O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 13
Capítulo 13
O Tempo Começa A Esgotar
Cena 01 – Orfanato Coração de Mãe. Dormitório dos meninos. Noite.
Gabriel lê calmamente o que está escrito na página que estava escondida.
“Hoje descobri que estou grávida, essa poderia ser uma notícia feliz, mas não é, não sei o que farei, só de me lembrar daquilo…”
A imagem de Teresa continua sentada ao lado de Gabriel, ainda invisível aos olhos dele.
“Era uma noite hoje escura, eu estava voltando pra casa depois do dia inteiro vendendo balas no sinal. Eu vestia um short curto e um casaco grande para esconder minhas asas. Quando ia passando por um beco, avistei um vulto, no início pensei ser minha imaginação, mas não, tinha alguém lá, era um homem. Ele saiu de trás das sombras e pude ver aquele rosto, eu senti um tremendo frio na espinha. Aquele imundo se aproximou de mim lentamente, começou a me direcionar certos elogios, dizendo que eu era bonita, atraente, gostosa, eu sentia o horrível bafo de cerveja saindo da boca dele. Eu quis ir embora, mas ele me segurou pelo braço, eu pedi que me soltasse, acertei um chute bem em sua virilha, consegui correr por uns instantes, mas ele era bem mais rápido e forte do que eu e me alcançou e me puxou pelo braço até uma casa velha e abandonada ali perto. Eu estava assustada. Ele me jogou no chão, começou a me beijar, tentava arrancar a minha roupa, eu sentia um nojo tremendo, tentava lutar, mas eu era fraca, não consegui fugir, acabou que depois de alguns minutos ele foi embora e eu fiquei ali jogada no chão, achei que aquele pesadelo iria acabar por aquela noite, mas não, hoje estou carregando no meu ventre um fruto da pior noite da minha vida. Meu Deus, eu não sei o que fazer, não tenho como criar esse menino.”
Lágrimas começam a rolar pelos olhos de Gabriel. Ele abraça o diário.
Gabriel, chorando: Meu Deus, mamãe!
Teresa alisa o cabelo do filho. Gabriel se vira e chora.
Cena 02 – Manhã seguinte. Sótão do orfanato.
A madre Luíza e duas freiras estão no sótão olhando algumas das caixas velhas, móveis velhos, caixas cheias de papeladas e coisas antigas e empoeiradas guardadas no cômodo.
Irmã Isabel: Madre Luiza (tosse) esse lugar precisa de uma faxina.
Madre Luiza, passando o dedo em um móvel: Nisso você tem toda a razão Irmã Isabel, precisa mesmo.
Irmã Margarida: Madre, o que viemos buscar aqui mesmo?
Madre Luiza: Eu tenho certeza que em algum dessas mesas antigas estão alguns registros antigos de adoção que eu estava querendo encontrar, mas aonde? Aonde foi que eu os deixei?
Enquanto a madre anda, ouvem-se rangidos.
Irmã Isabel: Madre, essas tábuas no chão estão rangendo, estão velhas, deve ter cupins aqui.
Irmã Margarida: Tem razão, ao que parece esse lugar aqui está muito perigoso.
Madre Luiza: É verdade, qualquer dia é melhor eu mandar fazer uma reforma.
Cena 03 – Sala. Um tempo depois.
Todas as outras crianças do orfanato ainda estão na escola. Gabriel conta a Maria e Felipe sobre a folha misteriosa que encontrou no diário de sua mãe.
Maria, com as mãos no rosto: Meu Deus, Gabriel!
Felipe: Quer dizer que, que a sua mãe não teve o Ângelo e precisou abandoná-lo de propósito?
Gabriel: Não, foi tudo contra a vontade dela.
Maria: Meu Deus do céu, em que mundo estamos vivendo?
Felipe: Então Gabriel, você já sabe o que vai fazer agora?
Gabriel: Eu tenho que falar, pra ele, pra madre Luiza, eu agora tenho como provar tudo, ele vai ter que entender.
Madre Luiza entra na sala: Bom dia crianças, o que estão fazendo?
Gabriel: Nós? Estamos conversando, só isso.
Madre Luiza: Bom, eu tenho uma novidade pra vocês.
Maria: Qual?
Madre Luiza:Amanhã faremos as matrículas de vocês!
Gabriel, Maria e Felipe, juntos: O quê?
Madre Luiza: Isso mesmo, amanhã mesmo eu os levarei até a escola do bairro e vocês serão matriculados, irão estudar como todas as outras crianças.
Felipe: Estudar?
Madre Luiza: Isso mesmo, eu imagino como deve ser difícil pra vocês voltar pra escola depois de passarem por tantos traumas, mas lembrem-se, aqui vocês estão numa nova vida.
Gabriel: É muita bondade sua madre.
A madre sai da sala.
Felipe: Ah não, escola não.
Maria: Gabriel, agora eu que tô dizendo, isso já foi longe demais.
Gabriel: Eu sei, eu sei, eu também tô preocupado.
Felipe: Gabriel, a gente já tá aqui há muito tempo e você já descobriu o que tinha que descobrir, se você vai contar a verdade sobre nós pra madre e pro seu irmão, você tem que fazer isso hoje!
Gabriel: Eu sei, mas como eu faço isso?
Felipe: Eu não sei Gabriel, mas você não pode mais esperar.
Maria: É mesmo Gabriel, a madre vai querer os nossos sobrenomes pra realizar as nossas matrículas.
Gabriel: Tem razão. Eu preciso resolver isso logo.
Cena 04 – Interior. Estrada.
Paulo está indo de carro com Antônio e Laura para o Rio de Janeiro.
Antônio: Patrão, você tem certeza do que disse?
Paulo: Claro que sim Antônio, é na capital que nossos filhos estão.
Antônio: Mas como eles foram até tão longe?
Paulo: Na última noite em que o Gabriel estava comigo ia ser entregada uma carga de frutas na cidade do Rio, eles podem ter pegado carona no caminhão.
Laura: Mas por que eles foram até tão longe?
Paulo: Isso eu não posso dizer com certeza, mas eu sei que eles estão lá.
Laura: Meu Deus, eles estão sozinhos em uma cidade tão grande e perigosa.
Antônio: Patrão, a cidade do Rio de janeiro é enorme, chegando lá, como faremos para encontrar nossos filhos?
Paulo: Eu sei qual o supermercado em que as cargas iam ser descarregadas, fica no subúrbio, nós passamos por lá e perguntamos se alguns dos caminhoneiros viu algum dos nossos filhos.
Laura: E se não tiverem visto?
Paulo: Vamos até a delegacia mais próxima prestar uma queixa.
Cena 05 – Rio de Janeiro. Orfanato Coração de Mãe. Corredor do 2º andar. Horas mais tarde.
Gabriel está sentado no canto do corredor pensando na tremenda situação em que está metido.
Gabriel: Ai, ai, eu me meti numa encrenca maior do que a da última vez.
Ele de repente vê um vulto, alguém andando bem calmamente no final do corredor, mas parece estar com bastante pressa.
Gabriel: Quem será aquele? Aonde ele tá indo?
Gabriel se levanta e caminha atrás do vulto. Mais um pouco a frente ele vê quem era, é Ângelo. o garoto chega no final do corredor e abre uma portinha no teto de onde desce uma escada. Gabriel observa tudo escondido atrás de uma mesinha.
Gabriel: O que ele está fazendo?
Ângelo sobe a escada que vai dar no sótão do orfanato. Depois disso, ele puxa ela pra cima e fecha a portinha. Curioso, Gabriel decide continuar seguindo seu irmão.
Gabriel: O que ele pode querer no sótão?
Gabriel vai até a portinha secreta, a abre e baixa a escadinha. Ele sobe, vai até o sótão, puxa a escada de volta e fecha a portinha.
Gabriel fica impressionado com o estado do sótão do orfanato, é bem maior e mais empoeirado que o da sua casa.
Gabriel: (tosse) olá? Ângelo?
Gabriel tapa o nariz com o dedo e tenta respirar pela boca, simplesmente tem muita poeira no local. Ele continua andando sem ver direito pra onde está indo, está meio escuro mesmo ainda sendo de dia.
Gabriel: Mas que lugar é esse? Precisa de uma séria faxina (tosse).
Gabriel repara em um cantinho limpo perto da janela. Nele estão uma mesinha, algumas cadeiras e uma caixa em cima.
Gabriel se aproximando: O que será isso aqui?
Ele repara na mesa e nas cadeiras, parece tudo arrumado em comparação com o restante do sótão.
Gabriel: Será que foi o Ângelo quem arrumou isso aqui?
Ele ouve um barulho estranho, como o de uma caixa caindo.
Gabriel: Ângelo? É você?
Não se ouve resposta. Gabriel volta sua atenção para a caixa de papelão em cima da mesa. É uma caixa grande, parece estar cheia de alguma coisa. Ele se aproxima mais.
Gabriel: O que terá aqui dentro? Por favor, não sejam restos mortais.
Gabriel abra a caixa e fica surpreso com o que encontra: livros! Sim, diversos livros, a maioria grossos e sem gravuras.
Gabriel: Não estão empoeirados, alguém mexeu neles.
Há diversos livros, alguns clássicos como a saga Crepúsculo, Harry Potter, Divergente, Percy Jackson, 50 Tons de Cinza, etc. há também suspense como O Iluminado, A Coisa, Misery, O Cemitério.
Gabriel encontra abaixo de alguns livros um caderno grande e grosso. Ele o pega e dá algumas folheadas. As páginas estão todas escritas, nelas há textos enormes, títulos, falas, como se fossem histórias. Gabriel dá uma lida e nenhuma das histórias no caderno é conhecida.
Gabriel: Puxa, quem será que fez isso?
Gabriel sente uma mão em seu ombro, ele olha pra trás e vê Ângelo.
Ângelo, irritado: Por que você tá mexendo nas minhas coisas?