Capítulo 21 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 21.
Mansão de José do Gado…
José chega, com suas bagagens: Lar doce lar! Já estava sentindo falta daqui, lá em Cuiabá é muito agitado pra mim!
Marinez: E você foi fazer qual curso lá mesmo? Eu esqueci o nome…
José explica: Eu fui fazer um curso de quinze dias sobre politica, Marinez, eu e o Batista, mas cá entre nós, ele não foi muito bem no curso, estou até pensando em mudar de vice esse ano!
Conceição, a empregada, se intromete: E ele não virou lobisomem, patrão?
José ri: Isso é mera lenda, Conceição, conheço o Batista faz tempo, e nunca vi ele virar lobisomem- Ele tira um calendário do bolso- E outra que nos quinze dias que passei com ele em Cuiabá foram de lua crescente, lua cheia só semana que vem!
Marinez: A janta está pronta?
Conceição: O leitão está terminando de assar, senhora.
José se senta no sofá: E a Aurora? Cadê? Trouxe aquele livro que ela me pediu, e alguns presentes pra minha filhota.
Marinez: Foi na igreja, mas deve voltar logo logo.
Rua…
Noronha ajuda Aurora a se levantar.
Aurora, ainda impressionada: Eu…Tenho que ir…
Noronha a segura: Espera, Aurora, eu queria tanto te rever, senti tanta saudade de você, eu não consigo me perdoar por aquele dia na igreja.
Aurora, rancorosa: Eu também não consigo te perdoar, por isso não quero mais olhar na sua cara, você pra mim morreu e agora eu tenho uma nova vida.
Noronha a acaricia: Aquele dia foi horrível, Aurora mas você tem que me compreender, eu estava sendo acusado por um crime que não cometi, e precisava fugir, por isso te abandonei, mas isso me maltrata muito até hoje e me arrependo demais.
Aurora se afasta dele: Depois daquele dia eu nunca mais fui a mesma. Eu acreditava no seu amor, e acabei me decepcionando…Mas isso tudo é passado, minha vida agora é outra, e a sua também, vamos esquecer aquilo de vez e seguir nossas vidas!
Noronha não deixa ela ir: Sua vida parece não estar muito bem, Aurora, seu rosto está deprimido, aconteceu alguma coisa que eu possa te ajudar?
Aurora: Você pode me ajudar se afastando de mim, por favor, esquece que eu existo!
Noronha: Não vai, Aurora, eu sonhei muito com esse reencontro, acredite, você foi a única pessoa que amei realmente na minha vida.
Aurora fica mexida, mas não demonstra isso: Por favor, me esquece Noronha, me esquece.
Caio sai do carro: Vamos, papai!
Aurora, já chorando: Adeus, Noronha, pra sempre- Ela sai.
Noronha, triste: Iamos ser tão felizes…Mas eu sei que não matei aquele homem…E tenho certeza que foi o Éssio…Mas ele vai provar do gosto da amargura!- Ele entra no carro.
Aurora chega na loja de Clécio arrasada.
Natércia, aflita: Aurora, está tudo bem?
Aurora: Pega um copo de água pra mim, por favor, Natércia.
Acervo de Vila Varzeônica/ Interior.
Gomide: Olha, senhor fotógrafo, eu vou deixar que você entre e pesquise um pouco sobre a matéria que quer, mas só um pouco, daqui a pouco eu fecho o Acervo- Ele acende a luz, há uma extensa biblioteca, com TUDO sobre Vila Varzeônica- Qual é o seu nome mesmo?
Américo pensa “ Ah, meu Deus, que nome eu crio…Que nome…”.
Gomide: Eu perguntei qual o seu nome, fotógrafo!
Américo, nervoso: Meu nome é Laranjinha, na verdade é o nome do meu pai, eu sou Laranjinha Jr.
Gomide liga a outra luz: Então tudo bem, senhor Laranjinha, pode ficar a vontade e pesquisar sobre o que quer, eu vou ao banheiro- Ele vai a um pequeno recinto.
Américo espera ele ir, e coloca algo em uma jarra de água que está em cima da estante.
Gomide volta: E então, o que exatamente o senhor procura no acervo da cidade?
Américo inventa: Procuro sobre um circo que houve aqui na cidade, um circo bem importante, parece que todos os integrantes desse circo morreram, e quero ter uma foto antiga deles, mas o único lugar em que eles se apresentaram aqui em Mato Grosso foi em Vila Varzeônica!
Gomide acredita na história: Eles podem estar naquela prateleira ali, a numero 8.
Américo: Será que antes disso o senhor poderia me dar um copo de água?
Gomide: Claro-Ele serve um copo com água.
Américo finge beber: Nossa, essa água aqui está com um gosto horrível, prove…
Gomide pega outro copo e coloca água: Não…Está do mesmo jeit..- Ele apaga na mesa.
Americo ri: Esse remedinho meu é infalível mesmo, dois segundos e o sujeito capota!- Ele começa a revistar para ver se acha algo sobre Noronha.
Apartamento de Lara.
Éssio está deitado no sofá. Lara faz o jantar.
Lara, provocante: Fiquei surpreso com essa sua visita, priminho, achei que você tinha desistido de mim!
Éssio, meio aéreo: Claro que não desisto de você, Lara, só que muitas coisas andaram acontecendo na minha vida, e eu não tive tempo.
Lara experimenta seu quiche: Hum…Eu soube que você foi demitido…
Éssio se levanta: Mas não foi só isso, além de o Noronha voltar, eu…Acabei perdendo a cabeça um dia desses…
Lara desliga o fogo do fogão: Como assim perdeu a cabeça?
Éssio revela: Eu bebi demais um dia desses, e aí um cara me provocou no caminho de volta e…Nós brigamos, e eu acabei….
Lara: Fala Éssio!
Éssio, aos prantos: Eu matei um cara.
Lara, chocada: Matou um cara? Éssio, como assim? Ninguém descobriu?
Éssio, atordoado: Tem um outro cara que está desconfiado de mim, mas o resto nem suspeita…Que isso fique só entre nós, Lara, mas eu estou pensando em me livrar do outro sujeito também!
Lara, sem palavras: Nossa…Você quer matar outra pessoa, Éssio? Tá virando assassino e eu não sabia?
Éssio: Esse outro cara, o Josué, pode descobrir que fui em quem matei o Zézão…Por isso eu tenho que matar ele também, e me livrar desses dois encostos, e vou fazer isso o mais rápido possível- Ele a beija-Mas que isso fique só entre nós.
Casa dos Dávila/ Interior/ Cozinha.
Bento chega: Ai que dia horrível, eu me sinto mal quando vou a enterros, me dá uma ânsia de vômito….
Anna põe sua touca: Vou na novena, esquenta a comida depois. O Éssio ainda não chegou, deve estar na casa de algum amigo.
Bento, cansado: Esquento sim…- Uma buzina começa a tocar insistentemente na frente da casa.
Anna, zangada: Quem será o mal educado?
Ela e Bento saem, Noronha está com o carro estacionado em frente a casa.
Bento, alegre: Noronha!
Anna: Aposto que vai querer jantar todo dia aqui…
Noronha abraça o pai: Como vai? Vim te deixar um presente especial aqui, que eu te devia há anos…
Bento, curioso: O quê? Não me diga que é dinheiro, pois isso eu não vou aceitar.
Anna, gananciosa: Burro se não aceitar, esse aí tem dinheiro que não cabe no bolso!
Noronha mostra a chave do carro: Esse é o presente, o carro!
Bento, surpreso: O CARRO? Não precisa, Noronha, eu nem uso tanto assim, não tenho mais necessidade igual antigamente.
Noronha coloca a chave em sua mão: Aqui, pai! Ele é seu e não aceito um NÃO como resposta, esse carro comprei especialmente pra você, eu levei o seu naquela época e nunca consegui te dar outro, use e abuse.
Bento, feliz: Obrigado, obrigado mesmo!
Noronha recusa: Não quero um “obrigado”, isso não é mais do que a minha obrigação, quero que me prometa que vai usar ele, de coração!
Bento o abraça: Filho, eu vou usar sim, esse carro é lindo, jamais imaginei ter um desses.
Noronha, contente: É seu agora, pai, de coração.
Caio sai do carro: Surpresa!
Bento o abraça: Meu neto amado!
Noronha, animado: Dá uma volta com ele, pai, estreie o seu carro em grande estilo, desfile ele pra toda a vizinhança.
Bento porém fecha a porta: Primeiro eu vou terminar de esquentar a janta, filho, mas depois prometo que dou uma volta, agora vamos entrar, vamos.
Todos entram.
Anna, chata: Carro feio, não tinha outra cor?
Bento ignora: Não liguem pra ela, querem algo?
Caio: Tô com sede- Ele se dirige a Anna- Vovó, pega um copo de água pra mim, por favor.
Anna aponta: Ali o filtro, você tem duas perninhas, graças a Deus, e pode andar, tem copo na pia.
Noronha fica visivelmente irritado.
Bento tenta ficar calmo, e pega a água: Aqui está, Caio.
Noronha pega seu telefone: Eu não posso ficar muito tempo aqui, pai, ainda tenho que ir no acerv…Digo, ainda tenho que ir em outro lugar depois daqui, buscar aquele meu amigo, o Américo.
Anna fica desconfiada.
Noronha se levanta: Espero realmente que tenha gostado do carro, ele é muito especial. Vamos, Caio.
Bento, animado: Me fala pra onde você quer ir? Me fala que eu te dou uma carona, filho, afinal eu tenho carro agora!
Noronha: Pode me deixar no centro- Eles se dirigem até a sala.
Caio se senta no sofá.
Anna, rígida: Cuidado, menino, você tá puxando o pano pra baixo…
Noronha ordena: Caio, vamos imediatamente, não somos bem vindos aqui- Ele abre a porta e sai, Caio segue o pai.
Bento olha com cara de reprovação para Anna Maria, e pega a chave do carro.
São Cristovão Hotel’s.
Jasmine está deitada na cama, quando Josélia e Figaro chegam.
Figaro: Ih, acho que ela está dormindo, vamos voltar outra hora, Josélia.
Jasmine percebe os dois: Podem entrar…
Josélia se deita na cama, perto da sobrinha: Eu percebi que desde o episódio do afogamento você anda depressiva, nem quis saber do spa…
Jasmine confessa; Eu fiquei muito abalada, tia, nunca ia me perdoar se algo acontecesse com meu filho. Mas o Noronha está certo, eu sou uma incompetente, eu quase vi meu filho morrer diante de meus olhos e não fiz nada, mas não sei o que me deu, fiquei toda arrepiada, mas não conseguia me mexer.
Josélia a aconselha: Isso não foi nada demais, Jasmine, olha pra mim: Você não tem culpa, foi um descuido apenas, e passou, temos apenas que tomar cuidado pra que não ocorra de novo…Mas você está aflita por outro motivo além desse afogamento.
Figaro se senta ao lado de Josélia: Eu percebi também, desde que chegamos aqui você não é mais a mesma, anda triste.
Jasmine se derrama em lágrimas: Eu nunca quis estar aqui, o Noronha me obrigou- Ela fica tensa- Com essas ideias de vingança contra a família dele, eu fico preocupada, eu tô com medo, tio Figaro. Medo.
Figaro, preocupado: Medo?
Jasmine: O Noronha é capaz de muita coisa, eu sei disso, e com as ideias na cabeça dele, pode ser um perigo pra todos, ninguém sabe o que pode acontecer…
Josélia, emocionada: Mas nós estamos sempre aqui, com você, e não vamos deixar o Noronha fazer nada, Jasmine, porque nós te amamos muito, nunca tivemos filho, você é como se fosse nossa…- Josélia começa a chorar- Eu te amo como uma mãe.
Figaro, também emocionado: E eu como se fosse seu pai, se o Noronha te fizer algum mal, pode falar comigo que eu dou uma lição nele, tá achando o quê? Fiz karatê, e não é porque sou velho que não consigo utilizar minhas artes marciais.
Jasmine ri: Ah, tio, só você pra me fazer rir em um momento como esse…
Josélia: Conte sempre com a gente, Jasmine.
Jasmine abraça os dois: Eu amo vocês.
Acervo de Vila Varzeônica…
Américo já remexeu em tudo, mas ainda não achou nada relevante: Engraçado, essa família parece que nem existia, não está em nenhum arquivo aqui, já me cansei de procurar- Ele nota um armário, com cadeado- A chave provavelmente está com ele- O detetive vai até Gomide, que continua dormindo por causa do remédio, e procura uma chave, acaba achando um chaveiro, e testa uma por uma no armário, até que ele abre- Interessante, esse armário contém alguns jornais de época- O detetive mexe nos jornais, e acaba achando algo que lhe surpreende.
Uma foto.
Américo, surpreso: É ela…Tenho certeza que a moça nessa foto é a mãe do Noronha, a Anna Maria Dávila!
Gomide de repente acorda: O que você tá fazendo aqui?- Ele olha no relógio- Eu dormi?- Gomide repara na foto- Você não pode mexer nesse armário, ele é confidencial e só eu tenho acesso.
Américo implora: Por favor, eu preciso dessa foto, é pra investigação que estou fazendo!
Gomide não acredita: Por acaso aí tem algum palhaço de circo? Me dá essa foto, ela é do acervo pessoal…Não posso perde-la.
Américo: Não posso…Preciso dessa foto.
Gomide saca uma arma: Me dá ou eu te mato, fotografo de araque!
Américo, impressionantemente dá um chute que lhe arranca a arma e sai correndo com a foto.
Gomide: Volta aqui, infeliz!- Ele sai correndo atrás do detetive.
Américo passa do portão e sai correndo pelas ruas do centro, até que se esconde atrás de uma estatua na praça Principal.
Américo: Essa foi por muito pouco…Mas eu consegui uma foto da mãe do Noronha, e atrás ainda está escrito algo- Ele coloca os óculos- Com muito amor, para a minha adorada Alizia- Ele tira os óculos- Alizia? Alizia?!
Termina o capítulo 21.