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Filho Amado

Capítulo 4 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 4.

 


 

Haroldo, triste: É…Eu sinto muito, sei o quanto você precisa desse emprego mas eu não posso continuar te mantendo aqui, nós já temos poucos funcionários, a maioria já está aqui faz décadas, portanto seria mais injusto demiti-los…E é isso, Noronha.

 

Casa dos Dávila/ Alguns minutos depois.

 

Anna, irônica: Ah, então além de você só me dar prejuízo em casa, ainda faz questão de ser demitido!

 

Noronha está cabisbaixo, ao lado do pai, Bento.

 

Noronha: Eu já expliquei o que aconteceu, mãe, a culpa não foi minha, a dedetizadora tá fraca e precisava fazer um corte de funcionários!

 

Bento tenta amenizar: Calma, filho, você ainda pode conseguir outro emprego, talvez na cidade vizinha, São Cristovão, é bem mais moderna que aqui, traz mais oportunidades!

 

Anna debocha: Em quê ele conseguiria emprego, Bento? Em outra dedetizadora? Ah, falando nisso, na dispensa tá cheio dos venenos que você traz pra cá, posso me livrar deles?

 

Noronha, amargurado: Não, depois o seu Haroldo vem aqui buscar  eles…Eu vou pro meu quarto, descansar um pouco- Ele sai caminhando lentamente.

 

Anna, estressada: Pronto, agora vai passar o dia todo reclamando, em casa, e se fazendo de vítima, ninguém merece!

 

Bento põe suas botinas: Calma, Anna, foi o primeiro emprego dele, daqui a pouco ele se recupera, agora para de reclamar, você não disse que ia atrás do Éssio?

 

Anna pega sua bolsa: É verdade, mandei ele ir comprar chuchu na venda da dona Jurema há meia-hora e ele ainda não voltou!

 

Venda da dona Jurema.

 

Anna entra e percebe que está acontecendo uma confusão lá dentro, logo ela escuta a voz de Éssio.

 

Jurema, irritada: Deixa de ser falso, Éssio, eu vi quando você colocou o espelho no seu casaco, tá querendo me enganar?

 

Éssio, tentando se explicar: Eu já falei que ia pagar, dona Jurema, que coisa!

 

Anna intervém: O que está acontecendo aqui, Éssinho?

 

Éssio fica tenso ao ver a mãe: Ah…Mãe, olha não é nada do que a senhora está pensando…

 

Jurema contraria ele: É sim! O seu filho ia roubar um dos espelhos mais valiosos que eu tenho aqui na venda, que vem da capital além do mais!

 

Anna não acredita: Roubar? Jurema nós somos vizinhas há décadas e você conhece o Éssio desde criança, com certeza ele iria te pagar depois!

 

Jurema solta uma gargalhada: É por isso mesmo, eu conheço o Éssio, ele roubava as minhas maçãs, e meus pequis também…

 

Anna fica aborrecida: O que a senhora quer insinuar?

 

Jurema grita: O fato é que ele ia roubar o meu espelho, se eu quiser eu chamo a policia!

 

Éssio, assombrado: Policia?

 

Anna pega a carteira: Sem policia, Jurema, quanto é que custa o espelho?

 

Jurema faz as contas: 350!

 

Anna arregala os ólhos: Éssio, deixa esse espelho aí, você comprou o chuchu que eu te pedi, filhinho?

 

Éssio coça a cabeça: Até tinha esquecido…

 

Jurema: Depois que a gente vê o brilho do ouro meu filho, esquece de tudo!

 

Anna, estressada: Escuta aqui, Jurema, para de fazer insinuações e pega aí um chuchu por favor, eu tenho dinheiro pra pagar!

 

Na hora do almoço…

 

Éssio solta um riso: Demitido?

 

Bento come apressado: Por favor Éssio, não começa a estressar seu irmão.

 

Noronha fica bravo: Escuta Éssio, pelo menos eu trabalho…Quer dizer, eu trabalhava! Ao contrário de você que fica o dia todo em casa sem fazer nada!

 

Éssio se ofende: Eu fico em casa porque…Porque eu tenho que…Ajudar a mamãe, é isso, ajudar ela.

 

Noronha, irônico: Sei…

 

De repente, escuta-se a voz de Bravejo no rádio…

 

Bento, de boca cheia: Ih, é o Bravejo, aumenta, deve ser algo importante pra ele ir no rádio.

 

Bravejo: Povo de Vila Varzeônica, uma boa tarde a você que está almoçando, eu peço um minutinho da sua atenção porque eu tenho um pronunciamento muito importante pra fazer: A festa anual do Pequi, que tradicionalmente acontece no mês de setembro, foi antecipada, e vai acontecer semana que vem, no estádio de Vila Varzeônica, conto com a presença de todos lá e espero que se divirtam. Obrigado a todos- Anna abaixa o volume do rádio novamente.

 

Noronha, maldoso: Andam dizendo por aí que esse ano ele não vai se reeleger, porque ele usou o dinheiro do saneamento básico pra construir a mansão dele!

 

Bento se benze: Não diga isso, filho…

 

Éssio: Olha eu tenho que concordar com o Noronha, viu, o Bravejo nem pode sair na rua que ele já é vaiado…Acho que esse ano ele não se reelege mesmo!

 

Bento bate três vezes na madeira da mesa.

 

Carro de Bravejo…

 

Bravejo suspira: Essa festa vai ser a minha unica salvação pra reeleição, Ruper…O povo anda me vaiando, e me perseguindo, esses dias eu estava andando tranquilamente e quase me acertaram com uma pedra! Eu corro risco de vida.

 

Ruper, em tom baixo: Pois é, Coronel, se você tivesse usado o dinheiro pra construir o saneamento básico da cidade…

 

Bravejo se defende: Mas eu construi o saneamento, Ruper!

 

Ruper completa: Mas só de UMA rua, e ainda é a rua que o senhor mora…Desse jeito sua campanha eleitoral esse ano vai pro esgoto, literalmente- Ele começa a rir da própria “piada”.

 

Bravejo ordena: Cale-se, não é hora pra piadas, se a festa de semana que vem der certo eu ainda terei esperanças, e ainda vou poder continuar sendo o prefeito daqui.

 

Praça de Vila Varzeônica/ Tarde.

 

Bruno, Noronha e Aurora conversam sentados em um banco.

 

Bruno come uma maçã: Se tivesse vagas na fábrica de sabão do meu pai, ele até poderia te contratar…

 

Noronha reclama: Eu não quero trabalhar lá, só se for a última opção, odeio o cheiro daquele sabão…Nem quero saber como é produzido.

 

Aurora avisa: Ah, mas emprego perfeito você não vai conseguir aqui, eu vou conversar com o meu pai, quem sabe ele te arrume algum cargo na fazenda dele…

 

Noronha: Seu pai me odeia, minha família toda apoia o principal inimigo dele, Aurora, ele não pode nem sonhar que estamos namorando…

 

Aurora, confiante: Mas pode deixar, eu falo com o meu pai, e hoje a noite nos encontramos aqui pra eu te dar uma resposta, tá certo?

 

Noronha concorda.

 

A noitinha, na casa dos Dávila.

 

Noronha assiste tv, quando Anna chega e fica observando ele.
Anna, maldosa: Até quando você vai ficar assim, Noronha?

 

Noronha: Assim como?

 

Anna se senta ao lado dele: Assim, sem fazer NADA, que eu me lembre foi o maior sacrifício pra você arrumar aquele emprego na dedetizadora, me diz: O que você planeja pro seu futuro?

 

Noronha respira fundo: Mãe, foi meu primeiro emprego, eu penso sim no meu futuro, mas não vou ficar me descabelando por causa disso…Hoje mesmo estou aguardando a resposta de uma pessoa- Ele olha para o relógio da parede- Falando nisso, já é hora de eu ir me encontrar com ela…Até mais.

 

Anna finge não escutar: Noronha, se você ficar sem trabalhar por muito tempo, eu não vou ter condições de te manter aqui…

 

Noronha, sério: Você tá me expulsando de casa, mãe?

 

Anna, com tom de alegria disfarçada: Só acho que como você já tem 18 anos, pode se virar, eu já te criei e não preciso mais fazer nada pra você.

 

Noronha não suporta: Engraçado que você vive dizendo que me criou, passa isso na minha cara direto, você é minha mãe, depois que me pariu tinha que me criar, certo?

 

Anna o confronta: Eu não escuto mais as suas conversas bobas pra me atingir, já disse o que eu tinha que falar- Ela dá as costas a ele.

 

Mas Noronha não se dá por satisfeito: E o Éssio, hein? Ele também fica sem fazer nada o dia inteiro!

 

Mas Anna continua caminhando e não responde.

 

Noronha se lembra da noite em que ia hastear a bandeira, mas resolve esquece-la de vez: Chega, Noronha, esqueça as provocações e siga com a sua vda, é o melhor, um dia minha mãe ainda vai se arrepender de ter criado o Éssio daquele jeito.

 

Mansão de José do Gado/ Sala.

 

José e Marinez bebericam café, Aurora então chega.

 

José, alegre: Filha, eu passo o dia sem te ver, por onde você anda tanto?

 

Aurora disfarça: Ah, com as minhas amigas, meus amigos…Mas, esquece pai, eu quero mesmo é te fazer uma pergunta, sobre a fazenda.

 

Marinez estranha: Nossa, desde quando você se interessa pela fazenda do seu pai, Aurora?

 

Aurora pigarreia: Eu só queria perguntar se tem alguma vaga por lá…Pra trabalhar…

 

Marinez, boquiaberta: Não me diga que você está querendo trabalhar lá?

 

Aurora ri: Não, mãe, é para um amigo meu que precisa muito de emprego.

 

José é direto: Quem é?

 

Aurora, receosa: É o…Noronha, pai, o Noronha Dávila.

 

Prefeitura/ Sala do prefeito.

 

Ruper pega sua mochila: Bom, eu já vou indo, Coronel, até amanhã.

 

Bravejo está agitado, ajeitando alguns papéis: Vai logo Ruper, você não sossega enquanto não for pra casa, vai e me deixa em paz- Ruper vai embora e ele fica assinando alguns documentos – Se essa festa do Pequi não der certo…Minha campanha vai por água a baixo

 

De repente Chico Branco surge do breu que está no corredor.

 

Chico, sarcástico: Ora, ora, ora, já falando sozinho nessa idade, Coronel Bravejo?

 

Termina o capítulo 4.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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