Histórias da Vida – Capítulo 7

Capítulo 7.

Continuação do capítulo anterior…

Cena 1.

Marcela entra e senta de frente pra Maria. Maria olha pra ela.

Maria: Boa tarde. Tudo bem com você?

Marcela: Boa tarde.

Maria: Em que eu posso te ajudar.

Marcela: Simples. Dinheiro.

Maria: Não entendi.

Marcela: Eu sou a Marcela.

Maria: Marcela?

Marcela: Isso mesmo. Deixe-me refrescar a sua memória. Há 16 anos eu e o Heitor tivemos uma linda história de amor, que deu fruto ao pequeno Junior. Que hoje deve estar um adolescente lindo. Acho que seria muito triste ele saber disso tudo, não é mesmo?

Maria e Marcela se encaram.

Maria: Você devia ter vergonha na sua cara de vim me procurar depois de tudo que você já fez pra minha família.

Marcela: Vergonha na cara é algo que eu não tenho.

Maria: Dá pra se ver. Sai daqui agora.

Marcela: Não. Claro que não. Antes eu preciso pegar um cheque.

Maria: Cheque? Eu não sei se você esta informada, mas o Heitor morreu há 10 anos. Você não vai conseguir dinheiro nenhum aqui.

Marcela: Eu não vim pegar dinheiro com o Heitor. Não gosto de mexer com os mortos. Em compensação você está viva e bem viva. E você tem algo que é meu.

Cena 2.

Casa de Carla.

André segurando o braço de Carla.

André: Eu dou as ordens aqui em casa. Você está me ouvindo?

Carla: Você está me machucando. Me solta, André.

André: Ta machucando?

André aperta mais o braço de Carla.

André: Isso é só um aviso. Desobedeça-me outra vez que você vai ver o que é machucar.

André joga Carla no sofá e sai. Carla assustada passa a mão sobre o braço marcado por André.

Cena 3.

Imobiliária.

Maria: Algo não. Estamos falando do meu filho.

Marcela: Na verdade meu né? Seu marido comprou em prestação e ainda faltam muitas.

Maria: Como que você consegue ser tão pilantra?

Marcela: Pode se dizer que é um dom. Você consegue vender casas, apartamentos. Eu consigo tirar aproveito das situações.

Maria: Você fala do seu filho assim? Como se fosse um objeto que você está vendendo.

Marcela: Vamos parar com esse papinho. Faz logo o cheque.

Maria: Você chantageava meu marido pra não me revelar que o Junior era filho dele com você. O que te faz achar que vai me chantagear? O Junior sabe que não é meu filho legitimo e que eu não o amo menos por isso.

Marcela: Mas ele pode saber a minha versão da história. Que o Heitor me seduziu, me enganou, e tirou meu filho de mim. Dos meus braços. E que você sempre soube e compactuou com isso. Ele pode não acreditar de primeira, mas vai fazer um estrago na cabecinha dele.

Maria: Você é muito vagabunda.

Marcela: Prefiro o termo “gostosa”. Seu marido também achava.

Maria pega o talão de cheque da bolsa.

Maria: Me fala quanto você que e depois você some da minha vida.

Marcela pega o talão.

Marcela: Pode deixar que eu preencho e você só assina.

Cena 4.

Cinema.

Renato e Nath saem do Cinema.

Nath: Meus irmãos estão lá no clube. Podíamos ir pra lá.

Renato: Sério que você quer ir ver seus irmãos. Meus pais não estão em casa. Vamos aproveitar isso.

Nath: Mas não tem perigo eles chegarem agora?

Renato: Não, eles foram visitar uns parentes em outra cidade. Eles demoram pra caramba.

Nath: Eu não tenho mais idade pra ficar dando pegas escondidos enquanto seus pais estão fora.

Renato: Minha gata. Eu sei que você merece um jantar super romântico, uma balada bem maneira e um motel dos mais caros. Mas eu to desempregado, você sabe disso. Eu só queria curtir um pouco com você. Mas ta de boa, você vai lá ao clube com seus irmãos que eu vou pra casa e depois a gente se fala.

Nath: Não. Vem para o clube comigo.

Renato: Eu não sou sócio do clube e não tenho dinheiro nem pra entrada.

Nath: Eu pago sua entrada.

Renato: Nunca. Não vou aceitar você pagando minhas contas. Vai lá. Mas tarde a gente se fala.

Nath: Eu não vou. Vamos pra sua casa então.

Renato: Valeu gata.

Renato beija Nath, e os dois saem caminhando pra fora do cinema.

Cena 5.

Clube.

Deitado na espreguiçadeira, Diego de óculos escuros olha o movimento do clube. Patty e Julia mergulham na piscina. Junior caminha na área da piscina em direção a Diego. Diego olha um garoto que saiu da piscina e caminhou pra fora da área da piscina.

Junior: Olha lá Diego.

Diego que estava concentrado no garoto se assusta.

Junior: Aquela loirinha ali. A de biquíni amarelinho. Fala a verdade, muito gostosa, não é?

Diego sem graça: É sim, muito.

Patty e Julia saem da piscina e caminha até eles.

Patty: Vocês só sabem falar de mulherzinha de biquíni?

Junior: Tem coisa melhor?

Julia: Homem de sunga.

Junior: Respeita seu tio.

Diego: Os três podem parar.

Julia: A Nath deu noticia?

Diego: Ainda não.

Junior: Eu não vou esperar ela.

Patty: Aonde você vai?

Junior: Eu vou passar na casa da vovó.

Julia: Só você que aguenta o mau humor dela.

Diego: Ela não era assim. Antigamente ela era muito divertida. Depois que meu pai morreu que ela ficou assim.

Patty: Minha mãe disse que foi por culpa da tia Maria.

Diego: Não foi culpa da minha mãe, foi um acidente.

Junior: Eu vou nessa. Tchau.

Junior sai andando.

Cena 6.

Apartamento de Renato.

Nath e Renato entram no apartamento se beijando.

Nath: Que isso? Que fogo é esse?

Renato: Você me deixa assim.

Nath: Vai com calma, não quero me queimar.

Renato pega Nath no colo e a deita no sofá. Renato tira a camisa e deita por cima de Nath e a beija.

Nath: Você quer mesmo transar a essa hora da tarde?

Renato: E tem hora pra isso?

Renato tira a calça e fica de cueca. Nath tira a camiseta e os dois se beijam deitados no sofá.

Nath: Espera.

Renato: Ir pra cama, né? Também estou achando aqui desconfortável.

Nath: Também, mas cadê a camisinha?

Renato: Oi? Camisinha? Eu tenho uma na carteira.

Renato pega a carteira e não acha a camisinha.

Renato: Não está aqui, mas eu não usei com ninguém. Juro.

Nath: Relaxa.

Renato: No meu quarto deve ter.

Renato vai até o quarto.

Nath: Que dificuldade pra transar.

Renato volta pra sala, e senta do lado de Nath.

Renato: Eu não achei. Você não vai encanar por causa de uma camisinha, né?

Nath: Lógico que eu vou.

Renato: Já estamos saindo tempo suficiente pra transarmos sem camisinha.

Nath: Claro que não. Só tem um mês. Sem camisinha sem sexo.

Renato pega o controle liga a TV e levanta do sofá.

Renato: Vamos assistir a um filme então. Eu vou preparar uma pipoca pra gente. Mas antes eu vou tomar um banho gelado.

Renato vai para o banheiro.

Cena 7.

Casa de Glória.

Na sala Glória sentada no sofá. Junior desce a escada com algumas roupas pretas na mão.

Junior: A senhora mandou tingir mais roupas de preto?

Glória: Era um resto que eu tinha coloridas.

Junior: Você tem que parar com isso. Sair desse luto. Já se passaram 10 anos.

Glória: Mas a dor ainda continua.

Junior: Eu era novinho, mas eu também sofri. A dor nunca some. A gente se acostuma.

Glória: Eu nunca vou me acostumar com isso. Não é normal, não faz parte da natureza humana. Uma mãe não enterrar o filho é o filho que enterra a mãe.

Junior: Eu te entendo vó, mas você tem que parar de tingir suas roupas de preto. Pelo menos compre roupas novas. Que conselho é esse que eu te dei?

Glória: Dos meus netos, só você vem me ver.

Junior: E vou continuar sempre vindo. Eu tive uma ideia. Vamos para o shopping comprar roupas pra você. E nada de roupas pretas. Aproveitamos e jantamos lá. Vamos?

Glória: Não, obrigado por tentar. Mas eu prefiro ficar aqui em casa. Quietinha. Comigo e minhas lembranças.

Junior senta do lado de Glória.

Junior: Vó…

Glória: Você sabe que eu nunca fiz diferença entre você e seus irmãos por você ser adotado. Eu te amo da mesma forma.

Junior: Isso nunca foi problema pra mim. Eu também te amo.

Cena 8./ Noite.

Casa de Hélio.

Maria e Hélio conversam na sala.

Maria: Tem alguém ai?

Hélio: Não. A Patty está na sua casa e a Valeria foi visitar uma amiga. Me admira ela ter amiga.

Maria: A Marcela me procurou.

Hélio: A Marcela? Aquela Marcela?

Maria: Isso mesmo. Aquela que chantageava o Heitor. Agora ela voltou e quer me chantagear também.

Hélio: Essa mulher não tem limites?

Maria: Maldita hora que eu fui ler essa carta que o Heitor deixou. Não queria saber da existência dessa mulher na minha vida. Eu fiquei com tanto ódio do Heitor por causa dessa carta. Até de você eu fiquei com raiva.

Hélio: Eu não tive culpa nenhuma.

Maria: Mas a carta foi deixada com você, e quem me entregou ela foi a Valeria. Ele tripudiou da situação como ela sempre faz.

Hélio: Eu não tinha te entregado a carta porque o Heitor tinha acabado de morrer. Não tinha dado nem tempo de entregar a carta.

Maria: Eu sei. Mas na hora eu fiquei com muita raiva.

Hélio: Mas o que você fez com a Marcela?

Maria: Ela me chantageou em falar pro Junior que eu e o Heitor o tiramos dela quando ele era criança. Se colocou no papel de vitima. Eu tive que dar dinheiro pra ela. Vagabunda.

Cena 9

Calçada do bairro.

Maria caminha pensativa pela calçada indo em direção a sua casa e a vê de longe, na porta da sua casa, Junior e Marcela conversando. Maria se assusta com a cena.