Capítulo 3 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 03.
Anna Maria, fria: Larga essa bandeira, Noronha.
Noronha ri: O que foi? Vai me dizer que eu estou segurando ela errado?- Ele vai indo para o palco quando sua mãe o agarra pelo braço.
Anna, enraivada: Já falei pra largar essa bandeira agora, é uma ordem.
Noronha se solta: Não me atrapalha, mãe, eles estão me esperando lá!
Anna o impede: Você não vai a lugar nenhum…- E o ronda- Como você pode ser tão maldoso com o seu irmão, hein? O que ele te fez pra você ser daquele jeito com ele, hein Noronha?
Noronha, sem entender: Como assim? O que eu fiz?
Anna continua rondando o filho: Você ficou humilhando o seu irmão só porque ia hastear a bandeira, e olha que isso nem é tão importante assim, imagina quando você ganhar seu diploma, SE você ganhar, o que vai fazer? Esfregar o diploma na cara do seu irmão, né?
Noronha, revoltado: Mãe, eu não fiz nada, o Éssio inventou isso só pra me acusar, eu estava ensaiando com a bandeira e ele ficou incomodado porque pela primeira vez ele não vai estar acima de mim, porque o Éssio, ele sim gosta de pisar em cima de mim, e só faz isso porque VOCÊ permite!
Anna o segura forte pelo braço: Você é um maldoso, injusto. Como pude criar um ser com tamanha maldade? Ah e além de te criar, eu te eduquei e fiz o melhor pra te dar uma vida digna, e você ainda fala coisas assim na minha cara, que eu prefiro o seu irmão!
Noronha, já roxo: Você prefere ele, qualquer um sabe disso, prefere ele e ainda apoia tudo o que ele faz, seja coisa boa ou ruim, e eu, nem que um dia ganhe o prêmio Nobel jamais vou receber seus parabéns, JAMAIS. Parece que você me criou por obrigação!
Anna dá um tapa na cara do filho: É por isso que você nunca vai ganhar nada, porque você Noronha quer tudo pra si mesmo, é egoista e ingrato e nunca suportou ver seu irmão ser o melhor, pois saiba que ele É melhor que você SIM, por ser uma pessoa do bem e pura!
Noronha fica pasmém: PURA? O ÉSSIO É O SER MAIS MALDOSO QUE EXISTE, AGORA CHEGA, EU NÃO VOU MAIS DISCUTIR PORQUE EU SEI QUE NÃO FIZ NADA- Ele vai em direção ao palco e passa das cortinas, mas a mãe o persegue.
Anna tenta arrancar a bandeira das mãos do filho: CHEGA! VOCÊ NÃO VAI HASTEAR ESSA BANDEIRA PORQUE NÃO MERECE, ME DÁ ESSA BANDEIRA, AGORA!
Éssio fica olhando tudo, e rindo.
Noronha começa a chorar: Você não tem o direito de estragar meu momento, mãe, essa é uma das únicas vezes que eu vou ser especial, por favor, solta essa bandeira, eu já disse que não fiz nada!
Anna continua tentando pegar a bandeira, os dois começam a se atracar: Você não merece momento nenhum!
Todos ficam olhando para a briga, Bento se levanta na hora, Bravejo fica sem jeito.
Noronha briga incondicionalmente pela bandeira: Você sempre acredita no Éssio! Você nunca parou pra pensar que ele inventa tudo isso?Hein?- Ele consegue puxar a bandeira e sai correndo.
Anna o persegue e logo consegue capturar o filho: Quem vai erguer essa bandeira vai ser o ÉSSIO, pra você deixar de ser maldoso, e você vai observar a glória do seu irmão abaixo dele, como merece, SEU IDIOTA.
Aquelas palavras ecoam na mente de Noronha.
As pessoas ficam observando a fúria de Anna assustadas com as palavras que ela fala para o filho.
Noronha começa a chorar, ele perde a bandeira para a mãe: Porque, mãe? Porque você me odeia? PORQUÊ?
Bravejo se aproxima: Por favor, pessoal, vamos parar com isso…
Anna olha fria para o filho, que fica caído no chão, ela está sem folego: Eu já terminei tudo o que tinha pra falar com o Noronha, Coronel Bravejo, e espero que ela tenha escutado tudo- Ela se curva para Éssio, que não ri mais- Aqui está a bandeira, filho.
Noronha não suporta, ele parte pra cima do irmão afim de recuperar a bandeira, mas é empurrado pela mãe, e cai de cima do palco.
Há tensão geral.
Noronha fica encarando a mãe, não consegue conter suas lágrimas, ele evita olhar para qualquer outra pessoa, e sai correndo para casa, há um momento de silêncio, até que Bento chega no palco.
Bento puxa a esposa para de trás do palco: Você tem noção do que você acabou de fazer, Anna Maria?
Anna é seca: Você nem sabe o porque da discussão e quer se intrometer, Bento? Você defende demais o Noronha!
Bento começa a apertar o braço dela: Eu ouvi tudo, todos ouviram a discussão de vocês dois e o ÉSSIO, o seu filho amado, estava rindo no palco, RINDO!
Anna se recusa a acreditar: MENTIRA! MENTIRA SUA!
Bento começa a ser agressivo: Você nunca acredita nos outros, não é? Só no Éssio! Pois saiba que ele estava rindo sim, e muito maldosamente, e você foi na onda dele e acabou de ferir a alma do seu filho profundamente, EM PÚBLICO!
Anna, firme: O Éssio não riu, ele devia estar chorando, porque o Noronha foi mal com ele, maldoso!
Bento joga a mulher no chão: Você ainda vai se arrepender muito do jeito que está criando o Éssio-Ele vai saindo quando volta-Mas amanhã, você e o Éssio vão pedir perdão pro Noronha! É UMA ORDEM!
Anna: Eu não devo perdão pra ele, e não me arrependo de nada do que fiz.
Bento a encara: Monstra. É isso que você é. MONSTRA.
Um trovão ecoa por toda a cidade.
Casa dos Dávila.
Noronha chega em casa, ele vai direto para o banheiro e lava o rosto, mas não consegue parar de chorar, ao fundo ele escuta o hino que começou a ser tocado, pensa em Éssio e se olha fixamente no espelho, depois, vai até a cozinha, abre uma gaveta e pega uma faca.
Noronha, emocionado: Não tenho sentido na vida, minha mãe me odeia- Ele se olha na faca metálica- Não sou nada…- Ele vai atirar a faca na barriga quando sua própria mão o impede- NÃO. Eu não tenho culpa de nada disso- Ele vai até uma parede cheia de retratos da família, e mira o objeto em Éssio- Ele.Ele é o culpado por isso. O Éssio. Eu tenho que acabar com ele!
Outro trovão ecoa.
Um pouco mais tarde, Bento, Anna e Éssio chegam em casa.
Éssio reclama: Pai, eu queria ter ficado mais, gostei de hastear a bandeira.
Bento, aborrecido: Cala a boca, Éssio, vai dormir e não ouse falar mais nada, amanhã eu vou ter uma conversa longa com você.
Anna intervém: Não fala assim com o menino…
Bento, irado: Quem é você pra me falar como me dirigir aos meus filhos? Afinal, você humilhou o seu próprio filho mais velho! É melhor ficar calada também. Eu vou dormir no sofá antes que tenha um ataque cardiaco com você ao meu lado- Ele coloca o casaco no sofá e sai, Éssio também.
Perto da meia-noite…
Noronha se levanta de sua cama, a festa em comemoração a eleição do Coronel Bravejo ainda estava acontecendo, ele observa Éssio, que dorme profundamente e se aproxima dele com seu travesseiro.
Noronha o analisa: Chega, Éssio, você não vai mais me atordoar- Diz em tom de sussurro- Vou me livrar de você e viver feliz, não importa o que digam, nunca vou me arrepender de te ter te matado- Ele lentamente põe o travesseiro sobre a cabeça do irmão, que se mexe um pouco, e então começa a sufoca-lo, Éssio instintivamente tenta se libertar, em vão, Noronha aplica toda a sua força sobre o travesseiro para esmagar o irmão com seu ódio- Adeus, Éssio… – Éssio vai, instintivamente, parando de se mexer. De repente, Bento entra no quarto.
Bento, chocado: O que significa isso, Noronha?- Ele puxa o filho pra longe de Éssio.
Éssio, sem folego, começa a tossir: A-A-Assassino!Eu vou contar tudo pra mamãe, esse louco tentou me matar!
Bento ordena: Não se mexe! Não ouse se levantar daí e contar nada pra sua mãe, ou eu te bato!
Éssio: Mas pai…
Bento: Essa história morre aqui- Ele se curva pra Noronha- Filho, vem comigo.
Na sala…
Noronha começa a chorar: Pai…Eu não sei o que me deu…O Éssio…Ele arruinou minha vida hoje, ele e a mamãe, eles me fizeram sentir uma coisa horrível, uma angustia, eu fui humilhado pai, e dessa vez na frente de tanta gente…Eu não quero mais viver…
Bento o abraça: Eu posso imaginar como você se sente, filho, mas essa situação vai mudar, eu te juro, chega dessas humilhações, a partir de agora você e o Éssio serão igualmente tratados.
Noronha, sincero: A mamãe me odeia, pai, ME ODEIA! Eu quero ir embora daqui, pra outro lugar e bem distante…Me ajuda…Me ajuda- Ele deita a cabeça sobre o pai.
Bento, preocupado: Eu vou te ajudar, Noronha, eu prometo, prometo filho…
...Mas parece que com o tempo, as promessas são esquecidas, e tudo volta a ser o que era antes…
8 ANOS DEPOIS…
Dedetizadora local/ Interior.
Haroldo observa o movimento da loja, que é pouco e faz sinal para Noronha vir para sua sala.
Lá…
Noronha tira o boné: Pois não, chefe, tem alguma entrega para eu fazer? Ou é casa para dedetizar?
Haroldo, sério: Nenhum dos dois, Noronha, nós não dedetizamos uma casa desde o mês passado…A situação não anda boa…Ano passado nós não dávamos conta das dedetizações, você mesmo viu isso quando começou a trabalhar aqui e agora…Não temos quase nenhum cliente, acho que as pragas de Vila Varzeônica foram embora.
Noronha lamenta: É uma pena mesmo…Mas o que eu tenho haver com isso, chefe?
Haroldo respira fundo: Olha, Noronha, você tem somente 18 anos, ainda muitos trabalhos pela frente, e com o seu comportamento você vai longe, Noronha você é um funcionário exemplar mas…Eu vou ter que demitir.
Noronha: O quê?
Termina o capítulo 03.
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