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Filho Amado

Capítulo 53 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 53.

 


 

O médico prossegue: Nós fizemos os exames necessários e não há mais dúvidas: Éssio está paraplégico, e com remotas chances de conseguir se recuperar.

 

Anna, trêmula: PARAPLÉGICO?

 

O médico confirma: Exatamente, o Éssio vai necessitar de uma cadeira de rodas bem adaptada e de um tratamento que conseguimos fazer nesse hospital, tanto físico quanto psicológico. Mas vai ter que ser tudo particular, há a opção de tentar conseguir de graça, mas geralmente demora meses…

 

Anna desaba: Isso não podia ter acontecido com meu filho…Ele não merece sofrer- Ela olha para os céus- Não é justo, não é!

 

Alminha, triste: Coitado dele…

 

Noronha se aproxima de Anna: Calma, mamãe…

 

Ela começa a bate-lo: SAI DAQUI! VOCÊ SÓ VEIO DEBOCHAR DE MIM E DA MINHA FAMÍLIA, TÁ SATISFEITO EM VER SEU IRMÃO SOFRER? CONSEGUIU O QUE QUERIA, NORONHA?

 

Noronha inicia um falso choro: Mãe, eu tenho raiva de vocês apenas momentaneamente! Amo a todos, principalmente o Éssio!

 

Anna o enforca: SAI DAQUI, ME DEIXA EM PAZ, EU NUNCA MAIS QUERO OLHAR NA SUA CARA!- Ela cai no chão- Minha vida acabou de desabar.

 

Noronha não esconde a satisfação em ver a cena.

 

O médico fala: Sei como você está se sentindo senhora, é realmente muito difícil encarar uma situação dessas. Se quiser, pode ir visitar o Éssio, ele já deve ter acordado da pequena cirurgia que tentamos fazer nele, sem sucesso.

 

Anna pega sua bolsa: Então eu vou…- Ela sai cambaleando com o doutor.

 

Alminha: Meu Deus, que tragédia num momento tão difícil quanto esse! Já não basta a morte do Bento e agora isso…

 

Noronha se senta: É, parece até que esse tiro foi armado por alguém- Ele cruza as pernas- Vou ficar esperando minha mãe pois tenho um assunto pra tratar com ela.

 

Alminha recomenda: Vai pra casa, Noronha, não estressa mais a sua mãe, é um momento difícil e sem hora pra outros assuntos.

 

Noronha não cede: O assunto é o próprio Éssio, tia- Ele olha no relógio- Não se preocupe, sei o que estou fazendo.

 

No quarto onde Éssio está…

 

Anna fecha a porta, ela se comove ao ver a situação do filho.

 

Anna se aproxima, lacrimejando, e percebe que ele está chorando também.

 

Éssio cobre o rosto: Não olha pra mim, mãe…Eu tô com vergonha…

 

Anna, emocionada: Você não tem que ter vergonha de mim jamais, em nenhuma situação- Ela se aproxima dele- Nós vamos dar um jeito de conseguir esse seu tratamento.

 

Éssio, revoltado: Como? COMO?! Nós não temos nenhum dinheiro, o Noronha vai demolir a casa e o papai se foi!

 

Anna, desesperada: Pra tudo tem um jeito, filho…Deus vai estar do nosso lado, ele não deixa os bons sem amparo, e tenho certeza que uma luz vai surgir no fim desse túnel, e nossa vida vai voltar a ser a mesma.

 

Éssio grita: NUNCA! NUNCA VAI SER A MESMA PORQUE EU SOU UM INVÁLIDO AGORA, EU PERDI QUASE TODAS AS MINHAS CAPACIDADES, SOU UM INÚTIL, MÃE.

 

Anna: Não é, você vai se recuperar mas esse acidente não te faz pior que ninguém aqui- Ela pega na mão do filho.

 

Éssio não se conforma: Eu não consigo mexer minhas pernas, eu não consigo! POR QUÊ ISSO TINHA QUE ACONTECER, MÃE? MINHA VIDA TAVA TÃO BOA, MEUS SONHOS DESMORONARAM DE UM DIA PRO OUTRO E EU ACABEI NESSA CAMA DE HOSPITAL!

 

Anna soluça: A vida…

 

Éssio, furioso: PARA DE FALAR DA VIDA, MÃE! Eu nem vida quero ter mais se é pra ser assim, não vou passar meus dias sentado pra sempre, vendo os outros saudáveis e podendo caminhar, eu não vou aguentar essa humilhação! Eu vou me matar, e evitar qualquer sofrimento maior!

 

Anna, impressionada: Não fala isso, nós vamos dar um jeito Éssio! Agora você é meu único companheiro, não pode me abandonar…Vamos passar por isso JUNTOS, e vamos vencer todas as barreiras.

 

Éssio vira o rosto: Me deixa sozinho um pouco, preciso assimilar, tentar fazer a ficha cair…Ainda não tô acreditando nisso…- Anna o beija, e sai lentamente.

 

Éssio começa a soluçar, ele tenta desesperadamente mexer a perna, mas não consegue, a cada tentativa sua confiança vai ficando menor, até que ele desiste: Não….NÃO!

 

Anna sai do quarto quando dá de cara com Noronha.

 

Noronha, sério: Agora nós poderemos conversar.

 

Cadeia de Vila Varzeônica…

 

Batista, impressionado: Que coincidência, nós dois na mesma cela…

 

Clécio está irreconhecível: Eu não devia estar aqui, fui abandonado e ninguém mais quer saber de mim mas eu GARANTO que essas denúncias de pedofilia são falsas, Batista você sabe como sou ético, tenho cara de quem faz isso?

 

Batista se senta no banquinho: Não…É uma pena que ninguém acredita em você.

 

Clécio: Mas você acredita, certo?

 

Batista afirma: Sim, eu te conheço e sei a pessoa que você é. Ética e correta, não merecia um fim desses.

 

Clécio ri: Ainda não é o fim Batista, se depender da justiça nós vamos ficar aqui pra sempre, mas podemos dar um jeito de sair daqui fugidos!

 

Batista: Isso é meio arriscado…

 

Clécio anda pela cela: Não é, se juntarmos as nossas forças tenho certeza que vamos sair daqui. Não podemos ficar presos por crimes que não cometemos…Falando nisso, o que você fez pra ser preso?

 

Batista disfarça: Isso não importa Clécio, eu sou inocente e fui vítima de José do Gado!

 

Clécio, furioso: Eu também, mas não se preocupe que vou planejar alguma coisa e vamos poder mostrar pra aquele nojento do que somos capaz…

 

Batista ri. Estava formada uma parceria.

 

Casa do advogado Jequinha.

 

Jequinha conversa com Jurema e Betânia.

 

Jequinha explica: O Belarmino me contou que pretendia voltar pra Bahia e deixou o testamento comigo, mas eu jamais iria imaginar que ele iria se matar!

 

Jurema encara Betânia: Ele andou sofrendo muito ultimamente, inclusive com rejeição na própria casa.

 

Jequinha: É uma lástima mesmo, ele era um bom homem…

 

Betânia: A gente só conhece mesmo a pessoa quando come sal com ela, advogado.

 

Jequinha pega os papéis: Enfim, a leitura do testamento será amanhã no Fórum Varzeônico, ele convocou mais duas pessoas além de vocês.

 

Jurema, curiosa: Quem são? Ele não tinha contato com muita gente.

 

Jequinha guarda os papéis em uma mala: Isso eu só posso revelar no dia da leitura- Betânia e Jurema se levantam- Até amanhã!

 

Hospital…                               

 

Anna escorre as lágrimas: Noronha eu não quero conversar com você, eu não aguento mais ouvir palavras de humilhação!- Ela recomeça o choro- Você deve estar muito feliz com o que aconteceu com o Éssio!

 

Noronha, sério: Mãe, eu não sou um monstro assim como você me idealiza. Eu tenho os meus sentimentos e estou triste com o que anda acontecendo, afinal eu pertenço a família Dávila também, portanto pense antes de sair me acusando como você fez na frente da tia Alminha! Não tenho nada a ver com isso, mas sei que estão sem dinheiro e condições pra pagar o tratamento…

 

Anna engole o orgulho: Estamos sim, mas vou pedir um empréstimo pra alguém e tenho certeza que vamos vencer essas dificuldades pra sua tristeza! Você não consegue me enganar com o seu jeito cínico, eu percebi o tom de deboche desde que pisou nesse hospital!

 

Noronha: Para de me ofender Anna Maria, eu tô tendo essa conversa com boas intenções e você quer puxar tudo pra outro lado como sempre, mas como estou bonzinho por conta do meu triunfo não irei retrucar, eu poderia muito bem dizer que descobri tudo sobre o seu passado, mas…

 

Anna, revoltada: Fala o que você quer logo, por favor!

 

Noronha conta: Você disse que vai pedir um “empréstimo” pra alguém da família, mas não tem noção do quanto esse tratamento é caro, eu pesquisei na internet os valores e…- Ele mostra no visor do celular, fazendo Anna se espantar- Eu sabia que sua reação é essa, você não tem condição de pagar isso…

 

Anna: E agora, você vai ficar me humilhando e esfregando na cara tudo o que tá acontecendo?

 

Noronha guarda o celular: Antes que você me apedreje aqui eu vou falar logo: Estou disposto a pagar o tratamento do Éssio e tudo o que ele vai gastar, inclusive a cadeira de rodas e tudo mais…

 

Anna desconfia: Tem alguma coisa por trás disso, você nunca foi bondoso e nem fez ato de caridade!

 

Noronha põe a mão no coração: Confia em mim, mãe. Eu tô te falando isso com a mais pura veracidade que tem dentro do meu coração, pago todos os custos do tratamento do Éssio.

 

Anna não aguenta, e acaba se ajoelhando diante de Noronha e começa a chorar: Obrigado. Obrigado.

 

Noronha não esboça nenhuma reação: Eu só imponho duas condições pra que isso aconteça.

 

Anna escorre as lágrimas: Condições?- Ela se levanta- Que condições?

 

Mansão de José do Gado…

 

Marinez lê uma revista quando Aurora chega.

 

Marinez, curiosa: E aí? Já tá com algum sintoma da gravidez?

 

Aurora, triste: Não mãe, isso é muito relativo ainda…

 

Marinez olha no relógio: Seu pai já saiu faz tanto tempo, no estado em que ele está eu me preocupo…

 

Aurora: Logo ele aparece, as vezes precisamos de um tempo sozinho, só nós e nossos pensamentos atordoando a cabeça. É bom pra refletir no que vem acontecendo.

 

Marinez liga a tv: Ele nem pode desconfiar de nada que…

 

José entra, enraivado: Do que eu não posso desconfiar?

 

Marinez e Aurora se assustam.

 

Tema de Aurora…

 


 

Hospital São Cristovão…

 

Anna, aflita: Que condições são essas?

 

Noronha é firme: São simples, mãe. Primeiramente eu quero que você diga com toda a verdade possível que está disposta a tudo pela saúde do Éssio.

 

Anna suspira: TUDO! Eu sou capaz de tudo pela recuperação do meu filho, ele não merece nada de ruim, apenas felicidade e glória.

 

Noronha: Ótimo, a primeira condição é que você e o Éssio se mudem para a minha mansão, a casa dos Dávila vai ser demolida e ponto final. A segunda condição é crucial…-Ele abre um sorriso- Quero que você vire a minha empregada.

 

Anna, indignada: O quê?

 

Noronha repete: Quero que você vire minha empregada, deu pra entender ou eu preciso gritar? Ou você cumpre isso, ou eu desisto do tratamento e o Éssio que se vire com o sistema público de saúde.

 

Anna: Mas Noronha…Virar a sua empregada? O que isso tem a ver?

 

Noronha: Não questione as minhas decisões, apenas as cumpra. Vai querer ou não? É perder ou largar, mamãe!

 

Anna analisa a proposta: Pelo meu Éssinho eu faço tudo, e se são essas as condições eu aceito!

 

Noronha ri: Ótimo, mãe. Então vamos esquecer tudo o que aconteceu no passado, e pensaremos no futuro e na saúde do Éssio. Eu quero ver ele.

 

No quarto de Éssio…

 

Éssio está cabisbaixo quando percebe a porta abrir e ergue a cabeça. Entram Noronha e Anna.

 

Éssio, com vergonha: N-N-Noronha?
Termina o capítulo 53.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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