Capítulo 11 Parte 1 – Jovens Tardes
Personagens deste Capítulo:
Ância
Participações Especiais:
Continuação Imediata do Capítulo anterior:
Cena 01. Interior, noite, Mansão Acioli. Sala de Estar.
Estão na sala, todos os suspeitos do crime: Ância, Melione, Santa, Helena, Marechal, Tomázia, Gregório Carmita, Besançon, Desiree, Luzia, Igor e Fufu. Além da presença do Investigador, do delegado, Missy Justem, Lorena e Laerte.
O delegado entra e fecha a porta.
Delegado (a todos) – Agora a coisa vai ficar feia.
Marechal – Eu exijo saber o que tá acontecendo aqui.
Delegado (sarcástico) – E o senhor saberá, assim como nós!
Ância – Para com a presepada toda, vai direto ao fato delegado. Tenho pressa!
Delegado – Um de vocês assassinou a ex-modelo Bela Acioli, na noite de 15 de março de 2014. E hoje ninguém sai daqui, enquanto a história não for esclarecida.
Todos se olham assustados.
Desiree – É hoje que a cobra vai fumar.
Todos ficam calados e Lorena começa a falar.
Lorena – Na noite de 15 de março, algumas pessoas estiveram aqui para tentar assassinar a minha tia. E exijo saber quem foi.
Fufu – Exigir? Você não exige nada aqui. É tão suspeita quanto qualquer um de nós. Aliás, você é a única herdeira dela. Ganharia muito dinheiro e poderia muito bem ter planejado a morte da sua tia.
Lorena – Jamais faria isso, me deixa em paz. Tá atacando, porque deve ser a assassina.
Delegado – Parem as duas. Assim não chegaremos a lugar nenhum. Quanto mais confusão tiver, pior se tornará essa história.
Investigador – Eu começarei narrando os fatos, desde a saída de Bela Acioli do hotel em que se hospedara.
Todos ficam aflitos.
Investigador – A saída de Bela Acioli do hotel deu-se através de um carro de marca muito famosa e de cor prata, que ela alugara para fazer o trajeto: hotel-casa-hotel. Esse trajeto seria feito em quinze minutos de ida e mais quinze de volta, o que não aconteceu.
Delegado – Essas informações foram retiradas do próprio hotel.
Ância – Mas a morte não aconteceu aqui na casa, com os tiros que a sujeita levou?
Investigador – A morte dela de fato foi aqui na casa, mas antes disso já tinham pessoas querendo matá-la. Analisei o carro, junto da minha equipe, e constatamos que um carro deu uma pequena esbarrada no carro da vítima e foi perto do desfiladeiro Alfa.
Melione – Eu não tenho tanto estudo, mas acho impossível saber a precisão.
Investigador – A única estrada de terra entre a casa de Bela e o hotel é no desfiladeiro Alfa e justamente a esbarrada no carro, deixou um tipo de minério muito raro, que só é encontrado lá. E a partir dessa esbarrada, podemos concluir também que o tipo de carro em questão é uma camionete e preta. A camionete deixou um pequeno fragmento da tinta de sua lataria, o que nos proporcionou um bom histórico.
Delegado – Aqui na cidade, só duas pessoas têm desse tipo de camionete, que é de modelo internacional. Fabricada na Alemanha, ano 2013 e modelo 2014.
Todos ficam boquiabertos.
Desiree – E quem tem esse tipo de camionete aqui?
Marechal (indo ao centro da sala) – Eu. Eu tenho esse tipo de camionete.
Várias pessoas ficam surpresas.
Marechal – Eu não costumo usá-la. Não gostei. Comprei apenas porque tava na promoção. Eu comprei, assim como, o prefeito Venâncio.
Carmita – Então quer dizer que, ou você, ou o prefeito Venâncio, mataram a Bela?
Delegado – Não, ou melhor, não com a camionete.
Gregório – Agora, quem não está entendendo bulhufas disso, sou eu. Ou matou, ou não. Simples assim!
Começa um burburinho geral.
Investigado (tom alto) – Deixa-me falar. Não conclui ainda.
O investigador começa a andar por entre os suspeitos, que o olham receosos.
Investigador – A camionete pegou o atalho da Alfa torre e de fato chegou lá, o que constatamos pelas marcas de pneu no solo. Isso anula o fato de que quem estivesse na camionete, tenha matado Bela Acioli, já que ela morreu entre dez e onze da noite.
Delegado – Duas pessoas estiveram de fato na mansão. Uma matou a ex-modelo, já a outra, tentou, mas a vítima já se encontrava sem vida. Recolhemos a arma que estava próxima ao corpo da vítima e as balas disparadas contra Bela, foram de fato, disparadas da tal pistola.
Investigador – Eu não quero causar um mal estar e nem quero constranger os inocentes, por isso, peço a pessoa que atirou, que se entregue. Já colhemos a digital e sabemos quem é você.
Todos se entreolham receosos.
SONOPLASTIA: Música de suspense
Nesse instante a câmera pega apenas as pernas dos suspeitos, que vão abrindo caminho e dando passagem.
Besançon (chorando/ gritando) – Quem matou Bela Acioli fui eu!
Todos ficam chocados e Besançon cai em lágrimas no chão.
Corta para:
Cena 02. Exterior, dia, Praça Central.
Edith e Maria Marta passeiam pela praça.
Edith – Eu grávida. Quem diria!
Maria Marta – Ah mana, do jeito que você andava, era de se esperar.
Edith – Ainda bem que eles toparam.
Maria Marta – Eles quem? Toparam o que?
Edith – Eu não sei se o filho que estou esperando é do Ariel ou do Filipe, por isso comuniquei aos dois, juntos, pra não haver desavenças e os dois quererem essa criança.
Maria Marta fica chocada.
Maria Marta – Só Jesus na causa irmã.
Edith – Aconteceu. Eu transei com os dois, isso não é segredo pra ninguém. E o DNA logo esclarece quem é o pai.
Maria Marta – Essas periguetes precisam é ter aula com você. Onde já se viu transar com vários e não saber quem é o pai do seu filho.
Edith – Marta, seja menos hipócrita, estamos no século 21, na era do pode tudo. Eu sou só mais um número, mais uma mulher que desconhece a paternidade do filho. Mas isso logo se resolverá.
Maria Marta – Isso pra mim é um desrespeito a uma mulher e suas crenças. Pra mim filho é sagrado, assim como a paternidade do mesmo. Onde já se viu isso ser normal. Parece coisa de novela.
Edith – Você sempre foi assim né Marta. Sempre bancava a justiceira, era sempre a aluna exemplar, a filha dedicada, acho que nunca nem fez cocô na vida, de tão perfeita que é.
Maria Marta – Para com a graça. Eu só tento ser mais normal. Eu gosto de ser assim, como você gosta de ser desse jeito doido.
Edith – Mas o que é doido pra mim é saber que a minha irmã precisa de cursinho pra casar. Precisa pegar experiência de cama, mesa e fogão. Isso sim é o fim dos tempos.
Maria Marta – Você tá julgando as minhas ações?
Edith – É só uma palhinha do que você, a mãe e o pai me fizeram a vida toda. Sempre apontaram dedos pros meus atos. Tô fazendo você provar um pouquinho do próprio veneno.
Maria Marta – Eu sei, fui errada com você. O que é estranho pra mim, é normal pra você e vice-versa.
Edith – As pessoas precisam aprender a respeitar a minoria, precisam aprender a respeitar o exótico, aprender a quebrar tabus. Enquanto forem tidos exemplos de vida, o que a minoria fizer, vai ser sempre motivo de chacota.
Maria Marta concorda e ambas continuam a caminhar pela praia.
Corta para:
Cena 03. Interior, dia, Mansão Acioli, Sala de Estar.
Os mesmos personagens da cena 01.
Todos surpresos e Besançon ajoelhada no meio da sala chorosa.
Investigador – Conte-nos mais sobre o que aconteceu naquela noite.
Besançon (chorando) – Eu atirei na Bela, sem dó nem piedade. Ela não teve chance de defesa. Morreu dormindo.
Delegado – Mas como foi que tudo aconteceu?
Besançon (mais calma) – Eu tava seca de ódio. Queria, porque queria acabar com a vida dela, era ela ou eu. Aí então entrei naquele maldito quarto, não tinha ninguém…
Flashback a ser gravado: (Atenção: Cena retratada igualmente a Cena 29 do capítulo 04. Mesmo cenário, mesmos personagens, mesma posição).
Bela está deitada de bruços na cama, totalmente IMÓVEL, e no criado mudo estão: uma garrafa de uísque e dois copos vazios.
SONOPLASTIA: Música de Suspense.
Nesse instante faz um barulho, a porta se abre, mostrando apenas o cano de uma pistola 38. Nesse instante a câmera vai subindo lentamente e focaliza no rosto de Besançon, a imagem congela em tom sépia e surge ao lado o letreiro com: ”Besançon dos Santos”
Cena prossegue normalmente.
Besançon vai chegando próxima de Bela, totalmente descontrolada e com ar de psicopatia.
Besançon (apontando a arma para Bela) – Era eu, ou você. A balança se inverteu mais uma vez. Vá pro inferno!
Besançon vira o rosto e dispara dois tiros.
Besançon (ódio) – Morre maldita.
Acontece um apagão no quarto, e segundos depois, quando a luz se acende novamente, está apenas o corpo de Bela, com duas marcas de tiro e se esvaindo em sangue. A pistola encontra-se no chão.
Volta para Sala de Estar da mansão Acioli.
Besançon (exausta) – Eu errei ao deixar a arma lá, mas foi porque a luz apagou. Parecia que estava apenas esperando os tiros serem disparados. Fiquei com medo e sai correndo.
O delegado e o investigador se olham e sorriem.
Delegado (rádio transmissor) – Pode entrar.
Todos ficam se olhando e um policial entra.
Delegado (ao policial) – Pode algemar essa moça que está aqui no centro da sala.
Policial algema Besançon e a deixa sentada no sofá.
Marechal (aliviado) – Então vamos voltar pra casa. A história está toda resolvida.
Marechal sai andando em direção à saída.
Investigador – Pode parar aí seu Marechal. A história está apenas começando.
Ância – Começando uma ova. Já sabemos que essa garota é a assassina da Bela.
Delegado – Não mesmo. Quando a Besançon atirou na Bela, ela já estava morta.
Helena olha assustada para Tomázia, que olha assustada para Carmita, que olha assustada para Igor, que olha assustado para Marechal.
Melione – Então quem matou Bela Acioli?
Tomázia (convicta) – Eu. Eu acabei com a vida da desgraçada.
Todos olham assustados para Tomázia.
Marechal (surpreso) – Para com a mentira.
Tomázia – O delegado e o investigador sabem que eu me utilizei de um veneno. Veneno este, que coloquei no uísque dela.
Investigador – É isso mesmo. Bela Acioli morreu envenenada e foi estrategicamente colocada na cama de bruços.
Tomázia – Eu tava cansada de viver a sombra do que aquela ordinária fazia.
Lorena (gritando/chorando) – Você não tinha o direito de fazer isso.
Laerte – Mãe?
Tomázia olha para Laerte e chora.
Laerte (chorando) – Eu sei o quanto você sofreu e o quanto sofre por causa da Bela.
Tomázia – Eu a matei, mas a intenção não era essa. Eu entrei na casa dela e…
Flashback a ser gravado: (Retratação idêntica a cena 29 do capítulo 4).
Atenção direção: Mesmo cenário, figurino, luzes e jogo de câmera.
Interior, noite, Mansão Acioli. Sala.
Bela acende a luz da sala e olha assustada para todos os cantos, sobe as escadas em direção a seu quarto.
Corta para: QUARTO DE BELA.
Bela (ressabiada) – A luz do meu quarto acesa? Que estranho… Tô sentindo um perfume, peraí, eu conheço esse perfume.
Bela vira-se sorridente.
Bela (feliz) – Marechal, eu sei que é você. Pode aparecer. Conheço seu cheiro. Veio se despedir de mim?
Nesse instante Tomázia aparece em tom suave e com uma pistola apontada para Bela.
A imagem congela em tom sépia e surge ao lado o letreiro com: “Tomázia Kalil”. Cena prossegue normalmente.
Bela (assustada) – Não faça uma bobagem dessas.
Tomázia – Quem bobagem? Eu vim apenas acertar as contas.
Bela se senta na cama, enquanto Tomázia permanece de pé e apontando a arma para ela.
Tomázia – Eu acho que esse nosso embate final era mais do que previsível, aliás, demorou bastante. Custei criar coragem.
Bela – Eu não tenho nada pra falar com você.
Tomázia (gritando) – Cala a boca! Quem fala aqui sou eu. Hoje a dona do jogo se chama Tomázia Ribeiro Kalil.
Bela se levanta e fica cara a cara com a pistola.
Tomázia (nervosa) – Senta!
Bela – Não.
Tomázia – Senta agora ou eu atiro.
Bela pega o cano da pistola e coloca em direção ao seu coração.
Bela (serena) – Não é tão mulher? Me mata de uma vez e acaba com esse passado que te atormenta.
Tomázia – Para de se meter nas minhas decisões.
Tomázia abaixa a arma.
Bela – Frouxa, sabia que não iria me matar.
Tomázia – Você tá sempre se metendo na minha história. Tá sempre cavando o passado. Vive com ódio de todo mundo e cruza sempre a linha da minha vida, chega!
Bela – Essa história que você diz que é sua, que você e o Marechal têm que viverem juntos, na verdade é minha. A vaga que você ocupou é minha. Não adianta, você vai ser sempre a minha sombra. E não é por culpa minha.
Tomázia começa a chorar.
Bela – Infelizmente você se meteu em uma história que era pra ser minha. Você foi obra comercial, é uma caricatura, um reflexo do que eu deveria ser. Você não passa de uma marionete.
Tomázia (chorando) – Para, para com isso! Eu já sofro demais.
Bela anda em direção à mesa de cabeceira, onde se encontram dois copos limpos e uma garrafa de uísque.
Tomázia (se acalmando) – A culpada dessa infelicidade toda é sua. Você deveria ter se casado, ter vivido a vida que eu vivi.
Bela (servindo uísque aos copos) – Pra que? Pra ser mais uma infeliz? Viver a sombra de um homem que não valoriza as mulheres? Você é linda Tomázia e merece ser feliz. Larga tudo, esquece essa vida que não é sua e some daqui.
Tomázia – Eu amo a minha vida, amo minha família.
Bela – A minha família? A minha vida? Você vive uma vida que não é sua.
Tomázia – Esse é o seu motivo real de vingança. Que pena que será tão infeliz o resto da vida.
Bela entrega um copo de uísque a Tomázia.
Bela (procurando algo) – Eu sou feliz. Vivo a vida que escolhi.
Tomázia – Tá procurando o que?
Bela – Meu passaporte, eu esqueci aqui. Amanhã tô voltando pra Nova Iorque.
Tomázia – Tá na mesa da sala. Ao lado do abajur de flor.
Bela fica espantada.
Tomázia – Sou muito detalhista e reparei em tudo. Estou aqui desde que você saiu com a sua… Digamos que, sua…
Bela – Minha mulher. Isso mesmo, a Missy Justem é minha mulher.
Tomázia – Tá né!
Bela (saindo) – Vou buscar e já volto.
Bela sai deixando seu copo de uísque na penteadeira.
Tomázia então retira um veneno do sutiã e o coloca em seu próprio copo, em seguida esconde o frasco de veneno vazio e enche os dois copos com uísque.
Tomázia (pra si) – Eu não pude definir o passado, mas com certeza poderei modificar meu futuro.
Nesse instante Bela aparece.
Bela – Falando sozinha?
Tomázia (desconcertada) – Não. Vamos tomar uísque.
Bela olha seu copo cheio e o pega receosa.
Tomázia deixa seu copo na penteadeira e anda em direção ao espelho.
Bela – Olha aí, acho que borrou sua maquiagem.
Tomázia fixa o olhar no espelho e enquanto isso Bela troca os copos de uísque.
Bela (puxando Tomázia) – Deixa isso de lado, vem brindar comigo. Nosso último brinde!
Bela e Tomázia brindam e tomam o uísque se olhando.
SONOPLASTIA: Música de suspense.
Bela olha Tomázia, que cheira o copo.
Tomázia – Merda! Você tomou o veneno. Era pra eu morrer.
Bela deixa o copo no criado e em seguida começa a sentir-se mal.
Bela – Eu troquei os copos, achei que você queria me matar.
Tomázia – Burra, burra que você foi!
Bela cai no chão e começa a agonizar.
Tomázia – Tá na sua hora de cantar pra subir. Olha o que seu orgulho besta conseguiu. A piranha mor tá indo nessa.
Bela então para de respirar e morre.
Tomázia pega ela e a coloca de bruços na cama, em seguida coloca garrafa de uísque e os dois copos no criado mudo.
Tomázia faz o sinal da cruz e sai do quarto.
Tomázia está perplexa, paralisada. Enquanto Marechal chora.
Delegado (algemando Tomázia) – A senhora está presa por homicídio.
Marechal – Eu vou te tirar de lá meu amor.
Tomázia (a Marechal) – Guarda sua energia, assim como você guarda o seu luto até hoje. É ela que você ama e essa vida sempre foi dela. Cansei!
Delegado sai levando Tomázia, enquanto policial leva Besançon.
Todos saem em seguida.
Corta para:
Cena 04. Exterior, dia, Mansão Acioli. Jardim principal.
Vários curiosos, repórteres, fotógrafos e jornalistas estão na expectativa de alguma informação.
Repórter (a câmera) – Estamos aqui ao vivo para cobrir o verdadeiro assassino da ex-modelo Bela Acioli.
Nesse instante o delegado SAE trazendo Tomázia e Besançon algemadas.
Todos correm para ver, porém vários policiais chegam e formam um muro de contenção, apenas muitos flashes são disparados.
Multidão (gritando) – Assassinas.
Besançon e Tomázia entram na parte de trás de uma viatura. A porta é fechada.
Corta para:
Imagens aéreas da cidade de Pedrosa.
Letreiro com: Dias Depois.
Corta para:
Cena 05. Interior, dia, Mansão Kalil. Escritório.
Marechal está visivelmente abalado, com olheiras e com roupa desalinhada, analisando alguns documentos. Nesse instante alguém bate a porta.
Marechal – Entre!
Melina entra vagarosamente e Marechal fixa o olhar nela.
Melina – Será que a gente pode conversar?
Marechal – Vai depender do que você quer dizer.
Melina – Eu fiquei sabendo de tudo que aconteceu com a minha mãe e tô arrasada.
Marechal – Olha pra mim, acha que não estou sofrendo? Foi um baque saber que a sua mãe matou a Bela, mesmo que sem querer.
Melina – Pai, eu sei o quanto estamos afastados, o quanto brigamos nesses anos todos, o quanto eu fui ofendida e te ofendi também. Mas eu queria tanto ter um pai comigo, nesse momento, para nos ajudarmos mutuamente. A gente precisa se unir pai, precisa ficar junto, ao menos para aliviar a dor da mamãe.
Marechal se levanta.
Marechal – Eu nunca fui um bom pai, nunca fui um bom marido. Nem mesmo para o Laerte eu prestei, sempre quis mimá-lo demais e tudo acabou como acabou: minha esposa na cadeia, e a culpa é minha. Você nas mãos de um marginal/
Melina – Não começa pai.
Marechal – Deixa eu falar Melina. Deixa seu pai desabafar, desabar se for o caso. Eu lutei tanto pra construir um império e acabei deixando que o meu bem mais precioso, a minha família, se deteriorasse. Meu Deus, como pude ser tão mesquinho? Como pude cultivar um amor fantasioso?
Melina – Você sempre quis nos dar o melhor pai. Sempre quis que tivéssemos conforto, que estudássemos nas melhores escolas. Tá pai, eu sei que você errou, mas errou por amor. E é esse amor que eu quero para reconstruir nossa família, pra poder viver feliz ao seu lado.
Marechal se emociona e deixa cair uma lágrima.
Marechal – Melina, eu te amo.
Melina começa a chorar.
Marechal – Não chora, me abraça.
Marechal e Melina se abraçam emocionadíssimos.
Corta para:
Cena 06. Interior, dia, Casa da Ância. SALA.
Ância e Edith estão vestidas em trajes de gala e sentadas no sofá.
Ância – Seu pai disse se iria entrar na igreja com a Maria Marta?
Edith – Sei lá. Mas deve entrar, afinal de contas, é o casamento dela.
Ância – Sabe que me lembro como se fosse hoje o dia do meu casamento com o seu pai? Foi numa capela, dessas de roça, lá perto da Fazenda Granadina. Uma grama verde, um povo simplório. Nossa, eu achava que aquilo tudo era o máximo.
Edith – Vai vendo. Agora meu pai tá se dando ao desfrute com a Santa.
Ância se levanta.
Ância – Provisoriamente, pode escrever o que tô dizendo. Melione Henrique Mota ainda volta a ser meu, custe o que custar.
Nesse instante a campainha toca.
Ância (animada) – Eu atendo, eu atendo.
Ância anda em direção a porta, abre-a e sorri.
Ância (educada) – Por favor, entre meu bem.
Nesse instante Missy Justem entra, vestida em trajes de gala (atenção direção: O vestido de Missy Justem é mais luxuoso que de Edith e Ância).
Missy Justem – Oh, Darling. Como vai?
Ância fecha a porta e dá um abraço caloroso em Missy.
Edith (se levantando) – Não vai me apresentar a sua nova amiguinha?
Ância (sem jeito) – Missy, meu bem, essa daqui é a Edith, minha filhota mais nova.
Missy (acenando com a mão) – Prazer em conhecê-la. Tão bonita quanto à mãe.
Ância – Aceita uma água, café ou suco minha querida?
Missy – Never querida, não quero nada!
Edith fica comparando Missy Justem.
Corta para:
Cena 07. Interior, dia, Pensão Milú. Sala de Estar.
Desiree, Milú, Luzia e Hamilton estão vestidos para o casamento (roupas mais simplórias).
Milú – A menina Marta casa hoje, nem acredito nisso.
Hamilton – É, casa hoje. Ao contrário daquela irmã dela, que vive se dando ao deleite da carne.
Desiree – Quem mais vai?
Luzia – Murilo e Letícia, eu acho. Mas nem vi esses dois hoje.
Hamilton – Aquele transviado deve estar aprontando alguma. Se fosse filho meu, sapecava-lhe o couro com vara de marmelo e queria ver se o cabra num virava homem de novo.
Desiree – Não é assim não. Ele não escolheu ser gay. Ele nasceu com essa condição.
Hamilton – Nasceu? Ah, para de defender ele sua velha. Ninguém nasce assim, isso é influência de vocês, que insistem nisso. Acham que o rapaz tem que ter um mundo cor-de-rosa.
Nesse instante Ariel e Filipe aparecem vestidos socialmente.
Ariel (a todos) – Já liguei o motor da van, podemos ir todos.
Hamilton – Eu vou na frente.
Filipe – Cadê Murilo e Letícia? Só faltam eles.
Milú – A Santa também vai com a gente, já que o Melione vai levar a noiva.
Nesse instante Murilo aparece, vestido e portando-se como homem. (As roupas de Murilo são: Smoking e sapato social, cabelo penteado e sem nenhuma maquiagem).
Todos na sala ficam olhando perplexos para Murilo.
Murilo – Que foi gente? Parece que viram um fantasma.
Luzia – Homem de Deus, onde é que tu foi? Que água tu bebeu? Mas tá gato demais.
Desiree – Olha só, se eu não fosse uma velha rabugenta, casava com você hoje mesmo.
Murilo (soltando a franga) – Ih, sai fora dona Dedê. Quem gosta de velha é museu, e eu sou linda demais pra isso. Cruzes!
Hamilton – Tava demorando pra esse troço começar a se soltar.
Filipe – Galera, vamos nessa, senão perderemos o casório.
Ariel (a Murilo) – Letícia não vai?
Murilo – Não, tentei de tudo, mas ela nem quis sair do quarto hoje.
Corta para:
Cena 08. Interior, dia, Delegacia. Cela carcerária.
Besançon e Tomázia estão sentadas em um papelão, com uniforme carcerário, sem maquiagem e cabelo levemente desgrenhados.
Besançon – Será que a gente vai ficar aqui muito tempo?
Tomázia – Você não, só atirou depois que ela tava morta. Mas eu devo ficar uns vinte anos, na melhor das hipóteses.
Besançon – Qual motivo você tinha pra ter matado a Bela?
Tomázia – Eu não queria matá-la, queria era me matar. Queria que ela e o Marechal sentissem culpa por todo mal que me causaram.
Besançon – Pior de tudo é que a sua família ainda nem veio te ver.
Tomázia – Isso é bom. Não conseguiria encará-los não.
Besançon – Tô Com medo da reação do meu marido.
Tomázia, num gesto de solidariedade abraça Besançon.
Tomázia (acariciando Besançon) – Você não é assassina, nem nunca foi. Eu matei aquela demônia. A culpa é toda minha. Ele vai entender. O Gregório parece ser um homem bom.
Nesse instante uma agente penitenciária aparece na frente da cela onde as duas estão.
Agente P. – Visita para Besançon dos Santos. Qual das gatas é ela?
Besançon – Sou eu. Quem tá aí?
Agente P. – Vai lá ver. Não sou moleque de recados.
Besançon olha curiosa para Tomázia, que continua normal. A agente abre a cela, algema Besançon, a retira e tranca a cela.
Corta para:
Cena 09. Interior, dia, Delegacia, Sala de Visita.
Anita está na sala sentada em uma cadeira, enquanto a agente abre a porta e trás Besançon algemada.
Besançon olha para Anita e fica surpresa.
A agente coloca Besançon algemada e sentada de frente para Anita e sai fechando a porta.
Anita (irônica) – Boa tarde mãedrasta.
Besançon (séria) – O que você quer aqui? Veio debochar de mim?
Anita – Eu disse pra você se afastar do meu pai, mas você não me ouviu. Bem feito, pior pra você.
Besançon olha Anita com ódio.
Continua na parte II