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Filho Amado

Capítulo 50 – Filho Amado

Filho Amado.

 

CAPÍTULO 50.

 


 

José do Gado sobe no palco junto com Éssio, ambos exalando confiança.

 

Eles se sentam em cadeiras ao lado de Bravejo.

 

José, provocando: Noite fresca, ótima para a minha festa da vitória.

 

Bravejo rebate: Pena que você pagou um buffet atoa, todos sabem que eu vou ganhar, aliás, os votos já foram contados. Já temos um prefeito- Ele encara o rival.

 

José do Gado o encara também: Perfeito, minha vitória cada vez mais próxima, mal posso esperar pra esfregar isso na sua cara seu Amêndoa!

 

Bravejo dá uma gargalhada: Tenho pena de te ver tão confiante assim, seu Castanha, não ganhou em anos e acha que vai me vencer justo agora, que trocou de vice, do lobisomem pro ex-lavoureiro de família traidora…

 

José olha em seu relógio: Não vou ficar brigando com você seu antiquado, mande começarem a cerimônia, já preparei meu discurso.

 

Bravejo se levanta: Então vamos começar esse evento!- Ele faz sinal pra alguém.

 

Éssio revela: Tô com um frio na barriga, Coronel, uma sensação que nunca tive antes.

 

Noronha escuta tudo: Deve ser a tristeza pelo pai que morreu ontem…

 

José e Éssio dão as mãos: Já senti isso muitas vezes Éssio…Mas não se preocupe, vamos ganhar!

 

Jasmine: Não está nervoso, Noronha?

 

Noronha, frio: Aqui? Jamais. Só quero ver a reação de minha amada mamãe ao me ver ganhar do Éssinho – Ele acena para Anna, que finge não ver- Vai ser o início de seu pesadelo.

 

Odorico Paraguaçu Jr sobe no palco muito entusiasmado, ele pega o microfone e recebe um papel com o resultado da eleição. O estádio logo se cala, ansioso pela revelação que prometia muito.

 

Éssio está mais ansioso do que nunca, ele sente que irá ter um troço, e não deixa de olhar para Jasmine, que disfarça tudo. Noronha permanece seguro e calmo, assim como o Coronel Bravejo. Já José soa friamente. Na plateia, Anna reza muito para a vitória do filho, Marinez por sua vez não faz conta de nada, enquanto Aurora ainda está muito mexida e aérea com a revelação da morte de Bento.

 

Odorico abre o papel, mas não esboça nenhuma reação: Antes de mais nada, só gostaria de agradecer o Bravejo por ter me feito esse convite, mas não vamos perder tempo com isso…- Ele faz cara de mistério- Nossa, podemos dizer que essas eleições foram uma das mais apertadas em todos os anos- Ele toma postura.

 

José, trêmulo: É agora, é a nossa hora de triunfar Éssio…

 

Éssio dá um riso nervoso.

 

Os tradicionais tambores rufam.

 

Odorico: E o novo prefeito de Vila Varzeônica é…Com 10.050 votos à 10.033,O CORONEL BRAVEJO!

 

Uma parte do estádio faz uma grande festança, bandeiras são levantas e alguém solta fogos de artificio, Bravejo se levanta radiante e Noronha faz o mesmo.

 

José do Gado não esboça nenhuma reação.

 

Éssio parece não acreditar: Eu quero uma recontagem, o Bravejo comprou essas urnas!

 

Noronha ri para Éssio: PER-DE-DOR! Aceite a derrota!

 

Éssio começa a chorar, José não fala nada.

 

Bravejo puxa Noronha para a frente do palco, Odorico lhe passa o microfone.

 

Bravejo, emocionado: Meu povo, eu sabia que vocês não iam falhar comigo, a oposição tentou enganar a todos dizendo que iriam mudar a cidade, mas vocês sabem que eu cumpro o que falo, meus valores e minhas tradições são sagradas! E dessa vez, nesses quatro anos que ficarei, vou transformar a cidade em uma verdadeira metrópole com o apoio do meu vice Noronha Dávila!

 

O povo aplaude calorosamente, gritos e estrondos ecoam por todo o local, Anna tenta falar algo mas nada se escuta.

 

José do Gado se levanta, furioso: É MENTIRA- Ele avança pra cima do Coronel- ELE COMPROU ESSA ELEIÇÃO COMO SEMPRE, ELE QUER MANIPULAR VOCÊS MEU POVO, NÃO ENXERGAM?

 

Noronha empurra José: Eu não sei porque você ainda se candidatou seu velho ridículo, ninguém acredita no seu jeito de fazer política, esses 2033 votos foram comprados, eu aposto, você é sujo e tosco, a cidade iria regredir com teus ideais no comando! Aprende com quem sempre ganha, seu fracassado!

 

Marinez se desespera lá do palco: Seu pai passou pela mesma desilusão Aurora, já me cansei disso, eu falei pra ele não entrar na política de novo, agora o coitado vai ficar dias depressivo! E dessa vez foi pior, ele achou que só pela troca de vice iria ganhar!

 

Aurora, preocupada: Vamos tirar o papai do palco, antes que cometa outra loucura.

 

Noronha continua humilhando eles: Saiam daqui, você e o Éssio não passam de dois fracassos!

 

Bravejo ri: É Castanha, mais uma derrota pra sua coleção…E eu como sempre ganhando de você em todos os aspectos…Tenho pena de você, desiste de uma vez por todas, ninguém te quer mais!

 

Éssio, ainda chorando: A votação foi apertada, nós quase ganhamos, essa cidade clama por uma mudança, chega desse governo sujo!

 

Noronha lhe empurra: Cala a boca seu fracote, você não aceita ser derrotado, parece um bebê chorão que não enfrenta as situações da vida nunca! PERDEDOR, FRACO, SEU NADA!

 

Anna chega, desesperada: Você não tem direito de humilhar ele!

 

Noronha pega a mãe por um braço, e Éssio pelo outro: Aqui não é o lugar de vocês, seus dois lixos, saiam imediatamente! Não foi isso que fizeram comigo naquele dia da bandeira? Eu nunca me esqueci, nunca, e os dois merecem o mesmo, merecem ser humilhados e é isso que eu vou fazer! Me escutem- Ele vai até o ouvido da mãe, e sussurra-Vocês perderam, e eu ganhei!- Ele atira os dois de cima do palco e começa a rir descontroladamente, ao fundo os fogos continuam ativos.

 

Jasmine vai até Noronha: Calma…Calma, não perca a cabeça só porque ganhou!

 

Bravejo anuncia: E antes de eu fazer meu discurso, vamos para a tradicional cerimônia da hasteação da bandeira com o hino!

 

Um menino aparece com duas bandeiras, uma de Vila Varzeônica e a outra do Brasil. Noronha resolve tomar uma drástica atitude.

 

Noronha toma a bandeira do menino e anuncia: Eu vou hastear essa bandeira, tão ouvindo? Comecem o hino nacional agora, é uma ordem!- O menino sai chorando, e Bravejo fica assustado com a atitude do vice.

 

Bravejo, constrangido: Por favor, Noronha o que você acabou de fazer?

 

Noronha está descontrolado: Coronel eu calculei esse dia friamente por anos, o dia em que eu ia ter minha glória novamente, minha mãe me expulsou do palco aquele dia pois eu fiz o mesmo, ela me impediu de hastear a bandeira mas agora eu vou mandar nessa cidade toda, eles vão ver- Ele começa a rir enquanto o hino começa, as pessoas fazem silêncio em respeito, e Noronha olha para o céu estrelado, pensando no seu triunfo atual, e em tudo o que tinha acontecido em sua vida. Uma pequena lágrima escorre de seu olho, mas não parecia uma simples lágrimas…Ela continha ódio.

 

Na saída do estádio José do Gado anda atordoado, Marinez o segue desesperada, junto com Aurora. Atrás ainda vão Éssio e Anna, doloridos por conta da queda, Éssio chora.

 

José anda sem rumo: Isso não podia ter acontecido…Não dessa vez, eu não vou suportar!

 

Marinez, desesperada: Eu te avisei, eu te avisei mil vezes mas já cansei da sua teimosia, pois deu no que deu e não quero saber mais de depressão na minha casa só porque não ganhou essas malditas eleições!

 

Éssio, choroso: Me desculpa se eu fiz alguma coisa de errada, Zé, eu tentei e tava crente que íamos ganhar esse ano.

 

Anna: Você não deve desculpas, aposto que o Noronha forjou esse resultado porque não aceita perder, sua campanha foi infinitamente melhor!

 

Aurora: Pai, andar sem rumo não adianta nada, encare as situações, você perdeu de novo e não há mais nada a fazer!

 

José se vira pra ela: Não perdi, não perdi! Esse resultado foi comprado que eu sei- Ele esmurra uma parede- EU DEVIA TER GANHADO SIM!

 

Éssio insiste: Me desculpa Coronel, me desculpa…- Ele começa a chorar.

 

José: Quer saber? A culpa é sua mesmo sabe, você é um novato tosco que não ajudou em nada na campanha, me arrependi de ter aceitado a proposta da Anna. Esse ano eu devia ter ganhado com o Batista, mas caí na besteira de aceitar um frouxo na minha campanha.

 

Anna sai em defesa de Éssio: A culpa não é do meu filho, ele fez o melhor de si mas eu me lembrei agora que em toda eleição você se revolta porque perdeu. Nunca conseguiu aceitar a derrota…

 

José, furioso: Você me fez perder, você!- Ele tira o cinto- VOCÊS VÃO ME PAGAR, AGORA- O político começa a dar cintadas em Anna e Éssio.

 

Anna, desesperada: Para de me bater, seu nojento! Me arrependi de ter feito sociedade contigo, seu perdedor.

 

José surta, ele agarra Anna e a joga no chão novamente, Marinez e Aurora tentam conte-lo, enquanto Éssio chora na parede.

 

Anna se levanta, zonza: EU VOU TE DENUNCIAR SEU MANÍACO!- Ela pega Éssio pelo braço- Vamos aqui antes que esse ingrato nos apedreje, mas isso não vai ficar assim…

 

José se senta na calçada, ele põe as mãos sobre a cabeça e começa a gritar compulsivamente, assustando a mulher e a filha.

 

Marinez: Meu Deus Aurora, dessa vez foi demais pro seu pai…Ele enlouqueceu de tal maneira que nunca tinha visto!

 

Enquanto isso, na casa de Taléfica…

 

Taléfica está deitada na cama, refletindo: A rata borralheira me disse que aquele remédio do José era pra controlar alguma coisa do cérebro dele- Ela vai até a gaveta e pega algo- Se ele ficar muito tempo sem esse remédio vai acabar enlouquecendo de vez- Ela abre o pacote: Era o verdadeiro remédio de José- Meu Deus, o que fiz?

 

No estádio, Noronha desce do palco, a festa depois da cerimônia iria começar, regada a muita música e comidas típicas.

 

Bravejo, animado: Agora que começa a festa você me diz que vai embora? Como assim?

 

Noronha pega na mão de Jasmine, ele escorre as lágrimas de seu rosto: Já tive muitas emoções por hoje Coronel, consegui realizar algumas coisas que queria. Amanhã eu faço contato contigo…

 

Bravejo bebe cerveja: Então tudo bem, mas ligue só depois das dez.

 

Ruper aparece: QUANDO OLHEI A TERRA ARDENDO, QUAL A FOGUEIRA DE SÃO JOÃO, EU PERGUNTEI A DEUS DO CÉU, AI PORQUE TAMANHA JUDIAÇÃO…- Ele começa a dançar com o Coronel.

 

Noronha: Ai minha vista vai estragar se eu continuar vendo isso, vou embora- Ele sai andando com Jasmine quando Bruno aparece, comendo um prato de carne assada.

 

Bruno oferece: Querem? Olha tá uma delícia…

 

Noronha limpa sua testa com um lencinho: Se eu quiser veneno encomendo. Nós vamos embora, você pode ficar aqui na Festa do Ridículo.

 

Bruno, triste: Mas já vão embora? Quer que meu pai leve vocês?

 

Noronha: Bruno eu ganhei as eleições e você quer me matar? Primeiro oferece carne envenenada e agora quer que eu dê as chaves do meu sedan pro seu pai bêbado de novo? Ainda não estou louco, agora com licença que vou voltar pra casa- Ele sai andando com Jasmine.

 

Jasmine para: Preciso usar o banheiro rapidinho…

 

Noronha, irritado por conta da música: Vai de pressa Jasmine ou eu vou me contaminar com essa aurea Varzeônica e ficar pulando como no passado- Ela vai correndo.

 

Noronha olha para o estádio: Se fosse em outros tempos, a família Dávila estaria comemorando muito alegremente e…- Ele não conclui a frase e vai esperar Jasmine na parte externa, onde estava mais fresco.

 

Aurora aparece no mesmo instante e eles acabam se esbarrando.

 

Aurora, sem jeito: Ah, oi Noronha, parabéns pela vitória.

 

Noronha, animado: Obrigado Aurora, seu pai pelo visto não aceitou muito bem, como sempre.

 

Aurora, cansada: É verdade, minha mãe ficou tentando acalmar ele mas no fim das contas é sempre a mesma coisa. Falando em pai, eu soube da morte do Bento e lamento muito, eu gostava muito dele…

 

Noronha suspira: Todos nós sentimos, mas quem fez isso vai ser punido, não se preocupe.

 

Aurora: Eu vou indo então…- Ela sai, mas Noronha a puxa para perto dele.

 

Noronha, envolvente: Aurora eu sei que sua vida anda atordoada também, principalmente depois que você descobriu que o seu marido era pedófilo mas saiba que estou disposto a tudo pra te ajudar e ficar perto de você, eu te amo.

 

Aurora tenta não chorar, ela se lembra de sua gravidez: As coisas estão difíceis mesmo… Mas é a vida, obrigado pelo apoio mas acho que não precisamos mais nos ver.

 

Jasmine vê tudo de longe.

 

Aurora: Até mais, Noronha…- Ela sai, triste.

 

Noronha suspira novamente: Amanhã tudo vai mudar…

 

NO DIA SEGUINTE…

 

Casa dos Dávila.                   

 

Éssio está debruçado sobre a mesa, ainda chorando pela derrota e as humilhações, Anna aparece.

 

Anna, tentando não demonstrar tristeza: Você não dormiu, certo?

 

Éssio, com o rosto inchado: Não sei se vou conseguir me conformar mãe, foi a minha pior derrota. Tô me sentindo um nada, o Noronha tem o que comemorar…

 

Anna, preocupada: Não fala isso, eu sempre vou estar contigo, na vitória e na derrota…Mas você não mereceu essa derrota, ainda vou averiguar isso direitinho- Ela passa a mão sobre a cabeça do filho.

 

Éssio, desesperado: Mãe, agora que o papai se foi nós não temos mais fonte de renda aqui, ele era o único que trabalhava. As contas estão perto de se vencer, e papai não pagava o sindicato rural, não vamos conseguir nada da aposentadoria dele!

 

Anna pensa: Alguma coisa temos que conseguir, o aposento é da viúva por direito!- Ela se debruça sobre a mesa, mas rapidamente se ergue- Já sei, o seu pai fez uma poupança e colocou no seu nome, o dinheiro era pra se acontecesse algum acidente ou imprevisto. Podemos usá-lo enquanto não nos estabilizamos. Tinha inclusive uma parte que ficava no guarda-roupa.

 

Éssio, cabisbaixo: Mãe…Eu gastei tudo, tudo, tudo.

 

Anna, boquiaberta: Como é meu filho?

 

De repente Noronha adentra: Exatamente o que eu queria ouvir- Ele tira seus óculos.

 


TERMINA O CAPÍTULO 50.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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