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Dia Especial

Dia Especial – Capítulo 1

CAPÍTULO 1

São Paulo, ano de 2016.

Passam-se cenas de pessoas andando pela cidade; carros indo e vindo; o dia amanhecendo e escurecendo.

Cena 1 – Clínica oftalmológica. Ibirapuera. Manhã.

Gilda: Em dentro de um mês a minha vida mudou completamente, doutor. Me afastei do meu cargo de professora. – Ela faz uma pausa. – Estou impossibilitada de fazer muita coisa que fazia antes, e tenho ciência de que tudo isto que estou passando é por culpa minha.

Dr. Caio: Eu não posso mentir para você. E tenho que admitir que teve mesmo uma parcela de culpa pela diabetes ter afetado a sua visão, pois pelo que me disse, foi diagnosticada há dois anos. – Ele olha atentamente para Gilda. – Sabia muito bem que não podia consumir certos tipos de alimentos porque acabaria agravando a doença.

Gilda: Sim, eu sabia. Meu médico havia deixado bem claro que meus hábitos alimentares deveriam ser mudados, porém, nunca pensei que poderia ficar cega.

Dr. Caio: Pois é, Gilda. Você brincou com a sua saúde, assim como muitos por aí fazem, e agora está vendo as consequências disto. Eu queria muito te dizer que a sua cegueira é reversível, e que com algumas cirurgias você poderia voltar a enxergar. Mas infelizmente não podemos fazer mais nada.

Gilda: Então eu não enxergarei nunca mais, é isso mesmo? – Ela pergunta com a voz abalada. – Viverei para sempre nesta escuridão na qual me encontro já faz um mês?

Dr. Caio: Sinto em lhe dizer isso, mas sim. Não há mais nada que possamos fazer.

Gilda: Doutor Caio. – Lágrimas começam a escorrer o rosto de Gilda. – Será que o senhor poderia me levar até o meu noivo? Não estou acostumada com esta bengala desdobrável.

Dr. Caio: Farei isso com imenso prazer. – Ele se levanta e ajuda Gilda a sair de seu consultório. Na sala de espera é possível ver Bismarque sentado lendo um jornal e checando seu relógio. – Então é isso, Gilda! Agora é se cuidar e adaptar-se a sua nova realidade.

Gilda: Muito obrigada por tudo, doutor. E creio que logo me adaptarei a ela.

Bismarque: Muito obrigado, doutor. – Ele fala ao perceber a presença de ambos. – Pode deixar que agora eu me responsabilizo.

E então Gilda larga o braço de Caio para pegar no de Bismarque.

Dr. Caio: Ela precisará muito de você e de toda a família para enfrentar tudo isso que está vivendo. – Ele sussurra no ouvido de Bismarque. – Cuida bem dela.

Bismarque: Deixe comigo. – Ele sussurra de volta. Os dois se despedem e então Gilda sai com o marido.

No carro…

Bismarque: Estou muito atrasado para o trabalho. – Ele não para de olhar o relógio.

Gilda: Desculpa, meu amor. Creio que estou me tornando um problema na sua vida, não é?

Bismarque percebe a tristeza na feição da mulher, algo parece perturbá-lo e ele começa a suar.

Gilda: Bismarque? Estou cega, mas sei que você ainda está aí. Até porque o carro está em movimento: alguém precisa estar dirigindo.

Bismarque: Quer saber de uma coisa? – Ele engole seco e sua bastante. – Eu não estou mesmo mais suportando isso, Gilda. Tá difícil para mim aceitar que… a minha esposa nunca mais vai voltar a enxergar. – Ele olha com dó para a mulher. – Não sei se vou aguentar por muito tempo ser praticamente uma babá para você. – Ele fecha os olhos, sentindo o peso de suas palavras.

Gilda: Por que você não me disse isso antes? – Ela pergunta triste. – Não estou acreditando que me tornei esse peso imenso para você.

Bismarque: Depois que você ficou cega as minhas obrigações aumentaram, e por conta disso me atraso para o trabalho, meu rendimento lá vai de mal à pior. – Ele fala com dificuldade. – Não tô mais aguentando, Gilda. Não mais.

Gilda então não consegue falar mais nada. Ambos ficam quietos e Bismarque não para de olhar a moça, que está ao seu lado bastante abalada com o que escutara.

Cena 2 – Casa de Antony. Chácara Santo Antônio. Manhã.

Valentina: Eu gosto muito de você, e pode ter certeza que não ficará livre de mim nunca. – Ela diz ao beijar Antony. – Quero ser muito feliz ao seu lado. Não consigo mais ver você como meu patrão.

Antony: Que bom saber disso, muito bom. – Ele diz se afastando de Valentina. – A única coisa que nos impede de sermos felizes por completo é o seu casamento, que você não quer terminar de maneira alguma. – Ele então olha no fundo dos olhos dela. – Já estou sendo canalha demais ao manter um caso contigo. Eu gosto muito de ti, mas antes de mais nada é preciso que você se divorcie para que então possamos ser felizes juntos.

Valentina: Será mesmo que vamos ser felizes? – Ela engole seco. – Pois a impressão que tenho é que você me vê somente como a babá do Thales. Para você ter uma ideia, nesses dois meses que temos um caso nunca fomos para a cama.

Antony: Valentina, você escutou o que disse? – Ele fica estarrecido. – Como posso ir para a cama com você? Estou tentado abrir os seus olhos para isso mesmo: não podemos ter uma relação mais intensa com você estando casada.

Valentina: Por que não, Antony? Você já me beijou, já me fez juras de amor, já me deu presentes. Não percebe que somos felizes assim?

Antony: Eu também não sei como fiz isso. Devo estar tão perdidamente apaixonado por você que estou passando até mesmo por cima dos meus princípios, meus valores.

Valentina: Não vem com essa, Antony. Na hora de trair o meu marido, todo mundo soube, agora enjoou de mim e vem com esse papinho? Por favor, comigo não cola. – Ela fala irritada.

Antony: Você está entendendo tudo errado, Val. Não é nada disso. Só não quero mais ter que dividir você com o Luan, não quero mais ser seu amante, eu quero mais do que isso. – Ele pega nas mãos dela. – Depois que a mãe do Thales morreu, você se tornou a mulher da minha vida.

Valentina: Então por que você fica aí querendo arranjar confusão comigo? O que importa aqui é o nosso amor, o resto é detalhe. – Ela dá um selinho nele. – Eu quero muito você para mim.

Antony: As coisas não são bem assim, meu bem. O seu marido com certeza ficará possesso contigo se descobrir que estamos juntos. Não seria melhor você se divorciar logo e colocar um ponto final nessa história?

Valentina: Antony, deixa que do Luan cuido eu. Deve ser as suas férias que está lhe fazendo mal, vive sempre rodeado de ética lá no hospital que resolveu aplicar isto em casa.

Antony: Confesso que sinto falta mesmo lá do hospital, de realizar cirurgias, ajudar as pessoas. Mas isto não tem nada a ver com o que estamos conversando. Enfim, vou tomar um banho. Será que depois você pode trazer a toalha para mim?

Valentina: Não fui contratada para isso. – Ela brinca. – Meu trabalho aqui é cuidar do Thales.

Antony: Tudo bem então. Vou contratar outra pessoa para fazer isso. – Ele sorri e sai.

Valentina: Ai meu Deus! – A feição de seu rosto evidencia desespero, angústia. – Eu amo o Antony, mas também amo o Luan. Não quero perder nenhum dos dois, e o pior é que agora o Antony deu para me cobrar o divórcio. O que eu faço? O que eu faço? – Ela olha para o teto, parecendo estar sem saída. – Ele não vai ficar me esperando por toda a vida, logo o Antony se cansa de mim e encontra outra para me substituir caso eu não me divorcie o quanto antes.

Cena 3 – Apartamento de Gilda. Morumbi. Manhã.

Gilda: A sua atitude foi desprezível, Bismarque. Por que você não abriu o jogo comigo? Deveria ter dito que estava tendo atrasos e broncas no trabalho por minha culpa. Mas não, preferiu guardar tudo e jogar na minha cara somente agora.

Bismarque: Eu pensei que sua cegueira fosse reversível, e logo você estaria enxergando novamente. Porém, isto não vai acontecer. Você ficará cega para sempre, Gilda. Terei que dedicar tempo a você, pois a minha querida noiva não consegue fazer nada sozinha. – Ele percebe o que disse e então lágrimas descem o seu rosto.

Marcos escuta a discussão dos dois lá da cozinha e sai correndo para ver o que está acontecendo.

Gilda: Sim, eu não consigo mais fazer quase nada sozinha mesmo. Mas não é preciso que você dedique mais do que o necessário para me ajudar, pois eu tenho meu irmão para isso, meu cunhado.

Bismarque: Sim, mas eles também têm a vida deles. E sou eu o seu noivo, sou eu quem tem que estar com você na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. – Ele faz uma pausa. – Só que eu confesso que não sei se aguentarei tudo isso.

Gilda: Na alegria e na tristeza? Na saúde e na doença? Não sei se você se lembra, mas nós não somos casados. Por que mesmo? Porque você disse que deveríamos esperar um pouco mais. – Ela faz cara de dúvida. – Claro, esperar para saber se eu voltaria ou não a enxergar. Seu encanto por mim diminuiu quando fiquei cega, agora que sabemos que é irreversível deve ter acabado de vez.

Bismarque: Não fala assim, não é nada disso. Se não nos casamos ainda é porque…

Marcos: Porque você não tem peito para ter que “carregar” a sua mulher nas costas agora que ela ficou cega. – Ele interrompe a fala de Bismarque. Marcos se aproxima de Gilda e abraça a irmã.

Bismarque: O que você está dizendo? Eu já estou com a Gilda faz seis anos, não é à toa que noivamos. Ela é a mulher da minha vida. Só não consegui digerir ainda esse turbilhão.

Marcos: Você não digeriu e nem vai. Eu gosto muito de você, Bismarque. Mas percebi que desde quando a Gilda perdeu a visão, o seu tratamento para com ela tem mudado.

Bismarque: Mudei porque estou cansado, a minha exaustão está me consumindo, o meu corpo pede por férias, por descanso. Não mudei porque o meu amor por ela acabou, até porque isto nunca vai acontecer.

Marcos: E o que é que você tanto faz que não consegue descansar nem um pouco? Desculpa, mas para mim isso daí é conversa para boi dormir. Ou vai me dizer que quem está te cansando é a Gilda?

Bismarque: Marcos para com isso. Você só está piorando ainda mais a nossa situação, eu amo a Gilda. E não sei se você se lembra, mas quando ela acordou naquela cama de hospital, quando soube que havia ficado cega, eu estava lá e provei o quanto a amava, não a deixei um segundo sequer.

Marcos: Lembro-me bem deste dia. Assim como lembro que foi neste mesmo dia que você prometeu que realizaria tudo que ela quisesse. E o que foi mesmo que ela pediu?

Gilda: Pedi para que nós nos casássemos logo. – Ela responde.

Bismarque: Mas é isso que… – Ele respira fundo. E se cala no meio da fala.

Marcos: Todo o respeito e admiração que eu tinha por você acabaram. Para mim você não passa de um CAFAGESTE, FRACO, UM SER DESPREZÍVEL. – Ele aumenta o tom da voz.

Bismarque: E VOCÊ UM VEADO. – Ele explode. Depois leva as mãos até a cabeça. – Deixa eu ir trabalhar, antes que as coisas piorem por aqui. – Ele sai apressado.

Gilda: Você não tinha nada que se intrometer na nossa discussão, Marcos. Sei que não deve ser nada fácil para o Bismarque. Agora é como se ele enxergasse por mim, ele tem feito tudo para me agradar, é muita pressão na cabeça dele.

Marcos: Você ouviu o que ele falou para mim, Gilda? Ele me ofendeu. Sou homossexual mesmo e com muito orgulho, não sou nenhum veado não! Até porque veado é um animal. E nada de defender aquele crápula, eu estava somente observando ele durante todo esse tempo.

Gilda: Ele mudou faz tanto tempo assim? Só consegui perceber algo hoje quando ele disse que eu sou um fardo na vida dele.

Marcos: Mudou, e como mudou. Está menos risonho, se estressa com coisa boba, muito mudado. Não é o mesmo de um mês atrás.

Cena 4 – Casa de Antony. Chácara Santo Antônio. Manhã.

Valentina: Aqui está a toalha. – Ela bate na porta do banheiro, que fica no quarto de Antony. – Não precisa contratar ninguém para fazer isto não, pode deixar que eu mesma faço.

Antony coloca um olho na fresta da porta.

Antony: Bom saber que a babá do meu filho é multiuso. – Eles sorriem e Antony pega a toalha da mão dela. – Muito obrigado.

Valentina: Quando será que eu vou poder dormir nesta cama abraçadinha com você? – Ela se joga na cama de Antony. – Confesso que estou ansiosa para que isso aconteça logo.

Antony: Também estou muito ansioso para que esse dia chegue. – Ele sai do banheiro com a toalha amarrada na cintura. – E espero que não demore muito.

Valentina: Já até entendi o que você quis dizer. – Ela se levanta, abandonando sua expressão de felicidade. – De novo esse papo de divórcio.

Antony: Você sabe que eu não me deitarei com você até que tenha terminado tudo com o seu marido. – Ele se senta na cama. – Acho que já estou sendo covarde demais só de te beijar todos os dias, agora ir para a cama… desculpa, mas somente quando você não tiver mais nada com o Luan.

Valentina: Impressionante como você empacou neste assunto. Mas tudo bem, deixa eu voltar ao meu serviço e ver o que é que o Thales está aprontando. – Ela se vira para sair do quarto, mas Antony a pega pela cintura.

Antony: Eu te amo muito, Valentina. Quero viver contigo para toda eternidade, mas para que isso aconteça não deve haver uma terceira pessoa entre nós.

Valentina: E o Thales?

Antony: Você sabe muito bem a quem estou me referindo, não se faça de tonta. – Ele a vira e os dois ficam com os rostos grudados. – Até porque de tonta você não tem nada. Tanto que quer ter dois homens ao mesmo tempo. – Ele a beija.

Thales: Desculpa interromper os pombinhos. – Ambos se assustam com a voz do garoto. – Não queria atrapalhar vocês.

Valentina: O que é isso meu amor? Você nunca nos atrapalha. – Ela dá um beijo na bochecha de Thales.

Thales: Mas sei que desta vez eu acabei atrapalhando. – Ele sorri. – Não quero tomar muito o tempo de vocês, então eu vou ser rápido.

Antony: Aconteceu alguma coisa, filho? – Ele se preocupa.

Thales: É que eu acabei de descobrir que a professora Gilda não vai mais dar aula para a gente este ano. – Ele fala com a voz triste. – Estava falando com os meus amigos pelo celular, e acabei descobrindo que mês passado ela foi lá na escola comunicar que não poderia mais dar aula este ano. Ou seja, já comecei dois mil e dezesseis com uma péssima notícia.

Antony: Oh, meu filho. Sei bem o quanto você amava a sua professora. Mas uma hora ela acabaria mesmo saindo da escola, ou trocariam de professor. A sua professora não iria dar aula para você até que terminasse o ensino médio.

Thales: Eu sei disso, papai. Mas não estou triste somente porque não terei mais aula com a professora Gilda. – Ele se aproxima do pai. – Estou triste também porque ela só saiu da escola por conta de uma doença que ela tem, que evoluiu e a deixou cega.

Valentina: Meu Deus! – Ela leva as mãos até a boca, assustada. – A Gilda está cega? Me lembro de quando eu ia nas suas reuniões de pais, ela era sempre tão doce, alegre. Pobre coitada.

Thales: Pois é, Val. Tive um ano excelente com a professora Gilda em dois mil e quinze. Ela estaria conosco de novo agora na quarta série, porém, isso não vai mais acontecer. Ao que parece ela já foi até à escola assinar toda a papelada necessária para a sua saída.

Antony: É, ano passado foi um ano bastante corrido para mim e não pude comparecer em nenhuma reunião sua. Por conta disso não sei quem é a professora Gilda direito, mas sinto muito por ela. Não é nada fácil ficar cega de uma hora para outra.

Thales: Ela era como uma mãe para mim. Eu gostava, gosto, e sempre vou gostar muito dela. – Ele se levanta. – Era só isso mesmo que eu queria falar com vocês: compartilhar a minha tristeza. – Ele sai.

Valentina: Tadinho dele. – Ela faz cara de choro. – Não gosto de ver o Thales triste, fico com o meu coração partido. E lamento também pelo caso da Gilda, ela não merecia algo tão banal.

Antony: Bem-vinda à vida, Valentina. Bem-vinda à vida. – Ele fala triste. – Lembro-me que o Thales todos os dias falava dela. Esse deve ter sido um grande baque na vida dele e de todos os outros alunos que deviam amar a professora.

Cena 5 – Apartamento de Gilda. Morumbi. Tarde.

Marcos: Após todo o circo que o Bismarque armou hoje cedo, o que é que você pretende fazer? Vai continuar com um homem que te acha um peso na vida dele?

Gilda: Eu sinceramente não sei o que irei fazer, Marcos. Preciso conversar com o Bismarque, mas quando estivermos com as nossas cabeças frias. Sei que ele pode ter falado bastante coisa errada com o calor do momento, coisas que ele não gostaria de ter dito. Assim como eu também disse.

Marcos: Eu não acredito nisso. Você ainda cogita em perdoá-lo? Se fosse eu já tinha dado um pé na bunda dele. Depois do Bismarque ter me ofendido, acho que nunca mais olharei para ele como antigamente.

Gilda: Sei que você só está falando isso da boca para fora, pois se tivesse mesmo coragem de dar um pé na bunda de alguém, já teria dado no pobre do Raí.

Marcos: Pera aí, o Raí veio falar alguma coisa de mim para você? Pois eu não me lembro de ter comentado nada contigo. – Ele nota.

Gilda: Você sabe muito bem que eu tenho o Raí como um irmão. Ele desabafa comigo, assim como eu desabafo com ele. Acho que você não poderia ter me dado cunhado melhor!

Marcos: Ah, para com isso! O Raí está me decepcionando de uma forma que eu tenho até vergonha de lhe contar. Se você soubesse o que eu venho passando nesse meu namoro.

Gilda: Para com isso você. O que é que o Raí tem feito demais para lhe deixar tão decepcionado assim?

Marcos: Ele não tem me dado carinho, atenção, nem sei mais o que é isto. Lá em casa nós só vivemos discutindo. Não tem nem mais sexo. – Ele fica cabisbaixo. – Acho que os nossos três anos de namoro estão se desgastando.

Gilda: Não acredito nisso. Mas você também tem que entender o lado dele meu irmão. – Ela pega nas mãos de Marcos. – O Raí é médico, uma profissão bastante estressante e cansativa.

Marcos: E por que foi que ele escolheu ser médico então? Se ele sabia que não ia aguentar, há tantas outras profissões por aí.

Gilda: Oh, meu Deus! Olha só o que você está dizendo. – Ela sorri. – Você falou que precisa de carinho, atenção, mas será que você tem dado isso ao Raí?

Marcos: Mas se ele não me dá carinho e atenção por que é que eu devo dar?

Gilda: Ele deve pensar o mesmo que você, sabia?

Marcos fica sem graça.

Gilda: Vocês dois precisam sentar e conversar.

Marcos: Não tem nada o que conversar não, Gilda. Se é um relacionamento turbulento o que ele quer, então é isso o que ele terá. Não sou igual você que fica correndo atrás não.

Gilda: Eu só corro atrás quando percebo que devo fazer isso. Porém, o meu querido irmão não corre atrás de ninguém por ser muito orgulhoso.

Marcos: Quer saber de uma coisa? Tem tantos homens no mundo mesmo, logo encontro outro que possa me satisfazer na cama, e de quebra, ainda me proporciona carinho e atenção.

Gilda: Não admito que você pense assim. – Ela escuta a respiração de Marcos por alguns segundos. – Por acaso você está traindo o Raí, Marcos?

Marcos: Não, eu não estou traindo o Raí. Mas só que esperar demais cansa. E não venha com seu papinho de irmã mais velha não porque eu não quero escutar. – Ele se levanta nervoso.

Gilda: Eu não vou lhe dar conselho algum, até porque é perigoso entrar num ouvido e sair pelo outro.

Marcos: Ai, vamos deixar o Bismarque e o Raí para lá. – Ele ajuda a irmã a se levantar. – Vamos dar um passeio no parque Villa-Lobos, você está precisando receber um ventinho nesse rosto.

Cena 6 – Casa de Antony. Chácara Santo Antônio. Tarde.

Antony: É isso mesmo que eu percebi? Vocês estão planejando fazer uma surpresa para a professora de vocês? – Ele está atrás de Thales, vendo o filho trocar mensagens com os amigos pelo celular.

Thales: Não é uma ótima ideia, pai? Falar que ainda há algumas papeladas pendentes lá na escola. Somente assim para ela ir até lá sem desconfiar de nada.

Antony: É mesmo uma ótima ideia. Tenho certeza que isso nem passará pela cabeça dela. E o que é que vocês pretendem fazer?

Thales: Pretendemos fazer uma festinha de despedida. Cada um leva um prato de comida ou bebida, daí depois passamos uns vídeos falando sobre a professora.

Antony: Nossa que legal! Tenho certeza que ela vai adorar. – Ele nota a felicidade do filho ao preparar uma surpresa para Gilda.

Valentina: Antony, já estou indo. – Ela surge. – Já está no meu horário.

Antony: Eu vou te levar até o portão.

Valentina: Adeus, Thales! Até amanhã. – Ela dá um beijo na bochecha do menino.

Antony: Vamos. – Antony acompanha Valentina até o portão. – Não esquece de pensar no que eu te falei, hein!

Valentina: Ai não. Até quando você vai continuar com essa ideia?

Antony: Até você perceber que é bem mais justo você se divorciar para que então possamos ser felizes juntos. – Ele beija a boca de Valentina. – Eu já disse que te amo hoje?

Valentina: Sim, você já disse. Mas acho que falou mais sobre divórcio. – Ela fala, visivelmente irritada.

Antony: Ah, meu amor. Não quero ver você brava comigo. Caramba, será que é pedir muito? Só quero ser feliz com você sem que o Luan esteja entre nós, poxa!

Valentina: Você não se importava tanto com isso, Antony. Por que logo agora? Estávamos indo tão bem.

Antony: Porque eu percebi que eu te amo muito e que não consigo mais ficar sem você. Sem falar que o Thales gosta muitíssimo de ti. – Ele acaricia o rosto dela. – Já somos completamente uma família.

Valentina: Te entendo. – Ela suspira fundo. – Tá, agora deixa eu ir. – Ela beija Antony. – Eu também te amo muito, e estou disposta a viver do seu lado para sempre.

Antony: Sério? Então você vai pedir o divórcio para o Luan? – Ele se alegra.

Valentina: Eu vou pensar. Vou pensar.

Antony: Para quem não queria o divórcio, pensar sobre o caso já é um começo. – Ele abraça Valentina. – Prometo te fazer a mulher mais feliz deste mundo.

Cena 7 – Parque Villa-Lobos. Alto de Pinheiros. Tarde.

Marcos: Não falei que ia te fazer bem receber um ventinho no rosto? – Ele fala ao observar Gilda se deliciando com a brisa, que faz até com que seu cabelo fique um pouco agitado. – Sei que sempre tenho as melhores ideias, mas confesse que vir para cá foi a melhor.

Gilda: Para de ser convencido, Marcos. – Ela sorri. – Confesso que estou gostando muito de sentir este ar leve, escutar as vozes das pessoas. Isso torna minha escuridão eterna menos cansativa.

Marcos: Escuridão eterna. Que jeito mais estranho de classificar a sua cegueira. – Ele analisa o rosto da irmã. – Como você está se sentindo? Digo, com relação ao seu trabalho.

Gilda: Dói saber que eu nunca mais verei os meus lindinhos. Sentirei tanta saudade de cada um deles. – Ela fica com a feição triste. – Aquela algazarra na sala, aquela falação sem fim.

Marcos: Oh, minha irmã. – Ele a abraça. – Tudo bem que você nunca mais os verá novamente, mas poderá senti-los, escutá-los. Sei que não é a mesma coisa, porém, alivia um pouco a dor de não poder vê-los mais.

Gilda: É, você tem razão. Mas dói saber que não terei mais aquela rotina de antes, sabe? – Ela respira fundo. – Enfim, só agradeço a Deus por ter me proporcionado momentos tão incríveis ao lado dos meus pequenos.

Marcos: Você sempre teve um carinho muito grande pelos seus alunos, mas estou percebendo que a turma do ano passado foi a que lhe deixou mais saudades.

Gilda: Não costumo diferenciar os meus alunos. Gosto de tratá-los como uma coisa só. Mas confesso que a minha terceira série do ano passado deixou bastante saudade. Tanto que peguei eles para dar aula este ano também, mas em dezembro acabei ficando cega e… fui obrigada a largar a minha profissão, a deixá-los.

Marcos: Tenho certeza que eles também irão sentir muita saudade de você. – Marcos abraça a irmã e o seu celular começa a tocar. – Quem será uma hora dessas? Será que não respeitam mais um momento em família? – Ele brinca e Gilda ri. – Alô! – Ele fica misterioso. – É claro que está confirmado. Hoje de noite estarei lá. – Ele desliga.

Gilda: Quem era? – Ela pergunta com a voz séria.

Marcos: Era… era… um amigo meu. É que eu combinei de fazer uma visita para ele hoje, e ele ligou para saber se irei mesmo.

Gilda: Você acha que me engana, Marcos? Eu posso não estar lhe vendo, mas continuo sabendo quando está falando a verdade ou mentindo.

Marcos: Você não sabe o que está falando, Gilda. – Ele se levanta. – Vamos para casa que já está ficando tarde e eu preciso sair hoje ainda.

Gilda: Marcos, eu vou perguntar só mais uma vez.

Ele ajuda a mulher a se levantar.

Gilda: Você está traindo o Raí?

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

https://www.youtube.com/watch?v=vYUW93OKnxg

8 comentários sobre “Dia Especial – Capítulo 1

  • Parabéns. Ótimo contexto e a forma estrutural de sua história, Muito bem escrita e montada. Personagens e desenvolvimento de cenas muito bem apresentados. Digno de um ‘roteiro pra televisão’.
    Só que precisa tomar cuidado no tamanho dos capítulos e em seu desenrolar. Como este capítulo foi grandinho, e teve partes que desprendia a nossa atenção com diálogos repetitivos, como no caso do divórcio, ficou meio enjoativo. Mas é só isso mesmo.
    Te acho já um grande escritor, parabéns por seu vocabulário, não repetiu muitas formas de expressões. E pelo jeito, aprenderei um pouco contigo também.
    Vamos ao próximo capítulo … (só 12? poderia ter mais rsrs),

    • Igor, muito obrigado pela crítica. Irei melhorar isso em meus futuros capítulos, ao menos tentarei. Fico feliz que tenha gostado do contexto, forma estrutural, escrita, personagens e desenvolvimento das cenas.
      Quanto ao tamanho dos capítulos… são extensos por conta da expressividade que gosto de dar aos personagens. Costumo detalhar bastante as ações deles e por isso os capítulos acabam ficando longos. Mas é algo que aprenderei a domar com o tempo, pode ter certeza disso.
      Não era a minha intenção deixar as cenas do divórcio enjoativas, queria somente deixar bem claro que o Antony pressiona demais a Valentina para que ela peça logo o divórcio. E quando a gente quer uma coisa, não desistimos tão fácil, né? Mas compreendo que ficou mesmo muito repetitivo.
      Agradeço pelo “grande escritor”, e espero que aprenda mesmo bastante coisa com o meu texto.
      Pois é, são somente 12 capítulos. Mas são 12 bons capítulos kkk
      Continue acompanhando e comentando. E mais uma vez: muito obrigado mesmo!!

  • Domingos do céu, você como fã de uma web minha? NUNCA PENSEI kkkk
    Ai que vergonha! Não tinha percebido o erro kkk e que bom que recompensei escrevendo um capítulo incrível, segundo o que tu mesmo disse.
    Gilda e eu ficamos contentes por você ter gostado da carga dramática da história dela.
    Bismarque também gostou de saber que você não está contra as atitudes dele, e era essa mesmo a minha intenção: não quero que o crucifique.
    Tenho certeza que a história do Marcos também fará a web “rodar”, ele é mesmo bastante cativante.
    Clichês quando são bem aplicados podem dar uma boa história para contar, porém, resolvi deixá-lo parcialmente de lado ali na história de Antony e Valentina.
    Muito obrigado mesmo pelo comentário, e continue acompanhando!! Tenho certeza que essa história ainda surpreenderá você, ficará ainda mais encantado.

  • 🙂 Excelente história Rodrigo! Virei super fã.
    Logo quando comecei a ler, anotei este erro de coerência textual: “o dia amanhecendo e escurecendo”, mas posso dizer que ele é irrisório quando lemos o capítulo completo. Você conseguiu criar uma carga dramática na medida para a história da Gilda. Ela é um personagem que a gente já gosta no início. A decisão do Bismarque sinceramente, me deixou comovido: claro que é sacanagem o que ele está fazendo com a Gilda, mas a cena foi tão bem escrita que a gente não tem ódio dele e acaba entendendo (não concordando, mas entendendo) as justificativas dele. O Marcos é outra pessoa cativante e que tem tudo para fazer esta história “rodar”.
    E lá no núcleo do Antony e da Valentina, simplesmente, adorei! Põe fim a qualquer clichê de relacionamento entre empregada e patrão. Ele pedir para que ela se divorcie é algo inédito (em relação ao meu conhecimento literário), mas dá pra entender que ele a ama e tudo se justifica.

    Encantado com DIA ESPECIAL. Muito sucesso!

  • Ótima Estréia. Ja me simpatizei com a protagonista Gilda, tadinha sofrendo com essa cegueira e ainda escuta essas palavras do noivo, que tal merece mais ela. Tô com o Marcos ela tem que meter o pé na traseira dele e seguir sua vida. Gostei da relação fraterna de Marcos e Gilda 🙂
    Muito interessante a história de Antony e Valentina acho que vai render muito isso. Ja quero a entrada da Gilda na vida dele rs 😛
    Parabéns pelo capítulo Rodrigo muito bom 😀

    • Muito obrigado, Wags!! Fico feliz que tenha gostado do capítulo.
      É a Gilma é o tipo de protagonista que nos apaixonamos desde a primeira cena kkk e por enquanto o Bismarque não está merecendo mais o amor dela mesmo. Viu só o que ele disse a ela?
      Sim, Marcos e Gilda formam um casal de irmãos perfeito! Muito amor envolvido entre os dois.
      Gilda entrará com tudo na vida de Antony e Valentina, resta saber qual será o rumo desta história.
      Continue acompanhando, my friend! Creio que não vai se arrepender. E agradeço pelo comentário.

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