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Jovens Tardes

Capítulo 8 – Jovens Tardes

Cena 01. Interior, dia, Igreja Matriz.
Santa está sentada no primeiro banco da Igreja, olhando para a imagem de Nossa Senhora das Cabeças, rezando em voz baixa. Pouco tempo depois Melione chega e se senta ao seu lado. Igreja pouco movimentada.
Melione – Me chamou e eu vim. Apesar de já saber do que se trata.
Santa – Melione, eu vou ser sincera e objetiva. Eu perdi tempo demais nutrindo um amor que não passa de fantasia. Eu cansei de te esperar.
Melione – Você tem que me entender, eu não posso…/
Santa – Você não pode continuar num casamento infeliz. Você é lindo, tanto por fora, quanto por dentro. Mas se quer continuar se acabando numa coisa que não tem chances de vitória, fique. Mas esteja ciente que eu estarei seguindo minha vida.
Melione – Santa, eu gosto tanto de você. Te juro que tô a ponto de largar meu casamento. Mas têm as minhas filhas, a Edith e a Maria Marta não conseguiriam suportar minha ausência.
Santa – Eu não tô te pedindo pra sumir da vida das suas filhas, muito pelo contrário, quero que elas façam parte do nosso relacionamento. O que te peço é pra ficar comigo. É pra se libertar do que te faz mal. Melione, seja homem honesto. Você lutou, tentou, mas não deu mais. Seu casamento com a Ância já acabou há muito tempo.
Melione – Então eu vou me separar da Ância, hoje mesmo. Vou para a pensão da Milú até a gente arrumar uma casa pra morar.
Santa (EMOCIONADA) – É sério? A gente vai ficar junto?
Melione acena com a cabeça dizendo que sim.
Santa então pula nos braços de Melione e o beija apaixonadamente.
Corta para:
Cena 02. Interior, dia, Núcleo MADA. SALA DE REUNIÕES.
Sete mulheres estão sentadas em cadeiras de plásticos e de costas para a câmera e para onde o público está sentado. Nesse instante Maria Marta chega e se senta na primeira fileira, na única cadeira vaga.
Corta para:
Cena 03. Interior, dia, Mansão Acioli. Sala de Estar.
Missy Justem está sentada no sofá tomando chá, eis que Bela entra pela porta toda exacerbada.
Missy Justem – Onde você foi?
Bela – Não amola não.
Missy – Bela? Vai ficar falando assim comigo?
Bela se senta ao lado de Missy.
Bela (alisando a mão de Missy) – Me perdoa, eu tô com a cabeça cheia. Descobri que a minha mãe é outra mulher e acabei de dar na cara dela.
Missy (assustada) – Isso é pecado. Mãe é sagrada. Ela te deu a vida.
Bela – Não, ela me pariu e me deu pros outros criarem. Além do mais disse tanta coisa. Não perdi tempo e dei uns bons solavancos naquela velha. Tava merecendo.
Missy – Vamos embora. Vamos viver nossa vida nos Estados Unidos. Você gosta de lá, eu sei que gosta.
Bela – Tá bem, eu vou. Decidi.
Missy – Sério que vai?
Bela – Vou sim, vamos amanhã mesmo. Vamos num jatinho fretado pra acelerar a viagem.
Missy – Mas e a Lorena?
Bela – Vai ficar, vai ficar por causa do Marechal Júnior. Bom que ela agencia a minha grife aqui e eu só fico recebendo os lucros e fiscalizando a movimentação financeira.
Missy – Vou subir e vou arrumar minhas coisas então.
Bela – Arrume depressa, porque essa noite vamos ficar em um hotel, pra evitar que as pessoas me vejam saindo com tantas malas e saibam que estou recuando.
Missy e Bela se levantam e sobem as escadas felizes.
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Cena 04. Interior. dia, Núcleo MADA. SALA DE REUNIÕES.
Sete mulheres estão sentadas em cadeiras de plásticos e de costas para a câmera e para onde o público está sentado. Maria Marta está na primeira fila.
Nesse instante aparece uma mulher, Léa, a líder do grupo.
Léa – Boa tarde. Eu sou Léa, sou a líder e fundadora do Núcleo MADA aqui em Pedrosa. Para quem não sabe, a sigla MADA quer dizer: Mulheres que Amam Demais Anônimas. São mulheres sofredoras, que tem um sentimento doentio por seus respectivos maridos ou ex-maridos. O que sempre atrapalha a relação e a vida social do casal e de quem os rodeia. Essas sete mulheres aqui, resolveram contar um pouco de seus dramas, e com nomes trocados, elas vão nos ensinar e nos informar um pouco mais sobre essa síndrome que tem sido tão comum.
Maria Marta olha para Léa e para as mulheres ao seu lado e sente-se desconfortável.
1ª Mulher Do MADA – Meu nome é Sueli e eu estou me curando, a cada dia, esse sentimento doente vai se desfazendo um pouco. Eu ainda amo meu ex-marido, um amor estranho, mas eu ainda amo. A cada dia eu tento não olhar a foto dele, não pronunciar o nome dele e não ir a casa dele.
Maria Marta fica olhando assustada.
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Cena 05.Exterior, dia, Ruas de Pedrosa.
Alternar cenas de Melione andando pelas ruas de Pedrosa e falando ao celular com Ância, que está na sala de casa, de pé. Enquanto Edith está deitada no sofá assistindo TV.
Melione (cel.) – Alô, Ância?
Ância (tel.) – Fala Melione. O que você quer dessa vez?
Melione (cel.) – Eu tô ligando, porque não poderei passar em casa num primeiro momento pra gente conversar sobre o que quero.
Ância (tel.) – Hã? O que você tá dizendo? Você tá bem? Tomou seu remedinho de cabeça hoje?
Melione (cel.) – Sem brincadeiras Ância, o papo é sério. Eu tô querendo falar na moral com você.
Ância (tel.) – Então fala logo. Para com esse rodeio e diz o que você quer dizer.
Melione hesita por um pequeno instante. Logo depois respira fundo e volta a falar no celular com Ância.
Melione (cel.) – Eu pensei e repensei muito sobre nosso casamento, cheguei à conclusão de que quero o divórcio e que não fico mais nessa casa. Eu tô indo ver se tem lugar na pousada da Milú, amanhã eu passo pra pegar as minhas coisas aí. Pede a Maria Marta ou a Edith pra colocar as minhas coisas numa mala.
Ância fica totalmente surpresa e sem reação.
Ância (tel.) – O que você tá dizendo? Só pode ser brincadeira, e de péssimo gosto por sinal.
Melione (cel.) – Não é brincadeira. Eu vou começar uma nova vida ao lado da Santa. Amanhã vou aí pra gente conversar melhor. Tenho que desligar.
Melione desliga o celular e continua andando pela rua.
Corta para: Casa de Ância.
Ância perplexa com o telefone na mão.
Edith (olhando para a TV) – O que o pai queria?
Ância coloca o telefone no gancho.
Ância – Ele me surpreendeu, tudo bem. Mas agora é a minha vez de surpreendê-lo.
Edith olha com desconfiança para a mãe.
Edith – O que você tá falando mãe?
Ância – Eu quero fazer como nos filmes, nas novelas. Quero mostrar que sei me vingar também. Me acompanha até meu quarto Edith, seu pai pediu pra você fazer um favor a ele.
Edith – Mas o que é?
Ância – Faça o que tô mandando, e sem perguntas garota. Anda, vem comigo.
Ância vai saindo da sala em direção ao seu quarto.
Edith (desligando a TV) – Que saco, nem paz a gente tem mais.
Edith sai da sala em direção ao quarto dos pais.
Corta para:
Cena 06. Interior. dia, Núcleo MADA. SALA DE REUNIÕES.
Reunião Encerrada. Várias pessoas indo embora, porém Maria Marta permanece sentada, sozinha e envolta em seus pensamentos.
Léa se aproxima.
Léa – Tá aí tão introspectiva. O que foi? Não gostou da reunião?
Maria Marta – Gostei… É meio triste né? A gente vê mulheres lindas, algumas tão jovens, como eu, e outras tão bem sucedidas, caindo numa obsessão, numa depressão que acaba com a alma da pessoa. Nossa como é triste!
Léa – Mas nem tudo é espinho aqui no MADA. Eu quero te mostrar uma pessoa bacana, que conseguiu superar tudo isso.
Maria Marta olha surpresa para Léa, que gesticula, chamando uma moça ruiva, que rapidamente se aproxima.
Léa – Marta, essa daqui é a Heloísa. Uma das nossas colaboradoras mais antiga. Ela quase que inaugurou o Centro aqui. Ela vai contar um pouquinho do drama que viveu.
Corta para:
Cena 07. Interior, dia, Núcleo MADA. SALA PRIVATIVA.
Maria Marta e Heloísa estão sentadas uma de frente para a outra.
Heloísa – Eu morava no Rio, pra ser mais exata, no Leblon. Minha família foi sempre de classe média bem alta. Eu sempre tive a vida confortável que quis e logo me casei com o Sérgio. Um rapaz charmoso, bonitão mesmo. Mas com o passar do tempo, meu ciúme foi aumentando e acabou se transformando em obsessão. Fui além das consequências e fiz loucuras. Eu perdi o Sérgio, mas ganhei um aprendizado incrível.
Maria Marta – Mas vocês ainda se falam?
Heloísa – Cada vez nos falamos menos. Eu prefiro assim, sabe? Ele seguiu a vida dele pra lá e depois de anos eu tô seguindo a minha. Ele acabou casando com a vadia da Vidinha. Eu sei, sou errada de me referir a ela assim, mas não consigo. A culpa é e sempre será dela.
Maria Marta – Tem certeza que está curada?
Heloísa – Quem ama demais, é como quem tem HIV, é como quem tem dependência alcoólica. Nunca estaremos curados, podemos amenizar a situação, ou melhor, aprender a viver com os percalços, mas nunca estaremos curados. Sentimento não se apaga, se transforma. O meu amor virou obsessão, e agora tento transformá-lo em uma lembrança.
Maria Marta – Vejo que a palavra ciúme foi abolida da sua vida e gosto muito disso. Mostra o quanto as pessoas crescem, o quanto conseguem superar esses tristes dramas.
Heloísa – Não, eu nunca vou abolir, até porque, ciúme no meu dicionário se escreve com um tiro.
Maria Marta e Heloísa riem juntas.
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Cena 08. Exterior, dia/noite, Pedrosa.
Planos gerais com imagens aéreas de pontos importantes da cidade anoitecendo.
SONOPLASTIA: TATUAGEM (Marjorie Estiano)
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Cena 09. Interior, noite, Mansão Kalil. Quarto de Lorena.
Bela está parada olhando para a cama de Lorena, que está repleta de ursos e corações de pelúcia.
Um tempo depois Missy Justem aparece.
Missy chega por trás de Bela e a abraça.
Bela – Tá quase casando com o Marechal Júnior, mas não deixa de ser criança.
Missy Justem – Mulher é assim, tem seu lado romântica, a parte sentimental mais aflorada. Esses ursos de pelúcia são para suprir a ausência de alguém. É pra se sentir protegida.
Bela – É. Vou sentir falta da Chaveirinho. Ela era a minha companhia aqui na cidade.
Missy Justem – Talvez mais tarde ela vá. Agora quem precisa ir somos nós.
Bela – Deixei uma carta me despedindo dela. Avisei a Filó também. Não liguei pra que ela não comentasse com o boy e tudo isso caísse no ouvido do Marechal.
Missy Justem – Vou descendo, porque quero tomar água e me despedir da Filó.
Bela – Só você pra se despedir de serviçais.
Missy Justem sai do quarto e Bela continua imóvel olhando a cama de Lorena.
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Cena 10. Interior, noite, Casa de Ância. Quarto do Casal.
A cama de casal está coberta por roupas masculinas.
Ância (jogando álcool nas roupas) – Pega o restante das roupas Edith.
Edith sorri e coloca mais roupas na cama.
Ância risca um fósforo e joga em cima da cama, que rapidamente acende uma grande labareda de fogo, que começa a queimar as roupas e a cama.
Ância – Abre a gaveta de cuecas que eu quero tudo que é dele no fogo. Ele não quer mudar de vida? Então vai ter que mudar de enxoval.
Edith – Meu pai vai ficar muito bravo com a senhora.
Ância – Que fique bravo, que chute a parede, que morra se necessário. Ou é meu, ou não é de mais ninguém.
Edith – Mas o que estamos fazendo é errado.
Ância (jogando mais roupa na fogueira) – Eu não quero saber o que é certo e o que é errado, eu quero saber o que é necessário. Vou queimar tudo: as roupas, os sapatos, a cama e as lembranças. Vai sair dessa casa só o corpo, porque a alma eu faço questão de queimar também.
Nesse instante Maria Marta aparece muito assustada.
Maria Marta – Senti cheiro de queimado e vim correndo. Mãe você tá bem?
Ância – Tô ótima minha filha…
Maria Marta (próxima da fogueira) – O que você tá fazendo mãe? O que é isso?
Ância – O que você está vendo, churrasco do seu pai. Ou melhor, dizendo, o que restou dele nessa casa.
Maria Marta – Brigaram mais uma vez e a senhora tá querendo se aparecer pra ele.
Edith (com Maria Marta) – Não foi nada disso Marta, o pai quis o divórcio. Tá até morando na pensão já.
Maria Marta (com Ância) – Que falta de respeito com o meu pai.
Ância – Ele é que não se deu ao respeito. Encerrou nosso casamento, como quem encerra a conta num botequim, pelo celular. Mais de trinta anos de casamento jogados ao léu.
Maria Marta – Apaga isso, senão eu mesma apago.
Ância (com Maria Marta) – Ouse tentar apagar. Te coloco na fogueira junto com essas tralhas. Tantos anos de dedicação, pra que? Pra nada. Seu pai não sabe ser recíproco, não cultiva a virtude da gratidão.
Edith – Mãe a senhora vai por fogo na casa, acho que chega.
Maria Marta – Vou buscar um balde de água.
Ância – Agora que já queimei tudo, podem apagar. Não sobrou uma meia pra contar história. Ele vai viver com a roupa do corpo.
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Cena 11. Interior, noite, Mansão Kalil. Cozinha.
Helena está preparando o jantar, quando Tomázia aparece na cozinha.
Helena – O jantar já vai ficar pronto dona Tomázia. Tô terminando de assar o lombo e de fazer o molho da macarronada.
Tomázia – Não vim fiscalizar o jantar, até porque nem vou comer. Precisarei dar uma saidinha rápida. Só quero falar com você.
Helena – Pois não, pode falar.
Tomázia – Você um dia me disse que tinha uma arma de fogo, me lembro muito bem. É que eu tô precisando dela, precisando muito.
Helena – Eu tenho duas armas, empresto uma pra senhora sim. Quando vai querer?
Tomázia (cochichando) – Agora, eu quero agora.
Helena fica assustada.
Helena – A senhora não vai fazer o que tô pensando né?!
Tomázia – Fique tranquila. Vou subir pra tomar um banho, leve a arma e coloque dentro da minha bolsa vinho, enrolada em um pano.
Helena – Tá ok!
Tomázia sai da cozinha.
Helena (pra si) – Preciso arranjar um meio de chegar antes e protegê-la.
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Cena 12. Interior, noite, Mansão Kalil. SALA.
Marechal está sentado em uma poltrona e Santa está em pé a sua frente. Conversa já iniciada.
Marechal – Eu entendo a situação. A Ância deve estar colocando fogo pelas ventas. Se segura hein.
Santa – Pode deixar seu Marechal, então eu posso ir?
Marechal – Claro que pode e aproveite.
Nesse instante Tomázia entra na sala.
Tomázia – Aonde você vai Santa?
Santa – Vou passar a noite com meu namorado. Seu Marechal me liberou.
Tomázia – Hum, gostei. Vai passar a noite com o namorado? Quem é o felizardo?
Marechal – Melione Mota.
Tomázia (surpresa) – O que? O Melione da Ância?
Santa – Não. Agora ele é o Melione da Santa. Já saiu de casa e tá morando numa pensão, provisoriamente, até a gente ter a nossa casa.
Tomázia – A Ância deve estar dando um pití danado.
Santa – Bem, se me permite, eu vou indo nessa. Antes de ir passar a noite com meu bem, eu preciso resolver uns assuntos aí.
Santa sai da Mansão.
Tomázia – Não quero nem ver a Ância, deve estar soltando fogo pelas ventas. Vou ligar pra ela e saber se precisa de ajuda.
Tomázia pega o celular e começa a discar para Ância.
Marechal – Tomázia, eu vou sair agora.
Tomázia – Vai onde?
Marechal – Dar uma volta. Tô indo.
Tomázia (ao cel.) – Alô, oi Marta, sua mãe tá aí?
Câmera focaliza: Marechal pegando sua maleta preta e saindo da mansão de fininho.
Corta para:
Cena 13. Interior, noite, Mansão de Milú. SALA DE JANTAR.
Estão sentados a mesa: Letícia, Murilo, Milu, Hamilton, Luzia, Ariel, Filipe e Melione. Todos jantando.
Murilo – Que bafo hein seu Melione. Então o senhor terminou com uma e já tá com outra? Isso é que eu chamo de colocar a fila pra andar.
Melione – Não foi bem assim não. Eu e a Ância já estávamos meio que separados. Só dormíamos na mesma casa.
Hamilton – Pra mim isso se chama cafajestagem. Um homem nunca deixa sua esposa.
Milú – Menos, Hamilton, bem menos. Nem casado você é.
Murilo – Ai ai. Queria eu encontrar um boy magia. Me contentava com o Ariel mesmo.
Ariel (rude) – Sai fora, quem gosta de florzinha é floricultura.
Letícia – Gente cadê a Desiree?
Milú – Ela disse que ia sair pra resolver uns assuntos. Saiu deve ter uns quinze minutos e até agora não voltou.
Melione – Por falar nisso, tô indo nessa também. Tenho que resolver uns assuntos na rua. Mais tarde eu volto com a Santa para cá.
Milú – Vai lá meu filho, vai nessa.
Melione se levanta e sai.
Murilo – Isso é que é homem. Ai a minha horta num chove assim.
Letícia – Deixa de ser oferecido.
Murilo – Deixa de ser invejosa.
Letícia – Feio.
Murilo – Gorda.
Letícia pega o jarro de suco e joga todo o líquido em Murilo, que retribui jogando a salada em Milú.
Milú – Vocês querem guerra né?
Milú joga a vasilha com arroz em Ariel.
Hamilton (jogando o pudim) – Sobremesa velharada.
Hamilton acerta o pudim Filipe, que retribui jogando água em Luzia.
E assim começa uma enorme guerra de comida.
Corta para:
Cena 14. Interior, noite, casa de Ância. Quarto de Edith.
Edith está com um vestido curtíssimo e se maquiando em frente ao espelho.
Logo depois Maria Marta entra em seu quarto.
Maria Marta – Ué, vai sair?
Edith – Vou sair com o Ariel, um barzinho e depois motel.
Maria Marta – Que horror. Você transa com todo mundo.
Edith – De boa samaritana nessa casa, já tem você. E se veio aqui pra ficar me criticando, a porta da rua é serventia do quarto.
Maria Marta – Ei, calma que vim na paz. É que a Tomázia ligou procurando a mamãe.
Edith – E?
Maria Marta – O fato é que a mamãe saiu sem falar nada, sem ser vista. Tô com medo de ela ter ido arrumar barraco com o papai.
Edith – Acho pouco provável. Ela disse que amanhã vai lá. Vai levar as cinzas pra ele.
Maria Marta – Esse era meu medo. Mas então hoje, por onde ela anda?
Edith – Mistério. Deve estar enchendo a cara em algum bar. Deixa ela curtir a fossa dela.
Maria Marta – Tá bem. Agora vou me arrumar, porque tem culto.
Edith – Vai na paz irmã.
Corta para:
Cena 15. Exterior, noite, Hotel. Fachada.
Um táxi para bem em frente a um hotel luxuoso, Bela e Missy Justem descem, e entram no hotel.
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Cena 16. Interior, noite, Hotel, Recepção.
Bela faz o chek in, enquanto Missy Justem olha tudo ao redor.
Recepcionista – Suíte presidencial, décimo terceiro andar, primeira porta a esquerda.
Bela – Ok, agora peça para um serviçal qualquer subir com as nossas bagagens. E depressa.
Recepcionista – Ah claro, sim senhora.
Bela – Mandar levar o cardápio do jantar também.
Bela sai da recepção e se aproxima de Missy.
Missy – Tudo pronto?
Bela – Tá. Vamos subir?
Missy – Vamos, deixa só eu ver se todos os meus documentos estão aqui. Outro dia quase molhei meu passaporte.
Bela (gritando) – Ai que merda.
Missy – O que foi?
Bela – Esqueci meu passaporte em casa.
Missy – Sem ele, não tem como viajar.
Bela – Vou voltar em casa pra buscar.
Missy – Vou contigo.
Bela – Never querida, você fica e escolhe o nosso jantar.
Missy – Tá bem. Mas chama um táxi.
Bela – O hotel aluga carro, acho mais prático, vou e volto em dois tempos.
Missy – Tá bem.
Bela volta até a recepcionista, fala algo e sai do hotel rapidamente, enquanto Missy entra no elevador.
Corta para:
Cena 17. Exterior, noite, Carro.
Numa estrada deserta e mal iluminada, Bela Acioli passa dirigindo um “new bettle” (novo fusca) de cor prata, logo em seguida uma camionete preta passa a seguindo.
Corta para:
Cena 18. Interior, noite, carro.
Bela coloca uma música alta.
SONOPLASTIA: Price (Jessie J.)
Logo em seguida ela consegue ver pelo espelho retrovisor, que uma camionete a segue.
Bela – Deve ser impressão minha. Ando vendo muito filme de suspense policial.
Bela acelera o carro, mas a camionete também acelera.
Bela então começa a tremer, aumenta o volume do som e acaba por perder a direção do carro, que quase cai em um desfiladeiro.
Bela (muito assustada) – Meu Jesus, não acredito nisso!
Bela freia o carro e percebe que a camionete sumiu, porém continua com a respiração ofegante e então segue normalmente.
Corta para:
Cena 19. Interior, noite, Mansão Acioli. Sala.
Bela acende a luz da sala e olha assustada para todos os cantos, sobe as escadas em direção a seu quarto.
Corta para: QUARTO DE BELA.
Bela (ressabiada) – A luz do meu quarto acesa? Que estranho… Tô sentindo um perfume, peraí, eu conheço esse perfume.
Corta para:
Cena 20. Exterior, noite, Igreja Evangélica.
Maria Marta e Giulio estão parados em frente à igreja, abraçados.
Giulio – Como foi lá no MADA hoje?
Maria Marta – É um mundo diferente, desconhecido, sabe? Eu nunca pensei que existissem mulheres assim, nunca achei mesmo.
Giulio – Eu estive numa clínica de reabilitação, onde homens que agrediram suas esposas ficam.
Maria Marta – Mas eles não ficam na cadeia? Cadê a Lei Maria da Penha?
Giulio – Alguns homens sofrem de alguns transtornos e mesmo presos, eles precisam de cuidados especiais, precisam da ajuda de profissionais, como: médiocos neurologistas, pedagogos, psicólogos. Foi muito bom, eu pude ouvir e me emocionar com o drama de cada um e vi, que às vezes eles só queriam o respeito da esposa, mas não tinham.
Maria Marta – Mas isso não justifica bater em uma mulher, não justifica mesmo.
Giulio – Mas claro que não. Não tô levantando essa bandeira, longe disso. Mas o diálogo é fundamental numa relação.
Maria Marta – Amor, mudando de assunto, vamos pra casa? Tô preocupada com minha mãe. Quero saber o que aconteceu com ela.
Giulio – O que aconteceu com ela?
Maria Marta – É uma longa e complicadíssima história, mas te conto a caminho.
Giulio – Tá bem, então vamos.
Giulio e Maria Marta seguem caminhando pela rua.
Corta para:
Imagens aéreas da cidade de Pedrosa.
SONOPLASTIA: Marcha Fúnebre.
Corta para:
Cena 21. Interior, noite, Mansão Acioli. Quarto de Bela.
Bela está deitada de bruços na cama, totalmente IMÓVEL, e no criado mudo estão: uma garrafa de uísque e dois copos vazios.
SONOPLASTIA: Música de Suspense.
Nesse instante faz um barulho, a porta se abre, mostrando apenas o cano de uma pistola 38, que vai chegando próximo a Bela, até que dispara dois tiros em suas costas.
Acontece um apagão no quarto, e segundos depois, quando a luz se acende novamente, está apenas o corpo de Bela, com duas marcas de tiro e se esvaindo em sangue.
Com a pistola caída no chão a imagem congela.

Fim do Capítulo!

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