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Filho Amado

Capítulo 57 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 57.

 


 

José entra em casa: Serve o café da manhã pra mim, Conceição.

 

A empregada ainda está traumatizada: Mas e a dona Mari? E a Aurora? Você vai realmente tem a coragem de fazer isso com elas?

 

José, irado: Elas mereceram e tomara que nunca mais voltem aqui! Agora não questione as minhas condições, faça seu papel de empregada e cumpra as minhas ordens! JÁ!- Grita, deixando-a assustada.

 

Casa dos Dávila/ Exterior.

 

Noronha aperta a mão de um dos empresários: Já podemos começar então, quero me livrar dessa casa logo.

 

Anna chega, afobada: Esperem, por favor não façam isso- Ela repara no gigante tanque demolidor estacionado no jardim.

 

Noronha, estressado: Mãe, achei que tinha sido bem claro quanto ao nosso acordo…Você tinha que estar em casa, trabalhando!

 

Anna, chorosa: Eu tentei fazer você mudar de ideia e não demolir essa casa, mas não adiantou de nada! Então eu pensei que pelo menos podia me despedir do meu lar antes que você o destruísse…Afinal eu vivi anos aqui…Minhas lembranças vão ser destruídas…

 

Noronha, ríspido: Pode parar com essa fala melosa- Ele olha no relógio- Acho que dá tempo de você ir se despedir do seu lar doce lar.

 

Anna agradece, passa por todos e entra na casa.

 

Noronha joga a maleta no chão:…Mas eu vou junto.

 

Lá dentro…

 

Anna anda, se segurando nas paredes: Tantos momentos bonitos aqui…É difícil não se comover…

 

Noronha rebate: Tanta frieza, amargura, dor e desgosto aqui nessa casa…Tá na hora de se livrar de tudo isso! Vamos logo, já deu tempo de se despedir das paredes!

 

Anna pede: Espera. Deixa eu ir no meu quarto sozinha, me dá cinco minutos e eu já vou, eu preciso me despedir do meu quarto ou não vou conseguir ter paz interior.

 

Noronha: Cinco minutos cronometrados!- Ele sai andando pela casa.

 

Anna se tranca no quarto, ela tira algo do bolso: Eu espero que ainda esteja onde eu deixei- Ela tira um canivete do bolso e começa a raspar uma parte no final da parede.

 

Noronha anda pelo seu quarto, carregado por lembranças do passado, gritos, ruídos e choros de dor e lamento. Ele lembra da noite em que tentou matar Éssio. E fecha a porta, pela última vez.

 

Em seu quarto, Anna consegue arrancar um fundo falso de uma das paredes, e tira um pequeno baú acinzentado de dentro: Graças a Deus está aqui, isso ainda pode me ajudar muito- Ela tira uma chave do cordão que carrega no pescoço e abre o objeto, dá uma leve olhada e se dá por satisfeita- Pronto, o Noronha pode tirar a casa de mim, mas isso daqui jamais!- Ela vai até a porta do quarto, e tenta abri-la- Ué? Não tá querendo abrir…Noronha, abre aqui!

 

Noronha fecha a porta da sala, lá fora está toda a companhia de demolição: Eu cronometrei cinco minutos e minha mãe não saiu, podemos começar a demolição- Diz, friamente.

 

O engenheiro se assusta: Nós vamos demolir a casa com uma pessoa dentro? Me desculpe mas isso vai nos gerar problemas futuros, e é contra a nossa ética!

 

Noronha ri: Calma, vamos dar apenas um sustinho nela…Pode ligar o tanque de demolição, quando minha mãe ouvir o barulho vai gelar!- Ele coloca os óculos escuros, a rua toda está interditada.

 

Jurema está do outro lado: Não acredito que eu estou viva pra ver uma demolição da casa do meu lado…Só podia ser na casa dos Dávila mesmo. E eu ainda brincava com isso.

 

As pessoas que passavam na rua param afim de olhar o evento.

 

Jurema liga a câmera.

 

Noronha se afasta do jardim, e o tanque de demolição é ligado, fazendo enorme barulho.

 

Anna escuta o barulho e se desespera: EU TÔ AQUI DENTRO! SOCORRO!- Ela bate desesperadamente na porta, até que seus punhos fiquem com a marca da intensidade que portava- SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!

 

O tanque se aproxima, com a enorme bola demolidora, Anna observa tudo pela janela com os olhos arregalados e tenta gritar, fazer de tudo para que alguém a enxergue mas o barulho tão grande era que não se escutava nada.

 

Anna tenta arrombar a porta: SOCORRO! SOCORRO!- O tanque se aproxima e ela fica trêmula- Se eu morrer o que vai acontecer com meu filho Éssio? Não posso abandonar ele, não posso! SOCORRO! SOCORRO!- Ela larga o baú e chuta insistentemente a porta com toda a força que carregava, até que perde o folego e desiste.

 

Anna se senta no chão e começa a chorar baixinho, o tanque está cada vez mais perto da casa, o barulho aumenta. De repente ela sente uma mão tocando-a, e se curva, mas não há ninguém.

 

No mesmo instante, o tanque para.

 

Silêncio geral.

 

Anna se levanta, esperançosa: TEM ALGUÉM ME OUVINDO? EU TÔ PRESA AQUI NO QUARTO!- E continua batendo na porta, já rouca e suada.

 

Mas ao se virar novamente pra pegar seu baú, ela vê na sua frente o espirito de Bento, trajado com a mesma roupa do dia da morte, com o rosto coberto por curativos por conta da pedrada que havia recebido no dia da briga, e com uma expressão tão séria quanto assombrosa. Ele encarava a mulher sem pestanejar.

 

Ela não diz nada, apenas fica paralisada e, instintivamente, deixa o objeto acinzentado cair. Seus olhos não conseguem se desviar da figura, já era algo fora da realidade, atordoada, ela não conseguia decifrar se tudo era mera imaginação de sua mente ou algo real.

 

Ouve-se então o barulho da fechadura se abrindo, Noronha abre a porta, e Bento some como que se tivesse evaporado. O quarto voltara a ser vazio novamente.

 

Anna, tremendo, apenas pega o baú que havia deixado cair e o coloca de volta na bolsa.

 

Noronha, estressado: Falei que você podia ficar aqui por cinco minutos e você me desobedeceu, mas sou tão bondoso que voltei pra te buscar antes que o tanque destrua tudo isso daqui! Vamos logo, ou eu te tranco aqui de vez e ainda engulo a chave!

 

Anna sai, sem dizer nada.

 

Lá fora…

 

Noronha a pega pelo braço: Volte com o Helder pra casa e não ouse me desobedecer novamente, eu não sou de dar duas chances de perdão. Mais uma dessas e o Éssio cai da cadeira de rodas automática dele- Ela não diz nada- VOCÊ TÁ MEU OUVINDO?- Diz, gritando no ouvido dela.

 

Anna, com o olhar longe: Estou sim, senhor Noronha.

 

Ele a guia até o carro, Anna entra, ainda calada.

 

Noronha grita: Comecem a demolição logo, já demorou demais!

 

O tanque é ligado novamente, as pessoas estão ansiosas, a gigante máquina ativa a sua bola demolidora que dá um golpe certeiro nas paredes da casa fazendo-a desmoronar, um deleite ao público. Tudo começa a ser destruído, causando uma onda de pó. O telhado é esmagado, ao mesmo tempo em que Noronha, observando tudo de longe com uma máscara, vê sua alma do passado se libertando de todo o sofrimento. Jantares ingratos, choros no canto da parede do quarto, humilhações na cozinha, palavras ferinas, vassouradas, tapas e castigos severos no quintal. Ao fim da demolição, que havia causado imenso estrondo, ele tira um lenço do bolso e escorre algumas lágrimas, talvez pela alergia ao pó, talvez pelo passado. Era impossível decifrar o que ele pensava. Pois apenas o próprio sabia de tudo o que havia sofrido.

 

Do carro, Anna observava tudo com a cabeça encostada no vidro da janela, a respiração estava ofegante, e o pensamento oscilando entre a destruição de seu lar, e a visão que teve enquanto presa no quarto.

 

Depois do ato, Noronha aplaude a todos da companhia que havia realizado o serviço. Ele aperta a mão do que havia administrado tudo. Enquanto todos começavam a sair depois de filmar a destruição.

 

Jurema registra tudo em sua câmera: Esse dia vai ficar marcado na história da minha vida- Ela tira um pequeno resto de tijolo da cabeça.

 

Noronha vê a tamanha destruição que causou: Restos de concreto, de portas, de portões e janelas, tudo que ele havia planejado cautelosamente havia se realizado. E seu deu por satisfeito, abrindo um pequeno sorriso.

 


 

Mansão de José do Gado/ Jardim.

 

Conceição estende roupas no varal e fala no celular: Dona Mari eu vou separar as roupinhas de vocês sim e entrego nesse apartamento, eu sei sim onde é…O seu Zé saiu agora há pouco mas não falou pra onde ia, ele ainda tava muito nervoso e irritado com tudo o que aconteceu.

 

Marinez, do outro lado da linha: Então tá Conceição, eu te espero hoje à noite ainda! Fica bem…- Ela desliga.

 

Aurora está sentada no chão: Preciso sair pra espairecer um pouco, mãe. Tô morrendo enfornada aqui com esse cômodo vazio…

 

Marinez dá um riso fraco: Sintomas da gravidez…- Ela se senta ao lado da filha- Acho que essa reviravolta repentina na minha vida mexeu muito com meus neurônios, vai na farmácia e compra pra mim um remédio pra dor de cabeça- Ela dá o dinheiro para a filha.

 

Aurora se levanta: Volto logo…- E sai.

 

Marinez fica olhando pro apartamento vazio: Ai minha Nossa Senhora Varzeônica, como eu vou me sustentar com a Aurora grávida e eu desempregada?- Ela suspira e encosta a cabeça em uma das paredes.

 

Na Mansão de José do Gado…

 

Conceição termina de estender a roupa: Esse dia tá agitado demais, minha pressão não tá acostumada com tanta agitação e gritaria…

 

Taléfica, que estava atrás de uma árvore, aparece no portão: Ei…Conceição- Chama baixinho, sem ter resposta- Ei…RATA BORRALHEIRA!

 

Conceição olha: Ah dona Taléfica! Como andam as coisas? Eu soube que o Clécio foi preso…

 

Taléfica mantém a pose: Olha eu não te devo explicações rata borralheira, quero entrar pra pegar uns casacos meus que esqueci aqui quando expulsaram meu filho…

 

Conceição sorri: Só um minuto que eu vou pegar, não saia daí!

 

Taléfica grita: NÃO…Quer dizer, não, porque eu também estou com muita sede e queria beber um copo de água, será que isso você me renegaria?

 

Conceição pega a chave no bolso do avental: Tudo bem, entra que tem um resto daquela torta de morango que a senhora adorava.

 

Taléfica finge não gostar: Ah…Aquela tortinha mequetrefe? Eu só dizia que era boa pra te agradar.

 

Na cozinha…

 

Conceição chega com os vestidos, Taléfica bebe água.

 

Conceição os coloca em uma sacola: Aqui estão.

 

Taléfica propositalmente derruba o copo no chão: Nossa, caiu!- Diz, querendo rir- Me perdoe.

 

Conceição desconfia: Eu vou pegar um pano pra limpar- Ela sai.

 

Taléfica se aproveita e vai até a caixinha de remédios de José: Espero que não seja tarde demais- Ela pega o remédio certo em sua bolsa e o coloca no lugar do errado que havia colocado como forma de se vingar.

 

José do Gado chega na hora: Conceição, onde eu deixei a minha cartei…- Ele repara em Taléfica, e range os dentes- O que você tá fazendo aqui?

 

Conceição chega, surpresa: O senhor não tinha saído?

 

José, irritado: Sai sim mas esqueci a minha carteira, pelo visto quando eu saio você convida suas amigas e faz uma festa não é? Vamos, me diga, o que essa imunda tá fazendo na minha casa? Achei que tinha sido bem claro quando disse que não queria ver você aqui novamente!

 

Conceição explica: A dona Taléfica veio aqui buscar as roupas dela que estavam no armário, e aproveitou pra beber um copo de água também!

 

José: Por que você não deixou essa mulher morrer de sede e ficar sem as roupas dela? Já falei que não quero ela aqui na MINHA CASA!

 

Taléfica: Olha, eu…

 

José a corta: Não abre essa sua boca, não piore o meu dia que já foi péssimo! Saia da minha casa por bem antes que eu tome uma medida drástica!

 

Taléfica insiste: O senhor tá muito afetado mesmo, capaz de expulsar a filha e a esposa da própria casa…O nível de loucura já se avançou pelo visto!

 

José pega a faca no balcão: Sai da minha casa sua cobra velha, eu não te devo explicações das minhas atitudes! Você é outra que só veio pra atrapalhar a minha vida nessa terra- Ele a segura pelo braço- Sai da minha casa, vai embora, rua, RUA!

 

Conceição, tensa: Calma, não se exalte mais!

 

Taléfica ainda provoca: Eu sou muito boazinha mesmo de estar com pena de você. Com pena deveria estar da Marinez que apesar de não ir com a minha cara até que era boa pessoa e passou tempo demais casada com um perdedor. Aliás José, esse estresse todo é por conta da derrota, não é? Estenda as mãos pro céu e agradeça que a Marinez ainda ficou contigo esses anos todos, nenhuma outra mulher ficaria com um velho babão, nojento e fracassado!

 

José não aguenta as provocações e parte pra cima dela com a faca, mas a mulher sai correndo pelo jardim.

 

Taléfica, desesperada: SOCORRO!

 

José a persegue com a faca em punhos, pronto pra tacar em suas costas: Pra me ofender você tem coragem não é, cascavel? Pois repita tudo de novo na minha cara! REPITA!

 

Taléfica consegue abrir o portão e ir embora, enquanto ele para, a fim de respirar.

 

José, ofegante: Ela me paga…Eu vou mandar um conhecido meu dá cadeira dar uma surra no Clécio, se possível surra pra matar mesmo! E a Taléfica vai dobrar a língua antes de falar comigo de novo.

 

Conceição observa ele de longe, segurando em sua medalha: Se continuar assim não poderei ficar mais aqui…Tenho meu filho pra criar, e não vou ficar exposta ao perigo todo dia…- Ela se benze, sem tirar os olhos do patrão, que acabara de se sentar em uma pedra, ainda com a faca em mãos.

 

Casa de Noronha/ Dia.

 

Helder coloca a cerca elétrica: Pronto…- Diz, cansado- Não sei porque o Noronha quis instalar uma cerca, mas tá instalada!- Ele desce as escadas.

 

Ema rega as flores: A Anna tá apática, você percebeu?

 

Helder limpa as mãos: Acho pouco, a megera tá pagando por tudo o que fez com o filho! Não tenha pena dela!

 

O detetive Américo aparece, preocupado: Com licença, Ema, posso falar contigo?

 

Ema larga o regador: Pode sim!

 

Américo mostra o bilhete: Eu queria saber onde fica esse bairro aqui…- Ele indica- Um tal de Bairro Rural.

 

Ema lembra: É depois do centro da cidade, por quê?

 

Américo disfarça: É que eu queria falar com uma pessoa, você conhece um lavoureiro chamado Josué?

 

Helder se senta no batente: Eu me lembro dele, ele mora logo na primeira rua, mas o que o senhor quer com Josué?

 

Américo guarda o papel: É confidencial, mas queria que você me levasse na casa dele, são ordens expressas do senhor Noronha Dávila!

 

Helder pega a chave do carro: Então vamos- Os dois saem.

 

Ema chega na cozinha e Éssio está tentando abrir a porta da geladeira, mas não consegue por ser muito alta. Ao ver a empregada ele logo disfarça.

 

Ema se aproxima: Você quer alguma coisa aí, Éssio?

 

Éssio, olhando pra baixo: Um copo de água…

 

Ema abre a geladeira: Eu sei que você gosta de broa de milho, vou pedir pro Helder comprar umas…

 

Éssio, envergonhado: Não precisa se incomodar comigo, e outra que o Noronha não vai gostar. Eu já fico triste de ter que pedir pra ele ir me levar no hospital.

 

Ema coloca água no copo: Não é incomodo nenhum se duvidar o próprio Noronha gosta também! O Helder foi deixar o Américo na casa do Josué e quando ele voltar eu peço pra comprar o milho. Mas me diz, quantos dias da semana você vai ter que ir no hospital?

 

Éssio gela: Josué?- Ele se aproxima dela- Você disse Josué?

 

Ema lhe dá o copo com água: Sim, você deve conhecer porque era amigo do seu pai! Não sei o que o detetive quer com o Josué…Não entendo das investigações dele, esses dias o danado me perguntou sobre a orquestra da cidade e…

 

Éssio sai correndo na cadeira de rodas, e deixa Ema falando sozinha.

 

Ruas do centro da cidade…

 

Noronha fala no telefone: Isso mesmo, detetive, tente ser bem objetivo com o Josué- Ele esbarra em uma mulher e derruba suas sacolas, e repara que é Aurora- Depois nos falamos…Você sabe como agir com o Josué…- Ele desliga.

 

Aurora pega a sacola: Não se incomode, pode continuar resolvendo os seus assuntos que devem ser mais importantes do que me ajudar.

 

Noronha sorri: Não fala isso, eu tenho assuntos pendentes com você…Assuntos de décadas- Ele ajuda a moça a se levantar.

 

Na casa de Josué, Helder estaciona o carro, Américo salta e bate na porta.

 

Josué aparece com uma cerveja em mãos: O que deseja?

 

Américo conta: Tenho assunto importantes pra falar com você…Posso entrar?

 

Termina o capítulo 57.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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