Contratempo de amar – Capítulo XXI
Por Diego
Que bicho me mordeu. Se eu soubesse, Isabel, já teria procurado um antídoto há muito tempo. O que eu estava pensando? Porque eu estava fazendo aquela ceninha de ciúmes? Eu vou me casar! Talvez se eu repetir isso algumas vezes consiga agir como um futuro marido.
– INFERNO! – jogo a pilha de papéis no chão juntamente com algumas outras coisas de cima da minha mesa, mas logo ouço o meu celular tocar – O que!? – atendo, com agressividade.
– Diego? Liguei em má hora? – reconheço a voz de Samuel e confiro no visor do celular.
– Não, Samuel… Me desculpe. Ainda estou na R.B. – tento conter meus ânimos, ainda precisava ajudar Isabel à esclarecer essa história apesar do nosso desentendimento.
– Eu preciso falar com você. – o tom em sua voz é de nervosismo.
– Algum problema na empresa? – pergunto, tentando ser discreto.
– Não, não com a empresa. – ele suspira – Diego, eu sei que você e Isabel são muito próximos, e sei que é mais do que certo que ela contou a você o que está se passando…
– Sim, ela contou. – não esperava que ele fosse tão direto.
– E você está com raiva por não ter te dito antes? – sua pergunta quase soava como uma afirmação.
– Eu realmente preferia saber sobre sua relação com ela antes, Samuel… Mas não tenho direito nenhum de exigir isso de você ou de estar com raiva. Isso é assunto de vocês dois, e eu não falava com a Isabel há mais de uma década. Você não me deve nada. – respondo, sinceramente.
– Fico feliz que você pense assim, porque talvez eu deva depois de hoje. Eu preciso contar o que aconteceu e preciso que você me ajude a contar para a Isabel.
Não entendo o que isso significa. Porque Samuel me confidenciaria algo e ainda me pediria ajuda para contar isso para Isabel? Permaneço algum tempo em silêncio processando aquilo e ele percebe.
– Existe mais do que eu contei a ela, Diego. Sei que vocês já desconfiavam disso, e sei que você provavelmente ligará pra ela assim que desligar esse telefonema. Mas eu peço que não o faça.
– Samuel, gosto muito de você e realmente te considero um amigo de longa data… Mas Isabel é… Ela é mais. Não posso esconder nada com relação ao passado dela.
– Não quero que você esconda nada. – ele garante – Quero que você me escute, só assim vai entender meus motivos para ainda não ter revelado tudo o que era preciso pra ela.
– Eu… – balbucio, sem saber o que responder.
– Contar sobre essa conversa pra Isabel antes de me ouvir não vai te ajudar em nada, Diego, e muito menos a ela. Só peço que me escute e depois tire suas conclusões.
A aflição na voz de Samuel fez com que eu pensasse duas vezes antes de dar minha resposta. Talvez eu realmente devesse escutá-lo antes de tomar alguma atitude precipitada. Isabel vai estar ocupada com o ex-noivinho durante esses dias, então posso adiantar nossas investigações com essa conversa. Marco com Samuel um encontro para o dia seguinte, e vou para casa disposto a perguntar algumas coisas para minha mãe a respeito de toda essa confusão.
– Meu filho, você chegou tarde. – ela diz quando entro na cozinha se virando pra mim – O que houve? – repara na minha expressão séria.
– Quem é Samuel Vasconcelos, mãe? – posso ver seu semblante cair com a pergunta, e ela se vira novamente para o que estava fazendo.
– Ele é seu sócio, você deve saber melhor do que eu quem ele é.
– Mãe… – toco em seu braço e posso ouvir um suspiro – Eu sei que a senhora conhece ele. Sei que conheceu ele na época em que a Maria estava grávida da Isabel.
– O que você quer saber, Diego? – ela desiste e se vira novamente pra mim.
– Quero saber se o Samuel é pai da Isabel. – pergunto diretamente, mas a sua expressão não muda.
– Não. – ela responde, secamente – Só isso?
– Eu não sei o que aconteceu, mas sei que aconteceu algo. – afirmo, tentando analisar aquela resposta.
– Meu filho… – ela fecha os olhos com força e pega minhas mãos – Essa história é passado. Deve ficar no passado.
– Samuel quer contar pra Isabel. – posso ver que a notícia assusta minha mãe – Ele quer conversar comigo e quer ajuda para contar pra ela. Seja lá do que se tratar.
– Ele não devia fazer isso. Diego, não se envolva nessa história. – eu arqueio uma sobrancelha, confuso – O que aconteceu, aconteceu há muito tempo. Samuel era muito jovem, todos eles eram muito jovens… Não vale a pena desenterrar uma história que não trará nada de bom pra Isabel… pra nenhum de vocês.
– É o passado dela. – respondo, sem acreditar que minha mãe estava falando aquilo – Como isso pode não valer a pena?
– Eu não posso te proibir de fazer nada, Diego. – ela solta minhas mãos e se dirige para a porta da cozinha – Só peço que você tenha cuidado pra não causar mais danos do que bem.
Aquelas palavras me confundiram ainda mais. O que aconteceu de verdade entre Samuel e a mãe de Isabel? Se ele não é o pai dela, onde ele está e quem é ele? Porque desenterrar essa história causaria algum dano? Nós já estamos no meio do caminho e voltar daqui não faria sentido nenhum. Eu vou me encontrar com Samuel e vou descobrir o que realmente aconteceu. Custe o que custar.