Capítulo 20 (último / parte II) – Recomeçar
CENA 17. RUA DA LOJA DE JÚLIA. EXT. DIA.
Final de tarde. Júlia fecha a loja e vai descendo a rua de pedras. Começa a ser seguida por um sujeito. CAM subjetiva. Tensão. Ela sente que há alguém no seu rastro. Olha pra trás, mas não vê ninguém suspeito. Júlia entra num beco e fica à espreita. De repente, ela avança no sujeito que atravessa, imobilizando-o. Vemos agora o rosto do sujeito. Um completo desconhecido.
JÚLIA: – O que você quer me seguindo? Fala!
SUJEITO: – Nada não, moça. Quer dizer, a senhorita deixou cair isso aqui. Eu só queria devolver.
Ele mostra um celular. Júlia se desarma e pega o celular. O cara sai assustado. Corta para:
CENA 18. CRECHE. EXT. DIA.
Júlia apanha Javier na creche. Cumprimenta a professora e segue pra casa. Corta para:
CENA 19. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.
Música: “Super Freak” – Rick James. Anoitece na Cidade Maravilhosa. Imagens ilustrando isso. Corta para:
CENA 20. APART. DE GILDA. QUARTO. INT. NOITE
Abre direto num berro ensurdecedor e impaciente de Gilda, chamando Jojô, que surge imediatamente com uma caixinha de água de coco.
GILDA: – Jojôôôôô!
JOJÔ: – Tô aqui, Miss! Em pele, osso e carisma!
GILDA: – Cadê a água de coco que mandei você/
JOJÔ: (antecipa-se) – Tá aqui, amada.
GILDA: – De caixinha?
JOJÔ: – Alguma coisa contra?
GILDA: – Prefiro caixão. Pra te enterrar a vinte quatro palmos da terra, incompetente! Não quero mais água de coco. Me arranje um whisky. Já!
Corte descontínuo. Gilda toma o whisky. Jojô ao lado. Gilda olha-se no espelho e faz cara de choro.
GILDA: – Eu tô uma pilha de nervos, Jojô! Tô mais nervosa que mosca em pote de cola.
JOJÔ: – Calma, minha divina. É só uma pré-estreia.
GILDA: (orgulhosa) – A pré-estreia de “Desilusões de Olívia Watterson”. Sonhei tanto com esse dia. É a minha vitória, a minha volta por cima… É um recomeço, Jojô.
JOJÔ: – Ninguém segura Gilda Lazarotto!
Gilda, com o whisky, e Jojô, com a caixinha de água de coco, brindam. Corta para:
CENA 21. SALÃO DA PRÉ-ESTREIA DO FILME. INT. NOITE.
Gilda, num vestido lindíssimo, posa para fotos. Em algumas, ao lado de famosos que estão prestigiando a pré-estreia do filme. Marieta Severo, Fernanda Torres, Mariana Ximenes, Carlos Alberto Riccelli, Daniel Filho, Paulo Coelho entre outros.
Corte descontínuo. Gilda acaba de posar pra uma foto e vai saindo. Abel aproxima-se.
ABEL: – Como é voltar aos holofotes, aos flashes? Tá curtindo?
GILDA: – Te confesso que já tô cansando.
ABEL: – Tão cedo?
GILDA: – Mentira, eu tô adorando! Estou de volta pro meu aconchego.
Os dois sorriem, sob os olhares de Leonor ao longe – acompanhada de Horácio. Davi e Filipe chegam e caminham para onde estão Gilda e Abel. Cumprimentos e abraços. Jojô por ali também. Corta para:
CENA 22. SALA DE CINEMA. INT. NOITE.
Abel assiste o filme ao lado de Gilda. Neste momento, ela pega a mão dele sobre o braço da poltrona, acariciando-a. Entreolham e esboçam um sorriso. Em outro ponto da sala, Leonor, sentada com Horácio, olha ao redor, tentando localizar Abel. Finalmente consegue vê-lo ao lado de Gilda. Não gosta nada daquilo. Corta para:
CENA 23. CASA DE JÚLIA. PISCINA. EXT. NOITE.
Deitados juntinhos numa espreguiçadeira, ao lado da piscina, Júlia e Kadu namoram ao luar.
JÚLIA: – Tive pensando… Não vou mais ficar esperando a hora certa, eu quero fazer a hora certa.
KADU: – De que você tá falando?
JÚLIA: – Do nosso filho. Eu quero engravidar.
KADU: – Meu amor! Finalmente! Você não sabe como fico feliz em ouvir isso.
JÚLIA: – É, eu sei. E vai ser bom pro Javier também. Ele fica tão sozinho aqui, só tem a companhia dos amiguinhos da creche… tá na hora de ganhar um irmãozinho.
KADU: – Ou uma irmãzinha, pra herdar a beleza da mãe. A mais linda de todas!
Beijam-se. CAM subjetiva no jardim dá a entender que o casal é observado por alguém. Corta para:
CENA 24. SALA DE CINEMA. INT. NOITE.
A reprodução do filme acaba e todos aplaudem. Gilda e Abel sorridentes. Leonor não tira os olhos deles, já bastante irritada. Corta para:
CENA 25. SALÃO DA PRÉ-ESTREIA DO FILME. INT. NOITE.
Gilda, com uma taça de champanhe, é paparicada por alguns. Abel ao lado, também recebendo elogios por seu trabalho de roteirista. Filipe e Davi aproximam-se.
FILIPE: – Mãe, nós já estamos indo.
GILDA: – Ah, fiquem mais um pouco. Vamos jantar juntos, que tal?
DAVI: – Outro dia, Gilda. Hoje tô muito cansado… Essas drogas consomem todas as minhas forças.
GILDA: – Eu entendo. Fica pra outro dia então. E com receita minha, hein!
DAVI: – Tá combinado. Mais uma vez, parabéns pelo filme. É um primor! (para Abel) Parabéns, Abel! Trabalho de gênio mesmo.
ABEL: – Ah, que isso! Obrigado por vir. Espero que você se recupere o mais rápido possível e volte a trabalhar conosco na produtora.
DAVI: – Tomara. Que um anjo passe agora e diga “amém”.
Filipe e Davi se despendem deles e saem. Leonor chega junto, mordida de ciúmes.
LEONOR: – Está satisfeita com o champanhe, minha querida?
GILDA: – Olha, Leozinha, sinceramente/
LEONOR: (corta) – Se você quiser, podemos providenciar uma caipirinha, um cachaça, um rabo de galo… Bebidas que fazem mais o seu estilo.
ABEL: (repreende) – Leonor!
LEONOR: – O que foi, Abel? Virou guarda-costas da Gilda agora? Não é por nada não, mas eu esperava mais de você.
Corta rápido para:
CENA 26. BANHEIRO DO SALÃO. INT. NOITE.
Leonor retoca a maquiagem em frente ao espelho. Abel irritado.
ABEL: – Você está cada dia mais insuportável, Leonor. Qual a necessidade dessa antipatia com a Gilda?
LEONOR: – Tá encantado pela atriz mambembe? Esqueceu tudo que ela fez pra chegar até aqui/ pra conseguir realizar esse filme?
ABEL: – Não, não esqueci. Mas também não vou condená-la pro resto da vida por isso. Todo mundo erra nessa vida… você não?
LEONOR: – O meu erro é querer você ao meu lado. Isso eu nunca terei, não é? Você sempre fez o que quis, sempre decidiu por nós dois… Vá em frente, Abel.
Leonor sai. Abel fica pensativo. Corta para:
CENA 27. APART. DE DAVI. QUARTO. INT. NOITE.
Davi e Filipe deitados na cama. Abraçados. Chove lá fora.
DAVI: – Vamos brincar de “e se…”?
FILIPE: – Como é?
DAVI: – E se chover o dia todo amanhã…?
FILIPE: – A gente não sai de debaixo das cobertas, passamos o dia todo assim, bem grudadinhos.
DAVI: – Sua vez.
FILIPE: – Hummm… E se o mundo acabasse agora?
DAVI: – Já teria valido a pena por te conhecer, por tudo que já vivemos, por cada segundo que fui feliz com você.
Pausa.
DAVI: – E se…. e se eu não resistir? E se eu morrer/
FILIPE: – Não diz isso. Se agarre à vida, meu amor. Vamos acreditar sempre no melhor.
DAVI: – Não quero fazer a cirurgia. Não quero morrer numa mesa fria de hospital. Seria a minha maior derrota, depois de tanto lutar por uma salvação. Também não quero mais seguir com a quimio, é inútil
FILIPE: – Davi/
DAVI: (corta) – Me deixe decidir. Por favor, não tire isso de mim… Me permita escolher como viver o tempo que me resta.
O abraço se fortalece. CAM vai saindo em dolly out, ampliando o quarto e mostrando a chuva caindo lá fora. Música: “Fields Of Gold” – Kevin Kern. Corta para:
CENA 28. SALÃO DA PRÉ-ESTREIA. INT. NOITE.
Gilda toma uma taça de champanhe e despede-se de algumas pessoas que foram prestigiar o filme. Abel aproxima-se.
ABEL: – Já deu minha hora, Gilda. Vou pra casa.
GILDA: – É, acho que o melhor da noite já foi… Tá quase na hora da Gilderela aqui virar a gata borralheira novamente.
ABEL: – Quer uma carona?
Gilda olha pra Jojô ali perto, que lhe dá uma piscadela.
GILDA: – Claro! Vamos nessa!
Entorna o restante da bebida e deposita a taça na bandeja de um garçom que vai passando. E sai com Abel. Jojô, junto a uma turminha, comemora. Corta para:
CENA 29. ESTACIONAMENTO DO SALÃO/AVENIDA. EXT. NOITE.
O instrumental da música “I Want To Know What Love Is” (Foreigner) começa a tocar. Abel e Gilda correm na chuva até o carro estacionado. Ao chegar, Abel vê que um dos pneus está vazio.
ABEL: – Ah não! Que droga!
GILDA: – Putz! Mas pra isso é que existem os táxis. Vem comigo!
Gilda puxa Abel pela mão e os dois correm pelo estacionamento em direção à avenida. Sorriem com a situação. Param um táxi e entram. O táxi dá partida, enquanto Gilda e Abel entreolham-se. Clima. Tímidos, cada um volta-se para sua janela. Corta para:
CENA 30. FACHADA DO PRÉDIO DE GILDA. EXT. NOITE.
Segue o instrumental. Ainda chove. O táxi vai parando. Gilda despede-se de Abel com um beijo no rosto, mas sua boca acaba encostando levemente no canto dos lábios de Abel. Sem graça, ela sai do táxi. O táxi vai saindo e para bruscamente. Gilda vira-se e vê Abel saindo do carro, vindo ao seu encontro. Ele abraça-a e os dois trocam finalmente um ardente beijo, com a água da chuva caindo sob suas cabeças. O táxi vai embora. O refrão da música já subiu. Corta para:
CENA 31. CASA DE JÚLIA. QUARTO. INT. NOITE.
Júlia e Kadu dormindo na cama. Kadu desperta e levanta-se. Sai. Corta para:
CENA 32. CASA DE JÚLIA. COZINHA. INT. NOITE.
Kadu entra na cozinha escura e abre a geladeira. Toma um copo d’água. Fecha a geladeira e, no momento que vira-se, é surpreendido por um sujeito que passa o braço pelo seu pescoço, enforçando-o. Tensão. Sem conseguir se defender, Kadu desmaia e é deixado ali no chão. Corta para:
CENA 33. CASA DE JÚLIA. QUARTO DE JAVIER. INT. NOITE.
O sujeito entra no quarto e observa Javier dormindo na cama. Passa a mão nos cabelos no menino e sai. Corta para:
CENA 34. CASA DE JÚLIA. QUARTO. INT. NOITE.
Júlia desperta, mas, sonolenta, não abre os olhos, ao passo que o sujeito entra no quarto e vai aproximando-se da cama.
JÚLIA: – Amor? Sem sono?
O homem misterioso ataca Júlia, colocando um pano em seu rosto, fazendo-a inalar alguma substância tranquilizadora. Ela adormece. Corta para:
CENA 35. MAR. EXT. DIA.
Já amanheceu. Lancha parada em alto mar. Na cabine, vemos Kadu no chão, com os braços amarrados, já despertando. Júlia grita lá de fora:
JÚLIA: (off) – Não! Isso não!
Kadu em alerta. Corta pra proa da lancha, onde vemos Júlia desesperada. Fora de si, Lorenzo segura Javier e aponta um revólver na cabeça dele.
LORENZO: – Não se aproxime!
JÚLIA: – Lorenzo, não! Isso não! Não machuque o meu menino.
LORENZO: – Você fez a sua escolha. Preferiu o seu amante. Se você não me quer, também não vai ficar com nada meu – muito menos com o meu filho. Você entendeu?!
JÚLIA: – Solta ele. Solta o Javier. Ele não tem culpa de nada… Pelo amor de Deus, vamos conversar.
Corta pra cabine, onde Kadu força a corda, tentando se soltar. Corta pra proa. Lorenzo ainda mais louco. Javier chora. Júlia tenta manter o controle.
LORENZO: – Eu te dei tanto amor, te dei uma família, te dei a vida que toda mulher sonha em ter… Mas você não soube dar valor a nada disso. Nada! A minha mãe tem razão: você é uma vagabunda. Eu devia ter te deixado na sarjeta onde te encontrei.
JÚLIA: – Solta o meu filho.
LORENZO: – Meu filho! O Javier é meu filho! Você é uma ordinária, uma puta!
JÚLIA: – Me ouça, Lorenzo/
LORENZO: (corta) – Não tenho nada pra ouvir! Eu só quero que você morra de remorso sempre que se lembrar que o Javier e eu partimos por sua causa.
JÚLIA: – O que você vai fazer, Lorenzo?!
LORENZO: – Você vai ficar em paz com o seu fotógrafo de manguezais. O Javier e eu vamos pros braços de Deus.
Lorenzo, ensandecido, prestes a puxar o gatilho do revólver. Júlia se desespera. Corta pra cabine. Kadu puindo a corda rapidamente no canto de um acento. Corta pra proa. Júlia ajoelha-se, pedindo clemência. Lorenzo alucinado, chorando, ainda com a arma na cabeça do menino.
JÚLIA: – Tenha piedade, Lorenzo! Ele é só uma criança, não tem culpa de nada… Deixe ele fora disso, vamos resolver isso de outra maneira. Poupe o nosso filho.
LORENZO: – Podia ter sido diferente. Nós éramos tão felizes… Nosso casamento era perfeito.
JÚLIA: – Vem cá, me dê um abraço. Vamos continuar de onde paramos. Eu quero reatar. A gente pode retomar o nosso casamento, a nossa família…
Lorenzo vai se deixando levar pelo blefe de Júlia. Já não segura Javier com firmeza.
LORENZO: – Sério? Você tá falando sério?
JÚLIA: – Sim. Eu quero ser a esposa dócil e obediente que você sempre quis que eu fosse.
Lorenzo solta Javier e ajoelha de frente pra Júlia. Abraça-a. Chora. Corta pra cabine. Kadu finalmente consegue apartar a corda e livrar-se dela. Corta pra proa.
LORENZO: – Eu te amo! Eu te amo! A minha vida não faz o menor sentido sem você.
Agora, Kadu chega à proa. Ainda com os joelhos no chão, Lorenzo vira-se, empunha a arma e dispara dois tiros, mas sem alvo certeiro. Kadu dá um chute em Lorenzo, que cai. Ele perde o revólver, que deslizou para longe de seu alcance.
LORENZO: – Desgraçado!
Lorenzo mexe-se para recuperar a arma. Kadu não lhe dá chance. Junta Lorenzo do chão pela gola da camisa e lhe dá um violento soco no rosto. Lorenzo com a boca sangrando. Perdeu algum dente.
KADU: – Há muito tempo que eu queria te dar isso, seu verme!
Lorenzo sorri, debochando, mas logo fecha a cara e parte pra briga. Os dois começam a lutar. Júlia já levou Javier pra cabine. Lorenzo e Kadu trocam porradas. No fim, o primeiro leva a melhor. Com fúria, Lorenzo dá um soco em Kadu, que cai longe. Agora vemos Júlia, decidida, com o revólver apontado para Lorenzo, que ri outra vez com algum deboche.
LORENZO: – De novo essa cena? Será que dessa vez a sua pontaria está melhor?
JÚLIA: – Cala a boca!
LORENZO: – Atira. Mas só se a minha mulherzinha tiver alguma bala na manga, porque as duas que restavam na arma eu já disparei.
Júlia sem ação. Kadu surpreende Lorenzo com um novo golpe. Eles lutam, perdem o equilíbrio e caem na água. Júlia sem saber o que fazer. Corta para o mar. Debaixo d’água, Kadu e Lorenzo continuam em confronto, mas agora com dificuldade. Tensão altíssima. Lorenzo consegue tirar o seu canivete do bolso da calça e o enfia na barriga de Kadu. Não satisfeito, começa a esganá-lo, sufocando-o. Mas, de repente, quando a luta parece perdida para Kadu, ele arranca o canivete de sua barriga e finca a lâmina no pescoço de Lorenzo. Um golpe fatal. Lorenzo começa a afundar no oceano, já sem nenhum movimento. Corta para a superfície, onde a água já está avermelhada pelo sangue. Júlia desesperada. Ferido e sem forças, Kadu chega à superfície. Júlia cai na água para ajudá-lo a subir no barco. Corta para:
CENA 36. HOSPITAL. QUARTO. INT. DIA.
Kadu num leito. Já recebeu atendimento. Tudo sob controle. Júlia e Javier entram. Ela o abraça, emocionada, com grande alívio.
KADU: – Acabou!
O menino junta-se a eles. Família unida, sã e salva. Corta para:
Letreiro:
ALGUNS MESES DEPOIS
CENA 37. TERESÓPOLIS – RJ. EXT. DIA/NOITE.
Música: “Só Sei Dançar com Você” – Tulipa Ruiz. Algumas belas imagens de Teresópolis. Conclui numa casa charmosa à beira de um lago. Anoitece. Corta para:
CENA 39. CASA DO LAGO. SALA. INT. NOITE.
Abre na mão de Filipe dando play num aparelho de som. Começa a tocar “How Long Will I Love You” (Ellie Goulding). No meio da sala, Filipe e Davi dançam juntinhos. Nada dizem. Sentem a canção. Sentem um ao outro. Beijam-se. Tempo nisso. Corta para:
CENA 40. CASA DO LAGO. QUARTO. INT. NOITE.
Segue a música. Davi dorme. Filipe o observa com muita ternura. Deita ao lado dele, bem colado, sentindo seu calor. Corta para:
CENA 41. CASA DO LAGO. EXT. DIA.
CAM vai aproximando-se de Davi e Filipe na beira do lago, num piquenique. Davi sentado numa cadeira. Filipe na grama.
DAVI: – A beleza desse lago enche o meu coração de vida. Não há nada mais bonito que a vida.
FILIPE: – E o amor.
DAVI: – Também. Mas não há amor sem vida, sem respiração, sem tempo para fortalê-lo… (T) Me prometa uma coisa?
FILIPE: – Prometo. O que você quiser.
DAVI: – Prometa que você vai viver por mim e por você? Prometa que terá uma vida cheia de alegrias, sentindo o sabor de cada momento e buscando sempre, todos os dias, ser uma pessoa ainda melhor – se doando, fazendo alguém sorrir e sorrindo junto. Prometa que não desistirá do amor, porque você tem toda razão: o amor é o que há de mais bonito nesse mundo. Promete?
FILIPE: – Sim, eu prometo.
DAVI: – Obrigado. (T) Não foi como desejei, mas eu fiz o meu melhor.
Nesse momento, Davi solta o lenço que está em sua mão. O lenço voa leve com o vento até cair na água do lago. Filipe se agarra ao corpo de Davi, já sem vida, e chora. Tempo nisso. Música: “Sundial Dreams” – Kevin Kern. Corta para:
CENA 42. CEMITÉRIO. EXT. DIA.
Segue a música. O caixão com o corpo de Davi descendo ao túmulo. Filipe, Gilda, Abel, Leonor, Horácio, Jojô, Flavinha, Samuel e alguns figurantes presentes. Leonor observa Gilda e Abel juntos. Gilda consola o filho. Kadu e Júlia chegam apressados e abraçam Filipe, que chora. Corta para:
CENA 43. PRAIA. EXT. DIA.
Música: “Eternity” – Robbie Williams. Final de tarde. Praia vazia. Filipe olha o mar e chora, enquanto lembra os grandes momentos que viveu ao lado de Davi. Entra colagem de cenas dos dois felizes e apaixonados. Corte descontínuo. Filipe caminha pela praia. Sol poente. Corta para:
CENA 44. APART. DE DAVI. SALA. INT. NOITE.
Segue a música. Filipe entra, chegando da rua. Apartamento vazio, sem mobília. Há apenas jornais espalhados pelo chão e algumas caixas. Ele senta no chão, junto à parede. Uma das caixas chama sua atenção por estar com seu nome escrito. Abre a caixa e depara-se com uma enorme quantidade de fitas k7. Cai no choro, alternando com sorrisos. Corta para:
CENA 45. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA/NOITE.
Música: “Waiting For Love” – Avicii. Uma sucessão de imagens de dia e noite, sugerindo alguma passagem de tempo. Corta para:
CENA 46. MANSÃO DE LEONOR. QUARTO. INT. NOITE.
Na televisão, vemos a transmissão de mais uma cerimônia do Oscar, em Los Angeles. Horácio assistindo na cama, com grande interesse. Leonor ali de lado, achando um tédio, exatamente porque agora será anunciado o prêmio de Melhor Atriz.
LEONOR: – Que grande perda de tempo e dinheiro. A Gilda está iludida, achando que vai passar uma atriz do quilate da Cate Blanchett pra trás. É muita pretensão! Aliás, todas as indicadas são melhores que a coitada, que nem sei o que faz aí.
HORÁCIO: – Merecimento, Leonor. Você não pode negar que o filme foi um sucesso e a Gilda mostrou que é boa no que faz.
LEONOR: – Merecimento? Boa no que faz? Affs! Vai ver ela usou a tática da micro câmera outra vez pra conseguir a indicação.
HORÁCIO: (boiando) – Hã?
LEONOR: – Nada, Horácio. Olha lá, chegou a hora da Gildinha cair com a cara na poeira.
As indicadas são anunciadas, e entre elas está Gilda – sentada ao lado de Abel. Uma atriz famosíssima entra no palco para anunciar a vencedora.
ATRIZ: – The Oscar goes to… Gilda Lazarotto!
Gilda faz cara de surpresa, dá um selinho em Abel, recebe cumprimentos e sobe ao palco. Na cama, Leonor e Horácio atônitos.
HORÁCIO: – Danou-se!
LEONOR: – E não é que a canastrona levou mesmo!
Gilda, emocionada, com a estatueta do Oscar na mão. Dá uma sambada, comemorando. Plateia aplaudindo de pé.
CORTE DESCONTÍNUO. Entra a música “When I Fall In Love” (Nat King Cole). Quarto escuro. Horácio dorme. Leonor lê um livro à luz do abaju. Para a leitura e fica pensativa. Abre a gaveta do criado-mudo e tira de lá uma fotografia de Abel. Olha com saudade e coloca-a dentro do livro. Levanta-se e vai até a janela. Observa a lua cheia no céu. Clima de solidão. Corta para:
CENA 47. COMPILAÇÃO
Ao som de “Cataflor” (Tiago Iorc), passeamos por uma colagem de cenas que ilustram algumas resoluções de nossa história, tais como:
:: Júlia e Kadu de casa nova no Rio de Janeiro. O casal pinta as paredes e, muito felizes, fazem bagunça junto com Javier.
:: Filipe coloca currículo em algumas agências e consegue ser contratado. Em outro momento, ele passeia pelo calçadão da praia com o cachorro Bicicleta. Num derradeiro, tomando um drink no bar da boate e trocando um breve sorriso com um rapaz, num esforço para recomeçar como Davi pediu.
:: Gilda nas gravações de um novo filme e recebendo prêmios. Em outro momento, compra uma belíssima mansão.
:: Num último momento, vemos um almoço no jardim da mansão de Gilda. Além dela, Abel, Jojô, Júlia (já grávida), Kadu, Javier e Filipe à mesa. Leonor e Horácio chegam e juntam-se a todos. Leonor brinca com Javier e acaricia a barriga de Júlia, numa indicação de que está aceitando a família do filho.
Corta para:
CENA 48. MIRANTE. EXT. DIA.
Mirante com belíssima vista do Rio de Janeiro. Júlia, com um barrigão, e Kadu sentados num banco de pedra.
JÚLIA: – Agora que a gente já sabe que é um menino, podemos pensar no nome.
KADU: – Qual você sugere?
JÚLIA: – Não sei, um nome simples, curto, mas ao mesmo tempo forte. Vitor!
KADU: – Ah não! O nosso filho não vai ter o nome do meu dentista, por favor.
JÚLIA: (ri) – Tá bem, Vitor riscado. Então…?
KADU: – Davi. Curto, forte e afetuoso. O nome de um grande homem.
JÚLIA: – Davi! (pra barriga) Agora, você já tem um nome, meu pequeno. Um belo nome!
KADU: – Que venha com saúde, pra coroar de vez a nossa felicidade.
Levantam-se e ficam ali abraçados, olhando a vista. Beijam-se.
Enquanto isso, na parte inferior da tela, em vez de um indefectível “fim”, uma máxima é escrita:
“Sempre há uma outra chance,
uma outra amizade,
um outro amor,
uma nova força.
Para todo fim, um recomeço”Antoine de Saint-Exupéry
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