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Sangue Ruim

Sangue Ruim – Capitulo 1: Prazer, Laura

CENA 1/ AVIÃO/ DIA

Pela janela da aeronave, Laura começa a ver as formas dos prédios da cidade de São Paulo entre as pesadas nuvens cinzas no céu. Ela começa a pensar em sua família e tem várias lembranças do passado, quando sente a sua mão sendo apertada pela de Guilherme:

Guilherme: Laura, tá tudo bem?

Laura: Tá sim…  – ela disfarça – Tava distraída só.

Guilherme: Com o que?

Laura: Coisa boba… Pensando na vida.

Guilherme: Quem vai vir buscar a gente?

Laura: Minha mãe falou que o motorista ia vir. Você quer ir direto pra a minha casa?

Guilherme: Eu tava pensando de antes a gente passar naquele apartamento que eu lhe falei, que eu tava pensando em alugar.

Laura: Ah não, deixa isso pra mais tarde, tô super cansada!

Guilherme: Ok então, mais tarde a gente vai. Só que eu preciso ver isso o quanto antes, não quero ser um incômodo pra a sua mãe lá naquela casa.

Laura: Aquela casa é tão grande que é capaz de vocês nem se esbarrarem, para de bobagem!

Guilherme: Mesmo assim eu insisto, é melhor eu ter um cantinho só meu já que a gente pretende ficar aqui.

Laura: Se é assim que você quer, assim será meu amor! – ela encosta perto dele e lhe dá um beijo

CENA 2/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ SALA DE JANTAR/ DIA

Lourdes começa a arrumar a mesa de jantar para o almoço quando é surpreendida pela chegada de Alice, que anda pela sala de uma maneira apreensiva:

Alice: Maria de Lourdes! Você não tá batendo bem da cabeça né?

Lourdes: O que que eu fiz de errado Dona Alice?

Alice: Eu lhe falei que eu quero no almoço aquela louça portuguesa que era da minha avó, não essa louça comum! O namorado da Laura vai almoçar com a gente!

Lourdes: Mas a senhora me falou que no almoço só se usava essa louça!

Alice: Mas não com gente importante né! Eu não quero que o namorado da minha filha pense que eu sou qualquer uma da classe média!

De repente as duas escutam a porta abrindo e Marcelo chega na sala interrompendo a conversa:

Marcelo: Meu amor, algum problema?

Lourdes: A Laura chegou no aeroporto já… O senhor sabe como ela fica quando a filha vem visitar né seu Marcelo?

Marcelo: Na verdade, eu nunca conheci a Laura, sabia Lourdinha? As duas vezes que ela veio aqui em casa eu tava viajando.

Alice: Dessa vez não vai faltar oportunidade meu amor! Ela tá vindo de mala e cuia, acredita? E com o namorado junto!

Marcelo: Mas que notícia boa! Por que você não me avisou isso antes?

Alice: Ela só me avisou isso quando tava no aeroporto! Aquela desgraçada, acha que minha casa é uma pensão…

Marcelo: Amor, eu não tô entendendo o porquê desse nervosismo todo…

Alice: Espera ela chegar, ai você vai entender meu bem… Espera ela chegar…

CENA 3/ AEROPORTO DE SÃO PAULO/ DIA

Laura caminha pelo saguão do aeroporto enquanto Guilherme carrega as malas dos dois no carrinho até a saída. Na porta, ela vê o carro da família, mas toma um susto ao ver saindo dele seu primo Fábio, indo de imediato a seu encontro:

Laura: Fábio! Quando você chegou?! Por que não me avisou?!

Fábio: Se eu tivesse avisado não seria surpresa né…

Laura: Mas você não tava na Austrália ou coisa assim?!

Fábio: Tailândia… Mas quando a tia Catarina me avisou que você tava de volta, eu tive que vir. Já faz quando tempo que a gente não se vê mesmo? 2?

Laura: Dai pra mais! – ela o abraça – Ai que saudades!

Fábio: E quem é aquele carregando suas malas?

Laura: Aquele é o Guilherme! Meu Guilherme!

Fábio: Você não perde tempo né! – ele olha pra Guilherme – E sempre sabe bem como escolher…

Laura: Não é minha culpa se eu fui criada acostumada com coisa boa né! Não sou obrigada a passar necessidade! – ela ri – Agora para de olhar que tem dona! Deixa eu chamar ele logo pra entrar no carro que eu tô morta de fome!

CENA 4/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ SALA / DIA

Lourdes abre a porta de casa e Catarina entra, encontrando apenas Marcelo sentado no sofá tomando uma taça de vinho e lendo um livro:

Catarina: Começando cedo Marcelo?

Marcelo: Uma tacinha só, faz bem pra a saúde… Me acompanha?

Catarina: Não, obrigado… Cadê todo mundo nessa casa?

Marcelo: Os meninos ainda não chegaram e a sua irmã tá lá em cima tomando um banho. Sobe lá…

Catarina: Não, eu vou esperar aqui mesmo – ela se senta bem ao lado de Marcelo – Tá lendo o que?

Marcelo: O Sol é Para Todos. Conhece?

Catarina: Um dos meus favoritos! Um clássico né?

Marcelo: Com certeza…

Mal-intencionada, Catarina se inclina um pouco mais para perto dele para ver o livro e com o movimento acaba derrubando a taça de vinho, fazendo o liquido derramar todo em cima da perna do cunhado

Catarina: Marcelo, me desculpa! Ai que desastrada que eu sou! Lourdes traz um pano!

Marcelo: Que nada Catarina, eu subo e troco de roupa, não tem problema!

Catarina: Que isso, um pano só já resolve!

Lourdes vem correndo da cozinha com um pano e entrega para Catarina, que passa na perna de Marcelo. Ela aproveita e esfrega bem o pano na calça do cunhado, tirando uma casquinha, quando eis que a porta principal se abre e Laura, Guilherme e Fábio entram:

Lourdes: Que é isso aqui?! Tia Catarina, desencalhou foi?

Catarina: Não, não é nada disso! – ela responde sem jeito – Tava só limpando aqui, derramou vinho, uma bagunça menina…

Marcelo se levanta bruscamente e vai em direção a Laura:

Laura: Então você deve ser o famoso Marcelo…

Marcelo: Não mais famoso que você… – ele ri e estende a mão – Prazer, Marcelo.

Laura aperta a mão do padrasto e olha bem em seus olhos, tentando devorá-lo com um olhar

Laura: Eu sou a Laura. E o prazer é meu.

De repente escuta-se o barulho de alguém descendo as escadas e eis que Alice chega, arrumada e elegante para o almoço. Ela olha por alguns segundos fixamente para a filha e em seguida lhe dá um abraço:

Alice: Minha filha… – ela aperta forte Laura em seus braços – Ai que saudades…

Laura fica inerte com o abraço da mãe e não demonstra emoção, nem retribui as palavras:

Laura: O almoço tá pronto? Tô morrendo de fome?

Alice: Tá sim… A Lourdinha fez salmão ao molho de maracujá, é seu favorito né…

Laura: Era…

Alice: Você não vai me apresentar esse rapaz bonito não minha filha?! Esse que é o tal Guilherme?

Guilherme (sem jeito): Eu mesmo… Prazer Dona Alice…

Alice: Esquece essa coisa de dona! Eu não gasto uma fortuna em plástica pra ser chamada de dona! A partir de agora é só Alice!

Guilherme: Ok… – ele dá uma risada sem graça

Alice: Venham pra a sala de jantar antes que a comida esfrie!

Algumas horas depois

CENA 5/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ QUARTO DE LAURA/ NOITE

Enrolada nos lençóis de sua cama após uma tarde fazendo amor com seu namorado, Laura levanta e veste uma camisola, o deixando dormir. Ela sai do quarto e desce as escadarias da mansão, indo em direção da cozinha, quando o telefone toca na sala e ela para atender:

Laura: Quem é?

Luís (surpreso): Filha, é você?

Laura: O que que você quer?!

Luís: Filha, sou eu!

Laura: Eu sei que é você pai! Você não tava na prisão?

Luís: Eu consegui um celular aqui… Como que você tá filha? Como que tá a sua mãe? Tá tudo bem ai?

Laura: Vá a merda! Desgraçado!

Ela desliga o telefone na cara do pai e tira o telefone do gancho. Em seguida, Laura vai até o armário de bebidas da casa e pega uma garrafa de vodka para beber.

CENA 6/ SÃO PAULO/ APARTAMENTO DE CATARINA/ NOITE

Sentada em uma das poltronas da sala, Catarina lê o jornal e toma uma xícara de chá, quando vê seu sobrinho se arrumando para sair:

Catarina: Vai pra onde?

Fábio: Dar uma voltinha com o pessoal.

Catarina: É gente direita pelo ao menos?

Fábio: Estudei com eles no colégio.

Catarina: Pelo ao menos não é gentinha então… Vê se não volta tarde que isso aqui não é hotel viu!

Fábio: Pode deixar tia! Daqui uma hora ou duas eu tô de volta…

Catarina: Pode demorar mais um pouco, não precisa voltar tão cedo assim também. Você é jovem Fábio, aproveita!

Fábio: Ok… – ele pega as chaves do carro e sai de casa – Quem entende né…

Dentro do apartamento, Catarina aproveita que o sobrinho saiu e faz uma ligação:

Catarina: O moleque já saiu, pode vir! Claro que ele vai demorar! Pode vir e traz tudo o que eu tenho direito…

Alguns minutos depois

A campainha toca e Catarina atende apenas de camisola, dando de cara com um homem jovem e musculoso, vestido de bombeiro:

Rapaz: É daqui do apartamento da madame que relataram um incêndio?

Catarina: O moço não faz ideia…

O rapaz entra e agarra Catarina com força, a beijando pela sala e derrubando os móveis

CENA 7/ SÃO PAULO/ FAVELA DE PARAISÓPOLIS/ NOITE

Com a garrafa de vodka nos braços e dirigindo o Porsche de sua mãe, Laura adentra pela favela e dirige até uma rua deserta no coração de Paraisópolis. Ela desce do carro e caminho com dificuldades em cima do salto pela rua esburacada, até chegar em um barraco e bater forte na porta. Após várias batidas, um jovem armado abre a porta e assusta-se ao vê-la:

Laura: Surpresaaaa! Voltei pra você!

FIM DO CAPÍTULO

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