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O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 14 (Penúltimo Capítulo)

Capítulo 14 (Penúltimo Capítulo)

O Papel Me Dá Asas

 

 

   Cena 01 – Orfanato Coração de Mãe. Sótão.

Ângelo: Eu fiz uma pergunta, por que tá mexendo nisso?

Gabriel: Espera aí, espera aí, essas coisas são suas?

Ângelo, pegando o caderno da mão de Gabriel: E daí se forem? O que você tá fazendo aqui?

Gabriel: Eu vi você subindo aqui e me perguntei o que tinha pra ver num sótão como esse. Aliás, por que você vem aqui?

Ângelo, guardando o caderno: Isso não é da sua conta, com que direito você sai por aí seguindo os outros?

Gabriel:Me diz, esses livros são mesmo seus? Você gosta de ler, é isso?

Ângelo: Olha Gabriel, cai fora daqui, anda!

Gabriel: Por que você tem vergonha de me dizer? Você vem aqui ler é? Você esconde essa caixa?

Ângelo: O que te interessa?

Gabriel: Ah francamente, como você quer ter amigos agindo assim? Pode falar, eu não vou espalhar, até porque, não tem porque ter vergonha.

Ângelo puxa uma cadeira e se senta.

Ângelo: Sim, são meus, todos.

Gabriel: E por que você esconde?

Ângelo: Porque é ridículo.

Gabriel: Do que você tá falando?

Ângelo: Você não me entende. Eu sou sozinho, ninguém gosta de mim ou me dá atenção, esses livros e essas histórias são minha distração, quando eu leio um é como se eu me transportasse pra um lugar onde as coisas pra mim são melhores.

Gabriel se senta: Puxa, que poético.

Ângelo: Isso, vai debochando de mim.

Gabriel: Não, é sério, eu acho isso legal. Não tem porque ter vergonha de gostar de ler, isso é porque esse hábito não é mais tão comum?

Ângelo: Você sabe como eu sou, eu sou meio durão, como acham que reagiriam se soubesse que eu leio Crepúsculo?

Gabriel: Talvez não te achassem tão babaca como você costuma ser.

Ângelo: Você tem um jeito diferente de animar as pessoas.

Gabriel: (risos). Mas onde você conseguiu esses livros?

Ângelo: Nas livrarias, eu economizo meu dinheiro do lanche pra poder comprá-los quando estou interessado.

Gabriel: E há quanto tempo os guarda aqui?

Ângelo: Faz tempo, quase todos os dias venho aqui pra ler.

 

   Cena 02 – Sótão. Horas depois. Noite.

Mais tarde, Gabriel e Ângelo passaram a tarde inteira no sótão conversando. Já é noite, está escuro no sótão, então Ângelo ascendeu uma vela e a colocou em cima de uma caixa em um pequeno pires para os dois conseguirem continuar a conversa.

Gabriel: E você é fã de algum escritor em especial?

Ângulo: Eu gosto do Stephen King, as histórias deles são de arrepiar, eu adoro suspense, meu favorito é “O Iluminado”.

Gabriel:É, eu também gosto muito do filme.

Ângelo:É, o filme realmente é muito bom, mas o próprio King não gostou, foram feitas mudanças.

Gabriel: Meus filmes favoritos do Stephen são “Conta Comigo” e “À Espera de Um Milagre”.

Ângelo: Realmente são bem tocantes, nem parecem ter sido escritas por ele.

Gabriel: É. Ângelo, me diz uma coisa, o que são aqueles textos naquele caderno que tava junto dos livros na caixa?

Ângelo, sem jeito: Aquilo? Não interessa, não é nada demais.

Gabriel: Se não é nada demais, eu posso ver?

Ângelo, irritado: Não, aquilo é íntimo!

Gabriel: Ah qual é? A gente ficou a tarde inteira conversando e você ainda vai bancar o durão comigo?!

Ângelo: É diferente.

Gabriel: É diferente por quê? É seu diário? Tem coisas escritas lá que você não devia ter feito?

Ângelo, irritado: São minhas histórias, que eu faço, tá bom?

Gabriel: Suas histórias? Quer dizer, que você mesmo escreveu?

Ângelo: É, isso mesmo.

Gabriel:Puxa, então além de leitor você também é escritor? E o que você escreve?

Ângelo: Muitas coisas, histórias que vem da minha mente, frases e citações, e às vezes meus sonhos e planos pro futuro.

Gabriel: Sério?

Ângelo:É, uma vez eu li um livro chamado “O Sucesso Não Vem Por Acaso”, e nele dizia que um ingrediente bom para o sucesso é você pôr no papel suas ideias e seus planos. Pode não fazer muito sentido, mas segundo algumas pesquisas, isso é uma boa estratégia para se conseguir o que quer na vida.

Gabriel: E quais seriam seus planos?

Ângelo, olhando pra cima: Sei lá, encontrar meus pais, ter uma família, ou quem sabe um dia publicar um livro!

Gabriel: Você gosta mesmo de escrever?!

Ângelo: Gosto, tanto quanto de ler. Quando eu escrevo e ponho minhas ideias no papel, sei lá, é como eu me sentisse livre, eu coloco meus pensamentos pra fora, faço uma coisa boa, viajo ainda mais na minha imaginação, é como se…

Gabriel: Como se um lápis e um papel te desses asas?!

Ângelo: Isso, eu sinto que eu posso voar por entre as nuvens com minhas asas de papel.

Gabriel: Realmente, eu imagino o quanto deve ser incrível voar.

Madre Luiza, ao longe: Crianças, hora do jantar!

Gabriel se levanta:É, hora do jantar. Vamos?

Ângelo: Vamos né?! A gente tá aqui há muito tempo.

Gabriel: Ângelo, o que você acha de se sentar comigo e com meus irmãos?

Ângelo: Sério?

Gabriel: Claro, por que não?

Ângelo: É, pode ser.

Gabriel: Mas comporte-se.

Ângelo: É… farei o possível.

Os dois riem. Eles saem. Sem perceber, Ângelo esquece a vela acesa em cima de uma das caixas.

De repente, um vento entra por uma brecha na janela, a vela acaba caindo. As caixas estão todas cheias de papel e os móveis e tábuas do sótão estão velhas. O sótão começa a pegar fogo.

 

   Cena 03 – Delegacia.

Paulo, Antônio e Laura entram na sala do delegado.

Paulo: Com licença, doutor delegado, precisamos falar com o senhor, é urgente!

Delegado: Pois não, sentem-se.

Paulo: Senhor, nós viemos aqui registrar uma queixa de desaparecimento.

Delegado: O que aconteceu?

Laura, nervosa: Nossos filhos doutor, nossos filhos estão perdidos em algum lugar dessa cidade, por favor, nos ajude.

Delegado: Acalme-se senhora, me digam o que houve?

Antônio: Bem, nossos filhos desapareceram já tem um certo tempo, desapareceram não, fugiram, e nós não sabemos pra onde eles podem ter ido.

Delegado: Já chegaram a falar com amigos deles ou parentes?

Paulo: Já, mas não os viram.

Delegado: Muito bem, vocês têm fotos deles aí?

Laura abre sua bolsa e retira as fotografias.

Laura: Eles se chamam Gabriel, Felipe e Maria Luísa, dois deles tem quase 15 anos e o outro 16.

Delegado, olhando as fotos:Espere um pouco, nós já vimos essas crianças?

Paulo: Como assim?

Delegado: Há alguns dias encontramos essas 3 crianças na rua, elas estavam sujas e exaustas, disseram que eram órfãos de rua.

Laura, chorando: Oh meu Deus!

Paulo: Doutor, eu posso lhe assegurar que isso não é verdade, são nossos filhos, um dos garotos é meu e os outros dois são deles.

Delegado: Eles disseram que vocês os haviam abandonado.

Antônio: Meu Deus, isso não é verdade, nós sempre cuidamos muito bem dele.

Laura: Doutor, por favor, pra onde o senhor levou os nossos filhos?

 

   Cena 04 – Orfanato Coração de Mãe. Corredor do 2º andar.

Irmã Margarida e Irmã Isabel estão passeando pelos corredores conversando. De repente uma delas sente um cheiro estranho.

Irmã Isabel: Está sentindo este cheiro?

Irmã Margarida: Que cheiro?

Irmã Isabel: Parece cheiro de fumaça, ou de algo queimando.

Irmã Isabel: Agora que você falou, também estou sentindo, parece que vem do outro corredor.

Irmã Margarida: O que estará acontecendo?

As duas seguem o cheiro de fumaça e vão até o fim do corredor.

Irmã Isabel: Está aqui, mas onde?

Irmã Margarida: Isabel, eu acho que está vindo do sótão.

Irmã Margarida abre a pequena portinha no teto e desce a escada que leva até o sótão. Uma fumaça forte sai de dentro dela.

Irmã Isabel, tossindo: Oh meu Deus, o que é isso?

Irmã Margarida sobe a escada para ver o que está acontecendo. Ela coloca sua cabeça para dentro do sótão e vê que o lugar está em chamas.

Irmã Margarida grita assustada: Oh meu Deus!

 

   Cena 05 – Cozinha.

Todas as crianças estão jantando tranquilas sem fazer ideia do que está acontecendo. Em uma das mesas estão sentados juntos Gabriel, Maria, Felipe, Ângelo e Sofia.

Maria, irônica: Por essa eu não esperava, o durão do Ângelo curte romances.

Ângelo: Eu disse pra não contar, agora todos vão rir de mim.

Maria: Não, relaxa, eu não estou rindo, pra falar a verdade eu também sou muito fã de dramas amorosos e paixões impossíveis.

Gabriel, irônico: A gente sabe.

Maria: Uma das minhas favoritas é “Só O Amor É Real”, conta a história de duas almas gêmeas que se encontram, literalmente!

Felipe: Eu também gosto de ler, história de suspense e terror, essas coisas de arrepiar, são o meu tipo de história.

Sofia: Interessante. Eu gosto mais de histórias dramáticas de superação, luta, me encantam, são muito boas.

Ângelo: É verdade, já leu “O Sucesso Não Vem Por Acaso”?

Sofia: Já sim, é muito bom, eu recomendo.

Os cinco conversam mais por um tempo. Gabriel então decide que este é o momento perfeito para contar a verdade.

Gabriel respira fundo: Muito bem gente, eu queria aproveitar esse momento pra falar algo importante.

Maria: O que foi Gabriel?

Gabriel: Você sabe do que se trata Malu, e você também Felipe.

Felipe: Você tá falado de contar sobre nós?

Sofia: Do que vocês estão falando?

Maria: Gabriel, tem certeza que quer falar agora?

Gabriel: Tenho, já adiei muito essa conversa.

Ângelo:Puxa, eu já tô ficando curioso.

Sofia: Eu também, o que é?

Gabriel: Bem, é uma coisa muito importante que envolve eu, a Malu, o Felipe e você também Ângelo.

Ângelo: A mim?

Gabriel: É, é algo bem pessoal, mas tudo bem se a Sofia ouvir porque todo mundo também vai ficar sabendo. Ângelo, você é meu…

A madre Luiza entra assustada na cozinha.

Madre Luiza, assustada: Crianças, por favor, venham comigo!

Menina: Algum problema madre?

Madre Luiza: Crianças, temos que sair do orfanato imediatamente.

Menino: Nós vamos aonde?

Madre Luiza: Lá pra fora e rápido, o orfanato está pegando fogo!

Todas as crianças começam a ficar nervosas.

Madre Luiza: Calma gente, calma! É apenas o sótão, o sótão está pegando fogo.

Gabriel, pensando: A vela!

Madre Luiza: Eu já liguei pros bombeiros e eles já estão a caminho. É mais seguro ficarmos lá fora, vamos rápido!

Todos os garotos se levantam e começam a seguir a madre em fila até o lado de fora.

 

   Cena 06 – Jardim da frente.

Todos já estão do lado de fora do orfanato aguardando que os bombeiros cheguem. Eles conseguem ver de lá como o sótão está. Sai muita fumaça pela janela, o fogo está forte já que o sótão está cheio de papéis e madeiras velhos.

Gabriel se perde na multidão e procura por seus amigos. Ele consegue avistar Maria e Felipe, eles estão junto de Sofia e Joaquim. Gabriel se aproxima.

Gabriel: Aí estão vocês.

Maria, aliviada: Ah Gabriel, que alívio, eu te perdi de vista.

Gabriel:É, o pessoal saiu com um pouco de pressa e eu me perdi.

Joaquim: Tá todo mundo aqui fora, né?

Sofia: Eu acho que sim, pelo menos até onde eu consigo ver.

Gabriel, olhando pros lados: Espera aí, cadê o Ângelo?

Maria: O que foi?

Gabriel: O Ângelo, eu não tô vendo ele aqui.

Felipe: Gabriel, tem muita gente aqui, ele deve tá por aí.

Gabriel: Ou talvez não.

Maria: O que você disse Gabriel?

Gabriel: Meu Deus, essa não.

Gabriel corre, ele vai em direção ao orfanato.

Maria, gritando: Gabriel!

Felipe, gritando: Gabriel, aonde você vai?

Gabriel não responde, ele só corre em disparada para dentro do orfanato.

 

   Cena 07 – Sótão.

Gabriel entra no sótão. O local está completamente em chamas e ele não consegue enxergar nem respirar direito por causa da fumaça.

Gabriel, gritando: Ângelo! Ângelo, você tá aí?

Gabriel consegue avistar Ângelo segurando uma caixa escorado na parede, cercado pelo fogo.

Gabriel, gritando: Ângelo!

Ângelo: Gabriel, socorro!

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