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Recomeçar

Capítulo 19 (penúltimo) – Recomeçar

RECOMECAR19

CENA 01. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena. Kadu e Júlia frente a frente.

JÚLIA: – Não, isso é uma loucura, Kadu.

KADU: – Tá decidido. Se você acha que ir embora do Rio é a melhor saída pra tudo isso, eu vou com você.

JÚLIA: – Kadu, eu não quero te envolver/

KADU: (corta) – Eu já tô envolvido. A nossa história é uma só desde a primeira vez que te vi. Os nossos caminhos se cruzaram pra sempre naquela noite. A gente se ama, Júlia.

Pausa. Finalmente, Júlia sufoca seus medos, em nome da felicidade. Abraça Kadu.

JÚLIA: – É claro, meu amor! A gente se ama… O nosso amor é mais forte que esse pesadelo. Eu não vou deixar o Lorenzo vencer, não vou deixar ele tirar você de mim. É a minha felicidade, caramba! E você é o homem que eu amo.

Beijam-se, selando o reencontro e celebrando a força de um grande sentimento. Música: “Cataflor” – Tiago Iorc. Corta para:

CENA 02. PRODUTORA GALVÃO. SALA DE LEONOR. INT. DIA.

Flavinha serve um café a Leonor, que está na mesa atolada no trabalho.

LEONOR: – Obrigada.

Flavinha vai saindo.

LEONOR: – Ah, Flavinha, encontra o Carlos Eduardo e peça pra ele vir aqui, por favor.

FLAVINHA: – O Kadu?

LEONOR: (irônica) – Não, o Dolabella.

FLAVINHA: – O Kadu já foi. Parece que a namorada dele reapareceu… Ele saiu esfuziante da lanchonete, não se fala em outra coisa aqui na produtora.

LEONOR: – Como é que é?

FLAVINHA: – A Júlia. Não é esse o nome dela? Você não vai com a cara dessa mulher, né, Leonor?

LEONOR: – Sai. Vai cuidar do seu serviço.

FLAVINHA: – Com licença.

Flavinha vaza apressada, sentindo que o mau humor da patroa está pelas tampas. Leonor pensa rápido, pega a bolsa e sai. Corta para:

CENA 03. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.

Todos na sala: Júlia, Kadu, Tia Sofia, Belita e Javier. Clima de despedida. Júlia abraçada a Tia Sofia.

JÚLIA: – Obrigada, tia. Obrigada por tudo mesmo. Me perdoe por esse transtorno todo, tá?

TIA SOFIA: – Você tem certeza que tá fazendo a coisa certa, minha filha? Me dói o coração te ver indo embora dessa maneira.

JÚLIA: – É necessário, tia. Mas vai ficar tudo bem.

Colada a Javier, Belita chora. Júlia abraça-a.

JÚLIA: – Calma, Belita.

KADU: – Não chore, Belita. A gente vai se encontrar em breve.

JÚLIA: – Olha, eu prometo que, assim que tiver tudo nos eixos, você vem morar comigo novamente. Promessa de amiga. Agora deixa de ser boba e engole esse choro.

KADU: – Vamos, Júlia. Tá ficando tarde.

JÚLIA: (emocionada) – Fiquem com Deus!

Ela junta Belita e Tia Sofia num só abraça. Corta para:

CENA 04. FACHADA DO PRÉDIO DE TIA SOFIA. EXT. DIA.

Leonor vem chegando de carro. Ela própria dirige. De longe, vê Júlia e Kadu colocando duas malas no porta-malas e entrando no carro. Automóvel de Kadu, que logo dá partida e sai. Leonor começa a segui-los. Corta para:

CENA 05. MANSÃO DE LEONOR. JARDIM. EXT. DIA.

O carro de Kadu estaciona próximo à entrada da mansão. Javier no banco traseiro, entretido com um brinquedo.

KADU: – Vou só pegar algumas roupas. Rapidão.

JÚLIA: – Tá bem.

Kadu sai do carro e vê Leonor chegando, já caminhando até ele, superciliosa.

LEONOR: – O que essa mulher faz aqui, Carlos Eduardo? Eu não te avisei que não queria essa ‘zinha’ na minha casa?

KADU: – Mãe!

LEONOR: – É isso mesmo que eu estou vendo? Você está fugindo com ela? Você perdeu o juízo?

Júlia sai do carro e, da porta, encara Leonor – mas sem confrontar. Kadu olha as duas. Climão. Corta para:

CENA 06. MANSÃO DE LEONOR. QUARTO DE KADU. INT. DIA.

Kadu vai pegando algumas de suas roupas e jogando numa mala, que está aberta em cima da cama. Leonor ao lado, tentando demovê-lo.

LEONOR: – Carlos Eduardo, você está cometendo uma loucura, isso é um absurdo!

KADU: – Não tente, mãe. Não perca seu tempo tentando me fazer mudar de ideia.

LEONOR: – Será que você não percebe…? Você não enxerga que você tá acabando com a sua vida? Se atirar de cabeça num abismo talvez fizesse mais sentido. (T) Onde é que ela estava todos esses dias? Ela te falou? Meu filho, isso pode ser um golpe dessa mulher pra cima de você, pra cima da nossa família. Não duvido nada que ela esteja mancomunada com o marido – o tal Lorenzo – pra colocar as mãos/

Kadu perde a paciência e se vê obrigado a parar Leonor. Dá um sacode.

KADU: – Chega, mãe! Cale essa boca! A Júlia foi raptada por esse infeliz, torturada… Tá bom pra você? Ela fugiu dele e agora precisa sair do Rio pra que esse desgraçado não a ameace de alguma forma, use o direito dele como pai do Javier ou, pior, ponha as mãos outra vez nela. Você tá entendendo a situação? Eu não vou deixá-la nesse momento. Aliás, não vou deixá-la nunca, em momento algum… porque eu a amo! Você sabe o que é isso: amor?

Kadu volta a arrumar a mala. Leonor dá um tempinho, mas continua:

LEONOR: – Pra onde vocês vão?

KADU: – Não sei.

LEONOR: – Como não sabe? Vão andar sem rumo, sem destino, feito dois hippies bêbados e vagabundos? E ainda tem uma criança no meio desse desvario. Meu Deus! Só imagino os traumas que já estão se formando na cabeça desse menino. Com razão, essa juventude de hoje em dia está perdida, afogada no álcool, cigarro e drogas e todos os tipos. Os pais são uns irresponsáveis, as famílias estão desestruturadas, os filhos são criados feito ratos… Eu tenho dó desse menino. O que vai ser dele quando descobrir que a mãe foi uma prostituta?!

KADU: – Você é repugnante! Se a Júlia tem que ficar longe do Lorenzo, eu tenho que ficar longe é de você.

Kadu sai com a mala. Leonor vai atrás.

LEONOR: – Carlos Eduardo, volte aqui! Você está se deixando levar… Você não pode fazer essa sandice!

Corta para:

CENA 07. MANSÃO DE LEONOR. JARDIM. INT. DIA.

Kadu vem saindo da mansão, com a mala na mão. Não para. Leonor atrás, com desespero crescente. Júlia ainda fora do carro, assistindo.

LEONOR: – Meu filho, me escuta! Não faça isso. Não vale a pena. Ouça a voz da experiência: não vale a pena se sacrificar por ninguém – muito menos por essa mulher.

KADU: – Eu não vou discutir com você.

LEONOR: – Pensa no documentário que você tá produzindo, Carlos Eduardo. Você não pode abandonar o trabalho pelo metade… O seu pai. Pensa no seu pai. O coração dele não vai aguentar quando souber que você foi embora dessa maneira, sem se despedir…

KADU: – O meu pai, ao contrário de você, deseja a minha felicidade. Infelizmente, não dá pra me despedir, mas eu vou ligar pra ele depois… Quanto ao documentário, não há nada que eu possa fazer. Sinto muito.

LEONOR: – Eu não acredito.

KADU: (pra Júlia) – Vamos, meu amor.

Kadu e Júlia entram no carro.

LEONOR: (pra Júlia) – Você conseguiu! Conseguiu tirar o meu filho de mim. Maldita!

KADU: – Peça pro seu motorista pegar o carro no aeroporto. Adeus, mãe.

Kadu dá partida e vai embora, deixando Leonor em seu desespero. Zezé lá atrás. Corta para:

CENA 08. PRODUTORA. CAMARIM DE GILDA. INT. DIA.

Gilda dá um retoque na maquiagem em frente ao espelho. Jojô entra, cantarolando.

JOJÔ: – Deixa que eu faço isso, Miss.

GILDA: – Não. Eu gosto de me maquiar sozinha. Com sutileza, porque de carregada já basta a minha aura.

JOJÔ: – Humm, até parece! Estrelando um filme lacrador, sambando de salto quinze na cara das inimigas e, como se não bastasse, arrancando suspiros do muso Abel Molinari. Não adianta negar, eu vi com estes olhinhos que a terra há de comer o mais tarde possível. Tá com tudo, gata!

GILDA: – Como é que você sabe/

JOJÔ: (completa) – Quem é o Abel Molinari? E eu sou bobo de não conhecer aquele deus? Aquilo é homem pra quinhentos talheres dourados. Com todo respeito, é claro.

GILDA: – Ihh, não tenho nada com o Abel não, ô tattoo no púbis. Nossa relação é estritamente profissional. Quer dizer, somos amigos… eu acho.

JOJÔ: – A conversa que rola aqui na produtora é que ele tem um rolo com a toda-poderosa, a Leonor Galvão. Dizem que já sacaram uns olhares bem suspeitos entre eles. O que você acha disso, Miss? Será que é fofoca quente?

GILDA: – Quente vai ficar a sua cara se continuar se metendo nesses disse-me-disse sem futuro, Jojô! Não quero saber de assistente mexeriqueiro não, hein! Quer ficar sem panetone no Natal?

JOJÔ: – Calei-me!

Gilda para a maquiagem e, como se confidenciasse a si mesmo, fala com algum fascínio:

GILDA: – O Abel não é um sujeito de rolos. É um homem sério, sensível, compromissado… apaixonante.

Jojô com cara de quem tá sacando Gilda. Corta para:

CENA 09. AVENIDA. EXT. DIA.

Kadu, Júlia e Javier no carro, indo para o aeroporto.

JÚLIA: – Confesso que fiquei com dó da sua mãe. O desespero dela tentando impedir que você saísse de casa, isso mexeu comigo… E me sinto até culpada, sabia?

KADU: – Não diz isso, meu amor. A dona Leonor se vangloria por ser muito sábia, por ter experiência de vida… mas no fundo, nunca aprendeu a aceitar que o mundo é diferente daquilo que ela pinta. Ela não pode colocar o dedo na minha cara e dizer o que é melhor pra mim. Não tenho mais sete anos, poxa.

JÚLIA: – Ela me odeia, né?

KADU: – A minha mãe odeia todo mundo que tenha menos dinheiro que ela. Mas esquece isso… Quem tenta boicotar a nossa felicidade não merece crédito.

JÚLIA: – Tem razão. Meu Deus! Com tanta confusão, nem me dei conta… Nós vamos pra onde?!

KADU: – Pra qualquer lugar onde as horas não passem e o nosso amor seja eterno.

Aquele clima romântico. Kadu coloca uma música: “Kiss Me” – Ed Sheeran. Corta para:

CENA 10. CASA DE LORENZO. JARDIM. EXT. DIA.

Em seu carro, Lorenzo vem chegando em casa. Vai pra garagem. Corta para:

CENA 11. CASA DE LORENZO. SALA. INT. DIA.

Lorenzo entra com uma sacola de loja – um presente. Yolanda no sofá, lendo um livro. Ele a cumprimenta com um beijo na testa.

LORENZO: – Oi, mãe.

YOLANDA: – Presente pra mim?

LORENZO: – Não, mãe, esse aqui é pra Júlia… Um vestido novo. Hoje quero jantar fora e quero minha mulher belíssima. (T) Que silêncio! Cadê o Javier que não está brincando por aqui? Onde está a Júlia? (sai chamando) Meu amor?

YOLANDA: – A Júlia não está mais aqui.

Lorenzo para onde está. Vira-se para Yolanda, que segue:

YOLANDA: – Nem a Júlia nem o Javier.

LORENZO: – O que foi que a senhora disse?

Yolanda levanta-se e aproxima-se de Lorenzo.

YOLANDA: – Já estava na hora de acabar com isso, Lorenzo. Esse casamento foi um erro e essa sua obsessão por essa mulher já/

LORENZO: (corta, num berro, chorando) – O que a senhora fez?

YOLANDA: – Calma, meu filho! Eu só fiz isso pensando no seu bem. Essa história já estava passando de todos os limites, comprometendo até, sei lá, a sua sanidade, o seu equilíbrio mental… Você estava mantendo a Júlia prisioneira nesta casa! Isso não é atitude de uma pessoa em seu juízo perfeito.

LORENZO: – A senhora me traiu.

YOLANDA: – Não! Eu estou te salvando. Você foi enfeitiçado por essa mulher, meu filho.

LORENZO: – Sai da minha frente.

YOLANDA: – Estou começando a achar que você precisa de acompanhamento psicológico, Lorenzo. Você não está bem.

LORENZO: – Sai.

YOLANDA: – Lorenzo/

LORENZO: (explode) – Sai da minha frente!

O clima pesou. Yolanda vai pro quarto. Lorenzo atordoado. Pensa e sai rápido. Corta para:

CENA 12. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.

Tia Sofia assistindo uma novela na TV. Mala ao lado. Gato na caixa de transporte. Belita vem da cozinha.

BELITA: – Agora sim, de estômago forrado eu posso ir. Eu é que não vou comprar comida em aeroporto. Os olhos da cara. Deus me livre! A senhora não vai também?

TIA SOFIA: – Ainda não.

BELITA: – Já está meio tarde. Daqui a pouco anoitece. A Júlia pediu pra gente sair antes que a noite caísse.

TIA SOFIA: – Quando acabar a minha novela, eu vou. Já está no finalzinho. Mas você pode ir, minha filha, não se prenda por mim.

BELITA: – Então tá. Até um dia, Tia Sofia.

TIA SOFIA: – Até, menina. Vá com Deus!

Belita despede-se de Tia Sofia com algum afago. Sai com a mala e uma bolsa. Tia Sofia continua vendo TV. De repente, tira o gato da caixa.

TIA SOFIA: – Imagine que eu vou sair da minha casa. Tem até graça.

E, resmungando, leva sua mala pro quarto. Corta para:

CENA 13. FACHADA DO PRÉDIO DE TIA SOFIA. EXT. DIA.

Fim de tarde. Belita vem saindo do prédio, despedindo-se do porteiro. Tranquila, caminha pela calçada. Um carro vem no mesmo sentido e vai parando perto dela. Ao olhar pro lado, Belita vê Lorenzo dentro do carro, no volante, empunhando um revólver, mirando nela.

LORENZO: – Entra no carro.

BELITA: – Doutor Lorenzo!

LORENZO: – Entra no carro ou leva bala agora!

Tremendamente assustada, Belita não vê outra saída a não ser entrar no carro. Enfia a mala na frente. Lorenzo dá um jeito de empurrar o trambolho pro banco traseiro, sem perder a mira. Belita no passageiro. Gagueja:

BELITA: – O que o senhor quer comigo?

LORENZO: – Vamos dar um passeio.

Lorenzo sai em alta velocidade. Corta para:

CENA 14. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA/NOITE.

Música: “Let Me Go” – Cymcolé. Imagens clipadas do fim do dia no Rio de Janeiro. Anoitece. Corta para:

CENA 15. APART. DE DAVI. SALA. INT. NOITE.

Abre numa fita k7 sendo rapidamente rebobinada num gravador portátil (desses mais antigos, de jornalista). Dá play e ouvimos a voz de Filipe cantando um trechinho da música infantil “É de Chocolate” (Trem da Alegria). Enquanto isso, vemos ele e Davi sentados no chão, junto ao sofá, com uma panela de brigadeiro. Gravador na mão de Filipe. Dão risada com aquela tosquice.

DAVI: – Como você é bobo!

FILIPE: – Ficou bom, né? Sua vez agora.

DAVI: – Ah não!

FILIPE: – Ah sim! Lembra de uma boa aí.

DAVI: – Hummm… deixa eu ver. Dá aqui.

Davi pega o gravador e começa a cantar os primeiros versos de “Superfantástico” (Turma do Balão Mágico). Filipe atropela e emenda o refrão. Os dois se divertem, enquanto comem e se lambuzam de brigadeiro.

FILIPE: – Eu gosto.

DAVI: – De quê?

FILIPE: – De te ver assim, sorrindo, alegre, feliz…

DAVI: – Feliz porque eu tenho você.

Beijinho. Davi põe a cabeça no ombro de Filipe. Pausa típica de mudança de assunto:

FILIPE: – Amanhã começa a quimio, a primeira sessão.

DAVI: – Um mal necessário.

FILIPE: – Você não acha que seria bom procurar, sei lá, um grupo de apoio? Seria bom pra você. Conhecer outras pessoas que estão passando por essa situação, desabafar, compartilhar experiências, relatar dificuldades… É importante, é mais uma forma de se fortalecer pra superar isso tudo.

DAVI: – Talvez. Mas por enquanto eu tô bem, tô administrando com maturidade… E você tá aqui ao meu lado. Não existe força melhor nem maior do que o teu amor.

Emocionados, beijam-se e deitam no chão. Música: “How Long Will I Love You” – Ellie Goulding. Corta para:

CENA 16. DESPENHADEIRO. EXT. NOITE.

O cenário é a um despenhadeiro que dá pro mar. Música “Vi Luz y Subí” (Carlos Libedinsky) tocando inicialmente. O carro de Lorenzo vem chegando. Os faróis do carro e a lua são as únicas luzes no local. Barulho das ondas ao longe. Absolutamente ninguém à vista. O carro estaciona. Belita assustada e nervosa.

BELITA: – Que lugar é esse, doutor?

Lorenzo sai do carro. Dá a volta e abre a porta de Belita, mirando o revólver. Tensão sobe.

LORENZO: – Desce.

BELITA: – Doutor/

LORENZO: (corta) – Sai!

Belita obedece a ordem e sai do carro. Lorenzo a pega pelo braço, bruto e “arrasta-a” para a frente do veículo. Mão firme na nuca. Coloca o cano da arma no embaixo do queixo dela, que gagueja de nervoso.

BELITA: – Doutor, pelo amor de Deus! O que o senhor quer comigo?

LORENZO: – A minha mulher… pra onde ela foi?

BELITA: – Eu não sei, eu não sei da Júlia… Ela sumiu. Não sei dela. Eu juro!

LORENZO: – É mentira! Tenho certeza que ela te disse pra onde foi. Vocês são amigas, não são?! Já se atreve até a chamá-la de Júlia. Fala, babá dos infernos!

Belita chora.

BELITA: – Pelo amor de Deus, não me mate!

LORENZO: – Ela fugiu com o fotógrafo, com o amante?

BELITA: – Eu não sei, já disse.

LORENZO: – Não sabe? Pra onde você estava indo com essa mala? Isso tudo é medo de mim? Claro, assim fica muito mais difícil encontrá-la… A Júlia mandou que você sumisse, infeliz?

BELITA: – Pelo amor de Deus, doutor Lorenzo!

LORENZO: – Não fale em Deus, sua cadela! (T) Já estou perdendo a paciência. Diz logo o que sabe! Onde a Júlia se meteu com o fotógrafo filho da mãe e o Javier? Fala! Vou estourar os seus miolos, se não abrir o bico!

Num reflexo, Belita age e acerta os testículos de Lorenzo com o cotovelo. Ela consegue se desvencilhar dele, que agora já está no chão, gemendo de dor e xingando.

LORENZO: – Desgraçada! Filha da puta!

Belita corre. Lorenzo dispara três tiros. Belita, ofegante, continua correndo. Tensão máxima. Lorenzo levanta-se e entra no carro. Pisa no acelerador. Semblante de psicopata. Com extrema frieza, ele avança com o carro em direção à Belita, que não para de correr, exausta. A alguns metros do fim da linha, o carro de Lorenzo cata Belita, violentamente. A babá voa por cima do carro. O dinheiro na bolsa dela (dado por Júlia) se espalha no vento.

Volta a tocar o tango inicial. Lorenzo freia o veículo bruscamente, a poucos metros do abismo. Ele sai do carro e caminha em direção ao corpo de Belita, que está lá atrás, estendido no chão. Olha por um instante e, com o pé, vira a cabeça dela, verificando se há sinal de vida. Belita está morta. Então, Lorenzo dá alguns passos e observa, lá de cima, as ondas do mar castigando as pedras.

LORENZO: – Me aguarde, meu amor. Me aguarde.

No rosto dele, efeito e corta para:

FINAL DO PENÚLTIMO CAPÍTULO

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