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Recomeçar

Capítulo 12 – Recomeçar

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CENA 01. PUB. INT. NOITE.

Continuação imediata da última cena. Filipe acaba de chegar. Davi sério. Júlia e Kadu fazem sua parte, tentando facilitar a situação para os dois.

KADU: – Boa noite, Filipe. Não quer se juntar a nós?

JÚLIA: – É, senta aqui com a gente.

Davi dá uma cutucada com o pé em Kadu, demonstrando não gostar da ideia.

FILIPE: – Tudo bem pra você, Davi?

DAVI: (T) – Senta aí.

FILIPE: – Valeu!

KADU: – Filipe, deixa eu te apresentar essa pessoa mais que especial: essa é a Júlia, minha namorada.

FILIPE: – Muito prazer, Júlia-pessoa-mais-que-especial!

JÚLIA: – Prazer, Filipe!

FILIPE: – Quer dizer que hoje o Davi tá de candelabro?

DAVI: – Lembrei de um ditado muito bom agora/

KADU: (corta) – Vamos pedir mais um rodada?

Kadu acena pro garçom. Davi de mau humor. Filipe sem graça. Corta para:

CENA 02. APART. DE GILDA. SALA. INT. NOITE.

Abel parado na porta, ainda do lado de fora. Muito sério, mas inicialmente calmo. Ele está com o cavalinho de madeira que ganhou de presente de Gilda. Gilda sorridente. Ela já imagina do que se trata.

GILDA: – Abel! Que surpresa!

ABEL: (abre a mão, mostrando a pequena câmera) – Vim te devolver isso.

GILDA: – O que é isso?

ABEL: – Me parece uma câmera. A micro câmera que você malocou no meu apartamento, Eleonora. Ou será que já posso te chamar de Gilda?

GILDA: (T) –Por que você não entra? Entre, eu te sirvo alguma coisa e a gente conversa com calma. Por favor!

ABEL: (entrando e deixando o cavalinho em algum móvel) – Dispenso a bebida ou seja lá o que for que você tenha pra me oferecer. Você já deu provas de que não é uma pessoa de confiança. A Leonor me contou o que você fez.

GILDA: – Espera aí, Abel. Tenho certeza que a Leonor contou uma versão totalmente distorcida dos fatos. Essa mulher me odeia… A Leonor é uma cobra!

ABEL: – Cobra? Mais cobra que você? Não era a Leonor que estava rastejando no meio da rua, em frente o meu prédio, fingindo ter sido assaltada e pronta pra dar o bote. Se tem alguma cobra nessa história, é você. E das mais peçonhentas!

GILDA: – Você está sendo injusto. Eu não fiz nada disso pra te atingir, Abel.

ABEL: – Ah, mas isso tá muito claro. Eu nem te conheço, ow. Até ontem, eu imaginava que seu nome fosse Eleonora. Eleonora Perón! Que grande idiota eu sou, né? Mereço o Oscar, na categoria “maior trouxa do ano”. (T) Quando foi que você instalou essa câmera no meu quarto? Só pode ter sido no dia que você chegou com esse presente, esse cavalo de madeira escroto. O cavalinho de Tróia da Gilda Lazarotto! Era o quê? Uma metáfora que o imbecil aqui não sacou?

GILDA: – Isso nem me passou pela cabeça. (T) Abel, por favor, me ouça. Eu preciso que você me ouça e entenda o meu lado. Eu posso explicar tudo!

ABEL: – Não existe explicação pro que você fez, sua chantagista!

Clima tenso. Abel já está mais alterado. Corta para:

CENA 03. PUB. INT. NOITE.

Continuação da cena 01. Abre numa pessoa cantando no karaokê. Davi segue sem dar confiança a Filipe. Do outro lado da mesa, Kadu e Júlia abraçados.

KADU: – Alguém vai enfrentar o karaokê?

JÚLIA: – Eu acho divertido.

DAVI: – Pagação de mico? Tô fora!

FILIPE: – Pois eu sou o próximo!

CORTE DESCONTÍNUO. Filipe canta “Your Song”, do Elton John. Canta olhando para Davi, como se dedicasse a ele. Aos poucos, Davi parece se emocionar com aquilo. CORTE DESCONTÍNUO. Davi canta “Take Me On”, da banda A-ha. Bem animado. A galera vibra. CORTE DESCONTÍNUO. Kadu e Júlia arrasam cantando “The Time of My Life”, de Bill Medley e Jennifer Warnes. Eles ainda ensaiam alguns passos de Patrick Swayze e Jennifer Grey no filme “Dirty Dancing”. O casal vira sensação do pub. Corta para:

CENA 04. APART. DE GILDA. SALA/CORREDOR. INT. NOITE.

Continuação da cena 02. Abel em pé. Gilda sentada no sofá, cabisbaixa, vitimizada.

GILDA: – Procurei a Leonor inúmeras vezes. Pedi ajuda. Pedi uma força. Ela nunca foi capaz de me dar uma mão. Às vezes, até inventava desculpas pra não me receber. Nunca sequer leu um projeto que lhe apresentei. Na última vez, me humilhou da maneira mais atroz possível, sem qualquer piedade. Você tinha que ver… Saí de lá aniquilada, destroçada, um farrapo… A Leonor não é gente!

ABEL: – E por causa disso você armou essa arapuca pra ela. Você acha que assim vai conseguir o que quer? Até onde você pensa que vai chegar com essa desforra sem sentido?

GILDA: – Eu só queria produzir o meu filme. Só queria voltar a trabalhar no que amo. Você acha que eu me orgulho de lançar mão desses métodos? Não me orgulho não! Me envergonho, se você quer saber.

ABEL: – Pois é o mínimo. Chantagem! Um golpe baixo, torpe… Você não tem o direito de colocar a Leonor contra a parede! Você não tem o direito de usar esse vídeo como moeda de troca. Isso é a intimidade da Leonor. É a nossa intimidade! Você me enoja. (sai)

GILDA: (vai atrás) – Tenta me entender, Abel, pelo amor de Deus!

Aqui, Abel e Gilda já estão no corredor. Ele espera o elevador. Gilda chora.

ABEL: – Não tem nada pra entender. Isso que você está fazendo com a Leonor é asqueroso!

GILDA: – Me diz, o que você quer que eu faça? Eu faço. É só você dizer. Eu me retrato. Eu te entrego o vídeo! Te entrego as cópias também. (T) Eu desisto do filme! É, eu desisto, eu abro mão, eu acabo com essa chantagem em dois tempos. É isso que você quer? Faço ainda melhor: eu peço perdão a Leonor. Mas, por favor, não me trate assim, não me vire as costas… Eu faço qualquer coisa. Eu só não quero perder a sua amizade, Abel.

ABEL: (T) – Que amizade? Eu não sou seu amigo, Gilda.

O elevador já chegou. Abel entra. Eles se entreolham até as portas fecharem. Ela segue chorando. Ele está sério, irredutível. Corta para:

CENA 05. PRAIA. EXT. NOITE.

Júlia e Kadu se divertem no mar. Se beijam e se abraçam. Davi e Filipe estão na areia, sentados lado a lado, observando o casal. Davi já baixou mais a guarda.

FILIPE: – Eles formam um casal muito bonito, né?

DAVI: – O Kadu tá muito feliz. A Júlia faz muito bem a ele.

FILIPE: – É, dá perceber. (T) Deixa eu te confessar uma coisa: não foi por acaso que eu apareci/

DAVI: (corta) – Você acha que eu sou ingênuo a esse ponto?!

FILIPE: (T) – Não fica bravo com o Kadu. A ideia foi minha. Ele só deu uma força porque eu pedi. Se bem que o karaokê foi invenção dele mesmo.

DAVI: – Você mandou bem.

FILIPE: – Ah, você também.

DAVI: – O que você pretende com isso?

FILIPE: (toca a mão de Davi na areia) – Não paro de pensar em você, Davi.

Agora eles se entreolham. Clima. Depois, Davi afasta a mão que Filipe acariciava e fica em pé. Filipe também levanta. Não se encaram.

DAVI: – Romantismo agora? Isso não combina contigo.

FILIPE: – Eu sei, eu não fui legal com você.

DAVI: – Imagina. Era um direito seu. Acho que eu é que acabei confundindo as coisas, fui exigindo demais, criando expectativas…

FILIPE: – Teria como você resgatar essas expectativas?

Entra música ao fundo: How Long Will I Love You – Ellen Goulding. Davi vira-se e olha para Filipe, que continua:

FILIPE: – Vamos começar de novo, Davi?

DAVI: – Começar?

FILIPE: – Me dê a oportunidade de corresponder às suas expectativas.

DAVI: – Eu/

FILIPE: (corta) – Lembra que você disse que eu devia acordar pra vida? Pois então… Eu quero acordar, mas quero que seja ao seu lado. Todos os dias.

Davi abraça Filipe. Do abraço, partem pro beijo. Sobe a música. Júlia e Kadu assistem de longe, felizes. CAM volta pro beijo de Davi e Filipe. Corta para:

CENA 06. APART. DE DAVI. QUARTO. INT. NOITE.

Segue a música. Davi e Filipe transam. Romantismo. Beijos. Química. Corta para:

CENA 07. RIO DE JANEIRO. EX. DIA.

Música: “Are You With Me” – Lost Frequencies. Stock-shots. Segunda-feira amanhecendo no Rio. Encerra-se na fachada da Produtora Galvão. Corta para:

CENA 08. PRODUTORA GALVÃO. SALA DE LEONOR. INT. DIA.

Leonor está acertando alguma pendência com um dos sócios da produtora. Flavinha, a secretária, entra.

FLAVINHA: – Leonor, a Gilda Lazarotto está aí e pede pra falar com você.

LEONOR: (arqueja) – Diz a ela pra esperar uns dez minutos, ainda não acabei aqui.

GILDA: (invadindo, botando banca) – Dez minutos é muito tempo, e o meu tá valendo ouro. Vai me atender agora ou eu já posso ir distribuindo a pipoca e os oclinhos 3D pra todo mundo?

LEONOR: (para o sócio) – Depois continuamos, Saramago. (para Flavinha) Pode ir também, Flavinha.

O sócio e Flavinha saem. Gilda muito séria, altiva e decidida.

LEONOR: – Você tá louca? Perdeu o juízo? Isso aqui é uma empresa séria, não é um desses botecos que você frequenta. Você precisa ter mais/

GILDA: (corta) – Cala a boca, vadia! Eu vim te informar que já contratei um advogado. Um excelente advogado. Ele vai te procurar ainda hoje pra acertar os detalhes do meu contrato com a produtora. Ele já está por dentro de todas as exigências que estou fazendo. Espero que você já tenha convencido o seu amante a roteirizar o filme. É a primeira cláusula do contrato.

LEONOR: – Você sabe que eu posso acabar com esse circo num estalar de dedos, não sabe? Isso que você está fazendo é chantagem. Você fez espionagem no apartamento do Abel. Isso é violação de intimidade, isso é crime! Você vai parar na cadeia!

GILDA: – E você vai parar onde, Leonor? Na internet, na rede mundial de computadores! Sem falar na repercussão que certamente terá nos jornais, nas revistas, na TV… De grande empresária da indústria cinematográfica, você passará a ser conhecida como a ilustre e notável piniqueira da zona norte. Leonor Chobrega Galvão!

Leonor dá um tapa em Gilda. Tensão. Gilda revida o tapa, com um capricho a mais. Leonor perde o equilíbrio e quase cai.

GILDA: – Tamanqueira! (T) Trate de apressar todas as burocracias, eu quero começar a gravar logo, já!

Leonor ainda sentindo o peso da mão de Gilda, que está implacável. Corta para:

CENA 09. COMPILAÇÃO DE CENAS

Ao som da música “Catle In The Snow” (The Avener), temos agora uma passagem de tempo de 10 MESES. Antes do letreiro surgir na tela, vemos uma compilação de cenas que ilustrem o que aconteceu nesse ínterim. As principais:

– Gilda totalmente focada na produção do filme. Dá dicas para Abel no roteiro. Apesar disso, os dois seguem distantes um do outro. Gilda confere cenários, confecção de figurinos etc.

– Júlia e Kadu seguem juntos e cada vez mais apaixonados. Mostrar ainda Júlia trabalhando no buffet e Kadu fazendo fotografias. Não deixar de incluir Javier, Tia Sofia e Belita na relação deles.

– Davi e Filipe também constroem um relacionamento sólido. Mostrar que o namoro está bastante feliz. Fazem programas com Júlia e Kadu também.

– Horácio no golfe e paquerando no clube.

– A relação de Abel e Leonor passando por uma crise. Não se entendem na cama. Ele não aceita que ela ceda às chantagens de Gilda.

10 MESES DEPOIS

CENA 10. TERRAÇO DO PRÉDIO DE TIA SOFIA. EXT. NOITE.

Abraçados, Júlia e Kadu se beijam.

KADU: – Tá feliz?

JÚLIA: – Não poderia estar mais feliz.

KADU: – Hummm… eu acho que pode sim.

JÚLIA: – Hã? Como?

Kadu surpreende Júlia ao abrir uma caixinha de anel de noivado. Entra a música “Kiss Me” – Ed Sheeran ao fundo.

KADU: – Casando comigo. (T) Meu amor, você me aceita como seu marido?

JÚLIA: (emocionada) – É claro, é tudo que eu mais quero. Eu te amo tanto, Kadu!

KADU: – Eu te amo cada vez mais!

Eles se beijam. Sobe a música. CAM vai afastando em dolly out. Corta para:

CENA 11. MOTEL. QUARTO. INT. NOITE.

Segue a música. Na cama, Júlia e Kadu transam, comemoram o noivado e celebram o amor. Exalam paixão. Muita química. Usar fades na edição. Corta para:

CENA 12. APART. DE ABEL. SALA. INT. NOITE.

Abel está na cozinha, acabando de lavar louça. A campainha toca e ele vai atender. Depara-se com Gilda, que está com uma cesta de chá nas mãos.

GILDA: – Vim agradecer e comemorar a finalização do roteiro.

Enquanto ele está bem sério, ela parece serena. Corta para:

CENA 13. APART. DE DAVI. SALA/QUARTO. INT. NOITE.

Davi e Filipe jantam. Há vinho e algum prato não muito sofisticado.

DAVI: – Mas me conte, a quantas anda o filme da sua mãe?

FILIPE: – Acabaram de finalizar o roteiro. Ela só vive pra isso. E temo que agora que as gravações vão começar, a tal Olívia Watterson baixe nela em definitivo.

DAVI: (ri) – Que exagero, amor! A Gilda tem uma personalidade muito forte, de cores quentes… Admiro isso nela.

FILIPE: – Eu tô brincando. A minha mãe, apesar de ter aquele jeito doidivanas, sempre foi uma grande referência pra mim. Até porque não tive pai. Já te contei que meu pai foi um hippie que ela conheceu quando inventou de morar numa comunidade alternativa?

DAVI: – Jura? Essa eu quero saber. Vou ao banheiro e volto num minuto pra ouvir essa história. (sai falando) Bem que eu desconfiava que essas suas ideias de amor livre tinham um pé no movimento hippie. Agora tá explicado: tá no sangue.

FILIPE: (ri) – Nunca vi as fuças do dito cujo. Ela não tem sequer uma foto dele, acredita?

Silêncio. Filipe ouve um barulho. Vai pro quarto, intrigado:

FILIPE: – Davi? Tá tudo bem aí? Que barulho foi esse?

Filipe encontra Davi desmaiado no chão do quarto. No susto dele, corta para:

CENA 14. AVENIDA. EXT. NOITE.

Júlia e Kadu estão voltando do motel, de carro. Ele dirige.

KADU: – A gente precisa começar a procurar um apartamento, uma casa, um lugar legal. Meio cansado de motel. Sabe como eu me sinto?

JÚLIA: – Como?

KADU: – Um adolescente que não pode levar a namorada pra dormir na sua casa, nem pode dormir na casa dos pais dela.

JÚLIA: – Você não dorme na minha casa porque não quer, Kadu. A minha tia não vê problema. Ela é super de boa. O Javier também sabe do nosso namoro e vê tudo com naturalidade. Quer dizer, nada impede.

KADU: – Ah, não sei, não me sinto bem, não me sinto confortável… Neura minha. Mas, felizmente, logo seremos marido e mulher, teremos a nossa casinha, a nossa caminha, os nossos travesseiros… e teremos todo o sossego e comodidade do mundo.

JÚLIA: – Eu não vejo definição melhor pra felicidade.

KADU: – Já disse hoje que te amo?

JÚLIA: – Já. Mas já faz mais de meia hora.

KADU: – Oh meu Deus! Que falha gravíssima! Pois vou corrigir isso agora mesmo. Senhorita Júlia Vilela, eu, Carlos Eduardo Galvão, gostaria de lembrá-la que a amo com toda/

Nesse momento, antes que Kadu conclua a frase, uma picape preta aparece do nada e atinge o carro em que estão Júlia e Kadu. Um choque violento. Depois, vemos Kadu desacordado, com um corte na testa. Júlia mexe os olhos e geme, praticamente inconsciente. Da picape, um homem sai do passageiro e caminha até o carro de Kadu. Para próximo à porta onde está Júlia. Vemos agora que o tal homem é Lorenzo.

LORENZO: – Finalmente, meu amor!

Na felicidade doentia de Lorenzo, efeito e corta para:

FINAL DO CAPÍTULO 12

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