Heaven Mundo Paralelo – Capitulo 9 – Pesadelo
Capítulo 8
Pesadelo
Uma ligação – Museu Argos:
– Não pode ser…
– O que aconteceu, vovó?
Ela não respondeu. Voltei ao que estava fazendo: organizar as peças que completam o mostruário do museu.
– Minha nossa! – Reclama Luana aborrecida com tanta coisa que ainda falta para arrumar. – Essas caixas não param de chegar.
– Você acha que o Apollo vai aparecer por aqui na inauguração?
– Ah… Não sei. Liga pra ele e pergunta.
– Não! Acho que ainda é cedo pra algo assim… E também quero que a iniciativa venha dele.
– Talvez ele precise de umas pistas, sabe?
– Mais? A gente já espalhou cartazes pela cidade toda.
– Eu disse dica? Quis dizer um empurrão. Meu cunhado é meio desligado, é bem capaz de esbarrar em todos os postes e não notar os anúncios lá.
Gráfica New Designer:
13h 05, Refeitório.
Estava lanchando num canto isolado do refeitório, ergo o copo e dou um gole. A bebida desce quente enquanto aprecio o aroma doce e o sabor meio amargo do cappuccino de canela.
– Incrí… – O final da palavra “vel” saiu engasgado quando tossi ao ouvir alguém me chamar.
Olhei imediatamente, então vi Datto se aproximando da mesa onde estou. Por um instante pensei que “A voz” havia voltado a me perturbar.
– Ae Apollo! Por que você está sozinho aí cara? – Datto colocou seu prato e o copo de suco na mesa e sentou-se ao meu lado.
– Eu prefiro assim, gosto de silêncio… Isso me ajuda a pensar.
– Parece assustado. O que foi, vai dizer que viu um fantasma?
– Hum! Fantasma ainda não, mas é cada coisa estranha…
Voltando a sala de aula, continuo a trabalhar no layout do site que estou fazendo. No programa de edição abro uma nova camada e tento esboçar um logotipo, mas ainda estou sem ideias para um tema.
Minha vista parece ficar ressecada, diminuo o brilho da tela e com o polegar e o indicador massageio os olhos, isso alivia um pouco o incomodo que estava sentindo.
De olho na tela novamente, as imagens se distorcem ficando desfocadas e sem forma. Pisco algumas vezes e no final da ultima piscadela tudo em torno de mim havia mudado. Estava agora num lugar cercado por pilhas de caixas e pacotes fechados.
A imagem embaçada e com pouca luz dificulta minha percepção das coisas ao redor. Ainda assim vejo também corpos esfumaçando no chão perto de mim.
Sinto o peso de uma mão no meu ombro. Congelo, o medo me acompanha enquanto me viro de vagar para traz.
– Professo! – Digo ainda espantado, mas fui me acalmando ao ver que estou na sala de aula outra vez.
– Está com alguma dificuldade em seu projeto?
– Sim. Ah… Eu posso ir ao banheiro?
– Você acabou de voltar do intervalo. – Indagou o professor com uma expressão neutra.
– Não estou me sentindo muito bem…
Já quase no meio da escadaria sinto meu corpo se estremecer e com medo do que poderia vir a seguir me agarro ao corrimão. Bem a tempo! Um a um os degraus foram desmoronando abaixo de mim, deixando uma cratera que se estendia quase por toda a escada.
Ouço uma gargalhada rouca e aguda, ainda pendurado procuro, mas não vejo ninguém por perto. Não consigo mais suportar meu peso, tento um ultimo esforço para me manter firme, mas não adianta minhas mãos escorregam do aponho e eu mergulho na escuridão.
Levei dois ou três segundos até enfim colidir com o chão desse buraco que parecia não ter fim. A pancada me deixou desnorteado levanto ainda vendo tudo em volta rodar e o mais estranho foi perceber que o buraco havia sumido e eu estava ainda no mesmo lugar, no meio da escada como se nada tivesse acontecido.
A sensação de estar sendo observado me incomodou algo me diz que eu não estou sozinho aqui.
No banheiro abro a torneira e lavo as mãos, a água está gelada mesmo assim aproveito para molhar o rosto e tentar acordar de vez dessa loucura, mas na hora me arrependi de ter feito isso. Tá frio demais, meu rosto parece que vai congelar.
Levanto a bainha da blusa de frio para secar o rosto e nesse instante ouço passos no corredor e após algum tempo, um grito abafado. Saio do banheiro para ver o que está acontecendo e me deparo com a garota da recepção.
Paralisada em estado de choque com os olhos voltados para a escada. Olho nessa mesma direção e não vejo nada. A expressão do rosto dela muda ficando ainda mais espantada, a boca aberta como se tentasse gritar, mas o som não saia.
Ao ver que ela vacilava em seus passos curtos para traz, eu corri e consegui alcançá-la antes que caísse. Não tão rápido para evitar que derrubasse o copo de café e as pastas que carregava em seus braços.
Agora que estou perto da moça posso ver seu nome no crachá: “Julia”. Pude ver também um vulto alto na forma de um homem vindo em nossa direção.
– Não! Não faça isso… Pai…! – Disse Julia em desespero com a voz de choro.
A coisa da qual ela está com tanto medo é o próprio pai. Que absurdo! Ele está vindo para bater nela e isso eu não posso deixar. O grandalhão levantou um braço e pareceu jogar todo o peso no punho.
Um golpe certeiro! Seria fatal se eu não o tivesse bloqueado. Não sei de onde tirei forças para segurar seu punho com a palma da minha mão direita enquanto estou apoiando Julia com a outra mão em volta de sua cintura.
Mas a força do golpe ainda que por milagre eu tenha impedido, foi muito bruta e nos arrastou quase meio metro para traz. Caí com Julia por cima de mim, de forma que ela não batesse a cabeça no chão.
– Hi! Hiiii! Hi! Hi! Hiiii! – Outra vez aquela risada irritante percorreu todo o corredor. Parecia vir de todos os lados como se já estivesse na minha mente.
Mas quando o barulho todo se foi o pai da Julia havia desaparecido.
– Julia! Hey… Ele já se foi. – Tentei consolar ela. – Você vai ficar bem!
– Sei que você não vai me machucar… – Julia disse com a voz tremula e parecia que ainda estava delirando. – Você nunca fez isso, papai.
– Toma! Dê isso a ela. – A voz de uma mulher surgiu por de traz de mim.
Vestida toda de branco e com um crachá preso ao bolso da blusa…
– Enfermeira! – Deduzi.
Peguei a garrafa de água que a doutora ofereceu retirei a tampa e apoiei com cuidado a boca da garrafa nos lábios de Julia. Logo ela retomou a consciência e devolveu a garrafa.
– Obrigado doutora… – Olhando de perto eu reconheci o rosto, é a Médica com quem eu fiz o exame admissional.
A partir da li a médica se encarregou de acompanhar a Julia até a enfermaria. E eu já tava esquecendo que precisava voltar para a sala de aula.
Segurei firme o corrimão antes de subir no primeiro degrau. Só por precaução mesmo, vai que… Mas não, dessa vez nada de ilusões na escada, sem tremor sem nada. Mas chegando no meio do caminho onde tudo aconteceu, notei que uma parte do corrimão está amassada, bem onde eu me segurei quando achei que estava caindo no abismo.
Residência dos Menezes.
Estava no quarto agarrado com minha gatinha assistindo Sessão da Tarde na TV.
– Olha! É agora mô. – Comentou Luana com os olhos vidrados na televisão.
Na tela um casal de jovens apaixonados prestes a se beijar quando o Jornal do dia interrompe a programação para uma noticia urgente:
– Chuva e enchentes causam catástrofes em Palmares – PE. Veja a seguir com o nosso reporte que está no local.
A imagem mudou e mostra agora um cenário devastado e inundado pela chuva.
– Até agora mais de vinte mortes foram calculadas pela perícia e como vocês podem ver, as ruas estão alagadas, nas regiões mais baixas o exército está evacuando as casas ajudando os moradores levando eles para um abrigo provisório.
E nessas imagens podemos ver o trabalho da coleta sendo feita por tratores, onde a água já baixou ainda resta muita lama, carros, motos arrastados pela corrente do rio que transbordou.
Lembrando que no começo deste ano a chuva também arrasou outra parte do país, quando aconteceu no Rio de janeiro.
A imagem voltou para o Jornalista.
– E a previsão do tempo é de muita chuva forte até o próximo mês. Voltamos depois com mais noticias no Jornal Nacional.
– Nossa só tragédia! – Reclamei enquanto procurava o controle para mudar de canal. – É por isso que não gosto de jornal.
– Poxa! Na melhor parte do filme. – Implicou Luana aborrecida.
– Ah! Amor é sempre a mesma coisa: Um cara… Uma garota linda… Um lago enorme, então aparece uns piratas e ferra com a curtição do casal na ilha. – Dou um sorriso de deboche e continuo. – Não sei como você não se cansa de ver esse filme.
Sinto um frio na espinha se espalhando por todo meu corpo. Sinto medo. Mas, medo de que? Luana percebe a tensão em meus ombros ao me abraçar.
– Ta tudo bem? Você ficou estranho do nada.
– Eu não sei amor… Desde manhã que estou com uma sensação ruim, como se algo fosse acontecer.
Virei para beija-la, agarrando forte seu corpo junto ao meu. Depois que nossos lábios se afastaram Luana sorri e diz me olhando nos olhos:
– Sabe que pode contar comigo, né?
– Claro que sei minha linda! – Dou um beijo em sua testa e prossigo. – Vou ficar bem, amor. Não deve ser nada, mas acho melhor eu ir agora.
– Tá bom. Ah! Mô, não se esqueça de falar com o Apollo sobre a inauguração do Museu.
– Ok. Eu falo, tenho certeza que ele vai.
Está frio e chovendo muito, ainda bem que trouxe minha capa. Já estou quase chegando em casa, preciso tomar muito cuidado pois a pista está escorregadia tornando-a ainda mais perigosa.
– Pera aí. O que é aquilo, um mendigo?
Avisto um corpo debaixo da nossa árvore. Desço da moto e me aproximando eu percebo que a pessoa caída é meu irmão.
– Apollo! – Sacudo seu corpo tentando acordá-lo, mas sem resposta.
Vejo que ele não está muito molhado apesar de estar chovendo muito forte a copa de folhas da árvore serviu de guarda-chuva para amparar seu corpo.
– Apollo… Levanta! – Sinto um aperto no meu coração e me desespero ao ver que ele nem se move.
Uau! Esse final foi tenso, quando comecei a ler a história achava que as alucinações de Apollo teriam alguma relação com a realidade, principalmente depois do ocorrido com o ônibus, mas depois disso já não sei de mais nada, rs.