Capítulo 18 – Recomeçar
CENA 01. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.
Ao som de “Are You With Me” (Lost Frequencies), vemos imagens de um belo dia nascendo no Rio de Janeiro. Um típico dia de sol. Corta para:
CENA 02. CASA DE LORENZO. SALA. INT. DIA.
Sentada numa poltrona, Yolanda toma uma xícara de café. Lorenzo vem da cozinha com uma pasta executiva.
LORENZO: – A senhora volta hoje pra Buenos Aires?
YOLANDA: – Meu voo é para daqui a dois dias. Por quê? Incomodo? Já quer se ver livre de mim?
LORENZO: – Só pra saber, minha mãe. Bom, eu preciso trabalhar. Bom dia.
YOLANDA: – Bom dia, meu querido. Bom trabalho.
Lorenzo despede-se da mãe com um beijo na testa. Sai. Yolanda dá um tempinho e vai averiguar a janela. Vê, por entre a cortina, Lorenzo saindo de carro. Caminha para a cozinha. Corta para:
CENA 03. CASA DE LORENZO. COZINHA. INT. DIA.
Júlia acaba de preparar uma vitamina e está servindo Javier. Yolanda entra.
YOLANDA: – Será que podemos conversar por um instante, Júlia? No escritório.
JÚLIA: (pra Javier) – A mamãe já volta, meu amor. Toma tudo, hein!
As duas saem. Corta para:
CENA 04. CASA DE LORENZO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
Júlia está sentada no sofá. Yolanda de pé.
YOLANDA: – Você já deve ter percebido que eu sou uma mulher muito franca. Nunca fomos amigas. Nunca tivemos uma relação de sogra e nora como deve ser.
JÚLIA: – Não estou entendendo, dona Yolanda. Qual a razão dessa conversa?
YOLANDA: – Eu nunca aprovei esse casamento, por razões que nem preciso dizer, uma vez que são bastante óbvias. O meu marido, que Deus o tenha, também sempre foi contra essa sandice do Lorenzo querer/
JÚLIA: (corta) – Quer fazer o favor de ir direto ao ponto? O desprezo que a senhora tem por mim não é novidade nenhuma.
YOLANDA: – Eu quero que você suma da vida do meu filho. Você e o menino. Estou disposta a abrir mão de uma pequena fortuna para custear as despesas do Javier, algo que lhe garanta um futuro, uma faculdade, uma boa casa… enfim, o suficiente para que vocês não tenham mais que procurar o Lorenzo pra nada.
JÚLIA: – Não sei se a senhora percebeu, mas eu estou presa nesta casa. Isso aqui é praticamente um cativeiro. Eu fugi do seu filho há quase um ano, cansada de ser espancada, humilhada…
YOLANDA: – Disse muito bem: você fugiu. Atirou o meu filho pela janela do quarto e, depois, fugiu sem prestar socorro, deixando-o pra trás, agonizando… Você devia estar na cadeia, sabia?!
JÚLIA: – Foi um acidente.
YOLANDA: – A sua sorte é que o Lorenzo não quis te denunciar.
JÚLIA: – Eu só queria viver em paz. E eu estava conseguindo, esse tempo todo longe dele. Estava refazendo a minha vida, feliz, ao lado de uma pessoa que realmente me quer bem… O Lorenzo é doente, possessivo, um psicopata completo. Me tirou dos braços do homem que eu amo e me trancafiou nessa casa, achando que assim pode colar os cacos do nosso casamento. E a senhora vem pedir que eu suma da vida dele? Como se eu tivesse muito prazer em viver aqui, como se estivesse adorando essa situação…
YOLANDA: – Pois muito bem. Já que ansiamos a mesma coisa, vou te ajudar afugir dessa casa. Dessa casa, da cidade e, se possível, do país.Você e o menino vão para qualquer lugar onde o Lorenzo não possa encontrá-los.
Corta para:
CENA 05. APART. DE GILDA. QUARTO DE FILIPE. INT. DIA.
Filipe fecha uma mala. Gilda encostada na porta, observando-o, emocionada.
GILDA: – O meu filhote saindo de casa, deixando o ninho da passarinha mãe…
FILIPE: – Ah, dona Gilda, não é a primeira vez. Quando fui estudar na Suíça, você fez esse mesmo drama.
GILDA: – Era diferente. Você foi estudar, tinha data certa pra voltar pra casa.
Eles sentam na cama.
GILDA: – Mas tudo bem, eu já tô aprendendo a exorcizar esse meu egoísmo materno.
FILIPE: – O Davi precisa de mim, mãe.
GILDA: – Eu sei. Eu sei que você também precisa dele. É um momento difícil, é imprescindível que vocês estejam mais do que unidos pra enfrentar esse dilema.
FILIPE: (chora) – Eu tô com medo, mãe. Muito medo. Eu tento dar forças, tento passar otimismo pro Davi, mas no fundo eu tô mergulhado em desespero.
GILDA: – Calma, Filipe. Você não pode ficar assim. Você tem que ser mais forte que ele, não pode deixar se abater dessa maneira. Além do mais, o tratamento, a quimioterapia começa agora… O Davi tem muitas chances de se recuperar, de vencer esse câncer. Você vai ver, vai dar tudo certo, meu bem.
Gilda abraça Filipe. Corta para:
CENA 06. APART. DE DAVI. SALA. INT. DIA.
Música: “Só Sei Dançar com Você” – Tulipa Ruiz. Davi abre a porta e recebe Filipe, que está ali parado com a mala no chão. Sorriem. Felizes. Abraçam-se forte e trocam um longo beijo. CAM vai saindo em dolly out, ampliando a sala. Corta para:
CENA 07. PRODUTORA GALVÃO. ESTÚDIO. INT. DIA.
Música: “I Want To Know What Love Is” – Foreigner. Gilda ensaia uma cena com um ator, acompanhada pelo diretor do filme. Jojô acompanha de longe. Como quem não quer ser notado, Abel chega e fica observando Gilda em ação. Num dado momento, ela coloca os olhos nele. Trocam um tímido sorriso. Jojô não perde o lance. Corta para:
CENA 08. LANCHONETE DA PRODUTORA. INT. DIA.
Abel e Gilda numa mesa, tomando um suco.
ABEL: – Eu gosto de ver o meu texto ganhando forma, criando vida… Mesmo que seja uma adaptação, como é o caso desse filme.
GILDA: – O seu texto é maravilhoso, Abel. Flui escandalosamente bem. Estou com ele todo aqui ó, na pontinha da língua.
ABEL: – Sério?!
GILDA: – É claro! Gilda Lazarotto não pode fazer feio, meu amor.
Pausa. Outro clima:
ABEL: – Por que você mentiu?
GILDA: – Hein?
ABEL: – Naquela noite em que nos conhecemos… Por que você não me disse o seu nome? Lembro de ter ficado com a impressão de já te conhecer de algum lugar. Mas com o nome que você deu – Eleonora -, ficou impossível.
GILDA: – Acaba de responder a própria pergunta. Não quis que você me reconhecesse. Mas você também não me disse que se tratava do grande Abel Molinari, roteirista conceituado e premiado em vários festivais de cinema. Eu não teria saído do seu apartamento sem um belo autógrafo… porque eu tenho um caderninho de autógrafos, você sabe, né?! Como artista eu sou ótima, mas como tiete eu sou melhor ainda. Aliás, tenho uma história ótima com a Rosanna Arquette, preciso te contar…
Fora de áudio, Gilda conta a tal história para Abel. Corta para:
CENA 09.CASA DE LORENZO. GARAGEM. INT. DIA.
Yolanda abre o porta-malas do carro. Júlia e Javier vão entrar.
YOLANDA: – Entrem. Os seguranças não podem vê-los.
Júlia e Javier se espremem no porta-malas. Yolanda entra no carro e sai da garagem. Corta para:
CENA 10. CASA DE LORENZO. JARDIM. EXT. DIA.
O carro de Yolanda aproxima-se do portão, que está fechado. Um segurança aproxima-se do carro e faz sinal para que Yolanda abaixe o vidro.
YOLANDA: – O que você quer?
SEGURANÇA: – Dona Yolanda, me desculpe, mas o doutor deixou ordens expressas para que não deixássemos a senhora sair.
YOLANDA: – Mas o que é isso?! Que absurdo é esse?! Cometi algum crime para ficar prisioneira nesta casa?!
SEGURANÇA: – Não é isso senhora/
YOLANDA: – (corta) Vou ligar agora mesmo pro Lorenzo, quero saber que história/ Quer saber? Não vou ligar coisa nenhuma. Abra esse portão agora! Estou mandando!
SEGURANÇA: – Mas senhora/
YOLANDA: (corta) – Se você não quiser ir para o olho da rua por justa causa e sem carta de recomendação, abra a droga desse portão agora!
O segurança acata a ordem e faz sinal para um colega abrir o portão. Corta para:
CENA 11. AVENIDA. EXT. DIA.
Yolanda para o carro no acostamento e abre o porta-malas. Júlia e Javier saem do aperto e seguem viagem no banco traseiro.
JAVIER: – Pra onde a gente tá indo, mamãe?
JÚLIA: – Pra casa, meu filho. Pra casa.
Yolanda volta a dirigir. Corta para:
CENA 12. PRODUTORA GALVÃO. ILHA DE EDIÇÃO. INT. DIA.
Kadu trabalhando na edição de um documentário. Davi entra, como quem está atrasado, e senta ao lado.
DAVI: – E aí, Kadu?! Perdi a hora, desculpa aí. Tá adiantado aí?
KADU: – Perdeu a hora, é? Olha aqui pra mim… Dormindo não estava. Então…
DAVI: – Segui teu conselho, me entendi com o Filipe. E mais: agora vamos morar juntos.
Kadu dá um abraço em Davi, sem levantar da cadeira, comemorando.
KADU: – Aêee… agora sim! Agora você fez a coisa certa.
DAVI: – É, eu tava vacilando. Não fazia nenhum sentido ficar longe do homem que eu amo.
KADU: – Tô feliz por vocês, meu amigo. Olha, eu tava pensando, quero te dar isso aqui…
Kadu começa a preencher um cheque.
DAVI: – O que é isso?
KADU: – Pras despesas que você terá agora que vai começar a quimio… Outra coisa: acho que você deve pedir logo licença daqui da produtora. Tem que cuidar da sua saúde, moço.
DAVI: – Eu te agradeço, Kadu, mas não posso aceitar/
KADU: (corta) – Me deixa fazer alguma coisa por você?
DAVI: – Eu tenho algumas economias, é o suficiente/
KADU: (corta) – Ótimo! Tem mais essa aqui a partir de agora.
Davi se vê obrigado a pegar o cheque. Kadu vai saindo.
KADU: – Depois, a gente acaba isso aqui. Vamos comer alguma coisa. Tô faminto!
Corta para:
CENA 13. FACHADA DO PRÉDIO DE TIA SOFIA. EXT. DIA.
O carro de Yolanda vai parando. Ela e Júlia conversam se olhando pelo retrovisor interno. Javier dorme.
YOLANDA: – É aqui?
JÚLIA: – Sim. É aqui que a minha tia mora.
YOLANDA: – Você sabe que este será o primeiro lugar que o Lorenzo irá procurar quando der pela sua falta, não sabe?
JÚLIA: – Eu sei. Vou pegar as minhas coisas e vou sumir daqui com o meu filho.
YOLANDA: – Pra onde você vai?
JÚLIA: – Não sei. Mas, pra me ver livre do Lorenzo, eu vou pra qualquer lugar.
Yolanda tira três maços de dinheiro (notas de R$ 100) da bolsa e oferece a Júlia. Agora se encaram.
YOLANDA: – Toma. Isso aqui é para os custos emergenciais. Me dê o número de uma conta para que eu possa depositar o que prometi.
JÚLIA: – Eu não quero o seu dinheiro.
YOLANDA: – Você vai fazer esse número de orgulho e honestidade comigo? Nós temos um acordo. Pegue o dinheiro, você vai precisar.
Júlia pega o dinheiro.
JÚLIA: – Obrigada. Obrigada pelo que a senhora fez por mim.
YOLANDA: – Eu não fiz nada por você. Eu não estou te salvando, estou salvando o meu filho. Desapareça, Júlia. Vá refazer sua vida no raio que a parta.
Yolanda com profundo desprezo por Júlia, que sai do carro com Javier nos braços. Fria, Yolanda vai embora, sob o olhar de Júlia na calçada. Corta para:
CENA 14. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.
Todos sorridentes. Tia Sofia abraça forte Júlia. Javier, que continua dormindo, nos braços de Belita.
TIA SOFIA: – Minha sobrinha querida! Graças a Deus você voltou sã e salva.
BELITA: – Graças a sua santinha, Tia Sofia.
TIA SOFIA: – Claro, menina. Nossa Senhora da Medalha Milagrosa nunca me falhou, e não seria dessa vez que ela me deixaria na mão. Tá tudo bem mesmo, minha filha?
JÚLIA: – Não, tia. Infelizmente. Eu consegui escapar das garras do Lorenzo, mas é só uma questão de tempo pra ele bater nessa porta e me arrastar de volta pr’aquela casa.
BELITA: – Disso eu não duvido. O que você vai fazer, Júlia?
JÚLIA: – Eu vou sair do Rio com o Javier. Preciso sumir do radar do Lorenzo. E vocês também. Vocês não podem ficar aqui.
TIA SOFIA: – Sair da minha casa? Esse homem é o mefisto, é o capeta? O que ele pode fazer contra mim? Não, não, da minha casa eu não saio.
JÚLIA: – É só por uns tempos, tia. O Lorenzo é muito perigoso. Tenho medo do que ele possa fazer contra a senhora, tentando descobrir o meu paradeiro. Vá passar uma temporada com a Tia Glória em Belo Horizonte. E tem que ser hoje!
Corta para:
CENA 15. APART. DE TIA SOFIA. QUARTO/BANHEIRO DE JÚLIA. INT. DIA.
No quarto, Júlia acaba de colocar suas roupas numa mala. Belita sentada na cama.
JÚLIA: – Já fez a sua mala, Belita?
BELITA: – Sim, tá pronta.
Julia senta e pega nas mãos de Belita.
JÚLIA: – Lamento muito não poder te levar comigo, Belita. Mas, além de não saber direito pra onde ir, seria muito egoísmo da minha parte querer que você se sacrifique outra vez por mim. Você é uma grande amiga, Belita. Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim.
BELITA: – Para, Júlia. Assim você vai me fazer chorar.
JÚLIA: – Não, não chora não, sua boba. Olha, eu quero que você aceite isso.
Júlia oferece o dinheiro que recebeu de Yolanda para Belita.
BELITA: – Mas isso é muito dinheiro. Eu não posso aceitar isso, Júlia.
JÚLIA: – Claro que pode. Pague sua passagem de volta pra Argentina. Te garanto que assim, em cima da hora, não será nada barata. E com o restante você faz o que achar melhor.
Belita aceita a grana e guarda em sua bolsa.
BELITA: – Tá bem. Eu vou aceitar porque não dá pra querer competir com você nos quesitos caturrice e teimosia. (T) E o Kadu, como é que ele fica nessa história? Ele tá louco atrás de você. Não sossegou um minuto desde o dia que você sumiu. Coitado.
JÚLIA: (muito triste) – O Kadu não cabe na minha vida agora, Belita. Eu já envolvi gente demais nesse pesadelo. Mas eu vou levá-lo comigo. Aqui (no peito), pra sempre.
Júlia tenta se desvencilhar da tristeza e volta a arrumar a mala.
JÚLIA: – Vê pra mim se tô esquecendo alguma coisa importante no banheiro, por favor?
BELITA: – Claro.
Belita vai pro banheiro. CORTA PRA LÁ. Ela pensa rápido, pega o celular no bolso e digita uma mensagem. Corta para:
CENA 16. LANCHONETE DA PRODUTORA. INT. DIA.
Kadu e Davi numa mesa. Copos e pratinhos do lanche já vazios.
DAVI: – E a Júlia e o menino, nada?
KADU: – Nada, cara. A polícia não consegue dar um passo.
DAVI: – Será que não estão fazendo corpo mole, já que não se trata de um sequestro clássico? Do jeito que as pessoas nesse país são, não duvido que achem muito admissível o marido rejeitado raptar a esposa.
O celular de Kadu notifica uma nova mensagem. Ele abre e lê: “Júlia e Javier voltaram pra casa. Corre pra cá”. Kadu transborda-se em alegria e não consegue formar uma frase. Eufórico:
KADU: – A Júlia/ O Javier/ O Javier e a Júlia/ Eles estão livres, eles voltaram…
DAVI: – Quando? Agora?
KADU: – Eu preciso ir, eu preciso vê-los…
DAVI: – Claro! Vai logo! Eu cuido de tudo aqui. Me manda notícias.
KADU: – Tá, eu mando. (alto) O meu amor voltou! Espalhem por aí!
Todos, curiosos, olham pra Kadu, que sai esfuziante em direção à garagem. Davi sorridente. A galera cochicha. Corta para:
CENA 17. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.
Tristonha, Tia Sofia coloca seu gato numa caixa de transporte. Sua mala já feita ao lado do sofá. Javier brinca por ali. Júlia e Belita trazem suas malas do quarto.
JÚLIA: – Quer ajuda, tia?
TIA SOFIA: – Não, não, o ele vai se comportar direitinho nessa gaiola.
JÚLIA: – A senhora tá triste, né? Eu sinto muito, tia, mas nesse momento é o melhor a ser feito.
TIA SOFIA: – Não, minha sobrinha, não se preocupe. Já telefonei pra Glória. Vou passar uma temporada lá, tá tranquilo, não se preocupe comigo.
JÚLIA: – A senhora não sabe como eu fico aliviada.
Júlia faz um afago em Tia Sofia. A campainha já estava tocando. Belita vai abrir a porta. Júlia vira-se e vê Kadu ali parado, não contendo a emoção. Ele vai até ela e abraça-a. Abraço forte, muita saudade.
KADU: – Ah, meu amor! Graças a Deus você tá salva! Eu tava morrendo a cada segundo. A cada segundo!
Júlia está feliz em reencontrar Kadu, mas ao mesmo tempo temerosa. Ela percebe o sorriso largo de Belita e se toca que ela avisou Kadu.
JÚLIA: – Kadu, a gente precisa conversar.
KADU: – E o Javier?
Kadu vê Javier e o apanha num abraço caloroso.
KADU: – Garotão! Tá tudo bem com você?
JAVIER: – Tá.
KADU: – Olha lá, hein! No próximo pique-esconde você avisa antes. Combinado?
JAVIER: – Combinado.
Kadu percebe as malas pela sala.
KADU: – E essas malas? Pra onde vocês tão indo?
JÚLIA: – Tia, Belita, vocês podem nos deixar a sós um momento? Levem o Javier também, por favor.
Tia Sofia, Belita e Javier vão para a cozinha. Kadu intrigado. Júlia sofrendo por ter que abrir mão dele.
KADU: – Júlia, o que tá acontecendo? O que significa essas malas?
JÚLIA: – A Tia Sofia vai passar uns tempos na casa da irmã, a Belita vai voltar pra Buenos Aires… e o Javier e eu vamos embora daqui.
Aquele clima dramático.
KADU: – É o quê? Vocês vão pra onde? Vocês vão voltar pra Argentina/ Você vai voltar pro Lorenzo?
JÚLIA: – Não, não é nada disso. Muito pelo contrário. Eu tô fugindo do Lorenzo outra vez. Não tenho muito tempo. Daqui a pouco ele vai dar pela minha falta e vem bater nessa porta, me atirando no inferno novamente.
KADU: – Mas, meu amor… Você não precisa fugir. Não é assim que se resolve isso. A gente precisa denunciar esse desgraçado. O que ele fez é crime, ele tem que estar na cadeia/
JÚLIA: (corta) – Não! Você não conhece o Lorenzo. Ele tem dinheiro, tem poder, é influente… E se for preso, um bom advogado consegue livrar a pele dele num estalar de dedos. Eu tenho medo, Kadu! Você não sabe o quanto ele me torturou todos esses dias, usando o Javier… Tenho medo que ele tire o meu filho de mim. Eu não suportaria.
Júlia chora. Kadu abraça-a.
KADU: – Calma. Eu to aqui, meu amor. Nada de ruim vai lhe acontecer.
JÚLIA: – Eu não posso ficar aqui.
KADU: – Tem certeza que isso é o melhor a se fazer?
JÚLIA: – É a minha única saída.
KADU: – Então eu vou com você.
No rosto de Júlia, efeito e corta para:
FINAL DO CAPÍTULO 18