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O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 04

Capítulo 04
Perdidos no Subúrbio

Cena 01 – Casa dos Oliveira.
Laura ainda está servindo o café para Antônio quando alguém bate na porta.
Antônio: Tem alguém na porta.
Laura: Tão cedo? Quem pode ser?
Laura atende a porta. É Paulo.
Paulo: Bom dia Laura, bom dia Antônio.
Laura: Bom dia senhor Paulo, entre.
Antônio cumprimenta Paulo: Bom dia seu Paulo, o que o traz aqui tão cedo? É algo relacionado às plantações?
Paulo: Na verdade eu queria falar com seus filhos.
Antônio: Nossos filhos? Por quê? Eles fizeram alguma coisa?
Paulo: Não, espero. Resumindo, eu acredito que meu filho Gabriel não dormiu em casa e acho que seus filhos podem ter uma ideia de onde ele esteja.
Laura: O Gabriel não dormiu em casa?
Paulo: Parece que não e como o Felipe é melhor amigo dele e a Maria é namorada, eu pensei que…
Antônio: Sim, sim, claro. Laura, vá chamar os meninos.
Laura vai até o quarto dos filhos. Ela volta imediatamente, nervosa.
Laura: Não estão.
Antônio: O quê?
Laura: Eles não estão no quarto Antônio.
Antônio: Mas como assim? Eles ainda não podem ter saído tão cedo, nós sempre acordamos antes.
Paulo: Ou eles saíram ontem.
Laura: Do que está falando?
Paulo: Parece que nossos filhos fugiram de novo.

Cena 02 – Rio de Janeiro. Subúrbio.
Depois de andarem muito sem rumo, os três garotos chegam próximo a um velho galpão abandonado. Eles estão andando normalmente quando um carro passa rapidamente por uma poça de lama na estrada que espirra nos três, deixando-os molhados e sujos.
Felipe: Pausa gente, pausa.
Maria: Pela primeira vez eu concordo com você Felipe, pausa.
Gabriel: Tudo bem, vamos descansar um pouco ali.
Os três entram no velho galpão. Está cheio de peças de ferro e de carro velhas e enferrujadas. Os três tiram suas mochilas e as deixam no canto da parede. Maria senta-se perto de um pedaço de ferro e acaba se cortando no braço ao tentar se escorar na parede.
Maria: Ai, me cortei.
Gabriel: Deixa eu ver. Puxa, foi com ferro enferrujado.
Felipe: Então Gabriel, o que vamos fazer agora? Estamos perdidos, sujos e agora um de nós se feriu.
Gabriel: Eu não sei, eu devia ter esperado um tempo e planejado melhor as coisas.
Felipe: Eu tava pensando uma coisa Gabriel será que o seu irmão tem asas como você?
Maria: Fala baixo Felipe.
Gabriel: Não sei, mas acredito que sim, se eu que fui o 2º filo herdei as asas da minha mãe e ela as tinha desde bebê. Falando nisso, já sabem, se alguém perguntar, digam que isso nas minhas costas é um defeito de nascença.
Maria e Felipe, juntos: Claro!
O celular de Gabriel toca.
Gabriel, olhando no celular: É o meu pai.
Maria: Vai atender?

Cena 03 – Fazenda.
Paulo está ligando para Gabriel. Antônio e Laura estão bem do seu lado.
Paulo, no celular: Atende, atende, atende Gabriel.
Gabriel atende: Alô pai.
Paulo, nervoso: Gabriel, graças a Deus, meu filho, onde você está?
Gabriel, do outro lado da linha: Eu tô bem papai, eu tô bem.
Paulo: Meu filho, o que houve, por que você fugiu de novo?
Gabriel: Não se preocupe papai, eu tô bem, eu tô na cidade.
Paulo: Na cidade? Mas em que cidade?
Gabriel: Eu tô numa cidade pai, é só isso que posso dizer.
Antônio: Pergunta se o Felipe e a Maria estão com ele.
Paulo: Gabriel, meu filho, você tá sozinho? Tem alguém com você?
Gabriel: Tem sim, a Malu e o Felipe estão comigo.
Paulo: Eles estão com você?
Laura, aliviada: Ah, graças a Deus.
Paulo: Gabriel, me diz aonde você tá, eu vou aí buscar vocês.
Gabriel: Desculpa papai, mas eu não vou fazer isso.
Paulo: Gabriel, pelo amor de Deus, não faz isso comigo de novo.
Gabriel: Eu tenho que desligar agora.
Paulo: Gabriel, eu tô falando sério, não desliga…
Gabriel: Tchau papai. Amo você.
Gabriel desliga.
Paulo, nervoso: Gabriel? Gabriel? Alô?
Antônio: Desligou?
Paulo: Desligou!
Laura: Mas ele disse onde estão? O Felipe e a Maria estão bem?
Paulo: Não, ele não disse, mas eles estão com ele sim, ele só disse que estão em uma cidade.
Antônio: E o que faremos agora?
Paulo: Não sei, eu realmente não sei!

Cena 04 – Rio de Janeiro. Praça no subúrbio. Um tempo depois.
Os três garotos estão caminhando sem rumo pelas ruas. Eles chegam a uma praça com quiosques. Estão com muita fome. Depois do banho de lama acidental e de descansarem em um galpão cheio de ferro velho, os três estão tão sujos que parecem meninos de rua.
Maria: Ah, eu tô com muita fome.
Felipe: Eu também.
Gabriel olha para o lado, há uma lanchonete ali perto.
Gabriel, apontando: Pessoal, olha, ali tem uma lanchonete!
Maria: É mesmo, ah, vamos lanchar.
Só aí que Maria percebe que não está com sua mochila nas costas. Aliás, nenhum dos três está com suas mochilas.
Maria: Ah meu Deus, cadê as nossas mochilas?
Gabriel: É mesmo. Felipe, você ficou com elas, cadê?
Felipe: Opa, esqueci no galpão!
Maria: O quê?
Felipe: Desculpa, foi sem querer.
Gabriel: Ótimo, agora temos que voltar lá e pegar.
Maria: Mas pra que lado fica o galpão mesmo?
Gabriel: Eu não sei!

Cena 05 – Praça. Horas mais tarde.
Já é meio-dia. O sol está escaldante. Os três meninos estão sentados debaixo da sombra de uma árvore, cansados e famintos.
Gabriel: Pensando bem, essa foi uma péssima ideia.
Felipe, irônico: Ah, você jura?
Maria: Felipe!
Gabriel: Não Malu, ele tá certo. Desculpa ter envolvido vocês nisso.
Maria: Não precisa se desculpar Gabriel, a gente veio porque quis.
Gabriel: Mas e agora? Estamos perdidos, não sabemos pra onde ir, não temos mais roupas, estamos com fome, você tá machucada e eu não tenho a menor ideia de como fazer pra encontrar o meu irmão.
A conversa dos três é interrompida quando um carro estaciona perto deles. É uma viatura da polícia. De dentro do carro, um dos policiais aponta pra eles. Os garotos ficam nervosos.
Maria: A polícia?!
Gabriel: Será que eles querem alguma coisa com a gente?
Os policiais descem do carro. Eles vão caminhando lentamente em direção aos garotos olhando para eles como se eles fossem bandidos procurados. Os três se levantam.
Felipe se prepara para correr: É melhor a gente sair daqui.
Gabriel segura Felipe pelo braço: Não Felipe, se fugirmos eles vão achar que somos trombadinhas, vamos esperar pra ver o que eles querem.
Os dois policiais chegam para junto dos garotos.
Policial 1, bem sério: Bom dia garotos.
Os três, juntos: Olá.
Policial 1: Muito bem, eu gostaria de saber o que três crianças como vocês fazem aqui a essa hora do dia.
Felipe: Crianças? Eu tenho 15 anos.
Policial 2: Enfim, vocês aqui sozinhos, com essas roupas sujas, não deviam esta na escola?
Maria, gaguejando: Ah, claro, mas é que… hoje não teve aula pra gente.
Policial 1: Ah não? Por quê?
Gabriel: Porque… porque nossa escola está em reforma.
Policial 2: Jura? Sabe, nós trabalhamos aqui e conhecemos muito bem essa área, e não sabemos de nenhuma escola por aqui que esteja sendo reformada.
Maria: Ah, é porque é uma escola pequena.
Policial 1: É mesmo? E por que vocês não estão em casa?
Policial 2: E por que estão vestidos assim? Parece que você tem um ferimento no braço garotinha.
Maria: Ah isso? É que estávamos brincando e eu caí.
Policial 2: Crianças da idade de vocês brincando?
Felipe: Tudo bem, tudo bem, chega, eu vou falar a verdade!
Gabriel: Felipe.
Policial 1: A verdade? Que verdade garoto?
Felipe: Nós somos órfãos, policial, nós moramos na rua.
Os policiais fazem cara como se já soubessem. Gabriel e Maria ficam espantados com as palavras de Felipe.
Maria sussurra no ouvido de Felipe: Garoto, o que você tá fazendo?
Felipe, baixinho: Deixa comigo.
Policial 1: Quer dizer que vocês vivem nas ruas?
Felipe: Isso, nossos pais nos abandonaram sozinhos, nós vivemos pedindo esmola, não temos casa e não estudamos.
Os policiais observam os três de cima a baixo. Os dois se olham.
Policial 1: Muito bem garotos, nos acompanhem.

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