegar meus livros e cadernos do chão.

–Desculpe! –ele ajoelhou e me ajudou a recolher o mais rápido que pôde.

–Você…

–Fala.

–Não é aquele garoto que estava no ponto de ônibus mais cedo?

–Eh! Você se lembra! Você era a menina do pijama fofo e do ursinho, certo? –deu um sorriso de canto.

Caramba… Caramba, caramba, caramba eternamente… Eu mereço… Eu havia esquecido. Será que era por isso que ele estava sorrindo? Eu fiquei morrendo de vergonha ali mesmo, até procurei mudar de assunto.

–Aham… Sabe onde fica o armário 158?

–Sim! É ao lado do meu! Eu fiquei pedindo isso pra diretora. Ah… Gosto de ficar perto de alunos novos. Eu me chamo Salamander… É… Hebrom Salamander.

–Quésia… Cortês.

–Eu sei! Gosto do seu nome, já até aprendi a escrever.

–Sabe?… Ah… Parabéns! –que garoto estranho…– Enfim, sem querer deixar óbvio que minha curiosidade é maior que minha educação, mas… Você fala de um jeito muito anormal pra ser daqui.

–Canadense.

–Ah! Aquele lugar do xarope de bordo? –ele começou a rir e dizer que sim com a cabeça.

–Sim, esse mesmo! Vamos, eu te levo até o seu armário.

Fui andando atrás do Hebrom, até que ele parou.

–É aqui? –perguntei.

–Não, não… É que… Pode ficar do meu lado, eu não vou te morder. Fica parecendo que você tem medo de mim. –ele parecia um psicopata olhando seriamente para frente daquele jeito.

–Ah, foi mal. –tentei apertar o passo.

Isso é meio esquisito, ou ele é bem emotivo ou tem algum problema mental. Acho que estou entrando em contato com o meu primeiro stalker…

–Eh… Aqui. –o garoto virou na minha direção e fez uma expressão simpática.

–Valeu…

–Você é bem-vinda!

–Obrigada?…

A diretora passou por ali no mesmo momento e me chamou.

–Você é a aluna nova por aqui? –perguntou pra mim.

–Sou… –respondi quase que sem jeito.

–Seja bem-vinda. É bom ver que já fez um amigo. Mas é melhor irem logo para suas salas. Já passou da hora. –a mulher sorriu e continuou andando pelo corredor.

Eu abri o meu armário e percebi que o Salamander estava olhando pra mim como se prendesse uma risada. Isso fez minhas mãos começaram a tremer e todos os meus livros caíram no chão pela segunda vez.  Ele queria rir de mim… Me ajoelhei pra recolher os livros e o garoto me ajudou de novo.

–Por que não vai embora? Já está mais que atrasado. –falei, evitando contato visual.

–É verdade… –botou todos os livros que conseguiu catar em minhas mãos. – Te vejo depois, Quésia. –ele beijou meu rosto e saiu correndo. Meu coração disparou.

–Eu, hein…

Acho que ele está tirando onda com a minha cara, foi bonzinho demais pra ser verdade… Acho que… Sei lá… Não deu pra achar nada, sabe? Será que ele se interessou mesmo em ser meu amigo?

Entrei na sala de aula que meu irmão disse e olhei o rosto da maioria dos alunos. Tinham alguns assentos vazios, mas o Edgar também me avisou ontem que não era eu quem escolhia o lugar.

–Por favor, escreva seu nome no quadro e se apresente. Depois pode se sentar naquela carteira. –a professora apontou para um lugar vazio.

–T-Tá. – fiquei um pouco tensa por ter que falar em público. Escrevi meu nome com aquela minha letra ilegível, fazendo um barulho irritante com o giz por não conseguir escrever direito no quadro negro.  Me virei para a classe e acabei indo me sentar sem dizer nada… Nem foi tão ruim quanto eu esperava. Provavelmente quem estava ali sabia ler.

Todos ficaram calados. O único som da turma foi a tosse de um garoto cadeirante com asma. Já sentada, eu comecei a olhar em volta…

–Salamander?! –me espantei.

–Quésia? Oi! –estava à minha direita. Mesmo sendo até um garoto completamente tranquilo (à primeiro momento), eu não me sentia confortável perto dele. –Pedi pra te colocarem na mesma sala que eu também!

O Edgar não estava mentindo, ao que parece… Esse garoto é mesmo problemático. Qual é a dele? Age como se me conhecesse… As confianças…

A professora, que parecia uma hippie dopada, pediu para que um dos alunos me mostrasse a escola no recreio e me apresentasse a algumas pessoas. Hebrom foi o único a se oferecer.

–Hebrom, você já fez isso várias vezes, vamos dar a vez à outra pessoa, está bem? –ele foi abaixando seu braço, desapontado. –Wendel, você pode acompanhar Quésia? –ela se referiu ao garoto que estava jogando vídeo game portátil no meio da aula.

–Hm… O quê? –um asiático alto, de óculos, que parecia ser mais um sem vida social (mais um eu da vida) levantou, ainda jogando.

–Senhor Yamada, não é permitido jogar videogame na hora da aula. –a professora amarrou a cara.

–Ah, tá. Foi mal. –ele botou o console no bolso.

–Bem, continuando, poderia fazer o favor?

–Que favor? –Wendel não tinha prestado atenção em nada.

–De apresentar a escola à aluna nova. –a professora parecia já estar brava com ele.

O japa olhou em volta até me achar e depois se sentou, como se soubesse identificar de cara quem eu era.

–Vou considerar isso como um sim. –a mulher prosseguiu com a explicação de como seriam as aulas de Artes.

Tentei manter o máximo de foco, mas quase não deu certo. Não era a mesma coisa sem a Marisa. Depois dos dois primeiros tempos, veio o professor de Matemática. Aí que acabei não ouvindo nada mesmo, eu estava ocupada demais bocejando. Enfim, a hora do intervalo chegou. Todos saíram às pressas, com exceção de Yamada e eu.

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