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A Crítica

Recomeçar: realista, moderna e muito envolvente

Recomeçar - BannerPor Alencar Tognon

Recomeçar é uma envolvente história que possui uma escrita leve, dinâmica e ao mesmo tempo realista, que possibilita aos leitores um entretenimento útil levando em conta reflexões sobre as mais diversas relações humanas.
Júlia, a personagem principal da trama, foi uma antiga prostituta que se casou com um homem que a salvou da vida árdua e injustiçada de exploração. Tal “salvação” não passou de mais um dilema triste na vida da moça que teve de suportar por anos o abuso e violência do suposto herói. Envolvida em um grande conflito, acaba retornando ao Brasil na tentativa de iniciar uma nova vida ao lado de seu filho e a babá, que sempre esteve ao seu lado – onde novos rumos são tomados e um novo amor, em sua vida toma partido.

Apesar dos fortes acontecimentos e a tensão frenética de sentimentos, a trama possui uma leveza ao tratar temas tão delicados que carecem de uma visibilidade maior. Destaco a frustração de uma ex-artista de cinema que não consegue lidar com o fracasso da ausência da fama, onde a mesma possui um filho homossexual que embora os momentos eróticos altamente destacados em cenas, podemos considerar que é explícito o trabalho do autor em naturalizar temas que são tratados com tanta polêmica hoje em nossa sociedade. Sexualidade não deve continuar sendo tabu, e uma das formas de se conquistar isso é naturalizando através da arte.

O que padece ser necessário é uma arquitetura bem destinada aos personagens, pois com base na primeira dezena de capítulos, fica um vão quanto à expectativa concreta das cenas futuras da trama, sofrendo uma ausência de norte aos olhos dos leitores. Evidentemente que essa “caixinha de surpresas” proporciona um charme à obra, porém dada o hábito da cultura de tramas de nosso país, uma espinha dorsal deve ficar nitidamente clara nos primeiros capítulos, para que se crie um desejo dos leitores de prosseguir a história.

A estrutura e a ambientação lembram muito as obras de Maneco. História carioca, com relações familiares e conflitos corriqueiros e uma delicadeza na estruturação. O texto, ao contrário de muitos outros, nos da margem para refletir e fluir a imaginação tanto aos acontecimentos ocorridos na web, como também aos personagens que são incógnitas humanas, sempre com um vão que convida o leitor à atribuir singularidades únicas a cada um. Vale destacar também, a trilha sonora postas no decorrer do texto que ajuda o espectador a se envolver na trama e na cenografia imaginária.

O autor atenta-se as mudanças sociais presentes em nossa época, tanto é, que aborda questões do dia-a-dia de forma corriqueira, como a inflação, flanelinhas cobrando taxas indevidas, crise financeira, etc., e isso demonstra que o texto além de um trabalho social, possui um ar moderno e de fácil acesso, sendo possível qualquer público usufruir o que a trama pode oferecer.

Hoje, se torna mais do que necessário, tramas que proporcionem reflexões sobre os apartados humanos, que promovam o rompimento de rótulos e preconceitos, e que tragam a complexidade humana, pondo que todos são vulneráveis a ser tudo, principalmente vilões e mocinhos de sua própria história. Ambivalência essa, que nos possibilita ser empáticos frente à história de Augusto Vale, dando margem a compreensão de que, mesmo errando e cometendo atos que possam parecer imperdoáveis aos olhos de quem vê, sempre há uma oportunidade de Recomeçar.

Acompanhe a web: seriesdeweb.com/sw/recomecar

2 comentários sobre “Recomeçar: realista, moderna e muito envolvente

  • Crítica perfeita! Concordo inclusive com o ponto negativo destacado. Acredito que isso é o risco que se corre quando se escreve sem desenhar uma espécie de escaleta previamente. A minha maneira de roteirizar não se dá de maneira milimetricamente planejada e organizada. Tenho um enredo fechado e um ponto de chegada definido, mas o percurso é sempre uma incógnita, que vai se revelando num efeito dominó, um conflito provocando outro. Se eu não tiver curiosidade pelo que vai acontecer, não sinto interesse em seguir escrevendo. Essa é uma atividade prazerosa mas ao mesmo tempo tão cansativa, que o autor precisa se apegar em algo que o instigue. E o que me instiga é surpreender a mim mesmo. Obrigado pela análise, Alencar.

    • Muito bom Augusto! Acredito que a receptividade às críticas seja um dos requisitos mais importantes quando se é autor e você soube lidar muito bem com as realizadas pelo Alencar. Tantos as positivas – você não se deixou tomar pela prepotência, quanto às construtivas – que você demonstrou ter levado como lição para os próximos textos.
      Torço para que você tenha ainda mais sucesso e possa submeter vários projetos seja no @seriesdeweb ou em qualquer outro site.
      Abraços e obrigado por postar sua história aqui.

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